segunda-feira, 12 de outubro de 2015

DA SÉRIE TRAPALHADAS DO SENSO COMUM


Walter Dávila, a inteligência coletiva e a arte de estocar vento

Por Luis Nassif

De repente a nação amanheceu inteligente. De norte a sul, mentes apagadas puderam brilhar, inteligências borradas se coloriram como arco-íris de caderno escolar, cabeças vazias se encheram com os ventos da presunção, desinformados em geral saíram do armário da ignorância e pela primeira vez se viram de posse da suprema oportunidade de caçoar da desinteligência de alguém, momento único na vida de muitos.
Essa demonstração coletiva de inteligência se deveu à afirmação da presidente Dilma Rousseff sobre o desafio de estocar vento.
Dilma poderia ter sido mais técnica. Poderia falar em técnicas de armazenamento da energia eólica. Mas corria-se o risco de metade dos críticos achar que estava mencionando a energia que sai do corpo feminino durante as cólicas menstruais.
Talvez melhorasse se falasse em técnica de armazenar energia produzida pela ação dos ventos. Mas aí os gênios do cartesianismo-ao-alcance-de-todos bradariam do fundo da récova: vento não produz energia, quem produz energia é a máquina. E haveria uma nova discussão sobre o tema, com todos irmanados no mesmo nível de informação e de raciocínio.
Hoje em dia uma das grandes vocações brasileiras é no campo da energia limpa. E, dentro dela, a energia eólica – energia o quê? perguntariam os que se regozijaram com demonstrações de inteligência crítica caçoando da estocagem de vento.
O grande desafio da energia eólica é que tem que ser consumida no momento em que é produzida. Ao contrário da energia hidrelétrica, que fica acumulada nos reservatórios com a água estocada ou das termoelétricas cujo combustível é o óleo ou o gás.
Enquanto não se encontrar um meio de estocar a energia eólica (e-ó-l-i-c-a, gênios do senso comum), o seu crescimento estará condicionado à quantidade de energia hidráulica armazenada na forma de água dos reservatórios e interligados por um sistema nacional integrado.
É chata essa discussão? É. Imagine explicar aos gênios do senso comum o trabalho, em um sistema interligado, de casar a produção de energias não contínuas, como a do vento, com as energias estocáveis das hidrelétricas.
Afim de poupar o senso comum de conceitos acessíveis apenas aos iniciados, a língua portuguesa se permite figuras de linguagem. Dizer que os reservatórios estocam energia é uma metáfora que explica bem o conceito, sem precisar explicar aos explicadinhos todo o processo de transformação da água em energia. O mesmo ocorre com a estocagem de vento.
Mas o país que consagrou piadas sobre a férrea lógica dos irmãos portugueses herdou de Portugal tipos inesquecíveis, imortalizados por quem, mais do que qualquer um, entendia a alma de personagens típicos da vida nacional, os autênticos cabeças de vento: Walter Dávila. (Fonte: aqui).
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Walter Dávila figura num vídeo destacado no post de Nassif, e um outro vídeo enfatiza que "Fazendas no Iowa Stored Energy Park foram muito além e vão armazenar o próprio vento". 
Quantos cláudioshumbertos e cartunistas emitiram juízos jocosos sobre o assunto! Por quê?  Elementar: A ânsia em ridicularizar os oponentes suplanta qualquer desinformação e escrúpulo.

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