terça-feira, 26 de novembro de 2013

BLUE JASMINE (II)


Triste Jasmine

Por Luis Fernando Veríssimo

O filme “Blue Jasmine”, de Woody Allen, é ao mesmo tempo uma consagração e uma demolição. A consagração é da atriz Cate Blanchett, que nos dá, sem exagero, uma das grandes interpretações da história do cinema. Demolição é o que sofre a sua personagem no filme.

Há alguns exemplos de diretores que fizeram filmes especificamente para suas atrizes brilharem, como acontece com “Blue Jasmine”. O exemplo mais recente é do próprio Woody Allen, que fez “Annie Hall” para Diane Keaton dar seu show — e, pelo que se diz, para levá-la pra cama.

Desta vez o presente é para Blanchett. Que, por justiça, deve dedicar o Oscar que fatalmente ganhará no ano que vem a Allen. Já Jasmine, a trágica personagem que ela interpreta, teria todo o direito de processar o autor do filme por crueldade mental.

Woody Allen costuma homenagear diretores que admira em seus filmes. Já brincou de Ingmar Bergman várias vezes, já fez sua versão do “Oito e meio” de Fellini, e em “Blue Jasmine” evoca “Um bonde chamado desejo”, que Elia Kazan fez de uma peça de Tennessee Williams.

Como a Blanche Dubois interpretada por Vivien Leigh naquele filme, Jasmine é uma vítima dos homens e das suas próprias fantasias. No filme de Kazan, a insensibilidade masculina que destrói a frágil Blanche é a de um Marlon Brando brutal e suarento. Em “Jasmine”, o homem é um sofisticado Alec Baldwin, do mundo das altas falcatruas financeiras. A destruição é a mesma.

Allen faz tantos filmes seguidos que conversas sobre sua obra poderiam sempre começar com a pergunta “Viste o deste ano?” Acho que não há outro cineasta vivo ou morto com uma produção tão grande — fora, claro, aqueles diretores do cinema primitivo que faziam um filme por semana. Sua obra inclui algumas bobagens (aquele sobre Barcelona ele deve estar querendo esquecer), mas a média é extraordinária. E “Blue Jasmine” é um dos melhores.

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