sábado, 30 de junho de 2012

A ESTRATÉGIA CRIACIONISTA


Lago Ness, criacionismo e o futuro que nos aguarda

Por Carlos Orsi

(...) uma editora de material didático dos EUA está distribuindo um livro de biologia que diz que o Monstro do Lago Ness prova que a evolução é uma fraude. Mesmo supondo, por um instante, que o monstro exista (mais sobre isso, adiante), a coisa toda soa como um non sequitur, e é mesmo: a ideia geral que os criacionistas parecem querem usar é a de que, se houvesse provas de que dinossauros e seres humanos coexistiram, então o registro fóssil, como é interpretado hoje, não seria digno de confiança -- e não seria mesmo.

Mas -- preste atenção, isto é crucial! -- o argumento só funciona caso haja provas de que seres humanos viviam na época dos dinossauros, isto é, antes de a espécie humana ter tido tempo de evoluir, segundo a cronologia ortodoxa. A eventual sobrevivência de dinossauros até os dias atuais não contradiz em nada a teoria da evolução.

Detalhe que, ao que tudo indica, escapou aos autores do tal livro.

Mas, tratemos de coisas mais agradáveis: o monstro. O Lago Ness (ou "Loch Ness"), na Escócia, é muito mais longo do que largo: em sua dimensão sudoeste-nordeste, tem mais de 30 quilômetros, mas a distância entre as margens ocidental e oriental é de menos de 3 quilômetros. Há relatos de que São Columba (521-597), missionário cristão que converteu o rei dos pictos ao cristianismo, certa vez impediu que uma serpente monstruosa devorasse um homem no lago, detendo-a com o sinal da cruz, gesto que a fez fugir em pânico. A hagiografia de Columba que contém essa história -- e que relata como os pictos, que vinham sendo acossados pela fera aquática, deram graças ao Senhor -- é considerada por algumas pessoas a primeira evidência documental da presença de um monstro em Loch Ness.

Críticos, no entanto, apontam para o óbvio fato de que hagiografias não são exatamente relatos históricos confiáveis, que histórias do tipo "pagãos têm um problema/santo resolve o problema/pagãos caem de joelhos, convertidos" parecem muito mais peças publicitárias do que qualquer outra coisa e, por fim, que a identificação da serpente aquática de Columba com Nessie, como o monstro também às vezes é chamado, não passa de mais uma tentativa de ler a cultura pop do passado com o vocabulário da cultura pop atual, mais ou menos como as pessoas que associam a carruagem de fogo que levou o profeta Elias ao céu, no Velho Testamento, a uma nave espacial.

A história real de Nessie começa em 1933, com a publicação de um despacho, no jornal Inverness Courier, afirmando que duas pessoas que passeavam pela margem do lago haviam visto as águas perturbadas por "algo que não era um morador ordinário das profundezas". Tempos mais tarde, uma dessas testemunhas viria a dizer que acreditava ter visto dois patos brigando.

De qualquer modo, a semente estava plantada, e novos avistamentos logo se seguiram. É improvável que uma única explicação dê conta de todos os eventos, nos últimos 80 anos, que já foram interpretados como aparições de Nessie, mas a lista de objetos e animais confundidos com o "monstro" inclui de alces que atravessavam a água a lontras mergulhando; de troncos flutuantes a barcos vistos à distância.

As descrições de Nessie, no início, variavam enormemente: para algumas testemunhas ele tinha chifres, ou presas como um elefante; foi avistado saindo da água e cruzando uma estrada, com um animal morto na boca; e um espertinho usou um cesto de guarda-chuvas feito a partir da pata de um hipopótamo para criar rastros da criatura nas margens do lago.

A tradição de trotes envolvendo Nessie chegou, aliás, até este século: em 2003, foi descoberta, na margem do lago, a vértebra fossilizada de um plessiossauro. O problema é que o fóssil estava incrustado em rochas de um tipo que não existe na região, sugerindo que algum espertinho o carregara até lá. E, em 2005, um pedaço de chifre de alce foi apresentado como um "dente" do monstro.

O que finalmente cimentou a imagem popular de Nessie como um sáurio aquático -- imagem que inspirou a fraude de 2003 -- foi a chamada "foto do cirurgião", feita pelo ginecologista Robert Wilson em abril de 1934 (a data exata é incerta, mas uma das possibilidades é 1º de abril, o que explicaria muita coisa). Ei-la:




Em seu livro The Loch Ness Mystery Solved, publicado em 1984 e geralmente considerado a melhor fonte sobre a "criatura", Ronald Binns escreve que um dos filhos de Wilson disse, anos mais tarde, que a foto tinha sido uma fraude. Em 1994, dois pesquisadores relataram que a fraude havia sido orquestrada por Christopher Spaulding e Marmaduke Wetherell, com o Dr. Wilson atuando de fotógrafo. O "monstro" é, na verdade, um submarino de brinquedo com uma cabeça de massa de modelar.

Finalmente, em 2003, a BBC realizou uma varredura de todo o volume do lago com sonar, e não encontrou nenhum sinal de um grande animal vivendo ali. No mesmo ano, o maratonista e ex-jogador de futebol inglês Lloyd Scott percorreu a extensão do leito do lago a pé, usando um escafandro -- num percurso de 12 dias. O que viu? Nada de Nessie.

O uso do monstro inexistente para apoiar o relato bíblico da criação me lembra da Rainha Branca dizendo a Alice que é possível acreditar em até seis absurdos antes do café da manhã. O livro que sugere essa criativa abordagem é adotado, nos EUA, em algumas escolas consideradas aptas a receber verba pública, mas que vêm sendo criticadas como o equivalente cristão fundamentalista das madrassas.



Agora, espere só o próximo blefe da bancada evangélica para ver se o mesmo esquema não acaba sendo adotado no Brasil. Rir dos gringos pode ser divertido, mas não se iluda. O sertão do Kansas somos nós amanhã. (Fonte: aqui).

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Evolucionismo versus Criacionismo (este, para alguns, como Richard Dawkins, associado ao Design Inteligente): jamais será alcançado o consenso.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

VEM AÍ


39º Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

Piracicaba SP - 25 de agosto a 14 de outubro.

O desenho acima é do mestre Jaguar.

CARTUM


Muhittin Koroglu. (Turquia).

OBAMACARE


Olle Johansson.

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Com a ratificação do "SUS americano" pela Suprema Corte, Barack Obama, segundo analistas, corre o risco de perder a reeleição, tal a repulsa dos "WASP" a iniciativas "socializantes", entre as quais essa é certamente o top do top. O país da livre iniciativa e do self made man não pode conviver com tal "latinice" ou welfare state!
Independentemente dos esturros, Obama marcou um ponto. Prometeu, empenhou-se e alcançou.

SOBRE O GOLPE PARAGUAIO


O crime perfeito contra Lugo

Por Clóvis Rossi

O sociólogo Felippe Ramos (Universidade Federal da Bahia) fez para o site da revista "América Economia" o que os jornalistas deveríamos ter feito antes: visitou a peça de acusação que serviu para o fuzilamento sumário do presidente Fernando Lugo.

Fica evidente que Lugo estava condenado de antemão. No item "provas que sustentam a acusação", se diz que "todas as causas [para o impeachment] são de notoriedade pública, motivo pelo qual não precisam ser provadas, conforme o ordenamento jurídico vigente".

Como é que Lugo -ou qualquer outra pessoa- poderia provar o contrário do que não precisa ser provado? Impossível, certo?

O processo pode até ter seguido as regras constitucionais e o "ordenamento jurídico vigente", mas, nos termos em que foi colocada a acusação, só pode ser chamado de farsa. Veja-se, por exemplo, a primeira das acusações: Lugo teria autorizado uma reunião política de jovens no Comando de Engenharia das Forças Armadas, financiado por instituições do Estado e pela binacional Yacyretá.

Se esse é argumento para cassar algum mandatário, não haveria presidente, governador ou prefeito das Américas que poderia escapar, de direita, de centro, de esquerda, de cima ou de baixo. Ademais, não consta que a Constituição paraguaia proíba o presidente ou qualquer outra autoridade de autorizar concentrações de jovens. Aliás, é até saudável que se estimule a participação política dos jovens.

Mais: o evento foi em 2009. Se houvesse irregularidade, caberia ao Congresso ter tomado à época as providências, em vez de esperar três anos para pendurá-lo em um processo "trucho", como se diz na gíria latino-americana.

A acusação mais fresca, digamos assim, diz respeito, como todo o mundo sabe, à morte de 17 pessoas, entre policiais e camponeses, em um incidente mal esclarecido no dia 15 passado. Diz a acusação: "Não cabe dúvida de que a responsabilidade política e penal dos trágicos eventos (...) recai no presidente da República, Fernando Lugo, que, por sua inação e incompetência, deu lugar aos fatos ocorridos, de conhecimento público, os quais não precisam ser provados, por serem fatos públicos e notórios".

De novo, a acusação dispensa a apresentação de provas e condena por antecipação o réu, como faria qualquer república bananeira ou qualquer ditadura.

Nem o mais aloprado petista pediu o impeachment do presidente Fernando Henrique Cardoso por conta da morte de 19 sem-terra em Eldorado dos Carajás (Pará), em abril de 1996, no incidente que mais parentesco tem com o que ocorreu há duas semanas em Curuguaty, no Paraguai.

É importante ressaltar que líderes dos "carperos", os sem-terra paraguaios, disseram que os primeiros disparos no conflito do dia 15 não saíram nem deles nem dos policiais, mas de franco-atiradores.
Enquanto não se esclarecer o episódio, qualquer "ordenamento jurídico" sério vetaria o uso do incidente em qualquer peça de acusação.

Deu-se, pois, o crime perfeito: cobriu-se um processo sujo com o imaculado manto da Constituição.

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O artigo acima é o segundo de Clóvis Rossi acerca da questão. O primeiro mereceu os mais furibundos protestos por parte de neoliberais tresloucados. Onde já se viu um absurdo desses, um dos mais respeitados jornalistas da Folha de S.Paulo agindo de tal maneira, reincidindo em prática tão abjeta?!! 
O fato é que para os neolibs não há que se falar em devido processo legal, amplo direito de defesa, presunção de inocência, essas irrelevâncias irrelevantes.
Para consolo dos entusiastas da ilegalidade, há um exército de colunistas midiáticos a alimentar seu incontido entusiasmo.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A MAGIA DO FUTEBOL


DIDI CHOROU, antológico cartum do gaúcho SamPaulo, publicado há seis décadas. O fascínio do futebol prevalece sobre todas as mazelas.
Clique aqui para conhecer o blog do SamPaulo, coordenado por Maria Lúcia, sobrinha dele.


Constantin Ciosu. Cartunista romeno.
Cartum recente. O futebol continua fazendo das suas...

O BOLA FORA DA CBF

Ilustração: Rafael Campos.

Por que Dilma não recebe Marin

Por Juca Kfouri

A presidenta Dilma Rousseff fez questão de não receber o ex-presidente da CBF e do COL, Ricardo Teixeira, que, diante do clima pesado, acabou por fugir para Boca Raton.

E ela também não está nada disposta a receber o novo presidente das duas entidades, José Maria Marin.

E não é porque ele foi servil serviçal da ditadura, porque outros também foram, como José Sarney e Paulo Maluf, todos até homenageados.

Mas Marin fez mais.

Com seus discursos na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 1975, Marin foi fartamente responsável pela prisão que acabou no assassinato do jornalista Vladimir Herzog.

O então deputado Marin se desfazia em elogios ao torturador Sérgio Paranhos Fleury e ao seu bando, assim como engrossava “denúncias” sobre a existência de comunistas na TV Cultura, cujo jornalismo era dirigido por Vlado.

Um desses discursos, no dia 9 de outubro de 1975, aconteceu 16 dias antes de Herzog ser torturado e morto nas dependências da Operação Bandeirantes (OBAN), na rua Tutóia, em São Paulo, por agentes do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI).

E Dilma, com razão, disso, não esquece.

Porque servir a ditadura é uma coisa, mancha indelével, sem dúvida.

Mas a dedo-duragem desperta asco invencível.

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O discurso:
http://blogdojuca.uol.com.br/files/2012/06/diario21.jpg

A VOLÚPIA SALARIAL


Calamidade

Antonio Delfim Netto

Vamos tratar, nesta coluna, de um assunto triste e assustador. Triste porque reduz a fundamental e necessária respeitabilidade do Legislativo, do qual se espera: 1) a aprovação de Orçamentos apropriados para estimular o desenvolvimento social e econômico do país; 2) a fiscalização rigorosa de sua execução.

Assustador porque revela o descuido com que o Executivo acompanha o trânsito das medidas propostas no Congresso que podem comprometer o equilíbrio fiscal e que, de "mansinho", vão atravessando as comissões até se tornarem sérios problemas de plenário -cujo controle vai exigir um enorme esforço da maioria governamental e que sempre termina em onerosas concessões segundo o axioma moral do Legislativo: "Quem senta à mesa, tem que negociar".

A Comissão Especial da Câmara aprovou uma misteriosa proposta de emenda constitucional que, praticamente, destitui o Poder Executivo. Termina com os tetos salariais e os controles que limitam o aumento indiscriminado da remuneração do funcionalismo público. Completa, assim, a grande missão dos sindicatos do setor em Brasília: de servidores do público, pretendem ser servidos pelo público!

Um amigo que conhece como funciona o Congresso me afirmou que tal "barbeiragem" da assessoria legislativa do Executivo não coloca em risco, de fato, o equilíbrio fiscal. É apenas uma mensagem, provavelmente eivada de irregularidades regimentais. Foi aprovada enquanto todos estavam voltados para a Rio+20 e às vésperas das festividades de São João, que pretere todos os outros compromissos.

Nenhum membro da maioria esteve presente para pedir "verificação de votos". Um bom assunto para a imprensa seria divulgar a ata da reunião da Comissão Especial para que toda a nação tome conhecimento dos argumentos dos espertos fautores para si mesmos, por intermédio do funcionalismo, à custa dos bolsos dos seus próprios eleitores!

Tomado de surpresa, o Executivo vai agora se organizar para repelir a absurda proposição que, se aprovada, nos levaria à situação de completo desequilíbrio fiscal, com consequências imediatas: uma elevação do "risco Brasil", um aumento da taxa de juros real, um aumento do custo da dívida pública interna e externa, além de desestabilizar as "expectativas" inflacionárias. Tudo aquilo que tentamos corrigir nos últimos anos.

A proposta é lenha para a fogueira que está sendo armada pelo sindicalismo encastelado em Brasília: uma reivindicação generalizada de exagerados aumentos salariais. O funcionalismo e suas viúvas precisam ser adequadamente remunerados, mas é claro também que os recursos para atendê-los têm seus limites nos bolsos dos eleitores... (Fonte: aqui).

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Ao que se vê, a lei de Gérson continua em pleno vigor. Os privilegiados estão pouco ligando para a distância entre seus já polpudos ganhos e o pífio salário-mínimo (não obstante a sadia política de aumento real posta em prática nos governos Lula e Dilma): os graúdos só têm olhos para seus bolsos, onde também pululam vantagens incorporadas, agregações suspeitas, auxílios especiais, enfim, as famosas parcelas isentas da limitação do teto salarial. 
Registre-se, ainda, o fato de que, enquanto o portal da transparência passou a disponibilizar ao público os salários bruto e líquido da presidente Dilma (poder executivo), poderosos dos poderes legislativo e judiciário "hesitam" em divulgar seus salários e vantagens, cônscios, quem sabe, da escandalização que seus ganhos estratosféricos poderão produzir na opinião pública. 
Enquanto isso, na Grécia, na Itália, em Portugal, na Espanha...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

GUARÂNIA GOLPISTA


Simanca.

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Duas pedidas acerca do golpe paraguaio: AQUI, para análise de Eduardo Guimarães: "Mercosul e o chilique da mídia golpista"; AQUI, para a petição em repúdio ao ilícito, a ser encaminhada ao Mercosul e à Unasul: "Chega de golpes à democraica!".

Cliquei - e agi.

SALÃO MEDPLAN: OS SELECIONADOS


Acaba de ser publicada a relação dos 58 trabalhos selecionados para o 4º Salão Medplan de Humor de Teresina, que ocorrerá no próximo mês. Clique AQUI para ver a relação nominal e informações adicionais sobre o certame.

Foram cerca de 420 desenhos, versando sobre Redes Sociais. Belíssimo número.

Valeu pela participação, e boa sorte nas futuras jornadas - inclusive para este escriba.

MENOS CARROS E MAIS QUALIDADE DE VIDA


Prefeito de Bogotá entre 1998 e 2001, o urbanista Enrique Peñalosa defende que os carros cedam cada vez mais espaço para passeios públicos, ciclovias e transporte público.

Isto inclui restrições ao uso de carros, como a proibição do estacionamento em determinadas regiões das cidades. “Calçadas são um direito do cidadão. Ter carros estacionados é uma decisão política. Não há nada técnico, nem legal que obrigue a ter vagas. Estacionar não é um direito constitucional”, disse, durante palestra em Porto Alegre, (...) parte da programação do Fronteiras do Pensamento.

Peñalosa afirmou que só a restrição ao uso de carros diminuiu os engarrafamentos em cidades como Londres e Zurique. Segundo ele, nem os 1,8 mil quilômetros de metrô da capital britânica seriam capazes de diminuir o alto fluxo de veículos automotores, o que foi conquistado com a cobrança de taxas para circular em certos locais, ou rodízios.

“A política de transporte público em cidades como Nova Iorque e Londres pensa em como reduzir o número de carros. Em cidades como Bogotá, São Paulo ou Porto Alegre os secretários de Transporte sempre pensam em como facilitar a circulação de carros, o que não dá certo”, disse.

Como exemplo do que disse, mostrou que a maioria das grandes cidades dos Estados Unidos tem quilômetros e mais quilômetros de autopistas e as estatísticas revelam que isto não diminui os engarrafamentos. Ao contrário, elas estimulam ainda mais o deslocamento de automóvel. “Tratar os engarrafamentos com vias maiores é como apagar fogo com gasolina”, resumiu.

Enrique Peñalosa afirmou que nas sociedades capitalistas a igualdade possível não dá a todos as mesmas posses, mas procura dar a todos tratamento igualitário. Por isto, as prefeituras devem criar espaços “peatonais” – palavra do espanhol, que designa ruas exclusivas para pedestres, ou “calçadões” – e ciclovias, além de estimular o transporte público. Peñalosa afirmou que os espaços para pedestres devem ser a prioridade. “Em uma boa cidade, as pessoas estão do lado de fora, não em shopping centers. Em uma boa cidade, não vamos de carro comprar pão e leite. Somos pedestres, necessitamos caminhar”, disse.

Ele mostrou no telão fotos de grandes passeios públicos que criou nas zonas periféricas de Bogotá, passeios enormes, de 24 quilômetros. “É muito fácil fazer. Não tem nenhuma sofisticação”. Também mostrou uma ciclovia verde, uma espécie de parque vertical, que se estende por 35 quilômetros na capital colombiana. Ao todo, fez 500 quilômetros de ciclovias em Bogotá, o que fez com que passasse de 0 para 5% o número de habitantes que se locomove diariamente de bicicleta na metrópole. “Ainda é muito pouco, mas são 350 mil pessoas todos os dias”.

Peñalosa afirmou que em cidades democráticas as bicicletas têm a mesma importância que os automóveis. “Numa cidade com ciclovias, um cidadão com uma bicicleta de US$ 30 tem a mesma importância que um cidadão em um carro de US$ 30 mil. Isto é igualdade”. O urbanista foi muito aplaudido quando sugeriu: “Imaginem se Porto Alegre tivesse 100 quilômetros de ciclovias em frente a este rio maravilhoso. Se tornaria conhecida em todo o mundo por isto”.

A mesma defesa fez quanto aos passeios públicos. Ele explicou que os mais endinheirados frequentam clubes, cinemas, entre outros espaços privados, ao passo em que o lazer dos mais pobres se dá no espaço público. “Sociedades democráticas tem espaços ‘peatonais’ de alta qualidade”. Por isto, o poder público precisa prover a cidade de bons espaços públicos, como boas áreas verdes, como praças e parques, beiras de cursos d’água, além de boas calçadas. “Muitas pessoas pensam que as calçadas são parentes das ruas e há lugar para carros estacionados e pedestres em cima das calçadas. Calçadas são para olhar a rua, conversar, caminhar com segurança. Elas são parentes das praças”.
Ele também considera o uso de transporte público mais democrático, lembrando que um ônibus carrega dezenas de pessoas a mais que um carro. Peñalosa afirmou que em cidades como Amsterdã e Copenhague até mesmo empresários usam o transporte público, porque vivem em sociedades mais igualitárias, além de privilegiaram ciclistas e pedestres. “Na Dinamarca e na Holanda empresários usam transporte público; na Espanha, não. Isto ocorre porque os dois primeiros países estão entre as sociedades mais igualitárias do mundo. Isto se reflete no modo como as cidades se organizam”.

“Como temos democracia, ônibus devem ter prioridade sobre os carros”, disse Peñalosa. Ele defendeu que se tenha muitos espaços exclusivos para ônibus nas ruas das cidades. Ele exemplificou dizendo que em uma hipotética escassez de combustível, a prioridade seria o transporte público. “O mesmo ocorre quando falta espaço nas cidades. Ônibus enfrentar engarrafamento é irracional”. Ao mostrar uma foto em que um ônibus tem um corredor exclusivo a sua frente e, ao lado, carros estão trancados, brincou. “Isto é um símbolo da democracia”.

O urbanista esclareceu, contudo, que não é contra o uso de carros. “Não sou um radical anti-carro. No final do século XX, as pessoas perceberam que cometemos erros. Carros são maravilhosos. Sou contra que todos usem ao mesmo tempo. Defendo que é preciso cobrar impostos para quem usa carros em determinados horários e locais”.

Peñalosa também defendeu que as cidades apostem mais em ônibus do que em metrô, por diversos motivos. Um deles é que o metrô é caro, e os BRTs (Bus Rapid Transit), por exemplo, apenas tomam para si espaços entre os milhares de quilômetros de vias já construídos nas grandes cidades. Outro fator é de qualidade de vida. “Por que meter os usuários embaixo da terra?”, questionou. Além disto, ressaltou que mesmo em Londres, com seus 1,8 mil quilômetros de metrô, os ônibus carregam 1 milhão de pessoas a mais que o transporte subterrâneo.

“Uma boa cidade não é aquela em que até os pobres andam de carro, mas aquela em que até os ricos usam transporte público”, disse, ao finalizar a palestra. E ressaltou: “Cidades assim não são uma ilusão hippie. Elas já existem”. (Fonte: aqui).

terça-feira, 26 de junho de 2012

REALIDADE DO SAMBA


Túmulo do samba

Ruy Castro

A capa nº 6 da revista "Realidade", de novembro de 1966, era estrelada pelos jovens Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Magro (do conjunto vocal MPB4), Toquinho, Rubinho (baterista do Zimbo Trio), Jair Rodrigues, Nara Leão e Paulinho da Viola. Título: "Os novos donos do samba".

Tudo era samba, até o que não era. Era um nome genérico. E vinha de longe. Um livro de Orestes Barbosa, de 1932, intitulado "Samba", falava também de choros, marchinhas de Carnaval, valsas e sambas-canções. E, nos anos 50, quando Vinicius de Moraes chamou São Paulo de "túmulo do samba", não estava acusando a cidade de não produzir o dito ritmo, mas de ter uma noite acanhada, com poucas boates -tanto que o artista que motivou sua frase, Johnny Alf, nem era um sambista tradicional.

Em 1966, ainda se podia chamar tudo de samba porque, mesmo maquiado pela bossa nova, ele continuava o ritmo dominante -vide o número de bossas novas que lhe prestaram tributo até no título: "Samba de Uma Nota Só", "Samba de Orfeu", "Samba do Avião", "Samba Triste", "Samba do Carioca", "Samba Toff", "Samba da Pergunta", "Samba da Bênção", "Samba de Verão" e muitos mais. Chico Buarque e Paulinho da Viola compunham samba "full time" e, dali a três anos, o próprio Gilberto Gil teria seu maior sucesso com um samba: "Aquele Abraço".

Mas, em pouco tempo, a cena mudou. As gravadoras, aliás, multinacionais, decidiram que samba era aquilo que o pessoal do morro fazia no Carnaval. Tudo mais, que não fosse rock, cabia na sigla "MPB". Por coincidência -exceto Paulinho da Viola, que silenciou-, muitos sambistas de 1966 aderiram a um ritmo cursivo, invertebrado, sem swing, de mais trânsito internacional.

No fim, São Paulo deu a volta por cima. E quem se tornou o túmulo do samba, no sentido literal, foi o Brasil.

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Não cheguei a ler a lendária revista Senhor, mas de Realidade eu fui fã assíduo, dada a qualidade do texto e a dinâmica das reportagens (notadamente as chamadas reportagens de capa, longas, e tão bem escritas que nos faziam querer mais). Foi certamente quem, dois anos depois, inspirou Veja, a velha Veja daqueles idos de 1968, como diria o saudosista.
No meio da foto acima, Gilberto Gil, que hoje faz 70 anos. Aquele abraço!
E quanto ao samba, tudo bem: o povo não deixa o samba morrer.

CARÊNCIAS DA GESTÃO PÚBLICA


Cadastro Nacional de Servidores Públicos economizará R$ l bi para o País

O Cadastro Nacional de Servidores Públicos, que reúne dados de todos os funcionários públicos brasileiros, vai gerar uma economia de pelo menos R$ 1 bilhão ao ano para o país. (...) A ferramenta entrará em vigor no próximo mês de setembro.

O cadastro tem potencial para rastrear se o servidor tem múltiplos vínculos funcionais, o que pode ser contra a lei, se é alvo de mais de um benefício em regimes previdenciários diferentes, se recebe salário apesar de já ter morrido, além de fornecer uma análise detalhada da remuneração ou provento, idade, sexo etc. Por meio do cadastro, é possível constatar até mesmo vínculos que o servidor já tenha no momento de uma nova contratação.

Dois cruzamentos de dados de servidores públicos a partir do cadastro, um efetuado no Distrito Federal e outro na Paraíba, geraram economias de R$ 27 milhões e R$ 25 milhões, respectivamente, referentes a funcionários mortos que ainda estavam recebendo salário. Já a União economizou R$ 150 milhões ao ano pelo mesmo motivo, a partir da mesma base de dados. (...)

O cadastro, elaborado pelo Ministério da Previdência Social em parceria com o Ministério do Planejamento e desenvolvido pela DATAPREV, a empresa de TI da Previdência Social, tem por objetivo reunir em uma só ferramenta dados de todos os servidores do país e, dessa forma, entre outras aplicações, evitar fraudes e possíveis irregularidades como pagamentos indevidos a servidores e aposentados do Regime de Previdência do Servidor Público.

Em setembro, a edição do cadastro já estará composta por todos os servidores públicos da União. Até 31 de dezembro, a expectativa do Ministério da Previdência Social é de que todos os estados, as capitais e os 50 maiores municípios brasileiros tenham aderido ao cadastro único. (...)

O projeto de unificação do cadastro dos servidores reforça o Plano Estratégico de Previdência Social para o período de 2012 a 2015, que tem por objetivo fortalecer o Regime de Previdência do Servidor Público. A meta é preparar o setor para a mudança do perfil demográfico brasileiro, marcado pelo declínio sistemático das taxas de fecundidade, do aumento da expectativa de vida e da queda da mortalidade, situação que impacta no mercado de trabalho e, consequentemente, na saúde financeira da Previdência Social.

Nancy Abadia. a coordenadora do Banco de Dados, afirma que o cadastro é uma importante ferramenta “para fortalecer o controle social e a transparência das informações sobre os servidores”. (Fonte: aqui).

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A maior de todas as carências da Gestão Pública brasileira é certamente o fato de que tenhamos chegado a 2012 sem contar com um banco de dados como o anunciado no texto acima. É simplesmente impressionante a ausência dessa ferramenta.
Não obstante, que seja instituído o quanto antes o elementar e óbvio cadastro. E que ele venha a somar-se ao cumprimento da lei de transparência de informações, que, aliás, está encontrando resistência em instâncias as mais diversas (notadamente nos poderes legislativo e judiciário), as quais não se conformam em disponibilizar informações mensais sobre salários/vantagens auferidos por cada servidor/serventuário.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

FOI-SE UMA FONTE DE DARWIN


Acabou a solidão de George

Por Carlos Orsi

Morreu no domingo, no Equador, o último exemplar conhecido da subespécie de tartaruga gigante Chelonoidis nigra abingdoni, Lonesome Gorge ("George Solitário"). Originalmente de uma das Ilhas Galápagos, a espécie foi levada à extinção pela caça e, também, pela introdução de cabras na ilha, o que devastou a vegetação nativa. Claro, nem as cabras nadaram espontaneamente até a ilha, e nem foram os incas venusianos que caçaram as tartarugas até a extinção. Asteroides e convulsões geológicas acontecem de vez em quando, é fato, mas tem coisas que só o ser humano faz por você.

Lonesome George já havia sido descrito como "a criatura mais rara do mundo". Tentativas de fazê-lo reproduzir-se com fêmeas de subespécies próximas nunca deram certo, e a menos que algum outro exemplar seja encontrado na natureza, ou que Tony, uma tartaruga mantida no zoológico de Praga,  seja confirmado como membro da mesma subespécie, um outro produto da evolução terá ido pelo mesmo caminho do pássaro dodô.

Falando no dodô, aliás, a Wikipedia nota que o Ocidente levou quase 200 anos para reconhecer que o pássaro havia sido extinto: o fato de ele ter desaparecido da face da Terra era visto como indicação, talvez, de que a espécie jamais tivesse existido: era mais fácil acreditar que os relatos dos séculos 16 e 17 descrevendo o dodô fossem mitologia do que aceitar a ideia de que uma espécie pudesse ser extinta.

Como se vê, se há algo que não entra em extinção é o uso de wishful thinking e de falsificação histórica para fazer de conta que problemas ambientais causados pelo homem não existem. Mas, enfim, George não é mais um solitário. Nós é que somos uma espécie cada vez mais sozinha. (Fonte: AQUI).

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Observações: a) Segundo a Wikipedia, wishful thinking é expressão inglesa que significa tomar os desejos por realidades e tomar decisões, ou seguir raciocínios, baseados nesses desejos em vez de em fatos ou na racionalidade;  b) Charles Darwin visitou Galápagos em 1835. As características das tartarugas gigantes, entre outras, embasaram o naturalista na formulação da Teoria da Evolução das Espécies.

ECOS PARAGUAIOS


Bira.

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Os usurpadores paraguaios estavam tão preparados para defender a Democracia, mas tão preparados, que em abril passado o senado afastou, de uma tacada, sete (sete!) dos nove ministros integrantes da Corte Suprema de Justiça daquele país (leia AQUI). Eis aí o porquê de dita Corte haver silenciado quanto ao recurso apresentado pelo destituído Fernando Lugo em face das medidas inconstitucionais adotadas pelos golpistas, notadamente no que respeita ao pleno direito de defesa (prazos, em especial).
O curioso é que, no Brasil, os defensores do golpe correram de imediato para aplaudir a derrubada do presidente constitucionalmente eleito sem a mínima preocupação de realizar análise (mínima que fosse) das circunstâncias.

Em tempo: há pouco, a Corte Suprema negou o recurso de Lugo. Como seria de esperar-se.

NOVO CÓDIGO PENAL


Vamos ver

Por Luiz Garcia

Uma comissão de juristas está quase terminando em Brasília uma proposta de modernização do Código Penal. Não é sem tempo.

Como sabe qualquer cidadão que lê jornal, ouve rádio ou vê televisão, não falta imaginação no outro lado - aquele habitado por malandros safados e bandidos malvados. Acontece aqui, como na maioria dos países, se não for em todos eles, da Suíça ao Curdistão Bravio.


Portanto, vamos confiar que os juristas (...) tenham incluído no projeto do novo código respostas adequadamente severas para os crimes do nosso tempo.


Algumas amostras indicam que (...) trabalharam como deviam. Incluíram nas suas propostas questões como aborto, eutanásia e a definição da homofobia como crime. E, na sua última reunião, acrescentaram dois temas sem dúvida atuais: a oficialização da delação premiada para criminosos e a condenação de crimes de responsabilidade cometidos por prefeitos. No primeiro caso, houve o cuidado de só permitir o prêmio se a delação tiver consequências concretas.


Sem dúvida alguma, a comissão lê jornal, ouve rádio e vê televisão.

 
Uma outra prova de que o pessoal estava antenado foi a aprovação (infelizmente, não unânime) da definição do enriquecimento ilícito de políticos, juízes e outros servidores públicos como crime. Ele será punido com a apreensão da riqueza desonesta e mais uma pena que pode chegar a oito anos e meio de cadeia.


É algo muito mais severo do que o castigo existente hoje.


Se o Congresso aprovar a novidade, vamos precisar de um boom na construção de cadeias pelo Brasil todo. No caso da riqueza ilícita, houve o cuidado de dispensar a apresentação de provas do crime que permitiu o enriquecimento: bastará a constatação de que o cidadão enricou por milagre.


O trabalho dos juristas será agora enviado ao Senado. Terá de ser aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente - ou a presidente, claro.

 
Na visão inocente de um leigo, é um projeto e tanto. Seja como for, será muito interessante ver o que os políticos farão com ele.


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Comentário: Pode ser um projeto e tanto, como enfatiza o articulista, mas convém aguardarmos, inclusive para saber se serão adotadas certas práticas, como:
.enquadramento do crime de corrupção como crime hediondo, e
.punição de pessoas jurídicas corruptoras (empresas, sócios e dirigentes).
Espera-se, também, que o novo código estabeleça tratamento mais enérgico relativamente a crimes ambientais (o contrabando de madeira, por exemplo, é considerado, pela legislação em vigor, como de baixo potencial ofensivo - constituindo, na prática, um estímulo ao crime).

domingo, 24 de junho de 2012

PÉ NO MAPA

Aroeira.

Comentário do leitor Waldyr Kopezky, divulgado no blog do jornalista Luis Nassif, acerca dos atos recentemente perpetrados, quero dizer, verificados no Paraguai:

A legislação paraguaia para um processo de impeachment

"(...) a (i)legalidade no processo de impeachment de Fernando Lugo só pode ser avaliada em função das leis de lá - por mais estranho e evidentemente injusto que possa parecer a todos um processo-relâmpago, seguido de rito sumário (menos de duas horas para apresentar uma defesa!).

Mas vamos à legislação paraguaia:

1. O artigo 225 da Constituição permite uma interpretação próxima de um 'voto de desconfiança parlamentar' ao chefe do Executivo, que pavimentaria o processo de cassação via referendo no Legislativo. Por ele (art. 225), supostamente seria possível despachar o presidente por incompetência, sendo submetido “a juicio político por mal desempeño de sus funciones, por delitos cometidos en el ejercicio de sus cargos o por delitos comunes”.

2. Mas aí reside o engano nesta interpretação: o mau desempenho de suas funções via delitos não está configurado - onde está o delito de Lugo? Quais fatos foram investigados e apurados comprovadamente que identificam uma prática ilegal/criminosa da Presidência ou de seus prepostos? Nenhuma, pois a chacina de 11 policiais e 7 trabalhadores rurais foi cometida por agentes contratados do fazendeiro - contra uma determinação judicial que autorizava a presença destes na propriedade privada. O crime, portanto, foi de quem executou forças policiais e cidadãos comuns autorizados por decisão da Justiça do Paraguai em agir e ocupar o local!

3. Pra piorar, aí entra ainda o artigo 17 da Constituição, que, supostamente, deveria regrar todo e qualquer processo justo de afastamento (este, ainda que político, não estaria totalmente alheio a procedimentos da Justiça convencional). E ele diz: '...Necesaria la comunicación previa y detallada de la imputación, así como a disponer de copias, medios y plazos indispensables para la preparación de su defensa en libre comunicación...'. Mas foi um processo-relâmpago em que, claramente, o Poder Legislativo uniu-se ao vice-presidente para agir contra o Chefe do Executivo, sob uma capa de legalidade mal-ajambrada... (...)". (Para ler mais, clique aqui).

DEFININDO NELSON RODRIGUES


Surge o anjo pornográfico

Ruy Castro

Com divertido espanto, como diria Nelson Rodrigues, leio ou ouço com frequência esta frase sobre ele: "Nelson Rodrigues, que era chamado de 'o anjo pornográfico'...". E então me lembro de um remoto domingo de 1992, em que, trabalhando no que seria a biografia do homem, passei de novo os olhos por um recorte da revista "Manchete", de outubro de 1966, contendo -pela primeira e única vez- a expressão.

Era uma entrevista-relâmpago com Nelson pelo repórter André Kallàs, publicada numa seção da revista chamada "Leitura Dinâmica", que constava de papos curtos e objetivos sobre um tema que envolvesse o sujeito no momento. No caso, era a proibição do genial romance de Nelson "O Casamento", numa medida inconstitucional do ministro da Justiça, Carlos Medeiros Silva, já que não havia censura de livros no Brasil.

Nessa entrevista, Nelson se definia: "Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou e sempre fui um anjo pornográfico".

Eu já lera o recorte umas cem vezes e não me ocorrera que ali estava o título que eu procurava para o meu livro. Era o óbvio ululante, que eu não conseguia enxergar -e só então enxerguei. Liguei empolgado para Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, e comuniquei-lhe meu achado: "O Anjo Pornográfico". Em 1992, o uso da palavra "pornográfico" no título não era algo tão tranquilo para um livro. Mas Luiz aprovou-o imediatamente e apenas me sugeriu mantê-lo em segredo até que o livro saísse, o que aconteceu no fim do ano.

Até então, ninguém chamara Nelson de "anjo pornográfico". E ele próprio nunca mais repetiria a expressão. Mas o título do livro pegou, e acabou por defini-lo para sempre.

CARTUM


J. Bosco.

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O cartum acima alcançou o segundo lugar no recém realizado 25º Salão de Humor de Volta Redonda-RJ.

sábado, 23 de junho de 2012

PARAGUAI: ENGUIÇADO ESTADO DE DIREITO


O contrabando ideológico do Paraguai

Por Paulo Moreira Leite

Começo a ficar preocupado com o debate em torno do golpe no Paraguai.

Meu receio é o contrabando ideológico, com ideias exóticas que podem ser trazidas ao Brasil e germinar por aqui.

Daqui a pouco vão concluir que apareceu a internacional do PIG.

Estou falando sério. É grande o número de comentaristas que dizem que a deposição de Fernando Lugo foi um processo dentro da lei e que, por essa razão, não pode ser comparado a um golpe de Estado.

Já li comparações inclusive com o impeachment de Fernando Collor. Teve até um professor universitário que disse isso no Rio Grande do Sul.

Vamos combinar que é feio reescrever a história, ainda mais a partir de fatos tão recentes.

Fernando Collor foi investigado durante meses e considerado culpado pela Polícia Federal, que encontrou vários indícios de corrupção e troca de favores.

A CPI sobre PC Farias recolheu provas contra o tesoureiro e o presidente. Os auxiliares de Collor foram questionados, puderam se defender e acusar. Apareceu uma testemunha, com um cheque usado para comprar um carro para a primeira dama. E apareceram vários cheques-fantasma do esquema e suas conexões. A polícia federal descobriu um computador com a descrição gráfica do esquema financeiro.

Depois de tudo isso, o Congresso votou o impeachment do presidente.

Ao contrário de Lugo, Collor não foi deposto. Renunciou.

Ou seja: não foi uma denúncia que caiu do céu contra um presidente fraco que, por falta de apoio parlamentar, foi despachado para casa.

Foi um processo democrático, onde Collor teve direito a ampla defesa.

Não tivemos nada disso contra Lugo. Não há o fiapo de uma prova de suas responsabilidades pelas 17 mortes num conflito agrário, que criou a comoção que ajudou os golpistas a criar um ambiente favorável a derrubá-lo.

Os outros quatro episódios são acusações vagas e genéricas. Em nenhum deles a culpa de Lugo está demonstrada. Estamos falando aqui de um arranjo político, uma oportunidade. Lugo era um presidente incômodo, com ideias de esquerda – bastante moderadas, por sinal – e seus adversários não quiseram perder uma chance de livrar-se dele.

É o poder oligárquico em sua expressão extrema, anti-democrática e absoluta – tão poderoso que pode cumprir um simulacro de democracia para pervertê-la.

Falar que se cumpriu o ritual democrático é o mesmo que dizer que o ditador Alfredo Stroessner, que governou o Paraguai por 35 anos, acumulou uma fortuna ilícita estimada em 5 bilhões de dólares e deixou uma lista de 400 desaparecidos políticos, era um presidente legítimo porque de tempos em tempos promovia eleições que vencia com mais de 90% dos votos.

E é isso o que mais preocupa neste caso.

Vitima de um golpe de Honduras, Manoel Zelaya foi acusado de tentar avançar uma emenda constituicional para permitir a reeleição presidencial – não para ele, mas para seus sucessores. Nem a embaixada americana acredita que esse fato era motivo para seu afastamento. Em documentos enviados para Washington, a representação diplomática em Tegucigalpa explicava que se tratava de um golpe de Estado. Mas havia, em Honduras, um pretexto que, de forma distorcida e abusiva, foi usado para depor um presidente constitucional.

Contra Fernando Lugo não havia nem pretexto e mesmo assim foi ele derrubado, um ano e dois meses antes do fim de seu mandato.

Mas nossos golpistas adoram uma novilíngua. Em 64, quando João Goulart foi deposto, eles anunciaram que a democracia foi resgatada. Fizeram marchas para comemorar a liberdade…

Que horror, não?
 
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Duração de todo o processo contra Fernando Lugo: 30 horas. Açodamento para lá de suspeito. Mas parte expressiva da chamada grande mídia brasileira considerou normalíssima a destituição do presidente (o jornal Folha de S. Paulo, em editorial, condenou o ato).
Nenhuma estranheza.

NO SÃO JOÃO DE CAMPINA


Bonecos tridimensionais representando Luiz Gonzaga, Sivuca e Marinês. Foram criados pela artesã Jussara Aires, de Campina Grande, metrópole paraibana onde se realiza O Maior São João do Mundo. (Fonte: aqui).

E viva Campina!

ECOS DA RIO+20


Paresh Nath.

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Na planilha: desenvolvimento sustentável. As setas indicam o caminho certo.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

RIO+20: FOCO DIFUSO

Aroeira.

Os resultados da Rio+20 ficaram aquém das expectativas. Na prática, houve um adiamento da adoção de medidas necessárias/esperadas. O Brasl parece ter feito o que lhe competia, em face da diversidade e colisão de entendimentos (pra não falar na indiferença dos donos do mundo), razão por que é preciso dar um desconto nos reparos feitos por críticos como Celso Lafer (texto abaixo, desde que lido na íntegra), que, aliás, esteve envolvido na condução da Rio-92 e trata de comparar as iniciativas e cobrar resultados (do Brasil) como se as circunstâncias que as cercam fossem as mesmas.
   
O texto abaixo, de Fábio de Castro, expõe o pensamento do citado Celso Lafer, presidente da FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, bem assim a avaliação do presidente do Conselho Internacional de Ciência:

Falta de foco marca documento final da Rio+20

O resultado final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), que se encerra no Rio de Janeiro nesta sexta-feira (22/06), será um documento sem foco, que não atende à urgência dos problemas enfrentados pelo mundo, segundo análise de Celso Lafer, presidente da FAPESP.

Ainda assim, segundo Lafer, a conferência poderá contribuir com uma atmosfera que estimule no futuro, em um contexto político mais favorável, a tomada de medidas concretas para a sustentabilidade global.

“O documento final é difuso, não tem foco e se baseia em um mínimo denominador comum. Na melhor das hipóteses, coloca em andamento processos que serão mais ou menos bem-sucedidos no futuro” (...).

“Compreendo o que levou a esse documento. O país sede não desejava que a conferência se encerrasse sem um consenso, por isso os negociadores brasileiros chegaram a esse mínimo denominador comum”, afirmou.

Na prática, o documento não é capaz de lidar com as urgências do presente e ficou muito aquém das expectativas. (Para ler mais, clique aqui).

A ZONA DO EURO NUMA IDADE MÉDIA COM INTERNET

Pavel Constantin.

O baile dos fanáticos do mercado

Por Paulo Moreira Leite

Se a Europa fosse um laboratório e os cidadãos do Velho Mundo pudessem ser vistos como camundongos num ensaio científico, a cena poderia ser descrita como demonstração do fracasso das políticas de austeridade.

Há cinco anos a economia europeia não para de afundar. Os governos caem, um após o outro. O desemprego aumenta e a falta de perspectiva real faz crescer a sombra do fascismo.

Quem acreditou que o problema europeu era a Grécia se decepcionou. Nem mesmo a pressão alemã dos últimos dias conseguiu garantir uma votação clara a favor dos partidos favoráveis ao programa de austeridade e desmanche do bem-estar social. O país está dividido e o recado das urnas está longe de apontar para uma saída.

O partido de ultra-esquerda teve 27% dos votos, apenas 2% a menos do que a direita, que ficou em primeiro lugar. Se os social-democratas ficaram um pouco abaixo, o neo-nazismo acumulou 18%. A esquerda tradicional – fora os socialistas – teve pouco mais de 6%.

Isso quer dizer que nada está resolvido e todo esforço para impor medidas que impliquem em novos sacrifícios irá enfrentar resistência. É por isso que as bolsas caem e os governos hesitam.

A única utilidade da pressão alemã foi desmascarar a boa vontade do Banco Europeu com a Espanha. Vinte e quatro horas depois da contagem de votos em Atenas, descobriu-se que a ajuda de 100 bilhões de euros a Espanha era um presente de grego. Só queria dar a impressão de que a austeridade representa uma saída.

O pacote espanhol sequer está resolvido e parece claro que terá poucos efeitos práticos para tirar o país do precipício. Querem salvar os bancos — mas não querem incentivar o consumo, nem o emprego.

Numa demagogia de hospício, o governo conservador da Espanha apoia medidas que favorecem demissões de trabalhadores porque acha que isso vai ajudar nas contratações. É como se as empresas fossem dirigidas por executivos angelicais, que não têm interesses nem metas financeiras para entregar no cassino continental.

Isso não quer dizer que os governos europeus não sabem o que fazer. Sabem sim. Querem promover um show chamado “destruição criadora”, pela qual as crises do capitalismo destroem forças produtivas, esmagam conquistas sociais e, sobre uma paz de cemitério, iniciam uma reconstrução em novas bases.

O sonho dos fanáticos do mercado é um mundo sem conquistas sociais nem direitos, onde as corporações e os mercados estejam livres para submeter os assalariados a uma regressão social como poucas vezes se viu na história. Algo como uma Idade Média com internet — se ainda houver luz elétrica, claro.

Faz parte dessa visão até mesmo neutralizar instituiçõies do Estado, criadas após a última grande destruição criadora – a crise de 1929 – e assim permitir um grande salto para trás. Por isso querem acabar com os bancos centrais, instrumentos para uma política econômica capaz de fazer o contraciclo e estimular uma retomada.

O jogo está iniciado e a única pergunta consiste em saber até onde haverá resistência da população. O resto é retórica, desemprego e retrocesso.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O OUTONO DA PRIMAVERA EGÍPCIA

Emad Hajjaj.

Impressões egípcias

Por Marcia Camargos e
Aldo Cordeiro Sauda

Em meio às primeiras eleições presidenciais do país, um sentimento de tristeza, quase uma depressão nacional, parece ter se apossado do Egito.

No lugar das tradicionais imagens de eleitores sorridentes, imperou o retrato de um voto seco e útil, quase universalmente gerado pela negativa. Sob um calor escaldante, o que vimos nos postos eleitorais estava muito longe da euforia esperada de quem alcança o ponto culminante de um processo desencadeado por uma revolução.

Nas filas para depositar o voto nas urnas, em cabines separadas por sexo, homens vestidos à maneira ocidental justificavam sua aposta no general Ahmed Shafiq, ex-primeiro ministro do ditador Mubarak, pelo temor aos islamistas.

Na contracorrente, jovens que acamparam na praça Tarhir, muitas vezes ao lado de mulheres debaixo do longo véu negro de um niqab, declaravam apoio ao candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamad Mursi. Alguns por concordância ideológica, outros só pela oportunidade de mudança em relação ao antigo governo.

O desânimo geral não chegou a nos surpreender.

Às vésperas das eleições, uma série de incidentes culminaram na anulação do primeiro parlamento democraticamente eleito da história do país e na imposição, de fato, de lei marcial pelo Exército.

No rol das medidas fatais para o suposto "processo de transição", a Suprema Corte Constitucional, no mesmo dia em que aboliu o Parlamento, anulou a chamada Lei de Isolamento. Instituída pelo agora deposto Poder Legislativo, ela visava impedir remanescentes do staff de Mubarak, como o próprio Shafiq, de disputar as eleições presidenciais.

Na madrugada da segunda-feira, no momento em que começavam a contar os votos, novos decretos emitidos pela Junta Militar, sob o título de "emendas constitucionais", aumentavam ainda mais o poder dos militares dentro do país.

Além de acumularem o Poder Legislativo em suas mãos e de reivindicarem para si o direito de elaborar a futura Assembleia Constitucional, foi retirado do futuro presidente o poder de dirigir o Ministério da Defesa ou o orçamento militar.

Não por acaso, metade dos eleitores registrados não compareceram ao segundo turno. Abalados pelas incertezas de um processo de transição confuso e mal manejado, poucos são os que acreditam em qualquer avanço institucional orquestrado pela Junta Militar.

A deposição do Parlamento, uma das poucas fontes de legitimidade dos militares, enterrou os últimos resquícios de respeito aos generais.

Ainda que não fosse altamente apreciado, o Parlamento representava, aos olhos da população, algum progresso mínimo no sentido de um Egito mais democrático.

Contudo, o próprio poder legislativo, dominado pela Irmandade Muçulmana desde novembro, tornou-se um dos principais focos da frustração na cidade do Cairo. Incapaz de lidar com os simples problemas cotidianos, o desempenho dos "irmãos" no parlamento os fez perder boa parte de sua base eleitoral.

Em cinco meses, seus 10 milhões de votos obtidos nas eleições parlamentares despencaram para quase a metade no primeiro turno da corrida presidencial.

Agora, enquanto tanto a contagem realizada pelo governo quanto a extraoficial, divulgada pela imprensa independente, indicam a vitória do candidato da Irmandade, as chances de Mursi ganhar e não levar continuam em aberto.

Talvez por isso nem seus adeptos parecem ter motivo para festejar. Fora algumas centenas de manifestantes, nas proximidades da Tahrir encontramos apenas os "baltageia", conhecidos agentes provocadores, aterrorizado a população local.

Em meio a tantos retrocessos, a revolução popular que derrubou o ditador dá a impressão de ter sido apenas uma miragem no deserto. (Fonte: aqui).

GRÉCIA: A SAÍDA, A SAÍDA...

Graeme MacKay.

A vitória da Nova Democracia, pró-Euro, não trouxe alívio a todos. O Nobel da Economia Paul Krugman escreveu no seu blogue um texto com o título “E depois?”.

Para Krugman, a Nova Democracia vai ter “capacidade para continuar a prossecução de uma política impraticável”.
"Se as políticas atuais falharem completamente, o que parece óbvio, e a Grécia sair do Euro (...), o que parece altamente provável, o centro [político] grego vai acabar desacreditado”, acrescentou.

Também o economista norte-americano Nouriel Roubini escreveu no Twitter que “dentro de seis a doze meses o governo da Nova Democracia-Pasok vai cair à medida que a economia cai numa depressão.” (Fonte: aqui).

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O famoso Livre Mercado é assim: desregulamenta o que é estratégico para o país, arrebenta o sistema econômico, se locupleta com dinheiro estatal (sob a alegação do insidioso "risco sistêmico"), propicia gordos bônus aos dirigentes de suas corporações - e quanto ao quebrado país... ora, o quebrado país que se ajuste às diretrizes traçadas pelos entusiastas da austeridade!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

DESERTIFICAÇÃO: AVANÇO IMPLACÁVEL


Semiárido brasileiro "ganhará um Alagoas" até 2070, prevê Inpe

Projeções feitas por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com base em tendências climáticas apontam para uma acentuada "aridização" (aumento da aridez) no sertão brasileiro nas próximas décadas.

Se os cenários previstos pelos cientistas estiverem corretos, não só a região crescerá em extensão, como também se tornará cada vez mais árida.

"É importante notar que estas são apenas estimativas. Mas os dados sugerem que as áreas de semiárido podem se ampliar em até 12% até meados do século", diz José Marengo, pesquisador do Inpe.

Isso equivaleria a um aumento de quase 29 mil quilômetros quadrados – área similar à do Estado de Alagoas – na região sujeita a secas, acrescenta o pesquisador.

Projeções elaboradas por Marengo e sua equipe mostram, no centro dessa vasta região semiárida, o crescimento de uma grande mancha de "hiperaridez". Em 2070, ela avançaria para o norte da Bahia, quase todo o interior de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, parte do sudeste do Piauí, além de alguns outros pontos isolados em outras partes do país.

"Essas regiões hiperáridas são as que podem, no longo prazo, se tornar desertos por uma combinação de condições climáticas e fatores antrópicos (relacionados à ação humana, como desmatamento)", diz Marengo.

"O processo de desertificação se comporta como um câncer, se ampliando quando não é combatido", acrescenta.

O grau de aridez é determinado pelo equilíbrio entre a quantidade de chuva que chega à terra e o volume de evaporação. Aridez significa ausência de água, e essa condição por um período prolongado pode levar à desertificação, à ausência de vida, diz Marengo.

Humberto Barbosa, coordenador do laboratório de meteorologia da Universidade Federal de Alagoas, observa que, nas áreas mais secas do Nordeste, chove em média 800 milímetros de água por ano, mas a "evapotranspiração" (perda de água dos solos por evaporação e perda de água das plantas por transpiração) passa dos 3 mil milímetros por ano.

Barbosa diz que secas como a deste ano aceleram o processo de desertificação, que já é causado pelo uso não sustentável do solo. "A agricultura de subsistência de milho e feijão feita pelo sertanejo demanda muito de um solo, que já é bastante pobre", avalia o pesquisador.

Atualmente, há quatro "núcleos de desertificação" formalmente identificados - e reconhecidos - pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em território brasileiro.

Todos eles estão no sertão nordestino: Seridó (RN), Irauçaba (CE), Gilbués (PI) e Cabrobó (PE). Juntos, somam mais de 18 mil quilômetros quadrados.

O coordenador-geral da ONG Centro de Assessoria e a Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas (Caatinga), Paulo Pedro de Carvalho, observa que outro problema é a dependência do sertanejo da vegetação para geração de energia.

"Há estudos que mostram que 30% de toda a energia usada na caatinga (incluindo consumo doméstico) vem da lenha", diz Carvalho. (...) (Fonte: aqui).

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Ficamos assim: o Ministério do Meio Ambiente reconheceu formalmente a existência de quatro núcleos de desertificação, todos no Nordeste. Falta o MMA reconhecer o desaparelhamento e despreparo do IBAMA no combate eficaz aos crimes ambientais (o caso do Piauí é notório), adotando as providências que lhe competem.
A propósito, leitor, você sabia que o desmatamento ilegal, independentemente da gradação, é considerado crime de baixo potencial ofensivo? É isso: o sujeito ou a quadrilha podem devastar qualquer área, com uma certeza: a punição rigorosa está fora de cogitação.
(Pensando bem, há certa, digamos, coerência nessa frouxidão: a comissão que prepara o novo código penal descartou considerar a corrupção como crime hediondo, enquanto a iniciativa de enquadrar penalmente empresas pela prática de atos corruptos também ruma para o fracasso).