sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

SÓ QUERO SABER DO QUE PODE DAR CERTO


"No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim".

(Fernando Sabino, escritor brasileiro).

CENAS 2010



Glauco, cartunista, quadrinhista e ilustrador. Jorge de Salles (1950 - 2010), cartunista, escultor, pesquisador, curador. (Caricatura de Jorge por Nei Lima).

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

CENAS 2010


Definitivamente, a cena. O (não) convidado Wikileaks chegou para desnudar a diplomacia mundial...  

POESIA AQUI ACOLÁ


aqui acolá
um verso um texto
mas olhe
não sou bissexto
sou campeão de poemas ao cesto

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Pescado em "Último Round", de Rogério Newton, edições Pulsar, 2004. Rogério, que também é excelente cronista, é de uma concisão singular, exposta em picles e haicais deliciosos (além das crônicas, capítulo à parte). Voltarei ao assunto.

A ilustração é de Antonio Amaral, outro piauiense de alto coturno em matéria de arte.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

ROOSEVELT DA SILVA


Elio Gaspari produz regularmente textos quase sempre críticos ao governo Lula, e seus enfoques são reproduzidos por oponentes do presidente.

Eis que Gaspari, nesta data, publica "carta" de Franklin Delano Roosevelt a Lula, em que louva as conquistas alcançadas, que lembram o que ele, Roosevelt, fez pelo povo americano.

Roosevelt governou os EUA de 1933 a 1945, e foi o responsável pela superação dos estragos causados pela maior crise de todos os tempos, a Grande Depressão, iniciada com o 'crack' de 1929 da Bolsa de Valores de Nova York e que por anos atormentou o mundo. O New Deal converteu os EUA em potência.

Os oponentes de Lula (87% de aprovação do povo brasileiro) diziam - e torciam para isso - que ele seria um mico, e ele sai da presidência como mito. Certamente irão fazer vista grossa à carta de Gaspari/Roosevelt.

87% de aprovação?! É, nunca antes na história deste país... 

NÁSSARA, O NOEL ROSA DOS DESENHISTAS

Por Reinaldo Figueiredo

O ano está praticamente encerrado, mas antes de chegar 2011 temos que lembrar que 2010 foi o ano do centenário de nascimento de Antonio Nássara, uma figuraça que foi um craque na caricatura e também na música popular. Em 11 de novembro Nássara completaria 100 anos, se não tivesse morrido em 1996. Ele foi o autor de vários sucessos, entre eles “Alá-la-ô” (mas que calor…etc.) que todo mundo canta até hoje… Mas foi também um dos maiores caricaturistas do Brasil. E quem quiser relembrar a vida e a obra do grande Nássara pode ver a exposição que está no Centro Cultural Justiça Federal , no Rio de Janeiro (até o dia 6 de fevereiro), e ler o livro de Carlos Didier que acaba de sair : “Nássara Passado a Limpo”. Outros livros sobre Nássara são: “Nássara, desenhista” , de Cassio Loredano (edição Funarte, 1985) e “Nássara, o Perfeito Fazedor de Artes” , de Isabel Lustosa (edição Relume Dumará, 1999).

 Detalhe lamentável: a exposição foi planejada pelos desenhistas Zé Roberto Graúna e Jorge de Salles, grandes fãs do Nássara. Jorge de Salles morreu em novembro último e infelizmente não pode ver a exposição que ajudou a organizar.

DESEJO A VOCÊS


Desejo a vocês

Fruto do mato

Cheiro de jardim

Namoro no portão

Domingo sem chuva

Segunda sem mau humor

Sábado com seu amor

Filme do Carlitos

Chope com os amigos

Viver sem inimigos

Filme na TV

Ter uma pessoa especial

E que ela goste de você

Ouvir uma palavra amável

Ver a banda passar

Noite de lua cheia

Rever uma velha amizade

Ter fé em Deus

Não ter que ouvir não

Nem nunca, nem jamais

Nem adeus

Rir como criança

Ouvir canto de passarinho

Sarar de resfriado

Escrever um poema de amor

Tomar banho de cachoeira

Aprender uma nova canção

Esperar alguém na estação

Queijo com goiabada

Uma festa

Um violão

Uma seresta

Recordar um amor antigo

Ter um ombro sempre amigo

Bater palmas com alegria

Uma tarde amena

Calçar um chinelo velho

Tocar violão para alguém

Vinho branco

Bolero de Ravel

E muito carinho meu

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Carlos Drummond de Andrade (na foto em 1904, por aí).

Este foi o presente de fim de ano com que fomos brindados pela querida amiga Jôsy Brito. Gracias, queridinha.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A DEMOCRATIZAÇÃO DA PUBLICIDADE DO GOVERNO FEDERAL

(clique na imagem para ampliá-la).

A publicidade do governo federal

Fernando Rodrigues
Folha de São Paulo

Quando Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse, em janeiro de 2003, apenas 499 veículos de comunicação recebiam verbas de publicidade do governo federal. Agora o número foi para 8.094.

Esses jornais, revistas, emissoras de rádio, de TV e "outros" estão espalhados por 2.733 cidades. Em 2003, eram só 182 municípios.

Só neste ano eleitoral de 2010, o dinheiro para publicidade de Lula passou a ser distribuído para 1.047 novos veículos de comunicação.

A categoria "outros" inclui portais de internet, blogs, comerciais em cinemas, carros de som, barcos e publicidade estática, como outdoors ou painéis em aeroportos.

Chama a atenção o aumento do número de "outros". Em 2003, eram apenas 11. Agora, são 2.512. A informação do governo é que a maioria é de sites e blogs.

Lula e sua equipe de comunicação não escondem a simpatia pelo novo meio digital. O presidente foi o primeiro a conceder uma entrevista exclusiva dentro do Planalto para o que a administração petista chama de "blogs progressistas".

Lula da Silva avançou na transparência em relação ao governo do tucano Fernando Henrique Cardoso.

Nunca existiu esse tipo de estatística até 2003. Ainda assim, há buracos negros no processo. Não se sabe quais são os veículos que recebem verba de publicidade estatal nem quanto cada um ganha.

O valor total gasto nos dois mandatos, até outubro deste ano, foi R$ 9,325 bilhões. Dá média anual de R$ 1,2 bilhão.

Essa cifra não inclui três itens: custo de produção dos comerciais, publicidade legal (os balanços de empresas estatais) e patrocínio.

Produção e publicidade legal consomem cerca de R$ 200 milhões por ano. No caso de patrocínio, o gasto médio anual foi de R$ 910 milhões de 2007 a 2009.

Tudo somado, Lula gasta R$ 2,310 bilhões por ano com propaganda. Os valores são semelhantes aos do governo FHC, embora inexistam estatísticas precisas à disposição.

A diferença do petista para o tucano foi a dispersão do dinheiro entre os 8.094 jornais, revistas, emissoras de rádio, de TV e sites. Um espetáculo de 1.522% de crescimento de veículos atendidos.

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Inconformismo em face da perda do monopólio das verbas publicitárias federais: eis uma das razões pelas quais a grande mídia não deu trégua a Lula, distorcendo/omitindo fatos do Oiapoque ao Chuí.

CENAS 2010


Na corrida ao Planalto, além das forças reacionárias religiosas acima retratadas, Dilma Rousseff foi acossada pelos segmentos mais retrógrados do cenário nacional - e lhes impôs acachapante derrota. Simanca foi feliz ao estabelecer a correlação com a primeira guerra travada por Dilma, nos anos de chumbo.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O DONO DO PODER



Do blog Diário Gauche:

Quem - de fato - governa os Estados Unidos?

Bob Woodward, o jornalista que denunciou o caso Watergate, na companhia de Carl Bernstein, formula uma resposta a essa pergunta no seu livro mais recente "A Guerra de Obama" ("Obama’s War", edição Simon & Schuster, New York, 2010).

Woodward garante que nem é o poder Executivo, nem o poder Legislativo e menos ainda o Judiciário. Quem governa realmente, diz Woodward, é o complexo industrial-militar, quer dizer, o Pentágono e as grandes empresas produtoras de armamentos e munições, a cujas diretorias sonham entrar não poucos chefes militares quando se reformam. (...)

................
Trecho do discurso de despedida do presidente dos EUA, general Dwight Eisenhower, em 1961:

Nas esferas da governança, devemos proteger-nos contra a aquisição de uma influência indesejada, procurada ou não, por parte do complexo militar-industrial. Existe, e permanecerá, o potencial para um surto desastroso de poder mal concentrado. Não devemos nunca permitir que o peso desta conjugação ameace as nossas liberdades ou o processo democrático.

Portanto, uma década antes do escândalo Watergate, tão familiar a Woodward, um general-presidente já antevia quem viria a ser o verdadeiro dono do big stick.

CENAS 2010


O GAROTO DO HAITI

O terremoto quase o leva, mas ele saiu inteiro dos escombros. Depois veio a cólera. Que estejas bem, garoto.

GRAMPO SEM CONSEQUÊNCIAS


Acima, luminar da grande imprensa no instante em que encaminhava para baixo do tapete mais um escândalo fabricado, desta feita o do famoso Grampo Sem Áudio, segundo o qual teria sido interceptado, por tenebrosas forças estatais, bate-papo entre o senador Demóstenes Torres e o ministro Gilmar Mendes.

A Polícia Federal concluiu que não existe áudio e que toda e qualquer acusação, em consequência, seria infundada, mas tudo bem: o factoide surtiu bons efeitos, notadamente para Daniel Dantas.

E as coisas ficarão como estão: ninguém será chamado às falas no Senado, no STF ou nos aquários da grande impresa.

Em resumo: tudo bem.

domingo, 26 de dezembro de 2010

BOQUIRROTO, THE END


Deu na Folha de São Paulo de hoje, 26:

"Ao ouvir a despedida de Mão Santa (PSC-PI), que prolonga as sessões do Senado com pronunciamentos intermináveis, um funcionário comentou: 'Vou abrir um champanhe!'"

Foram simplesmente 1.502 prolongamentos, digo, pronunciamentos. Haja champanhe!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

HAICAI


NO VITRAL
UM DESEJO COLORIDO:
FELIZ NATAL!

A IDADE DA INFELICIDADE


Por Jorge Félix

O Índice de Felicidade Interna é um tema da agenda política em todo o planeta. Começou com a ideia do rei do Butão em medir a felicidade de seu povo e levá-la em conta nas decisões de política econômica em contrapartida à hegemonia do PIB que, como se sabe, só mede a riqueza material.

A Grã-Bretanha acaba de adotar a ideia e, por aqui, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) apresentou emenda constitucional, em junho, para incluir o índice no capítulo dos Direitos Sociais da Constituição. Em São Paulo, o índice virou bandeira do ex-deputado Fábio Feldmann (PV).

Enquanto isso, na academia surgem inúmeras pesquisas para alimentar as políticas públicas. Uma das mais recentes foi feita por dois pesquisadores da Dartmouth College em 72 países, como noticia The Economist. Eles perguntaram em qual idade as pessoas são mais infelizes. Resposta: entre 40 e 50 anos.

A média mundial ficou em 46 anos. Mas atenção: a grande novidade da pesquisa é que a felicidade, ao longo da vida, é uma curva em U. Ou seja, depois dos 46, a sensação de bem-estar só melhora. Um alento para a população economicamente ativa mundial que envelhece cada vez mais.

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Depois dos 46, a sensação de bem-estar só melhora...
Como diria Machado:
glória que eleva e consola...

(Já a idade da criatividade em matéria de teses-as-mais-diversas é ilimitada).

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

OS VOTOS DO NÁSSARA

Cartão enviado - nos anos noventa - por Nássara ao agitador cultural e curador Jorge de Salles (falecido em novembro).

ECOS DA ASCENSÃO DO SANTOS DE PELÉ


Unificação dos títulos: CBF é anacrônica

A decisão da CBF de unificar os títulos nacionais, considerando os disputados no período entre 1959 e 1970 é, sem dúvida, anacrônica. E não estamos empregando aqui o termo com o seu sentido cotidiano, como sinônimo de retrocesso ou de atraso. Anacronismo é, resumidamente, o movimento de transportar valores, ideias ou instituições do presente para tempos passados.

É justamente o que fez a CBF ao equiparar os títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa com os do Campeonato Brasileiro, organizado a partir de 1971. Ora, dizer que o Palmeiras e o Santos conquistaram oito títulos brasileiros é o mesmo que proclamar, oficialmente, Dom Pedro o primeiro presidente da República do Brasil.

Uma coisa é discutir a história do futebol no País, valorizando os torneios do passado em correspondência com o período histórico em que foram disputados, outra é inventar um discurso histórico oficialesco com uma canetada. A memória futebolística brasileira não precisava disso.

Ademais, se fôssemos aprofundar o argumento anacrônico da entidade que rege o futebol nacional, teríamos de colocar na pauta do dia a oficialização dos vencedores do antigo Torneio Rio-São Paulo como campeões brasileiros, o que seria um absurdo ainda maior, claro, embora absolutamente coerente com a medida adotada.

Esta coluna tem procurado enfatizar as profundas relações entre futebol, sociedade, cultura e política. Mas nesse caso parece que estamos a tratar de mera politicagem. Os grandes clubes do Brasil não precisam de artifícios como esse para ver as suas glórias reconhecidas. Muito menos Pelé, depois de tantas vitórias esportivas legítimas e de todas as homenagens aos seus 70 anos de vida, precisava estampar o peito com 8 medalhas postiças, que nada mais fazem do que arranhar a sua imagem fora das quatro linhas.

Felipe Dias Carrilho é historiador e autor do livro “Futebol, uma janela para o Brasil – As relações entre o futebol e a sociedade brasileira”.

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Artifícios para ver as suas glórias reconhecidas?! Mera politicagem?! Medalhas postiças?! Arranhar sua imagem (de Pelé) fora das quatro linhas?!!

Algo me diz que o Felipe Carrilho, furibundíssimo, pisou na bola.

E viva o Santos de Pelé!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

PELA PRESERVAÇÃO DO WIKILEAKS


https://secure.avaaz.org/po/wikileaks_petition/?rc=fb

Aproxima-se de 700 mil o número de assinaturas na petição de apoio ao site Wikileaks, que está na alça de mira de instâncias diversas, notadamente do hemisfério norte. Clicando no endereço acima, inteiramo-nos dos propósitos em jogo, convindo destacar que se pretende chegar o quanto antes a 1 milhão de subscritores.

ROW ROW ROW!


Papai Noel em clima de Stephen Hawking.

A RUA DOS FABULOSOS


O governo britânico declarou nesta quarta-feira a famosa faixa de pedestres da Rua Abbey Road, em Londres, como um patrimônio histórico britânico.

O cruzamento, imortalizado em 1969 na capa do disco dos Beatles Abbey Road, é o primeiro pedaço de rua a ganhar o status de patrimônio.

Até hoje, a faixa continua atraindo milhões de visitantes beatlemaníacos ao norte de Londres (foto acima).

"Não é um castelo nem uma catedral, mas, graças aos Beatles e a uma sessão de fotos de dez minutos em uma manhã de agosto de 1969, a faixa cumpre todos os requisitos para se tornar parte do nosso patrimônio", disse o secretário britânico de Turismo e Patrimônio, John Penrose, ao anunciar o tombamento.

"O fato de a faixa continuar atraindo milhares de visitantes que tentam imitar a célebre capa de Abbey Road é uma prova da fama internacional dos Beatles, mais de 40 anos depois." (BBC Brasil).

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Os estúdios onde os Beatles gravaram seus clássicos foram tombados, o mesmo acontecendo com o apartamento onde Lennon residiu. Agora, um pedaço de rua ingressa no patrimônio histórico britânico. Tudo isso quarenta anos depois do 'fim'. É, agora dá pra entender o lance do "the show must go on".

P.s.: Sem contar que o fusca branco que aparece na capa de Abbey Road está exposto ad infinitum no museu da Volkswagen, na Alemanha...

OLD MAGAZINE


Revista Life. Natal de 1908.

BIRA FLAGRA PAPAI NOEL


(Parafraseando aquele clássico: "Noel de sapato novo"!)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

MÁXIMAS DE NELSON RODRIGUES, O REACIONÁRIO VISIONÁRIO



O amigo nunca é fiel. Só o inimigo não trai nunca. O inimigo vai cuspir na cova da gente.


Não existe família sem adúltera./Num casal há sempre um infiel. É preciso trair para não ser traído.


O homem e a mulher são dois ressentidos contra o ex-amor./Todo amor é eterno. Se não é eterno, não era amor.


Toda mulher gosta de apanhar. Menos a neurótica. O homem é que não gosta de bater.


Invejo a burrice, porque é eterna.


Só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de prata./O casamento já é indissolúvel na véspera./O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. É abjeto que um homem deseje a mãe de seus próprios filhos.


A solução para o problema da nostalgia sexual que persegue a todos nós é a castidade./Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar de batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um São Francisco de Assis, com a luva de borracha e um passarinho em cada ombro.


O cinema não chega a ser uma arte. Daqui a seis mil anos talvez o seja./O cinema francês é como o italiano: um conto do vigário./O cinema brasileiro só dará pé quando desaparecer o Cinema Novo até o último vestígio.


As grandes convivências estão a um milímetro do tédio.


(Frase que Nelson gostaria de ver gravada em seu túmulo, sob o tradicional Aqui jaz): "Assassinado por imbecis de ambos os sexos".


Um vago decote pode comprometer ao infinito. Só o ser amado tem o direito de olhar um simples decote.


A Europa é uma burrice aparelhada de museus./O europeu ou é um Paul Valéry ou uma besta.


Hollywood é o óbvio ululante.


O sábado é uma ilusão.


Nada mais doce, nada mais terno, do que um ex-inimigo.


Jovens de todo o mundo: envelheçam./O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência.


Nossos marxistas são marxistas de galinheiro. Aliás, Marx também era marxista de galinheiro.


Algumas mulheres são amorais como um bichinho de avenca - ou como a própria avenca./Todas as mulheres deviam ter catorze anos.


O brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem.


O biquíni é uma nudez pior que a nudez./Os magros só deviam amar vestidos, e nunca no claro./Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu.


Nunca o brasileiro foi tão obsceno. Vivemos uma fase ginecológica.


Só os profetas enxergam o óbvio./Todo óbvio é ululante.


Paisagem é verba.


O palavrão está corrompido pelas mulheres.


O pecado é anterior à memória.


A plateia só é respeitosa quando não está entendendo nada.


Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém./O ato sexual é uma mijada./Sexo é para operário.


Viajar também é uma forma de solidão.


Marx e Brecht são responsáveis pela cretinização de toda uma geração do teatro./Os inteligentes estão matando o teatro brasileiro. Um dia teremos de chamar os burros para salvá-lo.


Entre o desquite e a traição, é preferível a traição, mil vezes a traição.


Toda unanimidade é burra.


O sujeito que não se considera um gênio não deve se dedicar a fazer arte ou literatura.


A prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que, devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável fronteira./Deus me livre da virtude ressentida, da fiel sem amor.


Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.


(Nelson Rodrigues. Jornalista, escritor, cronista, novelista. 23.08.1912 - 21.12.1980).

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Todas as máximas, exceto a última, foram pinçadas de 'O Melhor do Mau Humor', de Ruy Castro, Companhia das Letras, 1990, capa de Hélio de Almeida e caricaturas de Paulo Caruso e David Levine/Keystone.

DE CINEMA (II)


Nota deste escriba, de 23 de setembro:

"Trabalho ecológico de Waldez, cartunista paraense, em exibição no 3° Salão Internacional de Humor da Amazônia, Belém-PA.

O cartum foi agraciado com menção honrosa. Merecia mais."

Agora, segundo o meu amigo Biratan Porto, Waldez faturou o grande prêmio The United Nations Ranan Lurie Political Cartoonfestival, em Nova York.

O cartum, menção honrosa no Salão da Amazônia, alcançou, enfim, a posição merecida.

Parabéns ao Waldez.

A INCORPORAÇÃO DO WIKILEAKS


Como a Xerox (marca de fotocopiadoras) e o Google (site de buscas), o portal WikiLeaks está prestes a se tornar uma palavra em inglês, de tanto ter o nome repetido após obter 250 mil vazamentos de documentos diplomáticos americanos.

O instituto texano Global Language Monitor (GLM) anunciou que o site WikiLeaks tem sido citado tantas vezes pelo público que atingiu os critérios de alcance, profundidade e abrangência para ser considerado uma palavra.

"WikiLeaks agrupa um número de novas mídias e empresas de alta tecnologia cujos nomes e funções são incorporados na linguagem", diz o diretor do GLM, Paul JJ Payack.

"Isso inclui o Google, Twitter e a função 'friending' (fazer amigo, em tradução livre) do Facebook", disse Payack.

O padrão aceito pelo centro de estudos é de no mínimo 250 mil citações. O WikiLeaks já passou de 300 milhões referências.

No termo "wikileaks", "wiki" tem raiz havaiana e significa "rápido" ou "veloz", de acordo com o GLM. A parte do "leaks" (vazamentos, em inglês) reflete a missão do site de publicar material confidencial, privado ou classificado como de uso restrito do governo.
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Ilustração: Oguz Gurel.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

SORTE NUNCA ANTES VISTA


O Datafolha informa que o governo Lula conta com 83% de aprovação popular. Seus antecessores encerraram assim sua missão: Collor: 9%, Itamar Franco: 41%, Fernando Henrique Cardoso: 26%.

Os arautos do Estado mínimo gostariam de ridicularizar o povo, mas como percebem que isso não é de bom tom, se fixam na ladainha de que Lula não passa de um cara de sorte.

Mas, peraí...  Lula foi mesmo um cara de sorte ao ampliar o leque de parceiros comerciais do Brasil mundo afora (assim minorando os efeitos negativos da crise americana sobre o país), teve uma sorte imensa ao combater a miséria, via programas sociais, elevação do valor real do salário mínimo e outras iniciativas (assim fazendo surgir fortes mercados internos, que aumentaram o consumo e geraram empregos, formando um círculo virtuoso). Um sortudo.

Mas sorte mesmo o Lula teve foi quando veio a rebordosa, a crise mundial, o pior baque mundial desde a Grande Depressão. Foi assim: enquanto a banca privada se retraiu, enquanto empresas como a Vale procederam a "demissões preventivas", Lula mandou reduzir o compulsório e abrir as comportas do crédito (e a partir daí os bancos estatais, como nunca antes na história deste país, passaram a ocupar a primeira posição em aplicação de crédito), estimulou o povão a consumir mais e concedeu desonerações fiscais a certas áreas (assim fazendo girar a roda virtuosa) e ampliou os programas sociais. Foi uma sorte danada, mesmo, coisa que nenhum de seus antecessores (notadamente FHC) teve a graça de alcançar.

Aí o povão, que curte pacas quem é bom de sorte, premiou Lula com 83% de aprovação.

Tomara que a Dilma tenha sorte!

OS NÚMEROS POTEMKIN (OU ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO II)


Por Carlos Orsi

Um livro que saiu recentemente nos EUA e que merece uma tradução urgente é Proofiness, de Charles Seife, professor do curso de Jornalismo da Universidade de Nova York. A obra é um divertido, instrutivo — e, às vezes, desolador — passeio pelas maneiras com que números são usados para obscurecer, e não esclarecer, as mais variadas questões, desde o verdadeiro estado da economia de um país à melhor marca de creme hidratante.

Seife começa o livro citando o famoso (ou infame) discurso em que o senador Joe McCarthy, nos anos 50, disse possuir uma lista com “205 comunistas” que trabalhariam no Departamento de Defesa.

A suposta lista foi o catalisador de uma onda de caça às bruxas que tanto dano causou à cultura americana, e Seife, além de lembrar que ela simplesmente não existia, chama atenção para o jogo retórico de McCarthy: “205″. Por que não 200, 207 ou 211? Ao pendurar um número aparentemente exato em sua retórica, McCarthy deu peso ao blefe.

Isso porque as pessoas tendem a levar números a sério, e números quebrados mais a sério que números redondos: se eu lhes digo que no último mês a audiência deste blog aumentou 10%, você provavelmente suporá que estou fazendo uma estimativa; se eu lhe disser que ela subiu 11,37%, você corre o risco de achar que se trata de um dado exato, e não de algarismos digitados ao acaso (o que estaria mais próximo da verdade, aliás).

Uma expessão que o autor adota no livro é a de “Número Potemkin”, a partir da lenda de que o ministro russo Grigori Potemkin teria construído cidades cenográficas para enganar a imperatriz Catarina, durante uma visita da monarca à Crimeia.

Diz a lenda que, à beira das estradas percorridas pela imperatriz, foram erigidas fachadas coloridas que imitavam vilas e cidades reais. O objetivo era apresentar a Catarina uma ideia falsa do nível de desenvolvimento da região.

“Números Potemkin”, de acordo com Seife, funcionam da mesma forma: dão uma impressão de solidez científica e precisão, mas são ocos e, muitas vezes, induzem a acreditar em bobagens.

Veja, por exemplo, o gráfico acima. Nele, eu tracei uma correspondência entre os protagonistas dos filmes de maior bilheteria mundial dos últimos sete anos — e de 2010, até agora — e a variação do PIB dos EUA.

Como se vê, filmes de pirata (mais exatamente, da série Piratas do Caribe) são indutores de estabilidade econômica. Já a maior variação positiva se deveu a um episódio da série Harry Potter (Cálice de Fogo), o que gera otimismo para os próximos dois anos e uma perspectiva de recuperação econômica no hemisfério norte. Também seria uma boa ideia do Federal Reserve tentar bloquear a realização de novos episódios de Toy Story.

Espero que o ridículo da correlação apresentada no parágrafo acima seja autoevidente. Mas correlações não menos absurdas nos são apresentadas quase todos os dias, pela publicidade e por “especialistas” que ou não sabem do que estão falando ou que, na verdade, têm interesses particulares e/ou uma causa ideológica a avançar. E, como vêm embaladas em números quebrados e gráficos coloridos, muitas vezes não nos defendemos delas como deveríamos.

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O título original deste post é "Os Números Potemkin". O adendo é de minha autoria, para o que levei em conta o "Estratégias de Manipulação", de Noam Chomsky, publicado ontem, 18.

Em tempo: o jornalista Carlos Orsi encerrou sua atuação no O Estado de São Paulo. Uma pena. Aguardamos o (por ele prometido) lançamento do blog.

sábado, 18 de dezembro de 2010

HOMEM DE VISÃO DO ANO


(Por Roger Tetsu, cartunista francês. 1913-2008).

ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO


Por Noam Chomsky

1. A estratégia da distração.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado; sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja com outros animais" (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranquilas').

2. Criar problemas e depois oferecer soluções.
Esse método também é denominado “problema-ração-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público a fim de que este seja o mandante das medidas que desejam sejam aceitas. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o demandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para forçar a aceitação, como um mal menor, do retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços púbicos.

3. A estratégia da gradualidade.
Para fazer com que uma medida inaceitável passe a ser aceita basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Dessa maneira, condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990. Estado Mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4. A estratégia de diferir.
Outra maneira de forçar a aceitação de uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e desnecessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Logo, porque o público, a massa tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isso dá mais tempo ao público para acostumar-se à idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5. Dirigir-se ao público como se fossem menores de idade.
A maior parte da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade mental, como se o espectador fosse uma pessoa menor de idade ou portador de distúrbios mentais. Quanto mais tentem enganar o espectador, mais tendem a adotar um tom infantilizante. Por quê?  Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, em razão da sugestionabilidade, então provavelmente terá uma resposta ou ração também desprovida de um sentido crítico

6. Utilizar o aspecto emocional mais do que a reflexão.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional e, finalmente, no sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7. Manter o público na ignorância e na mediocridade.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais menos favorecidas deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que planeja entre as classes menos favorecidas e as classes mais favorecidas seja e permaneça impossível de alcançar" (ver 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas').

8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade.
Levar o público a crer que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto.

9. Reforçar a autoculpabilidade.
Fazer as pessoas acreditarem que são culpadas por sua própria desgraça, devido à pouca inteligência, por falta de capacidade ou de esforços. Assim, em vez de rebelar-se contra o sistema econômico, o indivíduo se autodesvalida e se culpa, o que gera um estado depressivo, sendo um dos efeitos  a inibição de sua ação. E sem ação, não há revolução!

10. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem.
No transcurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência geraram uma brecha crescente entre os conhecimentos do público e os possuídos e utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento  avançado do ser humano, tanto no aspecto físico quanto no psicológico. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que ele a si mesmo. Isso significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior do que o dos indivíduos sobre si mesmos.
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* Noam Chomsky é linguista, filósofo e ativista político estadunidense. Professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

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BodyArt. Juarez Machado. Revista Manchete, 1970.