O mundo sombrio do petróleo
Por Miguel do Rosário
Não é que sirva de consolo, mas ajuda a nos dar uma referência e,
sobretudo, a não tirarmos falsas conclusões do escândalo de corrupção na
Petrobras.
Em meados de 2011, dois jornalistas americanos lançaram um livro que abalou a política do Alasca.
Até meados dos anos 90, o Alasca era o principal estado produtor de petróleo nos EUA.
Em meados de 2011, dois jornalistas americanos lançaram um livro que abalou a política do Alasca.
Até meados dos anos 90, o Alasca era o principal estado produtor de petróleo nos EUA.
Hoje as suas reservas e sua produção foram ultrapassadas por Texas, Dacota do Norte e o Golfo do México.
O livro, intitulado Crude Awakening, denuncia décadas de relação promíscua e
corrupta entre as grandes empresas de petróleo atuantes no Alaska e a elite
política local.
As companhias pagavam propinas milionárias a parlamentares, além de contribuições de campanha, para que estes lhes assegurassem impostos baixos e propusessem projetos de infra-estrutura que lhes beneficiassem.
O exemplo me parece adequado para nos alertar sobre o esforço de nossa mídia em associar a corrupção na Petrobras ao fato dela ser uma estatal.
O petróleo era explorado no Alasca por companhias privadas, e havia corrupção do mesmo jeito. Com uma diferença: as petroleiras pagavam pouco imposto, enquanto a nossa Petrobras é a maior pagadora de impostos do Brasil.
Na verdade, a indústria de petróleo, segundo a ONG Transparency International, ganhou a medalha de setor mais corrupto do mundo.
Há explicação para isso, naturalmente. O setor de petróleo é o que envolve mais riscos, mais perigos, mais guerras, mais dinheiro, mais especulação, mais geopolítica.
Ao mesmo tempo, é o setor estrategicamente mais importante do planeta, porque ligado àquela que ainda é, e continuará sendo por décadas, a principal fonte de energia para transportes e indústria.
É um jogo bruto, num mundo sombrio.
A queda nos preços do petróleo tem sido atribuída, em diversas reportagens, como esta publicada ontem pelo NY Times, a uma operação da Arábia Saudita para forçar a Rússia e Irã a não mais ajudarem a Síria.
O que a mídia americana, a mais governista do mundo, não fala, é que os EUA também devem estar por trás da estratégia, porque o petróleo barato impulsiona a economia americana, de um lado, e enfraquece todos os seus principais inimigos políticos: Rússia, Irã e Venezuela.
A monarquia saudita tem reservas de US$ 733 bilhões e aguentaria uns cinco anos de preços baixos. Além disso, os sauditas tornaram-se exímios operadores em bolsa, e seguramente compensam as perdas no preço do barril através de ações especulativas. Por exemplo, ficam “vendidos” em ações de Petrobras, e ganham bilhões quando as cotações da estatal caem na bolsa de NY.
A queda no preço das ações da Petrobras se deve a uma conjuntura negativa.
A estatal vive uma situação delicada, em virtude, paradoxalmente, de uma coisa boa. A Petrobras descobriu o pré-sal num momento em que o mundo vivia um problema grave de liquidez, e por isso teve dificuldades para alavancar dinheiro para iniciar os trabalhos de exploração nos novos campos.
Com a “revolução do xisto”, um petróleo disperso em meios às rochas, cuja exploração se tornou viável apenas recentemente, em função de novas tecnologias, os EUA de repente voltaram a ser grandes produtores, em especial o estado do Texas.
Aliás: a Petrobras está posicionada estrategicamente bem no coração do Texas, com a refinaria de Pasadena, tão maltratada pela mídia, pela Graça e por Dilma, mas que, em virtude do xisto tornou-se um dos ativos internacionais mais promissores da empresa.
As companhias pagavam propinas milionárias a parlamentares, além de contribuições de campanha, para que estes lhes assegurassem impostos baixos e propusessem projetos de infra-estrutura que lhes beneficiassem.
O exemplo me parece adequado para nos alertar sobre o esforço de nossa mídia em associar a corrupção na Petrobras ao fato dela ser uma estatal.
O petróleo era explorado no Alasca por companhias privadas, e havia corrupção do mesmo jeito. Com uma diferença: as petroleiras pagavam pouco imposto, enquanto a nossa Petrobras é a maior pagadora de impostos do Brasil.
Na verdade, a indústria de petróleo, segundo a ONG Transparency International, ganhou a medalha de setor mais corrupto do mundo.
Há explicação para isso, naturalmente. O setor de petróleo é o que envolve mais riscos, mais perigos, mais guerras, mais dinheiro, mais especulação, mais geopolítica.
Ao mesmo tempo, é o setor estrategicamente mais importante do planeta, porque ligado àquela que ainda é, e continuará sendo por décadas, a principal fonte de energia para transportes e indústria.
É um jogo bruto, num mundo sombrio.
A queda nos preços do petróleo tem sido atribuída, em diversas reportagens, como esta publicada ontem pelo NY Times, a uma operação da Arábia Saudita para forçar a Rússia e Irã a não mais ajudarem a Síria.
O que a mídia americana, a mais governista do mundo, não fala, é que os EUA também devem estar por trás da estratégia, porque o petróleo barato impulsiona a economia americana, de um lado, e enfraquece todos os seus principais inimigos políticos: Rússia, Irã e Venezuela.
A monarquia saudita tem reservas de US$ 733 bilhões e aguentaria uns cinco anos de preços baixos. Além disso, os sauditas tornaram-se exímios operadores em bolsa, e seguramente compensam as perdas no preço do barril através de ações especulativas. Por exemplo, ficam “vendidos” em ações de Petrobras, e ganham bilhões quando as cotações da estatal caem na bolsa de NY.
A queda no preço das ações da Petrobras se deve a uma conjuntura negativa.
A estatal vive uma situação delicada, em virtude, paradoxalmente, de uma coisa boa. A Petrobras descobriu o pré-sal num momento em que o mundo vivia um problema grave de liquidez, e por isso teve dificuldades para alavancar dinheiro para iniciar os trabalhos de exploração nos novos campos.
Com a “revolução do xisto”, um petróleo disperso em meios às rochas, cuja exploração se tornou viável apenas recentemente, em função de novas tecnologias, os EUA de repente voltaram a ser grandes produtores, em especial o estado do Texas.
Aliás: a Petrobras está posicionada estrategicamente bem no coração do Texas, com a refinaria de Pasadena, tão maltratada pela mídia, pela Graça e por Dilma, mas que, em virtude do xisto tornou-se um dos ativos internacionais mais promissores da empresa.
Ou seja, não há perspectiva de déficit de petróleo para os EUA pelo menos até
2035. Ao contrário, o país deverá se tornar exportador de gás e petróleo a
partir de 2019, segundo
estudos da BP e da Agência
Internacional de Petróleo (IEA).
Essa conjuntura não oferece um cenário favorável a preços altos para o petróleo, o que é bom para o mundo, porque ajuda a baixar o custo de vida em todo o planeta, incluindo o Brasil, mas prejudica países dependentes da exportação de petróleo – o que não é o nosso caso.
Entretanto, os já citados estudos também apontam para um crescimento contínuo do consumo de petróleo e gás, durante as próximas décadas, impulsionado sobretudo pelos mercados emergentes, em especial Índia e China, onde a quantidade de veículos per capita ainda deve crescer de maneira extraordinária.
Essa conjuntura não oferece um cenário favorável a preços altos para o petróleo, o que é bom para o mundo, porque ajuda a baixar o custo de vida em todo o planeta, incluindo o Brasil, mas prejudica países dependentes da exportação de petróleo – o que não é o nosso caso.
Entretanto, os já citados estudos também apontam para um crescimento contínuo do consumo de petróleo e gás, durante as próximas décadas, impulsionado sobretudo pelos mercados emergentes, em especial Índia e China, onde a quantidade de veículos per capita ainda deve crescer de maneira extraordinária.
Em tese, para a Petrobras e o Brasil, o mercado de petróleo é lucrativo na alta
ou na baixa, por causa do monopólio virtual sobre a produção e a distribuição.
Se o preço está baixo, a Petrobras ganha no refino e na distribuição. Se está
alto, ganha na produção.
O problema é que a Petrobras encontra-se num momento delicado de investimento em exploração.
A necessidade de investir obrigou a Petrobras a se endividar.
Ela se endividou para poder investir nas novas plataformas de exploração no pré-sal.
Aí quando a cotação do petróleo começou a cair, foi como uma puxada de tapete.
A nossa sorte é que o pior já passou. Já temos plataformas instaladas suficientes para iniciarmos um processo crescente de produção nas áreas do pré-sal. Se essa crise viesse dois ou três anos atrás, as coisas seriam bem mais difíceis.
A partir do momento que a produção do pré-sal aumentar, como já está acontecendo, o caixa da Petrobras sentirá um grande alívio financeiro, porque vai reduzir a sua dependência de capital externo.
De qualquer forma, a Petrobrás, após ser vítima de ladrões dentro e fora dela, agora é atacada de maneira igualmente injusta por uma mídia absolutamente partidária.
Os números da Petrobras são ótimos. Recorde em cima de recorde. Nunca uma petroleira conseguiu extrair tanto petróleo de novas reservas em tão pouco tempo.
Segundo o último boletim da ANP, a produção de petróleo no Brasil, em dezembro de 2014, alcançou 2,49 milhões de barris/dia, alta de 18% sobre igual mês de 2013 e crescimento de 6% sobre mês anterior.
A produção de gás natural disparou quase 17% em dezembro, na comparação com o ano anterior, e 4%, sobre o mês anterior.
O problema é que a Petrobras encontra-se num momento delicado de investimento em exploração.
A necessidade de investir obrigou a Petrobras a se endividar.
Ela se endividou para poder investir nas novas plataformas de exploração no pré-sal.
Aí quando a cotação do petróleo começou a cair, foi como uma puxada de tapete.
A nossa sorte é que o pior já passou. Já temos plataformas instaladas suficientes para iniciarmos um processo crescente de produção nas áreas do pré-sal. Se essa crise viesse dois ou três anos atrás, as coisas seriam bem mais difíceis.
A partir do momento que a produção do pré-sal aumentar, como já está acontecendo, o caixa da Petrobras sentirá um grande alívio financeiro, porque vai reduzir a sua dependência de capital externo.
De qualquer forma, a Petrobrás, após ser vítima de ladrões dentro e fora dela, agora é atacada de maneira igualmente injusta por uma mídia absolutamente partidária.
Os números da Petrobras são ótimos. Recorde em cima de recorde. Nunca uma petroleira conseguiu extrair tanto petróleo de novas reservas em tão pouco tempo.
Segundo o último boletim da ANP, a produção de petróleo no Brasil, em dezembro de 2014, alcançou 2,49 milhões de barris/dia, alta de 18% sobre igual mês de 2013 e crescimento de 6% sobre mês anterior.
A produção de gás natural disparou quase 17% em dezembro, na comparação com o ano anterior, e 4%, sobre o mês anterior.
Nos últimos anos, a Petrobras aumentou suas reservas, sua produção, seu refino,
construiu as plataformas mais modernas do mundo, financiou o ressurgimento da
indústria naval.
Não foi à toa que, apenas este ano, a Petrobras ultrapassou a Exxon e se tornou a maior produtora de petróleo do mundo, entre empresas com papeis negociados na bolsa, e ganhou o maior prêmio mundial do setor de offshore.
Graça Foster, a agora ex-presidente da Petrobras, por sua vez, ganhou, também este ano, o principal prêmio mundial concedido a engenheiros do setor.
Todos os estudos sinalizam que o petróleo continuará sendo um insumo vital para o planeta até pelo menos meados de 2050.
Há uma tendência crescente e saudável por combustíveis menos poluentes, que fará com que não apenas a posição das energias limpas aumente substancialmente, como os novos motores sejam mais econômicos e eficientes (rodando mais quilômetros com menos gasolina).
Mas o petróleo ainda será dominante por um bom tempo, e espera-se um aumento vigoroso da demanda, por causa dos mercados emergentes.
Segundo o boletim mais recente da Agência Internacional do Petróleo (IEA), o equilíbrio entre oferta e demanda, folgado hoje, voltará a ficar apertado até o fim do ano, o que poderá contribuir para a melhora dos preços do petróleo.
O Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, edição de 2014, informa que as reservas mundiais de petróleo, provadas, estão em 1,69 trilhão de barris, sendo que os países membros da OPEP detêm 72% delas.
Acho importante a gente conhecer a situação dos principais países do setor (em produção ou consumo). Então preparei um quadro com os números da ANP:
Não foi à toa que, apenas este ano, a Petrobras ultrapassou a Exxon e se tornou a maior produtora de petróleo do mundo, entre empresas com papeis negociados na bolsa, e ganhou o maior prêmio mundial do setor de offshore.
Graça Foster, a agora ex-presidente da Petrobras, por sua vez, ganhou, também este ano, o principal prêmio mundial concedido a engenheiros do setor.
Todos os estudos sinalizam que o petróleo continuará sendo um insumo vital para o planeta até pelo menos meados de 2050.
Há uma tendência crescente e saudável por combustíveis menos poluentes, que fará com que não apenas a posição das energias limpas aumente substancialmente, como os novos motores sejam mais econômicos e eficientes (rodando mais quilômetros com menos gasolina).
Mas o petróleo ainda será dominante por um bom tempo, e espera-se um aumento vigoroso da demanda, por causa dos mercados emergentes.
Segundo o boletim mais recente da Agência Internacional do Petróleo (IEA), o equilíbrio entre oferta e demanda, folgado hoje, voltará a ficar apertado até o fim do ano, o que poderá contribuir para a melhora dos preços do petróleo.
O Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, edição de 2014, informa que as reservas mundiais de petróleo, provadas, estão em 1,69 trilhão de barris, sendo que os países membros da OPEP detêm 72% delas.
Acho importante a gente conhecer a situação dos principais países do setor (em produção ou consumo). Então preparei um quadro com os números da ANP:
A lista de países nos causa um frisson geopolítico…
Conclusões:
1) A queda nas cotações do petróleo, ao contrário do que prega a mídia brasileira, comprova a importância de manter a Petrobras no comando de ambos os lados do balcão: na produção e na distribuição, porque assim ela pode ganhar na alta ou na baixa – e continuar sendo a maior pagadora de impostos do país (à diferença da mídia, que sonega).
2) Nossas reservas, em verdade, mesmo com o pré-sal, não são grande coisa, então deveriam ser guardadas apenas para o consumo doméstico. O mundo pode pegar fogo lá fora, as cotações podem explodir ou derreter, que manteremos uma tranquila autonomia em petróleo.
3) Por isso é tão importante também construir refinarias, outro fator de soberania e segurança econômica.
4) A corrupção tem de ser combatida, com transparência, investigação e implementação de um sistema de governança mais rígido. Não é preciso nenhuma pirotecnia midiática, nenhuma privatização, nenhuma “abertura”. A Petrobras tem de aguentar o tranco, com firmeza.
(Para continuar, clique aqui).
Conclusões:
1) A queda nas cotações do petróleo, ao contrário do que prega a mídia brasileira, comprova a importância de manter a Petrobras no comando de ambos os lados do balcão: na produção e na distribuição, porque assim ela pode ganhar na alta ou na baixa – e continuar sendo a maior pagadora de impostos do país (à diferença da mídia, que sonega).
2) Nossas reservas, em verdade, mesmo com o pré-sal, não são grande coisa, então deveriam ser guardadas apenas para o consumo doméstico. O mundo pode pegar fogo lá fora, as cotações podem explodir ou derreter, que manteremos uma tranquila autonomia em petróleo.
3) Por isso é tão importante também construir refinarias, outro fator de soberania e segurança econômica.
4) A corrupção tem de ser combatida, com transparência, investigação e implementação de um sistema de governança mais rígido. Não é preciso nenhuma pirotecnia midiática, nenhuma privatização, nenhuma “abertura”. A Petrobras tem de aguentar o tranco, com firmeza.
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