sábado, 7 de fevereiro de 2015

O OVNI DE CAMPO GRANDE

          Ufólogo Ademar Gevaerd largou tudo para perseguir os rastros de ETs no planeta Terra

Ovni em jogo de futebol tornou professor de química o maior ufólogo do país

Por Adriano Wilkson

Trinta e três anos depois ainda é difícil explicar sem soar meio fora de órbita o que aconteceu no céu de Campo Grande na noite de 6 de março de 1982. Naquele sábado o Vasco tinha ido visitar o Operário pelo Campeonato Brasileiro, mas o que ficou do jogo, vencido pelo time da casa por 2 a 0, foi um vulto luminoso estranho voando acima da arquibancada do estádio.

Nas três décadas seguintes, tão numerosos quanto as estrelas no universo, surgiriam relatos de gente que olhou para cima e viu algo que eles não sabem dizer o que é.

Maria das Dores, uma torcedora fanática do time da casa, viu. Marquinhos Tavares, futuro cartola da federação de futebol local, viu. O lateral Cocada, do Operário, foi um dos que mais viram. O juiz José de Assis Aragão viu, mas não interrompeu o jogo. Alberto Pontes Filho, funcionário do estádio, também viu. O zagueiro Rondinelli, do Vasco, viu só um pouco.

Eis o que eles viram, ao se tirar o denominador comum a todos os relatos: uma luz forte, aparentemente vinda de um grande objeto que não era nem um avião, nem um helicóptero, nem nada produzido por mãos humanas, cruzando rapidamente o horizonte noturno acima do estádio Morenão.

Não havia barulho, não havia fumaça, não havia lógica: havia apenas uma velocidade de movimento que deixou quase todo mundo embasbacado.

Não houve imagens também, fotográficas ou de vídeo. Os cinegrafistas da TV Globo, que transmitia a partida, disseram que seu equipamento era muito pesado para que eles pudessem virá-lo ao céu tão rápido.

Não se sabe de alguém na arquibancada que estivesse com uma câmera fotográfica pendurada no pescoço, mas isso é altamente improvável: estamos falando do começo da década de 80.
Não há registros, mas mesmo sem registros, é possível fazer História.

A coisa voando no céu aconteceu no primeiro tempo, diz a maioria das testemunhas. No intervalo, a torcida só falava daquilo. No vestiário, os jogadores só falavam daquilo. Muitas hipóteses foram levantadas para explicar o que era aquilo, mas ninguém tinha muita certeza.

Na edição preparada no dia seguinte, o jornal "Correio do Estado", manchetou, sem meias palavras: "Um OVNI, espetáculo na capital". À reportagem controladores de tráfego aéreo do aeroporto local confirmavam a visão de luzes estranhas no céu. A aeronáutica confirmava que não havia voos previstos para o horário.

              (Jornal Correio do Estado - Campo Grande-MS, março 1982).

A ausência de uma explicação oficial fez parte da população confirmar algo que era repetido ora como drama, ora como farsa: naquela noite, Campo Grande tinha mesmo sido visitada por uma nave espacial tripulada por seres extraterrestres.

A 564 km dali, Ademar José Gevaerd estava datilografando em sua velha Olivetti e não testemunhou o fenômeno que mudaria sua vida para sempre. Ele tinha 20 anos, dava aulas de química em cursinhos de Maringá, no Paraná, tentava concluir a graduação e conservava uma paixão profunda por discos voadores.

Naquela noite, recebeu uma ligação de Campo Grande. Era seu professor de matemática, um sujeito que sempre tirava sarro da seriedade com que Gevaerd tratava seus estudos sobre a vida extraterrestre.

Do outro lado da linha, o ceticismo do professor tinha se transformado em espanto. "Você não vai acreditar no que eu acabei de ver", disse ele. E começou a descrever os objetos voadores que tinham dançado sob o céu da sua casa enquanto ele aparava a grama do jardim.

Gevaerd ficou maluco. Não demorou até que ele se mudasse – de mala, cuia e livros de ufologia – para Campo Grande, onde entrevistaria centenas e centenas de pessoas que naquela noite viram o que, ele tem certeza, eram naves espaciais.

Foi a primeira grande pesquisa daquele que muitos consideram o maior ufólogo brasileiro. Quatro anos depois, ele fundaria a "Revista UFO", a única no Brasil dedicada a divulgar e investigar as aventuras dos alienígenas em nosso planeta.

Desde então, o pesquisador tem sido a principal referência brasileira entre os ufólogos considerados sérios. Sua vida é quase inteiramente dedicada ao acúmulo de conhecimento sobre o que ele chama de "manifestações incontestáveis de vida inteligente alienígena".

Gevaerd participa de congressos internacionais onde descreve os casos de avistamento de óvnis no Brasil. Ele viaja o país inteiro atrás desses relatos. Vai a programas de TV onde é sabatino por acadêmicos céticos e às vezes se vê acuado diante de evidências científicas sobre a impossibilidade de viagens interestelares.

Entra em debates acalorados com ufólogos que ele considera charlatões e já chegou a ser processo por seus desafetos. Um deles é Urandir Fernandes de Oliveira, conhecido por se dizer o porta-voz no planeta Terra do ET Bilu.

Gevaerd considera Urandir um picareta e diz que Bilu era o nome de um gato que ele, Gevaerd, tinha em Campo Grande.

Segundo ele, Urandir criou o ET Bilu só para provocá-lo. Os dois se desprezam e se ofendem em fóruns e sites de ufologia.

Gevaerd está atualmente organizando um congresso de pessoas que dizem ter sido abduzidas por ETs, pessoas que dizem ter sido levadas a planetas distantes em viagens por dentro de buracos de minhoca.

Às vezes, ele é tomado por maluco. Mas não se importa. Trinta e três anos depois do aparecimento daquelas luzes sobre os jogadores de Operário x Vasco, Gevaerd está levando a vida que pediu aos céus, estudando discos voadores, teorizando sobre civilizações de outros planetas, derrubando fraudes, produzindo conhecimento. "Eu acho que nasci para isso", diz ele.

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