quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

ELEIÇÕES EUA: A COOPERAÇÃO SANDERS HILLARY


O efeito Lincoln-Seward e o destino Hillary-Sanders

Por Daniel Afonso da Silva

Em Hard choices (New York: Simom & Schuster, 2014), Hillary Rodham Clinton expõe os feitos de sua gestão à frente dos negócios exteriores dos Estados Unidos da América de 2009 a 2013. Esse relato de mais de 950 páginas distribuídas em 25 capítulos organizados em seis partes é de leitura fluida e agradável e permite a imersão nos mais variados dossiês da presença norte-americana no mundo sob a gestão do presidente Barack Obama. Ele discorre sobre as relações bilaterais às multilaterais e transnacionais; do combate ao terrorismo aos desafios da diplomacia na era digital; dos contatos políticos de importância aos contatos pessoais imprescindíveis.
O tópico frasal – hard choises – traduz a integralidade das ações de Hillary Rodham Clinton. Ex-primeira-dama dos Estados Unidos e senadora democrata pelo estado de Nova Iorque, ela disputou as primárias do partido em 2008 com o futuro presidente Barack Obama. Perdeu. Reconheceu a derrota. E ingressou na campanha para eleger um sucessor democrata ao presidente George W. Bush.
As primárias haviam sido duras e altamente agressivas. Fora necessário um grande esforço para convencer seus eleitores a apoiar Barack Obama. Com a vitória deste e o início da composição do governo, o nome de Hillary Rodham Clinton começou a ser aventado para o departamento de estado. Após intensa negociação com o presidente eleito, a senadora acabou por aceitar o convite.
Essa parceria lembraria a relação do presidente Abraham Lincoln (1809-1865) e seu secretário de estado William Henry Seward (1801-1872). Como Hillary Rodham Clinton, William Henry Seward havia disputado violentamente as primárias do partido com o futuro presidente dos Estados Unidos. Mas, ao ser convocado para o departamento de estado, não relutaria em ser um dos membros mais fiéis e proativos do governo.
Contrário às aparências, o cargo de secretário de estado corresponde a uma função eminentemente política. O seu detentor representa o quarto personagem com maior poder no governo. Assim, a escolha de Hillary Rodham Clinton não fora ao acaso. Nesse gesto, o presidente Barack Obama promovia a unidade interna do partido e ampliava sua margem de manobra no Congresso.
Nas primárias do partido democrata de 2016, Hillary Rodham Clinton figura novamente. Mas agora em disputa acirrada com o senador Bernie Sanders. O resultado dessa disputa, independente do vencedor, vai impor cooperação entre Hillary e Sanders, tenores do partido. E caso os democratas tenham sucesso nas eleições presidenciais, essa cooperação Hillary-Sanders tem imensas chances de atualizar o efeito Lincoln-Seward. Resta saber se o “perdedor”, Hillary ou Sanders, estará disposto a encarnar o departamento de estado. (Fonte: aqui). .... (Daniel Afonso da Silva é pesquisador no Ceri-Sciences Po de Paris).
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A Suprema Corte americana decidiu que as doações eleitorais aos políticos são ilimitadas: cada um pode doar o quanto bem entender. A pré-candidata democrata Hillary - com o engajado apoio de seu marido ex-presidente Clinton - é a campeã nacional de doações, obtidas de empresas em geral, especialmente bancos/financeiras de Wall Street. As principais bandeiras de Bernie Sanders se traduzem no combate sem tréguas aos grandes bancos (AQUI). A contradição, como se vê, é total, o que, em princípio, inviabiliza eventual cooperação Hillary/Sanders. 

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