sábado, 6 de julho de 2013

SOBRE A RISÍVEL PAUTA DO CONTRA

Enfim, o antídoto definitivo contra a inflação!!!

A influência dos protestos na queda da inflação

Por Rui Daher

Rola nas editorias que selecionam o que iremos ler e ouvir em folhas e telas cotidianas a necessidade de sempre colocar-se um tom adversativo nas matérias.

Prática simples, pouco trabalho. Se muito, não o fariam, tão enxutas estão as Redações. Todo o fato, porém, permite várias interpretações, e para a mídia duas bastam.

Meu dicionário dá um exemplo: “a rosa é linda, mas tem espinhos”.

Os prezados leitores já sacaram: a chave está no tal “mas”, embora ele nunca tenha nos impedido de admirar essas flores, cultivá-las, comprá-las, ou com elas fazer maravilhosas poesias.

Cartola, Nelson Cavaquinho, Dorival Caymmi, foram mestres em assim usá-las.

Problema é que, frequentemente, a mídia, em seu afã adversativo, erra e se mostra óbvia ou burra.

Hoje, percebo isso em matéria de Mariana Sallowicz, no caderno Mercado, da Folha de São Paulo.

De prima, sejamos condescendentes com a provavelmente jovem repórter. Assim devem tê-la pautado: “A inflação medida pelo IPCA, em junho, mostrou queda em relação ao mês anterior. Os alimentos ajudaram. É um dado positivo para o governo. Procure colocar algo na matéria que ‘adversative’ o fato”.

Manchete: “Onda de protestos freia aumento de alimentos e ajuda a segurar inflação”.

A Mariana até foi zelosa. Buscou conselhos junto a Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índice de preços do IBGE, que filosofou: “Devido às manifestações, o varejo ficou com um estoque maior de alimentos no mês passado e com menos espaço para aumentos de preços. O comércio esteve fechado por muitos dias. Foi um mês atípico”.

Pronto! A Mariana encontrara sua conjunção coordenativa e poderia voltar feliz para a Redação.

Nós, superestocados com alimentos nas despensas, deixáramos de lado supermercados, feiras-livres, a quitanda do Sr. Hayashi e a padaria do Sr. Nunes Pereira.

O fato de estarmos colhendo a maior safra da história, termos passado por um período de clima razoável diante do mesmo período do ano passado, visto aumentos pontuais e não generalizados, estarmos presenciando a queda nas cotações internacionais das commodities agrícolas e desincentivando o consumo das famílias, pouco tiveram a ver com a queda.

Ô você aí do Nordeste! A seca anda te castigando? Boi morrendo sem pasto? Faz logo um protesto. MAS não muito. Vai que inunda. (Fonte: aqui).

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Com que, então, estavam erradas todas as análises que atribuíam a inflação dos alimentos a adversidades climáticas e à entressafra, fenômeno que se observa ano a ano e que é superado a partir de junho, como mais uma vez aconteceu. Enquanto a imprensa em geral apela para o MAS em cima da inflação dos últimos doze meses (descartando a inflação NO ANO, evidentemente) como forma de minimizar a queda da inflação mensal, vem a Folha e a atribui aos protestos verificados em junho!

Depois dessa, resta especular: se Maílson da Nóbrega, nos idos de 1989, soubesse dos benefícios produzidos por protestos de rua, trataria de incentivá-los ou permitiria que a inflação chegasse impunemente a 80% ao mês?! Dúvida atroz.

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