segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O JURO REAL QUE FAZ A FESTA DOS RENTISTAS EM GERAL


Política Monetária de Juros: Concentradora de Riqueza Financeira

Por Paulo Nogueira da Costa

A quem beneficia esta política de juros (nominais e reais) disparatados em relação aos vigentes em todos os demais países? Obviamente, à casta de financistas que se apoderou do COPOM, cujos representantes não têm a postura ética de se declararem impedidos de beneficiar a si próprio, não podendo fixar o juro por “conflito de interesses“. Aliás, juro é interest em inglês, interés em espanhol, intérêt em francês, e falta-de-vergonha em português-brasileiro…🙂
Antonio Delfim Netto (Valor, 01/11/16) ressalta que, “a despeito do propalado 'formidável progresso da Ciência Monetária', os Bancos Centrais (independentes, autônomos ou 'farsantes') jamais entregaram as suas promessas, o que recomenda um ceticismo cauteloso”.
Ele lembra que “a história da criação dos Bancos Centrais é longa. Há pelo menos 350 anos, por diversos motivos (em geral problemas fiscais), alguns governos decidiram dar apoio à criação de instituições bancárias.
O primeiro foi o Swedish Riskbank, em 1668. O Bank of England foi criado em 1694, para ajudar a financiar a guerra contra a França! O Banque de France, em 1800, para facilitar o financiamento das guerras napoleônicas. O Austrian National Bank foi criado em 1816 “para restabelecer o valor da moeda destruído pelo financiamento da (mesma) guerra”.
Dois exemplos mostram outra faceta dessa história. O famoso Federal Reserve, o Fed americano, foi criado em 1913, depois da grave crise financeira de 1907, “para garantir a estabilidade financeira”. Sua função foi expandida em 1978 para “assegurar o pleno emprego, a estabilidade dos preços e a moderação da taxa de juros de longo prazo”. Depois da Segunda Guerra Mundial, a absoluta estabilidade monetária tornou-se um dogma religioso na Alemanha, com a criação do Bank Deutscher Land em 1948. Foi entronizado na Lei do Bundesbank, em 1957.
Um fato interessante com relação ao papel dos Bancos Centrais é que foi o avanço da teoria – de H. Thorton (1802) a W. Bagehot (1866) – que lhes atribuiu a tarefa primordial de garantir a “liquidez do sistema financeiro”, com a criação da doutrina do “emprestador de última instância”, infelizmente esquecida em 2008!
Toda essa discussão tem pouca importância diante de um fato concreto e incontornável: a política monetária não pode ser independente da política fiscal por motivos técnicos (como se vê em Sims, C.A. – “Fiscal Policy, Monetary Policy and Central Bank Independency“, que tanta confusão causou em Jackson Hole, no dia 26 de agosto deste ano) e por motivos políticoso regime democrático a rejeita, pelo enorme custo que impõe aos “perdedores” majoritários.
Acrescento eu (FNC): quando a casta dos comerciantes-financistas se apropria do poder discricionário de fixar o juro básico de referência, este passa a ser a variável-determinante de todas as demais rendas. Esta casta passa a ter o privilégio único de determinar sua própria renda. As demais ficam submetidas à dura Lei do Mercado. Em última análise, o Banco Central do Brasil se transformou em uma instituição extrativista, pois o juro arbitrário e ilimitado retira renda dos trabalhadores pelo desemprego e tributação, demanda dos comerciantes, venda e aluguel dos imóveis, tudo isso em favor apenas da renda do capital financeiro.
Resultado deste arbítrio na concentração da riqueza financeira: no primeiro semestre de 2016, os ativos sob administração no Private Banking cresceram 7% (R$ 50 bilhões), em média per capita (por cada um dos 109.894 clientes)  de R$ 6,483 milhões em dezembro de 2015 para R$ 6,864 milhões, para cada um dos 111.094 clientes, em junho de 2016. Cada qual acumulou mais R$ 481 mil, ou seja, quase 1/2 milhão de reais em um semestre que o juro básico (Selic) permaneceu em 14,25% aa!
Isto contemplando 1.200 novos clientes Private, o que diminuiu um pouco essa média de capitalização.
Desde dezembro de 2013, há dois anos e meio, quando o AuM (Ativo sob Administração) somava R$ 577.177,22 milhões, passando para R$ 762.640,36 milhões em junho de 2016, o Private Banking, acumulou mais R$ 185 bilhões!
Curiosamente, este valor é próximo do déficit primário de R$ 190,5 bilhões do governo central em 12 meses, em setembro de 2016, o que evidencia que o problema fiscal pode ser visto como a contrapartida do enriquecimento desta casta privilegiada…
(...)
P.S.:
Sob o ponto de vista das operações de swap cambial, programa que visa dar proteção ao mercado e garantir estabilidade financeira, não há incentivo para o BCB abaixar juros. No ano, a conta está positiva para o BCB em R$ 77,047 bilhões. O swap cambial é um derivativo que relaciona as variações no câmbio com a taxa de juros em um determinado período. De forma simplificada, o BCB é ganhador quando a cotação do dólar cai e perdedor quando a moeda americana sobe de valor ante o real. O estoque de contratos em mercado está ao redor dos US$ 25 bilhões, depois de ter chegado a US$ 104 bilhões em agosto de 2015. 
(Fonte: Blog Cidadania & Cultura, do economista Paulo Nogueira da Costa - AQUI).
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Enquanto rentistas em geral se refestelam e a dívida pública se mantém plenamente inquestionável, saúde, educação, saneamento básico e programas sociais entram na mira da PEC 55. 

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