segunda-feira, 2 de maio de 2011
A MORTE DE OSAMA BIN LADEN
Por Carlos Orsi
Sendo este um blog - http://carlosorsi.blogspot.com/ - especialmente atento aos aspectos mais tóxicos da religião e do tipo de pensamento que sustenta a crença religiosa em geral - e tendo sido Osama bin Laden o homem que, no mundo moderno, mas fez para extrair dor e sofrimento desses aspectos e modos -, alguns comentários sobre seu passamento me parecem cabíveis.
O primeiro é lamentar o grau de ódio e fanatismo que o ódio e o fanatismo engendram, como reação, em suas vítimas. Ler no New York Times que o presidente Barack Obama definiu a morte de Bin Laden com a frase "justiça foi feita" é nada menos que chocante.
Não, senhor presidente, justiça não foi feita. Justiça teria sido feita se Bin Laden tivesse sido levado para Haia (ou Washington, ou Miami, ou Nova York), julgado e condenado. Até mesmo os arquitetos do Holocausto tiveram direito a seu dia no tribunal. Até mesmo o Estado de Israel julgou necessário dar a Eichmann o direito de defesa.
Mesmo considerando que um passo do tipo talvez tivesse sido politicamente, ou militarmente, inviável no caso de Bin Laden, teria sido possível evitar a indecente inclusão da palavra "justiça" no discurso presidencial.
O segundo é temer pelo impacto que a forma como a localização de Bin Laden se deu terá no (já claudicante) respeito das potências ocidentais pelos direitos humanos. De acordo com o NY Times, o mensageiro que foi seguido entrando na fortaleza de Bin Laden no Paquistão teve sua identidade revelada por prisioneiros de Guantánamo. Sob quais condições esses homens falaram, e o que os induziu a falar, é algo, ao que parece, aberto a livre especulação.
Terceiro, resta imaginar os efeitos da morte de Bin Laden sobre a legião de fanáticos que o tinham como comandante, se não de campo, certamente espiritual. Se a história dos fanatismos religiosos servir de exemplo, haverá três reações, uma em seguida da outra:
1. A morte não aconteceu;
2. A morte aconteceu, mas será vingada;
3. A morte de Bin Laden nas mãos de seus inimigos passará a ser vista como uma espécie de transfiguração mística, transformando-o, morto, num símbolo ainda mais forte do que era em vida.
Esse é um padrão que se repete desde épocas imemoriais - exemplos que me ocorrem agora incluem Jesus de Nazaré, o rei de Portugal Dom Sebastião e, em tempos relativamente recentes, Salvador Allende e Che Guevara.
Por fim:
No livro The Al Qaeda Reader, uma compilação de textos doutrinários da organização de Bin Laden, há um longo capítulo sobre a moralidade das operações suicidas e de se causar a morte de inocentes. A conclusão é de que todas essas coisas são permissíveis, desde que feitas pelo bem e pela glória do islã.
Substitua "islã" pela religião, ideologia, divindade, partido político, país ou clube de futebol de sua preferência e você verá quantas "Al Qaedas" em potencial nos espreitam pelos cantos deste mundo de malucos.
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2 comentários:
Dodô
Eu também achei absurda esta história. Eles simplesmente mataram o homem, sem direito a julgamento ou qualquer coisa que o valha. Isto é o maior absurdo que já vi em minha vida.
ab
joão antonio
De fato, caro amigo, muitas instâncias manifestam o entendimento de que o caminho seria o julgamento no Tribunal Internacional de Haia. Quem pensa assim? A presidente do Conselho da União Europeia, por exemplo.
Um abraço.
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