Golpista
O que diz Paulo Nogueira, titular do blog Diário do Centro do Mundo:
Então chegamos à seguinte situação. Mesmo os golpistas admitem que a palavra golpista pegou. Ponto. Algumas coisas pegam, outras não.
Golpista pegou.
O problema é que os golpistas ficam extremamente incomodados em serem chamados de golpistas. Temer já disse isso. Cristovam Buarque também. A Folha, num editorial, xingou manifestantes que picharam a expressão golpista em sua sede na Barão de Limeira.
Pensando em tudo isso, montei um micromanual de atitudes para os golpistas incomodados em ser chamados de golpistas. Embora simples, é um manual infalível.
As recomendações:
1) Não há meio mais seguro para não ser chamado de golpista do que não ser golpista. Num paralelo: você não gosta de ser chamado de bêbado? Não beba. Não gosta de ser chamado de mulherengo? Não seja mulherengo. Não gosta de ser chamado de grosseiro? Não faça grosseria.
A mesma coisa funciona para o golpismo. Jamais acusarão você de golpista se você não for golpista.
2) Não acuse o golpe, caso seja chamado de golpista. Sabe aquela coisa da infância? Dão a você um apelido que você detesta. Se você deixar claro isso, o quanto abomina o apelido, acabou. Você será conhecido por ele o resto de sua vida.
Seja ator, nestes casos. Mesmo que mortificado, simule bom humor. Cristovam Buarque já dançou. Ficou evidente quanto dói para ele ser chamado de golpista.
Em sua raiva desgovernada, ele dá longas explicações sobre por que não é golpista. Só piora. É possível que quando Cristovam Buarque for enterrado alguém cole em seu cova: “Aqui jaz um golpista”.
No túmulo de Temer, talvez apareça outra inscrição, sugerida por Zé Simão. Quando veio a público que Temer não queria ser chamado de golpista, Simão sugeriu tratá-lo de “golpisto”.
3) Se as coisas parecerem realmente complicadas, escreva um livro. Churchill disse que não se preocupava com o que a história diria dele porque os historiadores consultariam os livros que ele próprio escreveria a seu respeito.
O difícil, aí, é que os golpistas brasileiros não têm o talento, o poder de persuasão, o carisma de Churchill.
Considere, para ficar num caso, FHC. Sua prosa é rasteira, suas ideias são superficiais: em suma, seu poder de convencimento tem o tamanho oposto de sua arrogância.
FHC pode escrever mil livros que nada será suficiente para que perante a posteridade ele deixe de ser tratado como o que é: um golpista.
Uma boa frase para seu jazigo talvez fosse esta: “Foi golpista e tentou ser escritor”.
Bem, prometi um manual curto e paro por aqui.
Foram três recomendações, relembro. Mas a mais eficiente é a primeira. Não quer que chamem você de golpista? Não seja golpista. (Aqui).
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Mais táticas dignas de menção no manual:
O bom humor é fundamental, sempre. Ainda que em certas circunstâncias venha a ser encarado como galhofa. Veja-se o caso do ex-interino: um dia, afirma que os protestos são compostos por 30, 40 depredadores, nada mais; no dia seguinte, pipocam informações sobre manifestações - pacíficas - em vários estados, uma das quais com ao menos 50 mil participantes. E isso independentemente de convocações feitas pela Globo, como se via rotineiramente meses atrás. Tudo bem: nova invencionice virá.
Outra tática é a de esgueirar-se das sutis críticas a propósito da situação vivida pelo Brasil. Como fez o ex-interino diante das palavras do Papa Francisco (o momento triste do povo brasileiro): inseriu-se a si próprio no contexto, porém dizendo-se preocupado com a situação, sugerindo nada ter a ver com as razões para a tristeza do povo.
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