Papa Francisco, o estadista contemporâneo
Por Luis Nassif
O fracasso do neoliberalismo trouxe de volta um fenômeno paradoxal no Brasil, mas especialmente na Europa. Morreu o velho antes do novo ter nascido.
Discussões sobre ser de esquerda ou direita - que se julgavam mortas desde a queda do muro de Berlim - voltaram a se tornar recorrentes.
Historicamente, dizia-se que políticas sociais inclusivas pertenciam ao terreno das esquerdas; a busca da eficiência do capital seria atributo da direita; a defesa dos direitos civis, da esquerda; dos direitos individuais, da direita.
Um século de conflitos, de embates, de experiências trágicas algumas, relativamente bem sucedidas outras, embaralharam o meio de campo.
O que é ser de direita ou esquerda?
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No início de toda religião, de ideologias, de estratégias de poder, de construção de partidos políticos, há a busca de princípios legitimadores.
Poderão ser valores humanistas (como os dos fundadores da Revolução Francesa, norte-americana e das grandes religiões), poderá ser um nacionalismo exacerbado da Europa dos anos 30.
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A partir dos princípios desenham-se os objetivos. E os objetivos exigem organizações e fórmulas para serem atingidos. Nas democracias, o instrumento de transformação são os partidos políticos.
Um princípio básico das democracias é o da melhoria da vida da população (especialmente dos eleitores).
O populista propõe políticas que tragam benefícios diretos à população. O neoliberal promete uma suposta busca da eficiência do capital que, por tabela, trará o bem estar social.
É quando os princípios tornam-se ideologias, que são apropriadas por organizações religiosas, políticas, por meios de comunicação de massa ou organizações sociais.
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Com o tempo, mesmo imbuídas dos melhores princípios, as organizações ganham vida própria, montam suas burocracias, alianças e desenvolvem interesses próprios que vão gradativamente se sobrepondo aos princípios fundadores.
Na origem da humanidade, as religiões significaram um salto civilizatório, trazendo os princípios do respeito à vida, à coexistência pacífica, aos valores espirituais. Com o tempo criaram burocracias responsáveis por alguns dos maiores crimes da humanidade.
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Como elas, partidos envelhecem e voltam-se para dentro de seus próprios interesses, diluindo os princípios fundadores.
É por isso que a democracia tornou-se o regime mais representativo do século, por permitir a alternância do poder.
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Globalmente, no entanto, há uma crise de representatividade dos partidos políticos, dos sistemas de governo, das ideologias. Nem situação nem oposição conseguem representar o novo.
Daí a importância das figuras referenciais, aquelas que se movem por princípios.
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Lamenta-se a falta de estadistas referenciais no mundo.
De minha parte, tenho meu candidato a estadista do momento: é o Papa Francisco.
Ao recuperar princípios esquecidos não apenas pela Igreja como pelos grandes governantes mundiais, o Papa poderá ter um papel transformador tão relevante quanto o de João 23.
Ontem, quando a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo emitiu uma nota de apoio à Parada Gay – superando o obscurantismo de dom Odilo Scherer – deu para acreditar que princípios são forças capazes de mover montanhas e arejar o mofo de organizações seculares. (Fonte: aqui).
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