sexta-feira, 11 de novembro de 2022

A CONSCIÊNCIA ALEMÃ NA I GUERRA

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"...A refilmagem (...) tem DNA alemão e, portanto, se identifica melhor com o sentido de auto-exame da consciência nacional que caracteriza o livro de Remarque."


Nada De Novo No Front 

Por Carlos Alberto Mattos

O romance de Erich Maria Remarque foi levado ao cinema em 1930, no primeiro clássico antibelicista do cinema, Sem Novidade no Front. O filme de Lewis Milestone era uma produção estadunidense, logo realizada pelo prisma dos vencedores da I Guerra Mundial. A refilmagem que chega agora à Netflix tem DNA alemão e, portanto, se identifica melhor com o sentido de auto-exame da consciência nacional que caracteriza o livro de Remarque.

Essa circunstância é sentida pelo espectador a partir do idioma e da frieza com que a guerra é mostrada em todo o seu horror gráfico. De resto, Nada de Novo no Front (Im Westen nichts Neues) se apresenta hoje como um filme de guerra padrão, apenas “atualizado” na tolerância das plateias para ver imagens de carnificina. Há mesmo a cena de um homem sendo esmagado pela lagarta de um tanque e outra de um soldado francês agonizando durante longos minutos – momento em que a consciência do protagonista evolui da sanha combativa para a culpa e a compaixão.

O essencial da narrativa é tão fiel ao livro quanto ao filme original, até no tempo de duração (em torno de 2 horas e meia). O jovem Paul Bäumer (Felix Kammerer) se alista cheio de entusiasmo para combater os franceses na chamada frente ocidental. Não demorará para que sua euforia se dissipe na selvageria das trincheiras e à medida que seus amigos vão tombando pelo caminho em meio a um mingau de lama, sangue e fuligem.

O diretor Edward Berger comanda uma megaprodução filmada na República Tcheca com vistosas cenas de batalha em campo aberto, cujo fragor é acentuado pela trilha musical percussiva de Volker Bertelmann. A ênfase se divide entre a exposição da guerra como mortandade bruta e ponderações mais intimistas quanto à condição humana perante o conflito. A inocência, a jovialidade e a camaraderie dos jovens soldados são covardemente exploradas pelos oficiais do Kaiser, que aparecem sempre a segura distância do front e desfrutando de boas comidas e boas instalações.

Um ataque suicida ordenado mesmo depois de assinado o armistício com a França sela a acusação do filme aos militares germânicos. Mas fica no ar (literalmente) uma relativa ambiguidade quanto ao uso de armas químicas na I Guerra. Como o filme se passa entre 1917 e 1918, vemos os franceses lançarem gás sobre os alemães. Houve, sim, retaliações do gênero, mas foram as tropas do Kaiser que deram início e fomentaram o uso de gases contra os aliados nos primeiros anos da guerra.  -  (Fonte: Blog Carmattos - Aqui).

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