domingo, 13 de janeiro de 2019

ECOS DE STANISLAW PONTE PRETA

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Em uma de suas indispensáveis crônicas, Luís Fernando Veríssimo, ao discorrer sobre nomes, pseudônimos, heterônimos e que tais de alguns escribas, dá conta de que 
"O Stanislaw Ponte Preta, grande humorista, também escrevia 'sério', mas com outro nome. Escrevia contos e comentários que assinava com seu nome verdadeiro, Sérgio Porto. Stanislaw Ponte Preta era ao mesmo tempo o criador de personagens inesquecíveis e ele mesmo um personagem inesquecível, criado por Sérgio Porto — seu Walter Ego, como diria o próprio Lalau. Já o Millôr fazia humor e falava sério sem mudar de nome, e nos ensinou que você pode tratar das últimas questões da existência sem perder a graça, ou das mais bobas sem ser bobo. (...)."
.Em tempo: Mantive as palavras de Veríssimo sobre Millôr Fernandes porque qualquer alusão a Millôr é insuprimível. Em tempo II: A crônica intitula-se "Walters"; para conferi-la na íntegra, clique aqui.
.Por último, uma indagação simplória: Já pensou se Stanislaw Ponte Preta tivesse tido a graça de contar com um BLOG?!


Stanislaw Ponte Preta, aniversário do humor contra o fascismo 

Por Urariano Mota    

Neste 11 de janeiro, dia nascimento de Sérgio Porto,  os resumos biográficos falam que Stanislaw Ponte Preta era o seu pseudônimo, quando  mais próprio seria dizer que esse era o heterônimo. A simples ou quase simples razão é que, sob a pele de Stanislaw Ponte Preta, Sérgio Porto cresceu para a fama ao criar o imortal FEBEAPÁ, o Festival de Besteiras que Assola o País. 

A partir de 1966, o FEBEAPÁ desmontou pelo ridículo o Brasil da ditadura brasileira. Com humor, ele destruiu a farsa moral dos golpistas e seguidores. De todas as armas da inteligência ele usava: sátira, deboche, piadas, copia, cola e comenta - todos os recursos ele publicou contra os policiais, militares golpistas e seguidores de Olavos de Carvalho em geral.

Mas neste dia de hoje, o que Stanislaw Ponte Preta diria da ministra que viu Jesus na goiabeira? A piada vem pronta. Talvez que, na visão da ministra, o Salvador tenha se tornado um grande bicho-de-goiaba. E o que Stanislaw falaria sobre o vídeo em que essa irrecuperável, impagável, extraordinária ministra declara que não aceita a teoria de Darwin nas Escolas? No mínimo, ele diria que a ministra Damares é a maior prova da teoria evolucionista. Mas por enquanto ela apenas imita a espécie humana.
Tentemos continuar. O que diria Stanislaw Ponte Preta de um governo que pretende expurgar da educação o grande Paulo Freire? O palavrão Bolsonaro já é uma sinistra piada, indiferente ao respeito universal do educador cujo livro Pedagogia do Oprimido é a 2ª. obra mais citada em todo o mundo na área de educação. Talvez Stanislaw destacasse que Bolsonaro deveria parar de repetir palavras. Ou seja, bem que merecia ser  alfabetizado. Então, só assim, o palavrão deixaria de acreditar que as agressões policiais a professores e estudantes não foram inventadas pela Pedagogia do Oprimido.   
E quanto aos esbarros e tortas na cara da comédia da Casa Civil? Bastaria o mais ilustre Stanislaw recortar e colar esta notícia:  
“Na Casa Civil, a ‘despetização’ anunciada pelo ministro Onyx Lorenzoni rende episódios insólitos até hoje. Dois servidores do segundo escalão que escaparam do primeiro corte, mas querem deixar o órgão para atuar na iniciativa privada, não conseguem ser exonerados. Motivo: o abalo causado na estrutura administrativa do órgão pela demissão em massa foi tão grande que, hoje, falta gente para tocar pedidos de exoneração e nomeação”.  Para isso, Bolsonaro nem precisa mais divulgar o retrato oficial do seu mandato. Na vergonha mundial “já ir” o seu retrato.
Mas penso que a  insubstituível atualização do FEBEAPÁ neste momento Brasil já foi publicada por Stanislaw Ponte Preta, como aqui:
“Quando aquele cavalheiro nervoso entrou no hospital dizendo ‘eu sou coronel, eu sou coronel’, o médico tirou o estetoscópio do ouvido e quis saber: ‘Fora esse, de que outro mal o senhor se queixa?’ .... 
“Foi então que estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica ‘Electra’, tendo comparecido ao local alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão, mas já falecido em 406 A.C...”

“Quando a Censura Federal proibiu em Brasília a encenação da peça Um Bonde Chamado Desejo, a atriz Maria Fernanda foi procurar o Deputado Ernani Sátiro para que o mesmo agisse em defesa da classe teatral. Lá pelas tantas, a atriz deu um grito de ‘viva a Democracia’. O senhor Ernani Sátiro na mesma hora retrucou: ‘Insulto eu não tolero’ ".

“Em Campos (RJ) ocorreu um fato espantoso: a Associação Comercial da cidade organizou um júri simbólico de Adolph Hitler, sob o patrocínio do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito. Ao final do julgamento, Hitler foi absolvido”
E para a reforma da previdência:
“O Instituto Nacional de Previdência Social […] baixou uma circular prevendo o seguinte: se o senhor é segurado do INPS, não tem certidão de casamento, mas necessita de maternidade para sua mulher ter filho, terá que fazer o pedido com trezentos dias de antecedência, conforme o regulamento previdenciário. Mas como o período de gestação é de apenas duzentos e setenta dias — o que dá nove meses — o senhor deve dar uma passadinha lá no INPS trinta dias antes de pensar em fazer qualquer coisa”
Se ainda existe dúvida sobre o FEBEAPÁ no Brasil de hoje, aqui vai esta informação para os evangélicos fanáticos que creem numa cura gay:
“O professor Raul Pitanga, com setenta anos de idade, anuncia algo assombroso: conseguiu descobrir a cura para o homossexualismo. O professor vai comparecer nos próximos dias à Academia Brasileira de Medicina para explicar que o homossexualismo é uma doença curável. […]
O professor septuagenário tem toda razão. O problema é a recaída”. 
Então completaria Stanislaw Ponte Preta para os novos livros didáticos: e foi proclamada a escravidão.  -  (Aqui).

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