"O vice-presidente Michel Temer escreveu à Presidenta Dilma Rousseff uma carta que foi publicada pelo Blog do Moreno, em O Globo.
Ela se inicia com uma frase em latim: “verba volant, scripta manent” – algo como “as palavras se esvaem, o escrito permanece”.
A cítara latina, porém, deriva de outra: “verba volant, exempla trahunt”.
As palavras se esvaem, os exemplos arrastam.
É mais ou menos o que o nosso povo pensa, ao dizer que é na hora da necessidade que se vê quem é amigo, mesmo. Se prefere em latim, ”Amicum certum in re incerta cerni”.
Li seu rosário de queixas, e é mesmo provável que possa ter razão em várias delas.
Dilma não é propriamente uma mulher “macia”, muito menos dada a rapapés e rasgações de seda.
Mas não estamos diante de uma discussão de divã, não é, Dr. Temer?
Estamos diante de uma acusação criminal e, pior, diante de uma acusação criminal que vai ser resolvida politicamente, na Câmara e, se chegar lá, no Senado.
E de uma ameaça à ordem democrática e ao respeito ao resultado eleitoral, do qual o senhor é beneficiário.
O que importa aqui é o que cada um faz, na prática, diante dela.
É inevitável que se pergunte, sendo o senhor o ex-professor de Direito que é, qual o julgamento moral sobre alguém que, apenas por não gostar do comportamento pessoal e até de uma eventual falta de delicadeza política, se dispõe a deixar que alguém seja condenado por uma acusação que sabe inverídica, apenas por suas mágoas e ressentimentos?
O senhor fala “nos seus”: Moreira Franco e Eliseu Padilha.
Abstraia-se o fato de serem dois políticos sem voto e que, no governo Fernando Henrique Cardoso, também era com os dois que o senhor se ocupava.
Nenhuma palavra sobre a atitude mesquinha e chantagista de Eduardo Cunha, que está diante dos olhos de todo o país como uma chantagem e uma vingança sórdida.
O senhor se cala.
E quem cala, consente. Qui tacet, consentire videtur, como gosta seu latim.
Ainda a velha língua tem mais: “Agentes et consentientes pari poena puniuntur”, quem faz e quem consente, o mesmo castigo merecem.
Desde o processo que levou este facínora à presidência da Câmara, o senhor calou-se.
Aliás, mais que isso, o senhor o apoiou expressamente, em nome da mesma “unidade do PMDB” que agora invoca.
Embora “unidade do PMDB” já seja, em si, uma licença de má poesia, aceite-se.
Basta um cartesiano raciocínio para verificar-se que, se Cunha era “a unidade do PMDB” e não era o seu candidato, isso significa que sua opinião não unifica o PMDB.
Que dirá o país, como o senhor, vaidosamente, oferece-se a fazer.
E se era seu candidato, poupe-se todo este latim que o senhor tanto aprecia.
Cada palavra em sua carta, Dr. Temer, revela rancor e pequenez. E mais: sua adesão ao golpismo.
Voluntas pro facto reputatur, Dr. Temer, intenção faz a ação.
Em seu comportamento, sobram o latim e a pose, apenas.
Falta o caráter.
Porque, senhor Vice-Presidente, veritatis simplex oratio: a verdade dispensa enfeites."
(De Fernando Brito, em seu blog, post intitulado "Resposta ao latim de Temer" - aqui.
Uma observação: Na manhã seguinte à carta de Temer, a mídia - Uol à frente - divulgou a informação de que ele se declarava indignado em face do vazamento de sua peça para a imprensa. Eis que agora, confirmando suspeitas várias, divulga-se que o tal vazamento foi patrocinado pelo próprio autor - aqui.
A propósito, está imperdível o texto de Mário Magalhães sobre a questão da grandeza de caráter de certos 'estadistas': "Às favas todos os escrúpulos de consciência").
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