sexta-feira, 6 de maio de 2016

ANTES TARDE DO QUE NUNCA, MAS...


Por que só agora Teori se mexeu?

Por Paulo Nogueira


Está havendo uma festa estridente com o afastamento enfim de Eduardo Cunha da presidência da Câmara.

É como se o Brasil estivesse se livrando de um câncer.

O ministro Teori, depois de mais de quatro intermináveis meses, aceitou o pedido de remoção de Cunha feito pelo procurador geral Janot.

Mas o foguetório não pode esconder uma questão crucial: por que só agora Teori se mexeu?

É, neste momento, a pergunta de 1 milhão de dólares.

Não mudou nada desde que Janot entregou a solicitação de saída de Cunha em 15 de dezembro.

Quer dizer: não mudou nada em Cunha. Eram amplamente conhecidos seus crimes. Já fazia meses desde que as autoridades suíças tinham dado de bandeja às brasileiras provas de contas secretas de Cunha na Suíça.

Isso configurou perjúrio num depoimento de Cunha na Câmara em que ele afirmou não ter contas no exterior.

Muitas outras evidências se somaram a estas.

Não mudou, portanto, o quadro de Cunha nos últimos meses. Até os analfabetos políticos que o defendiam como “um corrupto nosso” passaram a sentir repugnância dele.

Na verdade, a única coisa que mudou foi que, de mãos livres o tempo todo até agora, Cunha pôde comandar o golpe que vai exterminando a frágil e jovem democracia brasileira.

Por que Teori não fez o que fez antes que Eduardo Cunha transformasse o Brasil num imenso, desolador, patético Paraguai?

Não se tratava de salvar Dilma. Mas de salvar a democracia, a dignidade, a honra nacional. E também de mostrar à sociedade que o crime não compensa.

Pela lentidão de Teori, fomos obrigados a suportar espetáculos dantescos como a sessão da Câmara em que o impeachment foi aprovado por bufões corruptos de toda espécie.

Fomos obrigados a suportar, um domingo inteiro, o rosto cínico de Cunha sentado no plenário da Câmara como um imperador, como um Nero ateando fogo no país.

Fomos obrigados a suportar o Brasil se transformando em motivo de piada no mundo inteiro, graças a deputados ridículos que dedicaram seus votos a coisas como famílias quadrangulares, maçons, pais, filhos, netos e agregados.

Fomos obrigados a suportar monstruosidades como Bolsonaro dedicar seu sim a um torturador que colocava coisas nas vaginas de prisioneiras políticas grávidas na ditadura.

Teori permitiu todas essas atrocidades nacionais por deixar engavetado o pedido de afastamento de uma das maiores vocações de corrupção da história do Brasil – provavelmente a maior.

Teori permitiu que a situação econômica se deteriorasse ainda mais com o processo de impeachment paralisando o país. Com isso, milhares, talvez milhões de brasileiros perderam seu emprego.

Por quê?

A resposta só o próprio Teori sabe.

O que todos sabemos é que no tribunal da história Teori será exemplarmente punido por esse crime de lesa pátria.

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(Fonte: aqui).

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Penso que possíveis razões da demora do ministro Teori são:

a) o temor de que a (imediata) proposta de afastamento de Cunha fosse rechaçada por seus pares. Afinal, o que dizer de Toffoli, Mendes, Celso, por exemplo?

b) ministros, parlamentares e mídia (especialmente mídia) iriam acusar o STF de agir com parcialidade. Como explicar o afastamento de Cunha, se Renan Calheiros está igualmente encalacrado?

c) a incerteza quanto à aceitação do argumento de que Cunha agiu por pura represália ao acatar o pedido de impedimento da presidente Dilma, incorrendo em desvio de finalidade, uma vez que horas antes o PT se recusara a assumir o compromisso de absolvê-lo no conselho de ética. (É fato que o pedido de impeachment, de autoria do PSDB, apontava pedaladas fiscais como crimes praticados, quando as contas presidenciais de 2015 nem sequer haviam sido julgadas pelo TCU, e muito menos pelo Senado. Mas mesmo assim as forças interessadas em tomar o poder iriam conseguir - como até agora se observa - desconstruir a flagrante irregularidade, que, sem dúvida, configura golpe);

d) a perspectiva de Cunha vir a substituir Temer se agregou ao rol de patifarias perpetradas, e era grande a perspectiva de que pedido formulado pelo partido Rede - consistente no veto à atuação de Cunha como presidente substituto -, pautado pelo STF para imediata deliberação, viesse a ser aprovado pelo plenário, 'atropelando' o ministro Teori.

Em resumo: Se houve omissão - e houve -, o ônus deve ser atribuído não só ao ministro Teori, mas à Corte Suprema.  

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Aqui - "Se não anular o impeachment, Supremo será cúmplice do golpe", por Jeferson Miola.

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