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"Sem admitir a presença de Zelensky e da União Europeia nas tratativas para o fim da guerra, a dupla Trump-Putin acertou um projeto, a ser formalizado e concluído na Arábia Saudita..."
Todos os anos os europeus reúnem-se em Munique para, em conferência, discutir a segurança.
Desta vez, no cenário a considerar, existiam as manifestações surpreendentes do neopresidente Donald Trump, ligado umbilicalmente à direita anti-europeísta (contra a União Europeia), nacionalista e contra a Aliança Atlântica (OTAN).
No horizonte, uma Europa, com exceção de europeus de perfil filoputiniano como Viktor Orban, preocupada com a expansão russa e a perceber a ineficácia dos 15 pacotes de bloqueios econômicos impostos. Ainda mais, o seu gás cada vez mais caro, um aumento, por exemplo na Itália, de 20% nos boletos mensais pelo corte do gás russo.
Na conferência de Munique iniciada na sexta-feira passada a grande preocupação era o recente 'namoro', iniciado por um telefonema, entre Trump e Putin.
Sem admitir a presença de Zelensky e da União Europeia nas tratativas para o fim da guerra, a dupla Trump-Putin acertou um projeto, a ser formalizado e concluído na Arábia Saudita, para colocar fim à guerra iniciada pela invasão russa à Ucrânia, que está para contemplar neste mês de fevereiro três anos.
Tudo muito fácil. A Rússia ficaria com os 120 mil quilômetros quadrados ocupados, a absorver Kherson, Mariupol, Zaporizhzhia, Lungansk e Donest. Olhado no mapa, a compreender a faixa litorânea a interligar com a Criméia, abraçar todo o mar de Azov e, talvez, e como quer Putin, a anexação de Odessa.
Os EUA, a título de restituição pelo suporte econômico e militar fornecidos no governo Joe Biden, receberiam parte das chamadas 'terras raras'. A compra, segundo o secretário de estado trumpista Marco Rubio, seria pelo valor de 500 bilhões de dólares.
A propósito da supracitada compensação, Rubio, na conferência de Munique, fez chegar a Zelensky um documento de compra das 'terras raras' para imediata assinatura, que foi negada por Zelensky.
Como observaram os 007 da inteligência da OTAN, os russos ficariam a um pulo dos desejados enclaves de língua russa na Moldávia, que seria um segundo passo de conquistas.
COBRAS E LAGARTOS I
Além de Zelensky, o maior preocupado no encontro em Munique era o presidente francês Emmanuel Macron, que convidou para uma reunião, nessa segunda-feira (17), no parisiense Eliseo, os chefes de governo de Alemanha, Polônia, Reino Unido, Itália e Espanha.
O encontro bolado por Macron foi motivado pelas palavras do general de pijama Heith Kellog, 80 anos, representante de Trump para os temas Ucrânia, Israel e Palestina.
Kellog, no papel de ventríloquo de Trump, disse, "só nós americanos e os russos" resolveremos o fim da guerra, tudo num encontro, que já está sendo preparado, na Arábia Saudita.
Parêntese, essa postura americana levou o respeitado sociólogo francês Raphael Glucksmann a se sair com a contundente e realística frase: "Será o fim do Ocidente como o conhecíamos até agora".
Com efeito, Trump e Putin excluem a própria Ucrânia, país soberano e vítima da invasão em violação à Carta constitucional das Nações Unidas.
À luz do direito internacional, tal acordo, sem a Ucrânia, terá valor zero, mas isso não preocupa os que estão prontos, Trump e Putin, a fixar as bases para uma nova ordem mundial.
A União Europeia, como se a Ucrânia não estivesse na Europa, também não participaria e nem, como se diz no popular, apitaria nada.
COBRAS E LAGARTOS II
Não é segredo para os militares da OTAN, até porque foi anunciado por Sergei Larov, ministro das relações exteriores, ter o governo Putin determinado o aumento no contingente militar russo, que chegará a 150 mil soldados. Ou seja, serão 5 divisões militares armadas. Pelo que pesquisou este articulista, nenhum exército europeu tem igual tamanho.
Zelensky, na Conferência, insistiu no aumento da Nato (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e de a União Europeia criar um exército. Só esqueceu a inexistência de recursos para viabilizar essa intenção.
COBRAS E LAGARTOS III
Não passou despercebido em Munique, quando a agência Bloomberg noticiou o encontro preparado para a Arábia Saudita, estar ela sob jurisdição do Tribunal Penal Internacional (TPI), que expediu mandado de prisão contra Putin. A pergunta: Será que a Arábia Saudita irá descumprir a ordem de prisão, com Putin no seu território? A resposta, todos já sabem, até os juízes do TPI.
No momento, o presidente Trump quer se aproximar do príncipe saudita Mohammad bin Salman. Primeiro, para assustar a teocracia iraniana e, segundo, para que firme com Israel um acordo abraâmico, de paz e desenvolvimento econômico.
COBRAS E LAGARTOS IV
Além de tomar da Ucrânia 25% do seu território e se instalar na Ucrânia europeia, o presidente Putin, e Trump está de acordo, não quer a Ucrânia na Nato. E também não quer a Ucrânia com forças militares, ou seja, poderá aumentar o domínio com facilidade e sem nova resistência heroica das forças ucranianas.
Para Pete Hegseth, secretário de defesa dos EUA, e conforme pronunciamento da última quarta-feira, é "irrealístico" imaginar o retorno da Ucrânia aos limites de antes do início da guerra e "irrealístico" o seu ingresso na OTAN.
UM POUCO DE CINZAS
A Conferência de Munique de 2025, desta vez, trouxe os fantasmas do passado, mas especificamente a histórica Conferência de Munique de 1938.
Por proposta do limitado e ingênuo Neville Chamberlain, premiê britânico, Hitler obteve os Sudetos da então Tchecoslováquia. Hitler aceitou, mas não parou o expansionismo, na sua teoria sobre o chamado espaço vital ('lebnsraum'). Antes já havia incorporado a Áustria. Depois da Conferência de Munique invadiu a Tchecoslováquia e a Polônia, a eclodir a Segunda Guerra Mundial.
Munique, como em 1938, assistiu, na recém-terminada Conferência deste 2025, as pretensões dominadoras de Trump e Putin, com a Europa humilhada. - (Aqui).
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