sábado, 21 de outubro de 2017

TEORIA DA EVOLUÇÃO

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Eis o 'post I' da série "Sobre a Teoria da Evolução", anunciada em post reproduzido neste blog na 'edição' do dia 15 - AQUI. A leitura deixou a impressão de uma certa 'aura religiosa' (resumida no grão de areia) na exposição, entre outros 'vacilos', o que não passou despercebido a muitos críticos (leitores), que 'esperavam' algo diferente, à vista do sugerido pelo articulista no post de apresentação acima apontado. A ressalva, porém, não nos impede de recomendar a leitura da abordagem, bem como dos comentários a que ela deu ensejo.


Teoria da evolução

Por Gustavo Gollo

O conceito central na teoria da evolução é o de replicador.
'Replicador' é qualquer entidade capaz de gerar cópias, ou réplicas, de si mesmo, ou seja, de se replicar.
Semeie um mundo com um replicador. Após algum tempo, o replicador terá se replicado, gerado uma réplica de si, povoando o mundo, nesse momento, com 2 replicadores.
Novas replicações gerarão 3, 4... muitas cópias do replicador original, réplicas que herdarão a característica definitória do replicador original: sua capacidade de se replicar.
'Replicadores estritos' são aqueles que geram réplicas exatas de si mesmos.
Exemplos de replicadores estritos: bits em um computador, nêutrons em uma reação nuclear em cadeia, ligações iônicas em um cristal.
Replicadores não-estritos geram cópias similares a si mesmos, mas não idênticas.
Exemplos de replicadores não-estritos: animais, células, sementes.
Semeado em um mundo, um replicador estrito o povoará com uma infinidade de réplicas idênticas a si. Em uma primeira aproximação, podemos considerar tais mundos monótonos e sem interesse.
Replicadores não-estritos geram cópias similares de si. Tais réplicas tendem a herdar características de seus progenitores.
Seleção natural
Replicadores diferenciados tendem a diferir em suas capacidades de replicação, sendo alguns mais eficientes nessa atividade, replicando-se mais rapidamente que outros.
Suponha um mundo vazio sendo semeado com 2 tipos de replicadores, A e B, o tipo A capaz de se replicar em um mês, o tipo B necessitando de um ano para gerar uma cópia de si.
Após um mês, o mundo estará povoado por 2 indivíduos de tipo A, o original e uma réplica. Após 2 meses, serão 4. Em 3 meses, serão 8, e em 12 meses, serão 212 ou seja, 4096 indivíduos do tipo A.
Nesse momento, o replicador tipo B estará gerando sua primeira cópia.
Ao fim do segundo ano, os replicadores A, idealizados acima, terão gerado 4096 x 4096 indivíduos, ou seja: 16.777.216. Nos anos subsequentes esse número tenderá a ficar bem grande.
Podemos imaginar replicadores imateriais, como imagens em sonhos, e fantasias em geral, capazes de se replicar imaterialmente, sem necessitar de recursos, constituindo apenas sonhos.
Replicadores materiais, no entanto, necessitam de recursos materiais que o constituam.
O crescimento exponencial, típico dos replicadores, tende rapidamente a quantidades descomunais. Em um mundo finito, isso significa que, em dado momento, os replicadores materiais esgotarão os recursos disponíveis para a sua própria construção.
Nesse momento, a competição entre os replicadores pelos recursos para a replicação acirrará aquilo que Darwin denominou “seleção natural”, quando a exclusão competitiva eliminará as linhagens menos eficientes em se replicar, estabelecendo a predominância de linhagens cada vez mais eficientes.
Esse foi o grande vislumbre de Darwin, o cerne de sua teoria que, na versão original, não faz referência a replicadores.
A versão de Darwin é eminentemente biológica. A que proponho aqui constitui uma generalização dessa versão, aplicada a sistemas replicativos em geral. Fundamenta a área de estudos denominada “biologia generalizada”, uma generalização da biologia que agrega em um único campo a biologia, as ciências humanas, a vida artificial, e os fenômenos termodinâmicos pré-bióticos tendentes à acumulação de complexidade, ou seja, todo o conjunto de fenômenos regidos por seleção natural.
Replicadores estritos
Comentei acima que, aparentemente, um mundo povoado por replicadores estritos, capazes de gerar apenas réplicas idênticas a si mesmos constitui um mundo monótono e sem interesse.
Mas, suponha um mundo povoado por 2 tipos de replicadores estritos, digamos A e C, capazes de se aglomerar em grumos. Com o passar do tempo, tais tipos, gerarão uma enorme quantidade de réplicas, cada uma delas idêntica a seu progenitor.
Sendo capazes de se agrupar, tais seres se aglomerarão em sequências como, AAACA, ACACCC, CCCA, CCCCAACCCACAAA, entre inúmeras outras variações.
Esses grumos podem ter taxas de replicação diferenciadas, sendo uns deles mais eficientes que outros na tarefa de se replicar, replicando-se mais que outros. Tais grumos se comportarão como replicadores não estritos, competindo pelos recursos de seu próprio meio. Grumos mais eficientes acabarão predominando ao longo do tempo. Grumos menos eficientes tenderão à extinção. Um mundo povoado por tais grumos tende a adquirir complexidade crescente.
A origem de nosso mundo, um breve delírio
Suponha que nosso mundo tenha sido povoado, inicialmente, por uma infinidade de seres díspares, cada um deles original e único, diferente de todos os outros, interagindo entre si louca e absurdamente, gerando, cada interação, novos seres, cada um deles único, diferente de todos os outros.
Terá passado um enorme tempo – tempo que não poderia ser medido, em meio à diversidade total – até o surgimento de um ser anômalo, o mais estranho de todos eles, em meio à infinidade absoluta de formas díspares, um ser capaz de, ao interagir com outros, gerar uma réplica de si mesmo.
Em meio à mais profusa diversidade, à desordem total, o estranho ser acabou por gerar uma cópia de si, tendo levado mais um tempo até que as réplicas produzissem novas cópias, mas assim o fizeram. Essas geraram outras, que geraram outras, engolindo tudo à sua volta, e se replicando.
Terá surgido, assim, aquilo a que chamamos matéria.
Perdoem-me a breve digressão metafísica, desnecessária, mas bela. Uma cosmogonia baseada em replicadores explicaria o surgimento da ordem, talvez do tempo.
A origem da vida
Grãos de argila existem em profusão no planeta. Constituem pequeninos cristais muito abundantes, sujeitos a interações com todos os tipos de micropartículas e sais presentes no ambiente, que aderem a sua superfície.
Ao sabor das ondas, em cada praia, minúsculas partículas interagem desde sempre, umas com as outras. Talvez tenha ocorrido numa dessas a fagulha inicial do primeiro replicador, um grão de argila envolto em sais, capaz de manter sua estrutura e moldar outros grãos com formas similares à sua, sendo tais cópias, mesmo imperfeitas, capazes de gerar novas cópias, compondo uma profusão de grumos imperfeitamente assemelhados, alguns deles tendentes a se manter mais tenazmente que outros e a gerar mais cópias de si. Grãos mais aptos que outros tendem, por essa razão, a gerar mais cópias de si. Dentre essas, naturalmente, serão as mais eficientes na capacidade de se replicar as que gerarão mais cópias, todas sujeitas a esse mesmo princípio chamado seleção natural. O resultado disso é o aperfeiçoamento contínuo da capacidade de replicação de tais seres e o aumento de sua complexidade. Trata-se da dinâmica da vida.
Um comentário
Não é necessário que a vida tenha surgido dessa maneira precisa, em torno de um grão de argila, ideia que me agrada e propicia uma boa ilustração do fenômeno. De algum modo, no entanto, um primeiro replicador, muito simples, surgiu no planeta há bilhões de anos. Sujeito à seleção natural, de maneira análoga à descrita acima, tal ser gerou réplicas mais eficientes em se replicar que ele próprio, réplicas que geraram outras ainda mais eficientes nessa ação. Toda a dinâmica da vida decorre desse evento primordial, como um enorme incêndio resultante de fagulha inicial.O resultado, ao longo das eras, é a vasta diversidade e complexidade que vemos hoje, um milagre extraordinário, o maior espetáculo da Terra.
Deslumbremo-nos.
 
(Fonte: aqui).
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