sexta-feira, 4 de outubro de 2019

A CONTRADIÇÃO FATAL NO POPULISMO DE DIREITA

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"Estamos vivendo no Brasil em um mar de contradições políticas, sociais e históricas, que em algum momento terão que ser resolvidas."


A contradição fatal no populismo de direita 

Por André Araújo

O GLOBALISMO É A ÚLTIMA ETAPA DO NEOLIBERALISMO
Há uma contradição insanável entre os chamados “populismos de direita”, quais sejam as plataformas de Trump, Boris Johnson, Bolsonaro e outros, e o neoliberalismo à moda de Chicago. Os populistas de direita são contra o GLOBALISMO, mas o “neoliberalismo de Chicago" só pode existir no mundo globalizado. Portanto, os “populistas de direita” não podem combater o GLOBALISMO e ao mesmo tempo apoiarem o neoliberalismo, o processo é um só.
Os clássicos regimes de direita do Século XX, o FASCISMO italiano e o NAZISMO alemão, eram completamente ESTATIZANTES e não regimes liberais de mercado. É da essência dos regimes de direita fortalecer, e não DESMONTAR o Estado como querem os neoliberais. São ideias contraditórias.
A Itália fascista tinha todos os grandes bancos como entes estatais, o INSTITUTO PER LA RECONSTRUZIONE INDUSTRIALE, o célebre IRI, controlava 400 empresas; as ferrovias, os estaleiros, a eletricidade eram estatais, assim como o grupo de armamentos ANSALDO; no Terceiro Reich a Hermann Goering Weke AG era a maior empresa da Alemanha,  truste estatal de siderurgia, estaleiros e material bélico.
Já no Brasil de 1964, o regime militar criou ou manteve o aparato estatal  que já vinha da Era Vargas, expandiu enormemente a PETROBRAS, a ELETROBRAS, criou a EMBRAER, a EMBRAPA, a petroquímica estatal, grandes siderúrgicas, a EMBRATEL, a TELEBRAS e mais de 110 novas estatais.
Poderiam contra-argumentar com o Chile de Pinochet e seus neoliberais de Chicago, mas é preciso conhecer a história completa e não apenas a mitologia, Allende estatizou 800 empresas, Pinochet na sua primeira fase desestatizou a maioria, era a fase Chicago, que durou pouco. Com a queda do Ministro da Fazenda Sergio de Castro foram embora os “Chicago boys”; a grande estatal do Chile, a CODELCO, que explora a maior riqueza do País, o cobre, continuou estatal; a fase “Chicago” no regime Pinochet foi de curta duração.
Regimes de direita, para ter lógica interna, são necessariamente nacionalistas e estatizantes, é a sua legitimação histórica. Se foram “neoliberais” e “colaboracionistas” de outra potência, serão regimes fantoches, gendarmes ou capitães do mato de outros interesses ou potências, como foi o direitista regime de Vichy na França sob o jugo alemão, entre 1940 e 1944, ou, pior ainda, o neofascismo como polícia do mercado financeiro.
O FASCISMO INVENTOU AS ESTATAIS
O conceito de empresa estatal é uma invenção do Fascismo. Antes do fascismo mussoliniano, o capitalismo se encarregava de construir ferrovias, portos, eletricidade, telefonia, siderurgia, os grandes grupos estavam no apogeu, Krupp, Thyssen, Siemens (Alemanha) Rockefeller, Carnegie, Morgan (EUA), Schneider. Wendel (França), Vickers Armstrong, Mond, Tate, Vestey (Inglaterra), Empain (Bélgica), Wallenberg (Suécia) Putiloff (Russia). No Brasil, o americano Percival Farqhuar implantava ferrovias, portos, bondes, energia elétrica, telefones; o Estado se limitava a defesa e justiça.
Na Itália empobrecida pela Grande Guerra e com indústria incipiente foi o Estado que bancou o desenvolvimento econômico e social pela criação de empresas estatais, um banco de fomento, o 1º do mundo, para o sul pobre, a CASSA PER IL MEZZOGIORNO, foi o Estado que desenvolveu a outrora paupérrima Itália, que por sua fraqueza econômica fez emigrar entre 1870 e 1914 cerca de 6 milhões de seus cidadãos.
A IMENSA CONTRADIÇÃO
É inconciliável o BOLSONARISMO com o NEOLIBERALISMO, ou manda um ou manda outro. Um regime de direita, abstraindo considerações morais, éticas e civilizatórias, só é operacional com um ESTADO FORTE e anti neoliberal, como Vargas entendeu perfeitamente com o Estado Novo, um regime de direita reproduzindo o Estado fascista italiano, chegando a flertar com o nazismo e que tratou antes de mais nada de fortalecer o Estado e não enfraquecê-lo, como pretende o plano Guedes de economia, um Estado Mínimo abrindo espaço para um mercado onipresente. NÃO DÁ CERTO. É uma combinação ideologicamente conflitante nas suas raízes.
Neoliberalismo hoje é um processo globalizante que independe de soberanias, ai está a OCDE, a ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, cúpula do globalismo mundial, cujo diretor geral é um mexicano: é uma entidade símbolo do ambientalismo e de causas universais onde não prevalecem as soberanias e sim o globalismo. O Brasil quer entrar?  Que contradição, mais uma: a OCDE é contra os próprios fundamentos dos populismos de direita, ela é a catedral dos humanismos e da expressão civilizatória de um mundo sem fronteiras.
Estamos vivendo no Brasil em um mar de contradições políticas, sociais e históricas, que em algum momento terão que ser resolvidas.  -  (Aqui).

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.Ao que um leitor contrapõe, ou, para ser menos incisivo, pondera: 
"Oposição com menos de 150 deputados, e uma quantidade ínfima no senado, e com a grande mídia contra, você queria o quê?"

O fato é que, em se tratando de artigo produzido por André Araújo, os comentários suscitados sempre merecem leitura atenta. Exemplo: o de Rogério Maestri (que na verdade não é comentário, mas colaboração):

"Resumo do artigo de Germà Bel “Against the mainstream: Nazi privatization in 1930s Germany”
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A Grande Depressão estimulou a propriedade do Estado nos países capitalistas ocidentais. A Alemanha não foi exceção, os últimos governos da República de Weimar assumiram empresas em diversos setores. Mais tarde, o regime nazista transferiu a propriedade pública e os serviços públicos para o setor privado. Ao fazer isso, eles foram contra as tendências dominantes nos países capitalistas ocidentais, nenhum dos quais reprivatizou sistematicamente as empresas durante os anos 30. A privatização na Alemanha nazista também foi única na transferência para mãos privadas da prestação de serviços públicos anteriormente prestados pelo governo. As empresas e os serviços transferidos para a propriedade privada pertenciam a diversos setores. A privatização fazia parte de uma política intencional com múltiplos objetivos e não era dirigida ideologicamente. Como em muitas privatizações recentes, particularmente na União Europeia, fortes restrições financeiras foram uma motivação central. Além disso, a privatização foi usada como uma ferramenta política para aumentar o apoio ao governo e ao Partido Nazista. Privatização, Empresa Pública, Economia Nazista, Alemanha."

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