sexta-feira, 3 de abril de 2020

COVID-19: PALAVRAS NADA AMENAS DE UM ANALISTA

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A situação é de fato preocupante, dada a desigualdade social reinante no Brasil, o alheamento do Planalto em face da crise que se avizinha(va), a 'pequenez' do Brasil entre as grandes potências (vide os EUA 'desfazendo' contratos de compra de EPIs firmados por nosso país - o mais recente de interesse da Bahia - junto à China) e o processo de esvaziamento do SUS, programa importantíssimo que mereceria deferências especiais, criado a partir do advento da Constituição Federal de 1988.
Mas contamos, em contrapartida, com uma equipe ministerial engajada, liderada pelo ministro Mandetta, um bom sistema de comunicação e a surpresa positiva da cooperação de algumas empresas e entidades (e até pessoas físicas) na luta contra o coronavírus. Tudo isso a despeito dos ruídos produzidos por instância superior. Mas as palavras nada amenas de Fernando Brito são, sim, cabíveis.
Nota: Nesta data, a prefeitura de São Paulo negou relação entre covid-19 e as covas ontem mostradas pela imprensa (como se vê abaixo). 


O monstro está chegando e o governo tergiversa

Por Fernando Brito

Não está longe a explosão dos casos de coronavírus no Brasil, está perto.
Nos próximos dias você terá a notícia de que um conhecido, um amigo, um parente está infectado e internado.
Isso não é terror, é apenas a verdade, como aqui se disse, há quase um mês, que a doença explodiria nos EUA, que, então, ainda brincavam com a história de que era uma “gripezinha” e não agiam para isolar seus cidadãos.
Os números, lá, são aterrorizantes: 235 mil infectados, mais de 25 mil em 24 horas. Mais de mil mortos, ontem.
Um terço dos novos casos diários no mundo são norte-americanos e hoje devem ser perto de 30 mil.
Do Equador, chegam cenas dantescas de cadáveres sendo deixados nas ruas ou cremados ali mesmo, no asfalto.
Por todo o mundo, os mortos se contam às dezenas de milhares.
Ainda não está assim aqui, mas será que vai ficar?
A resposta, infelizmente, é sim.
Temos relativamente “poucos” casos – embora já passem de sete mil – por uma única razão: a grande maioria não é testada.
O Instituto Adolfo Lutz, apenas ele,  tem 16 mil testes na “fila” para serem examinados. Como os testes, escassos, em geral só foram aplicados a pacientes com sintomatologia evidente, é de se esperar uma alta taxa de resultados positivos. E, portanto, uma “dobra” nos casos.
Além disso, como mostra hoje a Folha, os médicos de primeiro atendimento, sem testes e sem uma orientação precisa de como classificar pacientes para notificação sistema, estimam que possa haver dezenas de casos.
O mesmo aconteceu nos EUA, onde os testes eram – e em alguns estados ainda são – muito poucos.
Some-se a isso o fato de que, a partir da formação de uma “massa crítica”, o fator de expansão se amplia e forma números apavorantes.
Os Estados Unidos, “campeão mundial” de casos, há apenas duas semanas, tinha menos casos confirmados que o Brasil. Eram, acreditem, 6.344, no dia 17 de março. 38 vezes mais, sim, é isso mesmo.
Tento conter a indignação que tem marcado meus últimos posts, porque não é fácil se manter sóbrio diante dos assassinatos em massa que nossas titubeantes autoridades estão perpetrando.
Ainda há milhares de nossos irmãos desnecessariamente nas ruas, animados e confusos por conta de um pastiche de Trump que, enfim, fará do Brasil um país semelhante aos EUA, mas apenas no desastre humanitário. Ou quase.
Aqui talvez não haja a dor silenciosa da América do Norte, como também não há os cargueiros trazendo socorro da China, o mesmo socorro que faltará aqui.
Nem se espere socorro de nosso (?) governo.
Porque, com as demoras e complicações (propositais e perversas) de se garantir uma mísera renda a quem está privado de seu trabalho, mesmo precário, há 15 dias ou mais, vai ser ouvido também o grito da fome, além do da perda.
Daqui a quinze dias é perto, semana que vem é perto, hoje é perto.
Desculpem, portanto, se não amenizo as palavras.  -  (Tijolaço - Aqui).

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