sexta-feira, 19 de outubro de 2012
IMPRESSÕES REAIS, REAÇÕES VIRTUAIS
Quando descobri a internet
David Coimbra
Internet é coisa de jovem, mas a primeira pessoa que me falou sobre sua existência foi um cara que respira neste Vale de Lágrimas pelo menos uma década antes de mim: o velho lobo da imprensa Carlos Wagner. Isso se deu lá nos albores dos anos 90. Wagner, o repórter mais premiado do Brasil, me pegou na redação e contou, entusiasmado, que estava participando de uma rede virtual entre universidades que, em algum tempo, transformaria o mundo. O mundo! Ouvi, algo distraído, e saí para fazer minha pauta. Transformar o mundo. Sei.
Veja você como a gente deve prestar atenção no que diz um velho lobo da imprensa.
Li outro dia que apenas 18% das pessoas com 50 anos ou mais usam a internet. Coisa de jovem.
Compreensível. As pessoas, depois das aventuras e desventuras da juventude, adotam uma forma de viver, cultivam hábitos, aferram-se a eles. Aí, quando tudo está bem posto, surge uma novidade que lhes exige o esforço do aprendizado. Mais trabalho. Exatamente no momento em que elas planejavam, tão somente, fruir a existência.
Sacanagem.
Eu aqui não cultivo preconceitos em relação à internet. Não tenho tuíter, não tenho Facebook, estou reduzindo a leitura de e-mails a menos de meia hora, e só nos dias úteis, mas não faço tais restrições por achar a internet algo ruim. Ao contrário, é algo bom. Mas toma tempo. Trata-se de uma questão de prioridades.
A internet é uma ferramenta, nada mais. Pode ser bem ou mal usada, como qualquer ferramenta.
Tempos atrás, discuti por e-mail com um estudante de Letras. Ele foi arrogante, e decidi dar-lhe uma resposta no mesmo tom. Ele postou minha resposta nas chamadas “redes sociais”. Quer dizer: tornou pública uma correspondência pessoal. Depois disso, reavaliei meu relacionamento virtual com leitores.
Também aprendi que, às vezes, o que está na internet só tem importância na internet. Fora dali, no mundo real, aquilo que pulsa e freme na internet inexiste. É zero. Torna-se verdadeiro apenas quando o mundo real o reconhece. Por que 1 milhão de pessoas acessam uma besteira no YouTube, tipo “Luísa está no Canadá”? Resposta: porque 1 milhão de pessoas acessaram a besteira no YouTube, tipo “Luísa está no Canadá”. O troço faz sucesso porque faz sucesso, sem mérito algum. Vira realidade quando vai para a TV, para o jornal, para a rua. Se fica restrito à internet, evapora.
Porém... algo que só deveria existir na internet pode transformar-se em realidade distorcida. O tal filmeco que ofende o Islã não passa disso: de um filmeco malfeito e mal-intencionado, feito por um picareta, com 14 minutos de duração, algo de péssimo gosto que deveria se esfarelar no YouTube sem que ninguém lhe desse importância. Mas, por razões diversas, os radicais lhe deram importância, e tem gente matando e morrendo por causa disso. Matando e morrendo, graças às facilidades da internet. O mundo mudou, como havia vaticinado o Wagner, e ainda não aprendemos a lidar com essa mudança. Dá trabalho aprender. E é preciso aprender. Sempre. (Fonte: aqui).
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O texto acima - cujo autor tem exatos 50 anos - suscitou comentários diversos (clicando no 'aqui' acima iremos até eles), à altura da importância da fantásitca, imbatível, impagável, lúdica, abrangente, cósmica - conquanto possessiva - internet.
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