quinta-feira, 25 de outubro de 2012

FRAGMENTO DE CRÔNICA


Palavras avulsas

Por Luís Fernando Veríssimo

O “rude e doloroso” idioma de Bilac é falado por mais gente do que fala francês, mas temos razões para nos queixar da sua relativa obscuridade. Ao contrário da Espanha, que perdeu seu império americano mas deixou um imenso mercado para o García Márquez e o Vargas Llosa, Portugal não foi muito pródigo com a sua língua.

Seus navegadores, catequizadores e comerciantes apenas largaram palavras avulsas pelos caminhos da sua exploração do mundo, como pepitas raras. Até hoje na Costa Ocidental da África usam a palavra “dash” para gorjeta. Vem do português “deixar”, como em “Vou deixar uns trocados para você, ó mameluco!”.
 
No Japão, o prato de camarão com legumes fritos chamado “tempura” tem este nome por causa dos portugueses que só comiam peixe durante os “Quattuor Tempora”, ou Quatro Tempos, de cinzas e contrição, do ano litúrgico.
 
O “mandarim” chinês vem de “mandar” mesmo, combinada com o sânscrito “mantrin”, ou conselheiro.
 
Algumas palavras portuguesas andaram pelo mundo e voltaram com seu sentido mudado.
 
“Casta”, substantivo, camada social, vem do português “casta” adjetivo. “Fetishe” começou a vida como feitiço. E o “joss” do chinês pidgin, significando ídolo, é uma corruptela do “Deus” chiado dos portugueses.
 
Enfim, não é muito mas é nosso.

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