quinta-feira, 14 de abril de 2022

SOBRE O FILME BRASILEIRO INDICADO PARA CONCORRER AO OSCAR 2022

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Deserto Particular - Eclipse total do coração


Por Carlos Alberto Mattos

Escolhido para disputar uma indicação ao Oscar de filme internacional, Deserto Particular não tinha grandes chances por não fazer o tipo de filme que agrada aos votantes da Academia. Mas isso não quer dizer que não tenha interesse. Aly Muritiba é um cineasta seguro e corajoso, ainda que irregular nos resultados. Esse novo filme está mais próximo da qualidade de Para Minha Amada Morta que da fragilidade de Ferrugem.

Ex-policial, o diretor tem sensibilidade para retratar esse tipo de personagem. Daniel (Antonio Saboia) é um deles. Homofóbico, dado a surtos de ódio, ele está suspenso do serviço em função de um ato de violência cometido há pouco. Faz bicos como segurança, vive sozinho e divide com a irmã lésbica os cuidados com o pai acometido de Alzheimer. Sua diversão é trocar mensagens de amor e erotismo com Sara, uma moça desconhecida, residente no interior da Bahia. Quando Sara desaparece do seu radar, ele resolve pegar a estrada de Curitiba a Sobradinho (BA) à sua procura.

O filme, então, passa a enfocar Sara, seu trabalho, sua relação com a avó e seu medo de estragar o romance quando se encontrar com Daniel. O encontro, retardado tanto quanto possível, deixa transparecer o ponto mais implausível do argumento, que é a demora de Daniel, policial experiente, em perceber a verdade de Sara.

A narrativa não dispensa alguns clichês, como a procura de Sara com fotos pela cidade, a fetichização de um vestido, as metáforas verbalmente atribuídas à barragem de Sobradinho. De todo modo, Deserto Particular é um filme impregnante, muito bem fotografado, montado e interpretado. O desfecho dá muito o que falar a respeito de desejos encobertos ao som de Bonnie Tyler cantando “Total Eclipse of the Heart”.  -  (Fonte: Blog Carmattos - Aqui). 

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