terça-feira, 10 de novembro de 2015

O CAUSO DO PANACA BRASILIENSIS

                              Alfred, mascote da Mad, está fora dessa.

Panaca do mês: o deputado que pediu o impeachment de Dilma ao príncipe do Japão

Kiko Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

No começo dos anos 80, eu me tornei um leitor da revista Mad. Meu pai a trazia para mim do trabalho. Foi uma substituição um tanto abrupta com relação aos gibis da Mônica e do Cebolinha.
Mad fazia um humor anárquico, com sátiras impagáveis de filmes como “Tubarão”, “Super Homem” e “Star Wars”. A seção de charges de Don Martin era incrível. Havia as “Cenas Que Gostaríamos de Ver”. A terceira capa que se dobrava e revelava um desenho absurdo.
Mas a minha preferida era a seção de cartas, que elegia o Panaca do Mês: um leitor sem noção, que recebia uma resposta igualmente idiota da redação (quem escrevia? quem editava?).
Bem, essa ideia do Panaca do Mês é boa demais para ser esquecida, especialmente no nosso cenário atual. E ninguém melhor do que o deputado paranaense Fernando Francischini para inaugurar essa homenagem a Alfred E. Neuman, o “mascote” da Mad.
Ladeado por Eduardo Cunha, Francischini ultrapassou a barreira do decoro e cruzou a linha da estupidez na visita do príncipe Akishino, do Japão, à Câmara. Obrigou um estafeta a escrever o seguinte numa cartolina: “We want the impeachment of the (sic) president Dilma Roussef (sic) because we hope Brazil becomes as honoured as Japan”.

Diante de Akishino, empunhou o cartaz, como um daqueles sujeitos que vendem ouro no centro da cidade. O homem deu um sorriso sem graça e saiu apressado, de fininho, assustado com os costumes daquele estranho povo.
“Não aguentei: tive que falar para o príncipe do Japão que a situação da corrupção no Brasil está imoral”, afirmou Francischini. No Facebook, lamentou: “Se toda essa corrupção fosse no Japão seria diferente. Ah, seria…”
Provavelmente, seria.
Francischini e seu partido são aliados de um sujeito investigado por supostamente receber propina de 5 milhões de dólares, com várias contas na Suíça, uma delas chamada jesus.com.
O próprio Francischini foi demitido do cargo de secretário de segurança pública do Paraná e responde por improbidade administrativa por causa da operação policial que deixou quase 200 feridos numa manifestação contra o governo estadual em abril.
O príncipe japonês e sua mulher estão no país para uma visita de onze dias, parte das comemorações de 120 anos do estabelecimento de relações diplomáticas. Vão levar um berimbau, arco e flecha do Xingu, camisetas da seleção e a lembrança indelével do encontro com um legítimo Panaca Brasiliensis. (Fontes: aqui e aqui).
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Também refestelei-me com a Mad, e antes dela com Kit Carson, Tarzan, Reis do Gatilho, Kid Colt, Buck Jones, todos os quadrinhos de Walt Disney, Fantasma (o espírito que anda!), Roy Rogers (e Dale Evans - além do cavalo Trigger!), Zorros (tanto o mascarado que, montado em Silver, fazia justiça ao lado de seu parceiro Tonto, como o espadachim da marca do 'Z', tormento do Sargento Garcia), Cavaleiro Negro, Águia Negra, Os Sobrinhos do Capitão, Recruta Zero etc, etc, etc - além de 'fotoaventura', revista cujos 'quadrinhos' eram cenas de filmes de ficção - como obras de Julio Verne adaptadas para o cinema - aventura, faroeste, guerras, com as respectivas legendas. 
No auge da era dos quadrinhos, o Gordo e o Magro, bem como Os Três Patetas, já eram figurinhas carimbadas, nas bancas e nos cinemas em geral, no meu caso os cinemas interioranos, como o Cine Roxy, de Piracuruca, e Cine Éden, em Parnaíba. Mas confesso que a ficção ingênua dessas publicações nem sequer se aproxima da 'criatividade' que ressalta desse 'inusitado' causo estrelado pelo deputado Francischini. 

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