Santiago.
O golpe revelado
Por Janio de Freitas
Um documento da Embaixada dos Estados Unidos em Assunção para o Departamento de
Estado, em março de 2009, desmente a alegação de que a derrubada de Fernando
Lugo fosse a reação do Congresso à inaptidão presidencial ante o confronto
armado de sem-terra e policiais.
Com três anos e dois meses de
antecedência, o governo de Barack Obama estava informado, por sua embaixada, do
golpe que era planejado sob o disfarce de "um julgamento político dentro do
Parlamento". Tal como veio a ser feito.
A ideia de que houve uma ação
legítima e constitucional, no afastamento de Lugo, desaba sob a prova da longa
conspiração.
A Constituição foi tão vítima do golpe quanto o presidente
eleito. Os conspiradores planejaram uso fraudulento dos dispositivos
constitucionais de defesa da democracia. Assim viriam a ludibriar os países
vizinhos, e os acordos internacionais, com as aparências de uma medida
parlamentar legal.
O documento confidencial da embaixada para o
Departamento de Estado foi divulgado pelo Wikileaks, o "site" que os governos
americano e inglês, sobretudo, vêm tentando silenciar, por suas revelações de
documentos secretos comprovadores de práticas ilegais e imorais, principalmente,
das potências.
No caso atual, vê-se que, apesar de informado sobre a
conspiração desde cedo, o governo dos Estados Unidos não produziu nenhum indício
de defesa da democracia paraguaia. E, logo após a derrubada de Lugo, foi o
primeiro a dar mais do que indícios de apoio ao empossado Federico Franco, mais
simpático aos Estados Unidos do que à América do Sul.
Um pouco mais
tarde, a secretária Hillary Clinton fez um dúbio recuo, para algo parecido com
indefinição. Não seria conveniente opor-se, tão depressa, à condenação imediata
do "golpe parlamentar" feita por grande parte da América Latina.
O
general Lino Oviedo é apontado, no documento americano, como um dos dois
principais condutores da conspiração, com a companhia do ex-presidente Nicanor
Duarte.
Oviedo é um desses tipos comuns de militares maníacos de
golpismo: cucaracha típico. O que o fez passar anos no Brasil como fugitivo e,
depois, como asilado, por fracassar na tentativa de golpe contra o então
presidente Juan Wasmosy. Oviedo já se põe como candidato nas eleições
presidenciais a ocorrerem, dizem, daqui a nove meses.
A divulgação que se
deve ao Wikileaks vem facilitar a defesa, pelos países do Mercosul, da sua
decisão de suspender o Paraguai como integrante da entidade.
O mesmo
deverá ocorrer com o Paraguai e com o efeito Wikileaks na Unasul, união dos
países da América do Sul, em sua próxima reunião.
Mas foi positivo que
Brasil, Argentina e Uruguai limitassem a suspensão do Paraguai, no Mercosul, aos
assuntos de natureza política, sem estendê-la aos compromissos econômicos e
transações usuais. (Inclusive, do ponto de vista dos novos governantes
paraguaios, o contrabando e os produtos falsificados).
Os bloqueios
econômicos, tão ao gosto dos governos americanos, são perversos com os povos,
não com os governantes.
O mísero Paraguai, com mais de metade da
população em aguda pobreza, não tem que pagar pelos que o exploram. (Fonte: aqui).
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Vários críticos do governo brasileiro, enquanto torcem desesperadamente pelo fracasso da economia, se esmeram em condenar todo e qualquer gesto do País. Como o Brasil condenou o golpe paraguaio, eles, claro, correram a apoiar os golpistas. Para agora serem desmoralizados pelos fatos, como os relatados por Janio de Freitas na matéria acima.
Não se pretende que o País seja infalível, inquestionável. Mazelas existem; mas daí a tachar de desastrada toda e qualquer iniciativa vai uma baita distância. Os neolibs, porém, abraçados à saudade do governo FHC, pensam o contrário. Como se o Brasil não tivesse quebrado três vezes naquele período e o País, na bacia das almas, não devesse seu pescoço a Clinton.
Mas, como diz um velho e querido amigo, não vos inquieteis, pois logo, logo nossos bravos iluminados voltarão à carga. É do jogo democrático.
domingo, 1 de julho de 2012
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