quarta-feira, 16 de abril de 2014
UCRÂNIA, O IMBRÓGLIO
Faltou o Garrincha na Ucrânia
Por Percival Maricato
Os leitores e telespectadores brasileiros estão cada vez mais confusos com respeito à Ucrânia.
Não foram poucas as manifestações pela deposição do presidente eleito, mas apresentadas como sendo de toda a população, unida na causa comum de levar o país a alinhar-se com o Ocidente. Já era difícil entender, pois como explicar essa unanimidade no país se havia um presidente eleito pelo voto universal, defendendo outra opção? Bem, ante a avalanche de manchetes, fotos, filmes, notícias, não poderia haver dúvida. Pode ser que os eleitores do tal presidente tivessem se arrependido.
Com tanta revolta atualmente, mais parece que faltou alguém como o Garrincha nessa confusão toda. Uma estória famosa diz que o craque do Botafogo ouvia o (técnico da Seleção) Feola explicar como os brasileiros deveriam atacar no jogo contra os russos, priorizando a ponta esquerda, atraindo a defesa russa para lá, para depois atacar pela direita, que estaria mais livre de defensores e etc. Ao final, intrigado, perguntou Garrincha: “puxa seu Feola, o Sr combinou tudo isso com os russos?”
Os ucranianos deviam ter combinado com os russos. É isso que o presidente eleito e deposto queria.
O fato é que agora se vê que cada vez mais províncias e cidades se revoltando contra o novo governo, que por sua vez é resultado de um golpe típico, que seria denunciado em manchetes por pelo menos uns trinta dias, se (tivesse sido dado) por forças antiocidente.
Na Crimeia, uma consulta à população, com comparecimento de 92%, revelou que mais de 80% repeliam o golpe e preferiam se juntar aos russos. Será que nossos jornais não descobriram isso antes?
Obama e Cia esperneiam, mas até o governo golpista da Ucrânia já vem cedendo e reconhecendo a situação de fato. Quando interessa, os EUA pregam a autodeterminação dos povos (foi assim com todas as províncias que quiseram se separar da Sérvia). No caso, só os ucranianos teriam esse direito, segundo Obama.
Interessante lembrar que, na década de sessenta do século passado, a província francesa de Quebec, no Canadá, tentava obter sua independência política. Houve uma consulta entre os eleitores e o resultado foi uma vitória pela manutenção da integração ao Canadá, pela diferença de 1%. O governo do Canadá, mesmo vitorioso, consultou a Suprema Corte. Queria saber se Quebec tinha direito de proclamar a independência. Os juízes decidiram que se houvesse uma maioria expressiva nesse sentido, defendendo uma proposta clara junto à população, teria sim, esse direito. Os crimenianos tem, pois, esse direito, até juridicamente.
Evidente que povos de formação diferente deveriam todos ter direito à autodeterminação, se assim desejassem. Assim deveria ser com catalães, bascos e tantos outros. A própria Inglaterra já teve que ceder e permitir um plebiscito entre os escoceses. Se estes, irlandeses, galeses, se tornarem independentes, a Inglaterra tende a ficar com as dimensões de Sergipe. Merece. (Fonte: aqui).
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"Se estes, irlandeses, galeses, se tornarem independentes, a Inglaterra tende a ficar com as dimensões de Sergipe. Merece." (?!).
O fato é que não se trata de "combinar com os russos", visto que a origem do problema está no próprio corpo da Ucrânia: faltou a antevisão de que os contingentes em que se observa a prevalência da língua russa iriam, por conta própria, pressionar pela anexação à Rússia - independentemente da ação de Putin.
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