quarta-feira, 31 de outubro de 2012

OLD BOOK


Diz, logotipo!, livro em que o cartunista Fortuna une traço e talento para 'brincar' com dezenas de logotipos, contemplando marcas consagradas (e discretas também), foi lançado em 1990.

Reginaldo José de Azevedo Fortuna, maranhense nascido em 1931, brilhou por décadas na imprensa brasileira. Dava show também na escrita, em crônicas que assinava como Professor Reginaldo.

Faleceu em 1994. No ano seguinte, o Salão de Humor de Piracicaba instituiu a medalha de honra ao mérito Reginaldo Fortuna, para homenagear destaques do humor tupiniquim.

Grande Fortuna.

A LUTA DOS GUARANI KAIOWÁ


Gilmar Mendes e os Guarani Kaiowá

Por Daniela Novais

Desde meados de julho, indígenas da etnia Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul (MS) no Centro-Oeste brasileiro tentam retomar parte do território sagrado “tekoha”, em Guarani, no Arroio Koral, localizado no município de Paranhos.

A terra está em litígio e, em dezembro de 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto homologando a demarcação da terra, porém a eficácia do decreto foi suspensa logo em seguida  pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, em favor das fazendas Polegar, São Judas Tadeu, Porto Domingos e Potreiro-Corá.

Em 29 de setembro, a Justiça Federal de Naviraí em Mato Grosso do Sul decidiu pela expulsão definitiva da comunidade Guarani-Kaiowá e, diante da decisão, os indígenas lançaram uma carta afirmando a intenção de morrer juntos pelas terras e fazem o pedido para que todos sejam enterrados no território pleiteado.

O assunto veio à tona, depois desta “carta-testamento”, que foi interpretada como suicídio coletivo; os Guarani Kaiowá falam em morte coletiva no contexto da luta pela terra, ou seja, se a Justiça e os pistoleiros contratados pelos fazendeiros insistirem em tirá-los de suas terras tradicionais, estão dispostos a morrer todos nela, sem jamais abandoná-las, de acordo com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) em nota divulgada (em 23 de outubro).

Entenda
Cansados da morosidade da Justiça, em agosto último cerca de 400 indígenas decidiram montar acampamento para pleitear uma resolução. Horas depois, pistoleiros invadiram o local. Houve conflito, que resultou em indígenas feridos, sem gravidade, e, com a chegada da Força Nacional, os pistoleiros se dispersaram e fugiram.

À época, o Guarani Kaiowá Dionísio Gonçalves afirmou que os indígenas estão firmes na decisão de permanecer no tekoha Arroio Koral, mesmo cientes das adversidades que terão de enfrentar, já que o território sagrado reivindicado por eles fica no meio de uma fazenda. “Nós estamos decididos a não sair mais, nós resolvemos permanecer e vamos permanecer. Podem vir com tratores, nós não vamos sair. A terra é nossa, até o Supremo Tribunal Federal já reconheceu. Se não permitirem que a gente fique é melhor mandarem caixão e cruz, pois nós vamos ficar aqui”, assegurou.

Conflito fundiário
A batalha pela retomada de terras indígenas se arrasta no Mato Grosso do Sul e o estado é responsável pelos mais altos índices de assassinatos de indígenas, que lutam pela devolução de terras tradicionais e sagradas. Já foram registrados muitos ataques, ordenados por fazendeiros insatisfeitos com a devolução das terras aos seus verdadeiros donos.

O processo continua em andamento, mas tem caminhado a passos muito lentos, já que ainda não foi votado por todos os ministros. Assim, os Guarani Kaiowá decidiram fazer a retomada da terra. (Em 19 de outubro) um grupo esteve em Brasília e fincou cinco mil cruzes na Esplanada dos Ministérios, em protesto e pedindo que a Justiça resolva a pendenga.

(Para ler a nota  do Cimi e, na íntegra, a carta dos índios, clique AQUI).

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Enquanto o assunto se encontra encalhado no assoberbado STF e os ânimos se acirram na área em conflito e arredores, os grandes agentes midiáticos como que ignoram o problema - a não ser para, aqui e ali, ironizarem 'as excessivas e inadmissíveis prerrogativas constitucionais oferecidas às comunidades indígenas'.
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Fato novo: Tribunal Regional Federal determina permanência dos índios no imóvel em litígio, até o desfecho do caso: aqui.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

ECOS DE UM ROCK DE ESTIMAÇÃO


Mundo cão

Por Otávio Augusto Winck Nunes

Não se trata de um fenômeno recente. Mas, é curiosa a extensão que tomou, ao longo do tempo, a relação entre os humanos e os outros animais, o de estimação. Acabo de assistir ao show de Eduardo Dussek (sim, agora com dois ‘esses’ no nome), no Rio de Janeiro. Uma de suas músicas de maior sucesso nos anos oitenta foi “Rock da cachorra”. Com sua irreverência ímpar, cantava que deveríamos trocar um cachorro por uma criança pobre.
 
Em que pese o tipo de “bichano” (pode ser gato, peixe ou passarinho), o humor do músico antecipava um já crescente segmento de mercado – na verdade o que poderia ser relação virou consumo! Mas, mais do isso, criticava uma disposição dos humanos pela adoção de animais em detrimento da adoção do bicho homem, do semelhante.
 
Esse é o que parece ser o enigma que envolve o mundo pet: transformar um animal no substituto de um humano. A crítica de Dussek, mesmo que exagerada, procede. Tem a sagacidade de escrachar o que é uma das faces mais paradoxais da questão: é possível estipular a equivalência entre um animal de estimação e um humano? Em que pese a minha simpatia por animais, que é grande, fico com a impressão que exageramos.
 
Outro dado carioca: passeando com sua dona, um simpático vira-lata vestido de surfista, com sua prancha, em direção à praia, digamos, embaixo de seu braço (tenho foto para comprovar). Sim, sua vestimenta, que incluía uma viseira protegendo seus olhos do sol forte, tinha um compartimento para carregar sua prancha de surf, compatível com seu tamanho. Mas, não é um fenômeno exclusivo dos cariocas, em breve, podemos ver (se já não aconteceu) um pet pilchado, guaiaca incluso.
 
O fenômeno no Brasil repete, em alguma medida, o que acontece em outros lugares. Um mercado, ou uma relação de amor, ávido por oferecer produtos para os pets, que nada demandam, mas que seus donos rapidamente tornam imprescindíveis aos animais. A lógica é essa.
 
Por vezes existe a tentativa de inverter a lógica que sustenta o argumento, mas trata-se de uma forçagem. Não há uma desmedida nesse âmbito?
 
Sei que é um assunto polêmico, mas não acho que colocar a questão seja necessariamente motivo para provocar briga com os defensores dos animais. Meu intuito, por sinal, é esse: proteger os animais.
 
Já se fez várias leituras desse fenômeno. Solidão dos humanos vem em primeiro lugar. Seguido pela rivalidade estipulada pela raça da moda. Em terceiro, para que o filho, uma criança, tenha uma experiência de ter um animal desde cedo e se responsabilize por ele (esse argumento dura uma fração de segundos, todo mundo sabe quem cuidará do animal de estimação). Em quarto, o narcisismo, e por aí vai. Aliás, nenhuma delas exclui a outra.
 
Mesmo que os argumentos pró animais sejam válidos, e que não possamos estipular, felizmente, uma única interpretação, temos que considerar ao menos o seguinte: não há equivalência entre um humano (não importa a idade, nem classe social) e um animal. Normalmente, atribuímos e enfatizamos nos animais não humanos características que gostamos de ver ocultas não só nos outros humanos, mas em nós mesmos.
 
Além disso, a verticalidade da relação dos humanos com os animais é imbatível. Ou o leitor acha que o cachorro pediu a prancha de surf a sua dona? Então, só emprestamos aos animais nossos nobres sentimentos por levarmos em conta dois fatores: eles não os têm, logo seria bom que tivessem, por exemplo, vontade de ser surfista; e outro fator atrelado ao primeiro: a objetalização dos animais a serviço do narcisismo. Sim, precisamos transformar os bichos em humanos por levarmos nossa espécie muito a sério.
 
Não é exagerado, como já existe, ter uma casa com quarto decorado específico para os pets? Aliás, eles são merecedores do nosso profundo respeito, tanto que deveríamos poupá-los de nossas neuroses.
 
Humanizar os animais é tentar fazê-los responsabilizar por algo (com) que nem nós humanos gostaríamos de nos ocupar. Sim, ao reproduzir toda a sorte de cuidados, preocupações e sentimentos não estamos só tentando domesticar um animal, é nossa própria falta de civilidade e agressividade que está sendo colocada à prova.
 
Mais do que tudo, o que é pior para os animais não humanos é herdar nossa neurose, não nossa tentativa de humanizá-los, pois, para isso eles não têm defesa alguma.
 
Animais fazem muito bem aos humanos, o contrário nem sempre é verdadeiro. Discordo da equivalência unívoca proposta por Dussek (cachorro igual a criança pobre ou rica, tanto faz), mas incentivar o medo de vivermos entre humanos não me parece ser a melhor alternativa que temos à disposição. Por mais fiel que um animal de estimação possa ser ao seu dono, e que seja mais fácil um humano trair a confiança de outro humano, que um animal, e não o contrário.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

DIA NACIONAL DO LIVRO

Às voltas com a concorrência da internet e suas suculentas ofertas de leitura (crônicas, artigos, análises, contos, até romances...), o livro resiste. Certa feita, um concurso patrocinado por uma publicação elegeu o melhor slogan: paraíso portátil. Foi no que pensei para louvar o livro no seu dia.

A seguir, texto de José Stédile, presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Biblioteca Pública, publicado por ocasião do Dia Nacional do Livro Infantil:

Ler é mais que preciso, é indispensável!

Questionado se tem o hábito da leitura, o escritor Ariano Suassuna disse que não. “Eu tenho a paixão da leitura. O livro sempre foi para mim uma fonte de encantamento”, disse ele. Já o estudioso Antonio Cândido defende o Direito à Literatura como direito humano, pois se algo é indispensável para nós, deve ser também indispensável para o próximo. Moacyr Scliar escreveu que a casa da leitura tem muitas portas, e a porta do prazer é das mais largas e acolhedoras.

Neste mês, comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil, em 18 de abril, dia do nascimento de Monteiro Lobato, e o Dia Mundial do Livro, em 23 de abril, falecimento de Cervantes e de Shakespeare. Estas datas nos cobram uma reflexão sobre a leitura no país.

A pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, divulgada em março, revelou que o brasileiro está lendo menos. De acordo com o levantamento, o número de brasileiros considerados leitores – aqueles que haviam lido ao menos uma obra nos três meses que antecederam a pesquisa – caiu de 95,6 milhões (55% da população estimada), em 2007, para 88,2 milhões (50%), em 2011.

Além das justificativas das novas tecnologias, falta de estímulo e alto custo, a indiferença dos brasileiros pelos livros tem raízes mais profundas. Séculos de escravidão levaram os líderes do país a negligenciar a Educação. A Escola primária só se tornou universal na década de 90. As bibliotecas e as livrarias ainda não conseguiram emplacar. Cerca de 75% da população brasileira jamais pisou numa biblioteca.

Outro fato importante é que só 26% dos brasileiros entre 15 e 64 anos encontram-se no nível pleno de alfabetização, ou seja, têm hoje condição de ler e compreender integralmente um texto longo. Não é possível pensar que exista um país, com o crescimento do nosso, que possui uma taxa de 70% de analfabetos funcionais.

Portanto, acredito que, no ano em que declaramos o educador Paulo Freire patrono da Educação brasileira, temos o dever de lutar para que homens e mulheres enxerguem o mundo com outros olhos, sem limitações. Por isso, propus a criação da Frente Parlamentar em Defesa da Biblioteca Pública na Câmara dos Deputados. O objetivo é destacar o papel estratégico da Biblioteca Pública na formação intelectual do cidadão. Além disso, promover debates sobre políticas de criação, modernização e capacitação técnica dos profissionais, para garantir acesso amplo e irrestrito da sociedade à leitura. 

O AR PROFUNDAMENTE HUMANO DO STF


Por Luis Nassif

Períodos eleitorais deixam nervos à flor da pele e o comportamento do STF (Supremo Tribunal Federal) não tem ajudado a trazer bom senso para o debate político.

O que se passa é apenas mais um capítulo de um penoso processo de aprendizado democrático. Especialmente em um momento em que as urnas tornam mais distantes os sonhos de uma rotatividade no poder.

Do lado de parte da mídia, há uma tentativa insistente de envolver Lula no julgamento e, se possível, de processá-lo e fazê-lo perder seus direitos civis. Do lado de parte do PT, um chamado à resistência capaz de elevar ainda mais a temperatura política.

No meio, botando lenha na fogueira, os doutos Ministros.

Mentes mais conspiratórias à esquerda podem suspeitar da preparação de um novo golpe. Mentes conspiradoras à direita podem mesmo acreditar que poderão fomentar o golpe.

No fundo, o que ocorre com o Supremo é apenas uma manifestação eloquente de humanidade. Não da grande humanidade, dos princípios que consagram homens e civilizações. Mas das fraquezas e vaidades que tornam - do mais solene magistrado ao mais simples cidadão - os homens iguais entre si.

O capítulo atual do aprendizado é o da exposição do STF à luz dos holofotes, com transmissão ao vivo e, pela primeira vez, analisando um processo penal. Vaidosos por natureza, como o são todos os intelectuais dotados de conhecimento especializado – e, no caso do STF, com esse conhecimento sendo manifestação de poder – os Ministros foram expostos ao desafio de se tornarem celebridades e não perderem a linha
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Alguns não conseguiram.

Foi o que levou um Celso de Mello a colocar gasolina na fogueira, e esforçar-se tanto pelo grande momento de oratória, insistir tanto na ênfase definitiva, a ponto de comparar partidos políticos ao PCC.

O mesmo fez Marco Aurélio de Mello, com sua defesa do golpe de 64. O Ministro que sempre se jactou de chocar os pares – inclusive com alguns posicionamentos históricos – com a concorrência inédita dos demais ministros precisou avançar alguns tons na competição. E pode haver prato melhor do que um Ministro da mais alta corte defendendo uma transgressão à Constituição?

Essa mesma sensação de poder acometeu Joaquim Barbosa, a ponto de avançar sobre colegas que ousassem discordar da voz de Deus. Contra os advogados dos réus, não a explosão de trovões – que só são utilizados contra iguais – mas o riso irônico de quem trata com personagens insignificantes, perto da grandeza do Olimpo.

Todos trovejam e Ayres Britto passarinha, com sua voz de pastor das almas, tentando alcançar o tom grave dos colegas mais eloquentes.

No plano real, fechadas as cortinas do espetáculo, não há possibilidade de se alcançar Lula. A teoria do “domínio do fato”, encampada pelo Procurador Geral da República, subiu na escala hierárquica e pegou José Dirceu e José Genoíno. Mas mesmo o PGR considerou exagero alçar voo para mais um degrau e alcançar Lula. Definitivamente, Lula está fora do processo.

Assim, as investidas dos Ministros do STF explicam-se muito mais pelas fraquezas humanas, pelo estrelismo que acomete espíritos menos sábios, do que pelo maquiavelismo político. Eles são humanos. Apenas não foram informados disso. (Fonte: aqui).

domingo, 28 de outubro de 2012

ENQUANTO ISSO, EM SÃO PAULO...


Título especulado: 'Au revoir, Serra!'

Autor: desconhecido.

NÚMEROS DE TERESINA


"Quem respira Teresina, respira ares de liberdade. Teresina não se curva e não se vende."


(Firmino Filho, do PSDB, eleito prefeito de Teresina nesta data, com 51,54% dos votos, contra 48,46% de Elmano Férrer, do PTB. Será a terceira vez que Firmino governará esta Capital, convindo notar que o grupo a que pertence dominou o poder local no período de 1985 a março de 2010, quando tomou posse o então vice-prefeito Férrer - que desenvolveu notável trabalho, em articulação com os governos estadual e federal, os quais o apoiaram no 2º turno.
A alusão ao fato de que Teresina 'respira ares de liberdade' e 'não se curva e não se vende' pretenderia 'denunciar' que Férrer e seus aliados tentaram 'impor' sua vitória. Os aliados, no caso, são os mesmos que o representante do PSDB tentou, sem sucesso, atrair - inclusive o PT).

NÚMEROS ELEITORAIS

O PT lidera o ranking dos partidos vencedores das disputas no grupo das 85 maiores cidades do país, que reúne as 26 capitais e as 59 cidades do interior com mais de 200 mil eleitores: ao todo, petistas elegeram 16 prefeitos nessas cidades, uma a mais que o PSDB. O PSB elegeu 11 e o PMDB, 10.

Os municípios em que o PT venceu concentram 15.205.854 eleitores (10,8% do total brasileiro e 29,8% das 85 grandes cidades). Esse número é 2,3 vezes maior do que a quantidade de eleitores registrados nas localidades em que o PSDB ganhou: 6.398.000 eleitores (4,5% do total nacional e 12,5% das maiores localidades).

Pelo visto, a overdose de mensalão não surtiu o efeito esperado pela mídia seleta e seus parceiros.

OUTUBRO, MÊS DE GRACILIANO, MESTRE DA ESCRITA


O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos

Da CartaMaior

Reavaliada 120 anos depois de seu início, em 27 de outubro de 1892, a extraordinária trajetória pessoal, literária, intelectual e política de Graciliano Ramos contada por seu melhor biógrafo ganha nova edição, ampliada e revisada, pela Boitempo Editorial. O velho Graça, de Dênis de Moraes, nos conduz pelos sessenta anos de história de um dos maiores narradores da literatura brasileira, com todo o rigor da documentação e dos depoimentos pessoais daqueles que o cercavam. O livro chega aos leitores com acréscimos que acentuam o conhecimento pormenorizado da vida e da obra do escritor alagoano. Entre as novidades estão um bem-cuidado caderno iconográfico, com imagens raras e até inéditas, e a mais esclarecedora entrevista concedida pelo escritor, em 1944, nunca antes publicada em livro.

Publicado pela primeira vez no centenário de Graciliano Ramos, o trabalho de Moraes foi recebido com grande entusiasmo pela crítica, por se tratar da primeira “biografia de conjunto” sobre o romancista, como classificou Carlos Nelson Coutinho no prefácio.

O estilo jornalístico do biógrafo se perfaz num rigoroso e amplo trabalho de pesquisa – com texto ao mesmo tempo leve e erudito, escrito com sóbria simplicidade, O velho Graça refaz a trajetória luminosa e sofrida de Graciliano. Tendo como objeto de estudo um escritor aferrado ao seu tempo, Moraes desenha o pano de fundo de cinco décadas de grande efervescência política e de transformações aceleradas no processo modernizador do Brasil.

A garimpagem em arquivos públicos e privados de Rio de Janeiro, São Paulo e Alagoas, assim como as dezenas de testemunhos de amigos, parentes, artistas, intelectuais e companheiros de geração enriqueceram sobremaneira o trabalho. Com argúcia de historiador e sensibilidade literária, Moraes traça a interligação entre as várias personas de Graciliano Ramos: o menino traumatizado pelas surras na infância; o jovem autodidata que lia Balzac, Zola e Marx em francês; o mítico comerciante da loja Sincera; o revolucionário prefeito de Palmeira dos Índios; o zeloso diretor da Imprensa Oficial e da Instrução Pública de Alagoas; o preso político no inferno da Ilha Grande; o escritor sufocado por apuros financeiros; o estilista da palavra na redação do Correio da Manhã; o militante comunista aos esbarrões com a burocracia partidária.

Sem cair na armadilha do biografismo, Moraes recompõe a emergência dessa complexa figura, reconstituindo no percurso dialético de seus diversos momentos alguns dilemas fundamentais de nossa formação histórica. “Temos um Graciliano sem retoques: duro, mas apaixonado; frio e áspero na superfície da fala e do gesto, mas ardente e sempre humano na fonte da vida pessoal”, diz na capa o professor Alfredo Bosi, que também encontrou na biografia o cruzamento de itinerários do homem capaz de refletir, como num jogo de espelhos, a somatória de vivências acumuladas: “a paixão pela palavra nele precedeu e acompanhou a opção política que, por sua vez, transcendeu (mas jamais renegou) a adesão partidária”.

Para o autor, remontar o quebra-cabeça de Graciliano assemelhou-se ao ofício de artesão, já que os fragmentos do passado precisavam ser pacientemente reunidos e dispostos com a máxima coerência possível, a despeito da pluralidade de suas significações.

A necessidade de correlacionar peripécias, valores e sentimentos foi inspirada em uma passagem do prólogo de Memórias do Cárcere. O escritor consciente, assinala Graciliano, não deve esquivar-se dos zigue-zagues e tumultos próprios de uma existência. “Esforcei-me para mirar o objeto sem perder de vista suas interfaces e imbricações, tratando de averiguar convicções, dúvidas, anseios, vicissitudes e triunfos a fim de estabelecer conexões com a esfera ficcional engendrada por ele. Nas tensões entre o homem, a atmosfera social e a criação literária recolhi pistas que me levassem às motivações familiares, afetivas, estéticas, ideológicas e políticas presentes em sua intervenção na realidade concreta”, completa Moraes. O resultado é uma história de projeções e influências, de paradoxos e contrastes, mas, sobretudo, de coerência na busca incessante do que é essencial à vida.

Trecho do livro

"Fico imaginando o que Graciliano acharia de ter sido biografado. Talvez fingisse desprezo por sua escolha. O que me leva a crer nisso? Uma declaração feita por ele, em novembro de 1937, em uma carta ao tradutor argentino Raúl Navarro, que lhe pedira um currículo sumário para anexar a um conto em vias de publicação em Buenos Aires.

Os dados biográficos é que não posso arranjar, porque não tenho biografia. Nunca fui literato, até pouco tempo vivia na roça e negociava. Por infelicidade, virei prefeito no interior de Alagoas e escrevi uns relatórios que me desgraçaram. Veja o senhor como coisas aparentemente inofensivas inutilizam um cidadão. Depois que redigi esses infames relatórios, os jornais e o governo resolveram não me deixar em paz. Houve uma série de desastres: mudanças, intrigas, cargos públicos, hospital, coisas piores e três romances fabricados em situações horríveis – Caetés, publicado em 1933, S. Bernardo, em 1934, e Angústia, em 1936. Evidentemente, isso não dá para uma biografia. Que hei de fazer? Eu devia enfeitar-me com algumas mentiras, mas talvez seja melhor deixá-las para romances." (Fonte: aqui).


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Tudo bem: o título do post elege outubro como o mês de mestre Graça, em face de seu aniversário. Mas o fato é que todos os meses do ano são, por justo merecimento, meses de Graciliano.

sábado, 27 de outubro de 2012

AMIZADE À ANTIGA

(Amizade à antiga ou o dia em que os celulares foram descartados).

Masoud Ziaei. (Do Irã).

CHINA OBSTA UM NEGÓCIO DA CHINA


Governo da China proíbe as religiões de terem lucro

Autoridades do governo central da China enviaram circular aos governantes das comunidades determinando que “proíbam firmemente” os grupos religiosos de terem lucro com suas atividades.

Expedida pela Administração Estatal de Assuntos Religiosos, a circular critica os indivíduos e empresas que transformaram a religião em um negócio rentável. Menciona a construção de templos com fins econômicos e artimanhas para que os fiéis e turistas façam doações.
 
“[Essas práticas] perturbaram a ordem das atividades religiosas, danificando a imagem da comunidade religiosa, ferindo os sentimentos dos fiéis e violando os direitos dos visitantes", diz a circular. Os infratores são punidos com “graves castigos”.
 
Na China, liberdade religiosa é restrita porque, para pregar, as denominações precisam de autorização do governo — e elas são poucas, ao menos para o padrão de países democráticos do Ocidente.
 
Não há estatística oficial sobre o número de religiosos praticantes. Para alguns observadores, nas últimas duas décadas houve maior procura pelas crenças religiosas.
 
A agência EFE informou que a proibição vai afetar o mosteiro de Shaolin, onde surgiu o budismo zen e o kung fu. As atividades do mosteiro se tornaram um negócio lucrativo, com a apresentação de espetáculos pagos, inclusive no exterior, além da construção de templos em várias províncias chinesas, em uma espécie de franquia. (Fonte: aqui).
 
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Restrição à liberdade religiosa é descabível - o que não significa adesão ao lado oposto: a louvação ao império do laissez faire exacerbado. Nesse sentido, os pregadores(!) do Livre Mercado deveriam ser contrários a qualquer 'privilégio terreno', como as polpudas isenções tributárias (brasileiras).

EUA: O QUE INTERESSA AO ELEITOR


Cavalos e Baionetas

Por Mauro Santayana

O terceiro e último debate entre Mitt Romney e Obama teve um bom momento de risos, mas traz reflexões. Quando o candidato republicano, notório belicista, reclamou contra a fragilidade da defesa do país, ao afirmar que a Marinha tem menos navios do que os tinha em 1916, foi contestado com ironia por Obama: mas, governador, também temos menos baionetas e menos cavalos.

Ter menos navios, menos cavalos e menos baionetas não torna os Estados Unidos um país militarmente débil. Como sabemos, eles continuam sendo a maior potência militar do mundo, a que dispõe de mais efetiva tecnologia para a destruição e a morte. Além de seus mísseis, capazes de atingir com precisão qualquer ponto do planeta, e de seus artefatos nucleares, com o poder de arrasar o mundo, os arsenais ianques dispõem de armas novas, já testadas, movidas a propulsão magnética, e de aviões não tripulados que identificam eletronicamente os alvos e os atingem sem interferência humana. A cada dia mais, a tecnologia dispensa os soldados nas operações destrutivas, e os reserva para tarefas de ocupação.
 
Quando qualquer nação não consegue defender seus interesses, legítimos, ou não, mediante a diplomacia - o meio mais antigo e efetivo da política externa - apela para as armas. O uso da força é proporcional à debilidade do convencimento político. Na maioria das vezes, como demonstra a história, as nações com ambição imperial combinam pressões diplomáticas e ameaça militar, antes do uso efetivo das armas. Nesse particular, os Estados Unidos são exemplo mais duradouro, desde que surgiram como estado independente.
 
Ao mesmo tempo, a guerra pode ser vista como expediente do medo. É preciso, nesta razão zarolha, destruir o inimigo, antes que ele ameace a nossa existência. Não foi a coragem germânica que fez Hitler, mas o medo. E o medo cresce, na medida em que se acumulam os atos de violência bélica contra os outros. Sempre se teme a possível retaliação.
 
Outro problema é o desgaste do poder militar, quando lhe falta o apoio moral dos povos a que pretende servir. Sem convicção é difícil vencer os conflitos armados. É o que ocorreu na guerra do Vietnã, e volta a ocorrer hoje, com relação ao Oriente Médio, não só nos Estados Unidos, mas também na Europa. Ainda assim, os analistas consideram que o debate sobre política internacional interessa menos aos eleitores norte-americanos de hoje. O que os move é a situação econômica, com o empobrecimento da maioria da população, e o enriquecimento, sempre mais atrevido, dos rentistas.
O predomínio da ganância, na estrutura do poder nos estados modernos, está – mais uma vez – dividindo as sociedades nacionais. Isso tanto pode conduzir às revoluções libertadoras, quanto à apatia e ao conformismo, sob a tirania plutocrática.
 
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A observação do articulista sobre a desimportância, para os eleitores americanos, da política internacional não deve causar estranheza. Afinal, para os estadunidenses, desde meados do século passado a América passou a ser mais relevante que o  Mundo. E que fique claro: quando se fala em América não se está aludindo ao continente americano, mas ao país, EUA. 
Dito isto, boa sorte para Obama - e vade retro, Tea Party.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

IMPRESSÕES SOBRE O JULGAMENTO


Para rir ou chorar

Por Janio de Freitas

Quem viu a sessão de ontem do Supremo Tribunal Federal, ou alguma das anteriores com o mesmo nível de ética e de civilidade, pode compreender que o ministro Joaquim Barbosa assim opinasse sobre o artigo do "New York Times" que qualificou de risível a Justiça brasileira:

"Eu apenas me referi a um artigo - com o qual concordo".
 
Mas compreender tal concordância do "novo herói nacional" não leva a compreender uma questão mais simples: por que o ministro Joaquim Barbosa permanece como componente dessa "Justiça risível", e no ponto culminante dela, se poderia desligar-se ao perceber seu caráter ou nem aceitar compô-la?
 
A resposta esperta seria a da permanência para lutar por melhorá-la. Resposta desgastada, é verdade, desde que certa corrente do comunismo não desperdiçava boas situações, com a alegação de que "a luta por dentro" era mais eficaz. Não só para o objetivo comunista, claro.
 
O artigo citado por Joaquim Barbosa ocupou-se das sessões de julgamento do mensalão. Nas quais o ministro é protagonista de cenas inspiradoras do comentário publicado. A própria referência ao artigo veio em mais um acesso de inconformismo de Joaquim Barbosa com a discordância, por sinal vitoriosa, de outros ministros à sua posição (esta, seguida pela linha-dura: Luiz Fux, Marco Aurélio e Ayres Britto).
 
Há pouco, houve críticas a um comentário cético do ministro Marco Aurélio sobre a próxima presidência do Supremo por Joaquim Barbosa. A preocupação se justifica, no entanto.
 
Os poderes maiores da presidência sempre implicam o risco de excesso incompatível com o tribunal. Se a discordância basta a Joaquim Barbosa para investir de modo insultuoso e atropelador, agora que suas condições hierárquicas têm as limitações de poder comuns a todo o plenário, não há dúvida de que o risco da futura presidência estará bastante aumentado.
 
Ainda ontem, quando discutida a proposta de condenação em que foi derrotado, Joaquim Barbosa voltou a uma afirmação intrigante lançada anteontem a respeito do ministro Ricardo Lewandowski: "O revisor barateia muito o crime de corrupção". Nas circunstâncias, não era uma constatação. A não ser a respeito do autor da frase e da atitude que expõe.
 
Cá fora, a descarga de raiva e a consequente ânsia de condenações, tão terríveis quanto possível, são partes das atitudes comuns. Mas um juiz não pode querer condenar nem absolver. Tem de procurar fazê-lo à margem de sua vontade.
 
O ministro Joaquim Barbosa, porém, em geral transmite a impressão - não de agora - de formular suas decisões com bem mais do que saberes jurídicos e reflexões.
 
CRIAÇÕES
Mais uma vez: "...o mensalão, idealizado pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu" (em "Valério cumprirá pena em regime fechado, decide STF", pág. A4 de ontem). Com três meses do julgamento no Supremo, o mensalão continua a receber essa origem, com frequência, em jornais, TVs e rádios.
E José Dirceu, para ser criador do mensalão, só pode ser imaginado no PSDB em 1998, com Marcos Valério, na tentativa fracassada de eleger o peessedebista Eduardo Azeredo para o governo de Minas.
Como é que isso ainda acontece? Eu é que não vou dar meu palpite.

FRAGMENTO DE CRÔNICA


Palavras avulsas

Por Luís Fernando Veríssimo

O “rude e doloroso” idioma de Bilac é falado por mais gente do que fala francês, mas temos razões para nos queixar da sua relativa obscuridade. Ao contrário da Espanha, que perdeu seu império americano mas deixou um imenso mercado para o García Márquez e o Vargas Llosa, Portugal não foi muito pródigo com a sua língua.

Seus navegadores, catequizadores e comerciantes apenas largaram palavras avulsas pelos caminhos da sua exploração do mundo, como pepitas raras. Até hoje na Costa Ocidental da África usam a palavra “dash” para gorjeta. Vem do português “deixar”, como em “Vou deixar uns trocados para você, ó mameluco!”.
 
No Japão, o prato de camarão com legumes fritos chamado “tempura” tem este nome por causa dos portugueses que só comiam peixe durante os “Quattuor Tempora”, ou Quatro Tempos, de cinzas e contrição, do ano litúrgico.
 
O “mandarim” chinês vem de “mandar” mesmo, combinada com o sânscrito “mantrin”, ou conselheiro.
 
Algumas palavras portuguesas andaram pelo mundo e voltaram com seu sentido mudado.
 
“Casta”, substantivo, camada social, vem do português “casta” adjetivo. “Fetishe” começou a vida como feitiço. E o “joss” do chinês pidgin, significando ídolo, é uma corruptela do “Deus” chiado dos portugueses.
 
Enfim, não é muito mas é nosso.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

ZIRALDO, 80 ANOS

Desenho de Ziraldo.

Texto divulgado pelo JB On Line nesta data:

Formado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o cartunista Ziraldo completa hoje (24) 80 anos. Nascido em Caratinga, em Minas Gerais, Ziraldo Alves Pinto é o criador de personagens famosos, como o Menino Maluquinho. Atualmente, é um dos mais conhecidos e aclamados escritores infantis do Brasil.

Começou a trabalhar no Jornal Folha de Minas, de Belo Horizonte, em 1954, com uma coluna dedicada ao humor. Ganhou notoriedade nacional ao se estabelecer na revista O Cruzeiro em 1957 e posteriormente, no Jornal do Brasil, em 1963.

Seus personagens (entre eles Jeremias, o Bom; a Supermãe e o Mirinho) conquistaram os leitores. Ziraldo foi fundador e posteriormente diretor do periódico O Pasquim, tabloide de oposição ao regime militar, uma das prováveis razões de sua prisão, ocorrida um dia após a promulgação do AI-5.

Em 1980, lançou o livro O Menino Maluquinho, seu maior sucesso editorial, o qual foi mais tarde adaptado na televisão e no cinema. Incansável, Ziraldo ainda hoje colabora em diversas publicações, e está sempre envolvido em novas iniciativas.

Uma das mais recentes foi a Revista Bundas, uma publicação de humor sobre o cotidiano que faz uma brincadeira com a revista Caras, voltada para o dia a dia de festas de artistas e da elite brasileira.


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Parabéns, Ziraldo!

OLD PHOTO


Em 21 de agosto de 1911, foi roubado do Museu do Louvre o quadro "Mona Lisa", de Leonardo da Vinci.
O ilícito foi praticado por Vincenzo Peruggia, imigrante italiano, que por dois anos manteve a obra-prima debaixo da cama (na própria Paris). Depois, levou Gioconda para a Itália, com a intenção, segundo consta, de devolvê-la ao povo italiano. O sequestro foi encerrado em 12 de dezembro de 1913, em Florença - e Peruggia, preso e condenado.

(Foto produzida em 1913; autor desconhecido. Fonte: aqui).

JORNAL GLOBAL ELEITORAL


"O que tinha que influir já influiu lá no começo, mas agora acho muito difícil que possa mudar os votos do eleitor. Tanto que o PSDB até já desistiu de usar este tema na sua propaganda. O eleitor quer saber do futuro, não do passado".


(Antonio Donato, coordenador geral da campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, na manhã de ontem, em resposta ao jornalista Ricardo Kotscho, que quis saber sua expectativa quanto às consequências do final do julgamento do chamado mensalão.
À noite, o Jornal Nacional destinou ao julgamento talvez a maior fatia de 'tempo corrido' de sua história: 18 minutos.
Donato afirmou que "até o PSDB já desistiu de usar este tema na sua propaganda" - o que, avaliando bem, é até irrelevante, pois a Propaganda Global é muito mais abrangente. Isenção à parte).

Adendo: aqui, matéria interessante sobre o assunto.

ANALISANDO O NEOLIBERALISMO TUPINIQUIM


O falso liberalismo brasileiro

Por Sérgio Saraiva

A leitura do livro "A consciência de um liberal" de Paul Krugman foi-me muito interessante. Ele narra como surgiu a poderosa classe média emergente nos EEUU, a partir dos anos 1930, nos governos Franklin Roosevelt e como ela definhou vítima da "grande compressão" a partir dos governos Reagan, mas principalmente nos governos Bush.

Krugman falava de Roosevelt e eu enxergava Lula. É incrível a semelhança das ações e dos resultados. Roosevelt foi a social-democracia americana, Lula é a brasileira.

Agora, interessante mais ainda foi ter lido as ponderações de Krugman sobre o achatamento dessa classe média - a middle-class squezed. Havia no relato, para mim, pela primeira vez a constatação de que algo que aconteceu primeiro no Brasil, e para a qual encontramos a solução, aconteceu depois nos EEUU. O relato da grande compressão da classe média americana nos governos Bush foi o que no Brasil foram antes os governos FHC. Às vezes penso, ou torço, para que Obama seja o Lula deles. Lula também teve um 1º mandato complicado.

Agora, vamos ao governo FHC. Conceitualmente foi uma fraude, uma impostura.

O governo FHC adotava a teoria do estado mínimo tão cara aos liberais - ou conservadores na ótica estadunidense. Por esse conceito, o estado interfere minimamente na vida dos cidadãos e nas suas formas de organização.

Não no Brasil; aqui, na melhor tradição ibérica, se alguém quiser montar uma barraca de feira ou trabalhar com um taxi terá de obter uma autorização estatal. Das atividades econômicas mais simples às mais complexas tudo é intermediado por um agente público.

O governo FHC fez algo para mudar esse padrão?

O estado mínimo presta pouco serviço de seguridade social aos seus cidadãos. Atem-se primordialmente às funções de estado. A manutenção da segurança interna e externa, a defesa dos interesses nacionais em relação às outras nações e a administração da justiça e do poder de polícia. Cabe aos cidadãos proverem as suas necessidades de modo particular, pagando por elas. No estado mínimo, como gostam de dizer no Brasil, deturpando o conceito, não há almoço grátis.

Em compensação, o estado mínimo cobra impostos mínimos. Quanto mais baixos os impostos, menor a carga sobre a sociedade para manter a sua estrutura administrativa. Logo, geram-se excedentes financeiros para alavancar por via da iniciativa privada o progresso do país. A apropriação dos ganhos desse progresso se dará pela meritocracia, ou seja, a cada um segundo seu esforço e talento.

Quando no Brasil o governo FHC diminuiu a carga tributária? Ao contrário, só fez aumentá-la.

Assim, vivíamos nos governos FHC o pior de dois modelos. Pagávamos impostos como na social-democracia europeia e recebíamos serviços como no estado mínimo norte-americano.

A quem serviu então os governos FHC? A um pequeno grupo de especuladores financeiros que se aproveitavam de sua proximidade com o governo para lucrar com o "melhor" dos dois modelos.
O poder de intervenção do estado era útil a esse grupo, pois era esse poder que decidia quem participaria do jogo econômico e quem seria deixado de fora. O que foram as privatizações senão uma ação entre amigos? Por que, diferentemente de Thatcher, as ações das empresas a serem privatizadas não foram simplesmente negociadas na bolsa de valores e adquiridas segundo as tais regras de mercado?

Para aonde foi o dinheiro das privatizações? Com uma política de juros altos, voltou para a mão dos mesmos financistas que o desembolsaram com empréstimos do BNDES e com a participação dos fundos de pensão das estatais. Capitalismo sem risco.

O que foi o PROER, senão uma socialização dos prejuízos dos banqueiros que antes haviam lucrado com a inflação?

Capitalismo sem risco, privatização dos lucros e socialização dos prejuízos. Isso é liberalismo?

Conceitualmente o liberalismo apregoado por FHC é uma empulhação, um estelionato. Caso não o tenha sido de fato.

E o que virá com a continuação do "modelo Lula" - a social-democracia brasileira?

Virá uma classe média conservadora.

Não sei se ao modelo europeu, que quer conservar seu "welfare state" ou se ao modelo americano e seu reacionarismo individualista.

No primeiro caso, o "lulismo" se mantém por 50 anos. No segundo, haverá a partir do fim da sucessão do 2º mandato de Dilma pressões para a redução do peso do estado.

Criaremos uma terceira via? (Fonte: aqui).

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Não li o livro acima referido, mas acompanho os artigos (traduzidos para o português) de Paul Krugman, que não à toa ganhou o Nobel de Economia de 2008. Não li o livro, repito, porém desde logo destaco um mérito dele: o de haver motivado a análise acima.

BACIA DOS LUCROS


Amorim.

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Não obstante, vale atentar para a manchete do dia: "Rentabilidade de Itaú e Bradesco é a pior desde a década de 1990".
Com a redução da Selic, os bancos estatais estão forçando a queda dos encargos sobre operações em geral (apesaar da resistência dos cartões de crédito), e o grosso do lucro vai ter de vir, mesmo, da ampliação das aplicações.
A expansão do crédito a cargo dos bancos estatais foi/está sendo uma das razões de o Brasil estar suportando a pressão da crise financeira internacional iniciada em 2008 e que ainda hoje arrebenta países como Grécia, Portugal, Itália, Espanha - e agora também a Inglaterra, entre outros.

JUDICIOSA SINCRONIA

Replay.

Do Brasil 247, a propósito da conclusão, pelo STF, do julgamento do último capítulo atinente à Ação Penal 470: "Talvez tenha sido coincidência que tudo isso tenha ocorrido a apenas seis dias das eleições. Talvez."

Coincidência, digamos, britânica.

Para ler o artigo, clique AQUI.

INTERNET: DADOS DESNUDADOS

No cartum à esquerda (1993), o vira-lata diz para o outro que usando a Internet ninguém fica sabendo que ele é um cão. Sob a ilustração à direita (2011), a lista dos itens 'disponibilizados' pelos novos recursos tecnológicos (texto abaixo).

Segundo o blog Contabilidade Financeira (aqui), artigo publicado no site norte-americano ProPublica destaca que alguns cookies instalados nos computadores estão 'amealhando' informaçãoas sobre as preferências políticas dos internautas. Tais informações, somadas à estimativa de salário, local provável de onde você mora, entre outras, estão engordando os bancos de dados de empresas, como a CampaignGrid - a qual, destaca o articulista, montou uma apresentação onde informa que os usuários da internet não são anônimos (ilustração acima).

O ProPublica identificou sete empresas capazes de rastrear as preferências políticas dos usuários. Algumas destas empresas estão trabalhando em conjunto com companhias maiores tais como Facebook, Yahoo ou Microsoft. As informações coletadas abrangeriam 80% dos eleitores dos Estados Unidos.
 
É, já não se fazem intimidades como antigamente... 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

VINICIUS, 99 ANOS


Um sonho de Vinicius

Por Ruy Castro

Parece incrível, mas Vinicius de Moraes teria feito 99 anos na sexta-feira última. Como se não bastasse, a data foi o ponto de partida para o seu centenário --que, para todos os efeitos, já começou.
Uma vasta programação, incluindo reedições de sua obra e antologias de textos nunca publicados em livro, uma caixa de seus discos (dispersos por vários selos), uma exposição itinerante, shows, palestras etc., ocupará os próximos 12 meses. E isso é só o Vinicius oficial.

Ótimo. Efemérides como essa devem zarpar de um projeto institucional e, daí, abrir-se a adesões --sempre que possível, sem ônus. Foi o que determinou o sucesso do centenário de Nelson Rodrigues, ainda em curso, e, há tempos, o fracasso do centenário de outros artistas --pela ganância dos herdeiros.

Quando se dizia que Vinicius era um ser plural, não estavam brincando. Poeta, diplomata, letrista, cantor, cronista e homem de teatro, cinema, uísque e mulher, ele pode ser abordado de muitos ângulos. Um ano será pouco para homenageá-lo, daí terem começado tão cedo.

Repórter da "Manchete", fui entrevistá-lo em princípios de 1968, em sua casa na Gávea. Vinicius estava no banho, mas já vinha, me disseram. OK. Só que quem apareceu primeiro foram duas jovens repórteres, rindo muito. Em seguida, surgiu Vinicius, num rastro de sabonete e talco, recém-saído da banheira onde recebia todo mundo. Por acaso, recebeu-me à paisana.

Devo ter toda a poesia e música de Vinicius. Mas o que me orgulho mesmo de possuir são os dois números da incrível revista "Filme", que ele editou com Alex Viany em 1949 e que encontrei num sebo. Fazer uma revista de cinema, de nível internacional, era um sonho antigo, a que ele se atirou com amor. E conseguiu. Pena ter ficado nesses dois números --Chaplin na capa do nº 1, Fred Astaire na do nº 2.

domingo, 21 de outubro de 2012

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Chico Buarque e MPB4 na 'Rosa Viva'.

21 de outubro de 1967. Local: Teatro Paramount, São Paulo. Evento: final do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record.
Diante de uma plateia fervorosa - disposta a aplaudir ou vaiar com igual intensidade -, alguns dos artistas hoje considerados de importância fundamental para a MPB se revezavam no palco. Entre os 12 finalistas, Chico Buarque e o MPB 4 vinham com "Roda Viva"; Caetano Veloso, com "Alegria, Alegria"'; Gilberto Gil e os Mutantes, com "Domingo no Parque"; Edu Lobo, com "Ponteio"; Roberto Carlos, com o samba "Maria, Carnaval e Cinzas"; e Sérgio Ricardo, com "Beto Bom de Bola". A briga tinha tudo para ser boa. E foi. Entrou para a história dos festivais, da música popular e da cultura do País. (Para ler mais - e ver 'Uma noite em 67', excelente documentário, clique aqui).

SOBRE MÉRITOS DO BOLSA


Da pobreza para a universidade

Por Gabriel Bonis

Da infância no interior de Alagoas, Cleiton Pereira da Silva, de 27 anos, ainda carrega recordações de uma vida difícil. Após a escola, as diversas viagens ao açude sob o sol escaldante do sertão eram rotina. Para encher o reservatório da casa de água, trazia consigo um carrinho de mão repleto de baldes. A seca tornava a realidade ainda mais dura, assim como alimentar as seis pessoas da família com apenas um salário mínimo e a plantação de milho e feijão em uma região árida.

As cenas gravadas na memória de Cleiton representam a vida de milhares de outros brasileiros pobres e famintos, principalmente, no nordeste do Brasil. A morte do pai quando ainda criança completou o cenário de adversidades e forçou a mãe a buscar o sustento da família em São Paulo. Mesmo assim, as dificuldades não diminuíram para ele, a irmã, a tia e os avós.
 
A perspectiva de uma vida melhor surgiu apenas quando a família se tornou beneficiária do programa Bolsa Família, em 2003. À época recebiam 68 reais. “Para muitas famílias que não possuem nada, esse dinheiro é uma fortuna. Não dá para viver apenas disso, mas te ajuda a procurar outros rumos, como pagar a condução para procurar um trabalho”, conta o jovem, que há dois anos deixou voluntariamente de receber o auxílio quando sua renda aumentou.

Conforme mostra a segunda rodada de Avaliação de Impacto do programa, realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) com 11.433 famílias, beneficiárias ou não, em 2009, isso não ocorreu. (...).

Cleiton superou a pobreza para fazer o caminho inverso: passou de beneficiário a gestor do programa em Minador do Negrão, em Alagoas. Hoje, a família vive com uma receita de dois salários mínimos. Parte dela investida na educação do jovem, estudante do segundo ano de História na Universidade Estadual de Alagoas. “Pretendo me formar, ascender na vida e ter uma profissão. O meu sonho é poder continuar a fazer algo por quem precisa.” Mas para chegar a esse quadro, o auxílio de 68 reais foi fundamental para permitir que a família se alimentasse melhor e que as crianças continuassem na escola.

Os dados mais recentes, de setembro de 2011, indicam que cerca de cinco milhões de famílias deixaram de receber o benefício desde sua criação. Os principais motivos para esses desligamentos foram a falta de atualização cadastral e a renda informada pelo beneficiário acima do permitido, o que ocorre em 1/3 dos casos. Mas, segundo o MDS, desde 2010 a família pode registrar uma alteração de rendimentos desde que dentro do padrão de até ½ salário mínimo para continuar no programa por mais dois anos.

Uma medida adotada porque essa população trabalha com um rendimento instável no mercado informal. “As famílias precisam saber que podem contar com o programa, pois, segundo estudos, o seu rendimento em um mês pode variar de um salário mínimo para 100 reais” explica Leticia Bartholo, secretária nacional adjunta de Renda e Cidadania do MDS.

No segundo semestre de 2011, também foi criado o mecanismo do desligamento voluntário com retorno garantido. A ação visa impulsionar as famílias que acreditam possuir condições de deixar o programa a comunicarem as autoridades que não precisam mais do benefício. Elas podem, porém, voltar a receber caso sua situação piore. “Essa regra permite que se arrisquem no seu engajamento produtivo com um colchão de segurança de renda.”

O recebimento dos repasses do Bolsa Família varia de 32 a 306 reais mensais, segundo critérios como a renda mensal per capita da família e o número de crianças e adolescentes de até 17 anos. O programa, que tem orçamento de 20 bilhões de reais para 2012 – cerca de 0,5% do PIB – e atende mais de 13 milhões de famílias no País-, está condicionado ao cumprimento de diversos fatores pelos beneficiários. Entre eles, a frequência mínima de 85% às aulas para crianças de 6 a 15 anos e 75% para jovens de 16 e 17 anos. Em 2011, 95,52% dos beneficiários cumpriram a cota mínima de presença exigida.

E foram além. No ensino médio público, alcançaram em 2010 o nível de aprovação de 80,8% contra 75,1% da média. A evasão escolar também foi baxia: 7,2% para os beneficiários e 11,5% na média.

O caminho da educação foi trilhado por Cleiton e faz parte dos planos do MDS para os demais auxiliados pelo programa. Em parceria com outra ações do governo, o ministério tem programas para qualificar beneficiários maiores de 18 anos para trabalhar em obras do PAC, por exemplo, por meio de vagas do Sistema Nacional de Emprego (SINE). O PlanSeQ Bolsa Família é uma tentativa de traçar uma ligação entre o auxílio social e o mercado de trabalho, tentando atender à demanda de mão-de-obra qualificada para as vagas criadas pelo crescimento econômico e para as necessidades regionais. Entre os cursos oferecidos estão os de azulejista, pintor e carpinteiro.

Cleiton pulou essa etapa, mas ainda não superou todas as barreiras para vencer a pobreza: a faculdade fica a 40 minutos da cidade onde mora. “Chego tarde e trabalho cedo, mas nada substitui a vontade de vencer.”(Fonte: aqui).

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Enquanto isso, entidades multilaterais de atuação mundial, ONU à frente, aplaudem o programa Bolsa Família e incentivam países pobres no sentido de seguirem o exemplo do Brasil.
No chamado mundo desenvolvido, o que se vê é o ataque permanente aos programas sociais em nome da política de austeridade. Não à toa, o desespero bate à porta do povão na Espanha, em Portugal, na Grécia...
Por aqui, as elites torcem o nariz diante dos aeroportos lotados de zés manés, mercearias e supermercados pressionados por uma 'clientela inferior', universidades tomadas por 'marrons' de toda ordem. É, já não se faz 'finesse' como antigamente... 

sábado, 20 de outubro de 2012

ROTEIRO MUSICAL


Os mercados americano e inglês delimitam o espaço em que o livro acima foi concebido. Os aficionados em MPB, em decorrência, ficamos no ora veja. Uma única música brasileira entrou no rol, e isso porque Rod Stewart esbulhou Jorge Ben Jor, plagiando Taj Mahal.

Mas a nota redigida por Mauro Ferreira permite concluir tratar-se de obra interessante:

"Sucesso lançado por Jorge Ben Jor em 1972, no álbum 'Ben', Taj Mahal extrapolou as fronteiras do Brasil a ponto de seu contagiante riff ter sido reaproveitado por Rod Stewart - sem os devidos créditos do cantor e compositor carioca, autor do tema - na criação de Da Ya Think I'm Sexy? (1978). O caso de plágio descarado foi parar nos tribunais, aumentou a visibilidade da música e certamente influenciou a inclusão de Taj Mahal entre as 1001 Músicas Para Ouvir Antes de Morrer listadas pelo livro homônimo editado pelo escritor e produtor inglês Robert Dimery com a colaboração de 48 jornalistas e críticos musicais. Recém-lançado no Brasil pela editora Sextante, o livro tem prefácio de Tony Visconti (...) e contextualiza cada uma das 1001 músicas relacionadas na seleção, que vai de O Sole Mio (Giovanni Capurro e Eduardo Di Capua) - sucesso do tenor italiano Enrico Caruso (1873 - 1921) em 1916 - a Stylo (Gorillaz e Mos Def), composição do repertório do grupo virtual Gorillaz, lançada em 2010. Entre uma e outra, há 999 músicas que vão do jazz ao rap, passando por blues, soul, funk, rock, pop e r & b. A antologia foi feita sob a ótica dos mercados da Inglaterra e dos Estados Unidos. Mesmo que a seleção seja questionável como qualquer lista do gênero, os breves textos sobre cada música tornam saborosa e informativa a leitura (...). E, por serem independentes, tais textos permitem sua leitura em ordem aleatória." (Fonte: aqui).

ROMNÉSIA

Arend van Dam.

O Tea Party é o porta voz da ala ultraconservadora do Partido Republicano. Mitt Romney há meses troca figurinhas com o grupo, mas nos últimos dias vem negando a relação. É que o radicalismo do Tea se vem revelando prejudicial (algo como o 'pastor' Malafaia apoiando José Serra).
Obama não deixou barato: "De repente, Romney 'esqueceu' o Tea Party; o nome dessa doença é romnésia!".

A NOITE EM QUE O PAÍS PAROU


Duas pesquisas eleitorais (Ibope e Datafolha) acerca da eleição para prefeito de São Paulo deixaram de ser divulgadas pelo Jornal Nacional, não obstante o fato de a Globo haver sido uma das (duas)responsáveis pela encomenda de ambas. A razão do silêncio: Haddad acachapantemente no topo.

A Justiça abriu ontem, após anos de pendenga entre Ministério Público e Judiciário (1ª instância), processo por improbidade administrativa contra dois integrantes do governo FHC (1995/2002), com foco no propalado Escândalo dos Precatórios, porém o assunto foi ignorado pela mídia televisiva.

Conclusão humildemente fatal: o País parou. Mas a vida real, como diria o outro, se restabelece e impõe passagem.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

IMPRESSÕES REAIS, REAÇÕES VIRTUAIS


Quando descobri a internet

David Coimbra

Internet é coisa de jovem, mas a primeira pessoa que me falou sobre sua existência foi um cara que respira neste Vale de Lágrimas pelo menos uma década antes de mim: o velho lobo da imprensa Carlos Wagner. Isso se deu lá nos albores dos anos 90. Wagner, o repórter mais premiado do Brasil, me pegou na redação e contou, entusiasmado, que estava participando de uma rede virtual entre universidades que, em algum tempo, transformaria o mundo. O mundo! Ouvi, algo distraído, e saí para fazer minha pauta. Transformar o mundo. Sei.

Veja você como a gente deve prestar atenção no que diz um velho lobo da imprensa.

Li outro dia que apenas 18% das pessoas com 50 anos ou mais usam a internet. Coisa de jovem.
Compreensível. As pessoas, depois das aventuras e desventuras da juventude, adotam uma forma de viver, cultivam hábitos, aferram-se a eles. Aí, quando tudo está bem posto, surge uma novidade que lhes exige o esforço do aprendizado. Mais trabalho. Exatamente no momento em que elas planejavam, tão somente, fruir a existência.

Sacanagem.

Eu aqui não cultivo preconceitos em relação à internet. Não tenho tuíter, não tenho Facebook, estou reduzindo a leitura de e-mails a menos de meia hora, e só nos dias úteis, mas não faço tais restrições por achar a internet algo ruim. Ao contrário, é algo bom. Mas toma tempo. Trata-se de uma questão de prioridades.

A internet é uma ferramenta, nada mais. Pode ser bem ou mal usada, como qualquer ferramenta.

Tempos atrás, discuti por e-mail com um estudante de Letras. Ele foi arrogante, e decidi dar-lhe uma resposta no mesmo tom. Ele postou minha resposta nas chamadas “redes sociais”. Quer dizer: tornou pública uma correspondência pessoal. Depois disso, reavaliei meu relacionamento virtual com leitores.

Também aprendi que, às vezes, o que está na internet só tem importância na internet. Fora dali, no mundo real, aquilo que pulsa e freme na internet inexiste. É zero. Torna-se verdadeiro apenas quando o mundo real o reconhece. Por que 1 milhão de pessoas acessam uma besteira no YouTube, tipo “Luísa está no Canadá”? Resposta: porque 1 milhão de pessoas acessaram a besteira no YouTube, tipo “Luísa está no Canadá”. O troço faz sucesso porque faz sucesso, sem mérito algum. Vira realidade quando vai para a TV, para o jornal, para a rua. Se fica restrito à internet, evapora.

Porém... algo que só deveria existir na internet pode transformar-se em realidade distorcida. O tal filmeco que ofende o Islã não passa disso: de um filmeco malfeito e mal-intencionado, feito por um picareta, com 14 minutos de duração, algo de péssimo gosto que deveria se esfarelar no YouTube sem que ninguém lhe desse importância. Mas, por razões diversas, os radicais lhe deram importância, e tem gente matando e morrendo por causa disso. Matando e morrendo, graças às facilidades da internet. O mundo mudou, como havia vaticinado o Wagner, e ainda não aprendemos a lidar com essa mudança. Dá trabalho aprender. E é preciso aprender. Sempre. (Fonte: aqui).

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O texto acima - cujo autor tem exatos 50 anos - suscitou comentários diversos (clicando no 'aqui' acima iremos até eles), à altura da importância da fantásitca, imbatível, impagável, lúdica, abrangente, cósmica - conquanto possessiva - internet.

PICADINHO MENSALÃO


Vasqs.

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Enteouvido nos bastidores: "Pô, vetamos o desmembramento do processo, pisoteamos o duplo grau de jurisdição, impusemos o domínio do fato, atrelamos o calendário do julgamento às eleições municipais, e a despeito de tudo isso a pesquisa mostra o Haddad com 49% das intenções de voto, contra 32% do Serra!".
Pano rápido.

OLD MAGAZINE


Revista semanal novaiorquina Newsweek. Fevereiro de 1933.
Tina Brown, editora-chefe, anunciou que a publicação, a partir de 31 de dezembro, interromperá sua versão impressa, passando a tornar-se exclusivamene digital. A decisão foi tomada em face da queda contínua e crescente de receitas originárias de vendas e de publicidade, decorrente do uso crescente de tablets e quetais por leitores potenciais e cativos.
Consta que a Newsweek foi a inspiradora da Veja, criada em setembro de 1968. Ignora-se eventual coincidência de estratégias de atuação entre referidas publicações.