quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
ECOS DO OSCAR
Organização judia critica piadas "ofensivas" do urso Ted no Oscar
A Liga Antidifamação (ADL), organização que luta contra o antissemitismo, criticou (...) piadas do urso de pelúcia Ted, criado pelo humorista Seth MacFarlane.
Acompanhado do ator Mark Walhberg, e inserido digitalmente na apresentação do Oscar, Ted fez brincadeiras sobre a forte presença de judeus na indústria cinematográfica. O urso de pelúcia disse que "era melhor ser judeu para trabalhar neste lugar".
"As piadas sobre os 'judeus que controlam Hollywood' de Seth MacFarlane foram ofensivas e nada engraçadas", afirmou o presidente da entidade nos Estados Unidos, Abraham H. Foxman. "Esse tipo de atitude só reforça estereótipos que legitimam o antissemitismo. Fico triste ao ver que a cerimônia do Oscar usa este tipo de recurso para fazer rir", completou. (Fonte: aqui).
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Não há informação sobre se a Liga Antidifamação ingressará na Justiça contra o ursinho e seus parceiros, razão pela qual ficam os 'acusados' impedidos de solicitar a exceção da verdade, consistente em que o acusado possa demonstrar judicialmente a consistência de sua acusação - o que, no caso, convenhamos, seria barbada.
Sobre a tal ADL, aliás, convém transcrever comentário de um leitor: "Abraham 'Aby' Foxman, da Liga Antidifamação sediada em Manhattan, (...) é um picareta, um scumbag (pessoa desprezível), um falsário constantemente acusado por pessoas dignas e decentes como o ativista e intelectual americano Norman Finkelstein. Foxman apenas pensa em alimentar a indústria do antissemitismo, fortalecendo seus interesses políticos pró-Israel."
Não sei se procede a informação do leitor, mas que há pessoas capazes de tudo para tirar proveito de certas conjunturas, fabricadas ou não, isso é certo.
VARGAS LHOSA: NO CLIMA DA RENÚNCIA
Embora excepcional, renúncia do papa não era imprevisível
Por Mario Vargas Lhosa
Não sei por que razão a abdicação de Bento XVI causou tanta surpresa; embora excepcional, não era algo imprevisível. Bastava vê-lo, fragilizado e como perdido no meio das multidões nas quais sua função obrigava que ele submergisse, fazendo esforços sobre-humanos para parecer o protagonista destes espetáculos obviamente estranhos ao seu temperamento e vocação. Diferentemente do seu predecessor, João Paulo II, que se movia como um peixe n'água entre essas massas de fiéis e curiosos que o papa congrega em todas as suas aparições, Bento XVI parecia totalmente alheio a esses faustos gregários que constituem tarefas imprescindíveis do pontífice na atualidade. Desse modo compreende-se melhor sua resistência a aceitar a cadeira de São Pedro que lhe foi imposta pelo conclave, há oito anos, e à qual, como ficamos sabendo agora, nunca aspirou. Só abandonam o poder absoluto com a facilidade com que ele acaba de fazê-lo aqueles raros indivíduos que, em vez de cobiçá-lo, depreciam-no.
Não era um homem carismático nem um comunicador, como Karol Wojtyla, o papa polonês. Era um homem de biblioteca e de cátedra, de reflexão e de estudo, seguramente um dos pontífices mais inteligentes e cultos que a Igreja Católica teve em toda a sua história. Numa época em que as ideias e as razões importam muito menos que as imagens e os gestos, Joseph Ratzinger já era um anacronismo, pois pertencia ao grupo mais seleto de uma espécie em extinção: o dos intelectuais. Refletia com profundidade e originalidade, respaldado por uma enorme informação teológica, filosófica, histórica e literária, adquirida na dezena de línguas clássicas e modernas que dominava, entre elas latim, grego e hebraico. Embora concebidos sempre dentro da ortodoxia cristã, mas com um critério muito amplo, seus livros e encíclicas ultrapassavam com frequência o estritamente dogmático e continham reflexões inovadoras e ousadas sobre os problemas morais, culturais e existenciais do nosso tempo que leitores ateus podiam ler com proveito e, muitas vezes - como aconteceu comigo - com profunda perturbação. Seus três volumes dedicados a Jesus de Nazaré, sua pequena autobiografia e suas três encíclicas - sobretudo a segunda, Spe Salvi, de 2007, dedicada à análise da natureza bifronte da ciência que pode enriquecer de maneira extraordinária a vida humana, mas também destruí-la e degradá-la - têm um vigor dialético e uma elegância expositiva que as destacam nitidamente entre os textos convencionais e redundantes, escritos para os convictos, que, há muito tempo, o Vaticano costuma produzir.
Período de crise.
Bento XVI viveu num dos períodos mais difíceis enfrentados pelo Cristianismo em seus mais de 2 mil anos de história. A secularização da sociedade avança a largos passos, principalmente no Ocidente, cidadela da Igreja até poucas décadas atrás. Esse processo se agravou com os grandes escândalos de pedofilia nos quais estão envolvidas centenas de sacerdotes católicos, que parte da hierarquia protegeu ou tratou de ocultar e continuam se revelando em toda parte, ao lado das acusações de lavagem de dinheiro e de corrupção que atingem o Banco do Vaticano. O furto de documentos perpetrado por Paolo Gabriele, o próprio mordomo e homem de confiança do papa, trouxe à luz as lutas ferozes, as intrigas e os obscuros enredos de facções e dignitários da Cúria Romana que o poder tornou inimigos.
Ninguém pode negar que Bento XVI respondeu a esses desafios descomunais com valentia e determinação, embora sem sucesso. Ele fracassou em todas as suas tentativas, porque a cultura e a inteligência não bastam para se orientar no labirinto da política terrena e para enfrentar o maquiavelismo dos interesses criados e os poderes fáticos no seio da Igreja, outro ensinamento trazido à luz nesses oito anos de pontificado de Bento XVI, que foi descrito, com toda justiça, pelo jornal L'Osservatore Romano como "um pastor rodeado por lobos".
Mas é preciso reconhecer que, graças a ele, o reverendo Marcial Maciel Degollado, o mexicano de antecedentes satânicos, recebeu por fim um castigo oficial na Igreja e a congregação fundada por ele, a Legião de Cristo, que até então havia recebido apoios vergonhosos na mais alta hierarquia vaticana, está sendo reformulada. Bento XVI foi o primeiro papa a pedir perdão pelos abusos sexuais em colégios e seminários católicos, a se reunir com associações de vítimas e a convocar a primeira conferência eclesiástica com a finalidade de colher o testemunho das próprias vítimas e de estabelecer normas e regulamentos com o propósito de evitar a repetição no futuro de semelhantes iniquidades. Mas também é certo que nada disso bastou para apagar o desprestígio trazido para a instituição, pois constantemente continuam aparecendo inquietantes sinais de que, apesar das diretivas dadas por ele, em muitos lugares, os esforços das autoridades da Igreja ainda são orientados a proteger ou dissimular os crimes de pedofilia que são cometidos, mais que a denunciá-los e puni-los.
Tampouco tiveram aparentemente muito sucesso os esforços de Bento XVI para pôr fim às acusações de lavagem de dinheiro e de transações criminosas do Banco do Vaticano. A expulsão do presidente da instituição, Ettore Gotti Tedeschi, próximo da Opus Dei e protegido do cardeal Tarcisio Bertone, por "irregularidades de sua gestão", decidida pelo papa, bem como sua substituição pelo barão Ernst von Freyberg, ocorrem tarde demais para impedir os processos judiciais e as investigações policiais já em andamento. Relacionadas, aparentemente, a operações comerciais ilícitas e transações que alcançariam cifras astronômicas, só contribuirão para corroer a imagem pública da Igreja e confirmar que, no seu interior, o terreno predomina às vezes sobre o espiritual, e no sentido mais ignóbil do termo.
Conservador.
Joseph Ratzinger pertencia ao setor mais progressista da Igreja durante o Concílio Vaticano 2.º, no qual foi assessor do cardeal Frings e onde defendeu a necessidade de um "debate aberto" sobre todos os temas, mas logo foi se alinhando com a ala conservadora. Posteriormente, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (a antiga Inquisição), foi um adversário decidido da Teologia da Libertação e de toda forma de concessão em temas como a ordenação de mulheres, o aborto, o casamento homossexual e até mesmo o uso de preservativos que, em algum momento do seu passado, havia chegado a considerar admissível.
Evidentemente, isso fazia dele um anacronismo dentro do anacronismo que a Igreja se tornou. Mas suas razões não eram tolas nem superficiais e os que as rechaçam devem procurar entendê-las, por mais extemporâneas que nos pareçam. Estava convencido de que, se a Igreja Católica começasse a se abrir para as reformas da modernidade, sua desintegração seria irreversível e, em vez de abraçar a sua época, entraria em um processo de anarquia e deslocamentos internos. Tudo isso acabaria transformando-a em um arquipélago de seitas em luta entre si, algo semelhante às igrejas evangélicas, algumas circenses, com as quais o catolicismo compete cada vez mais - e sem muito sucesso - nos setores mais deprimidos e marginais do Terceiro Mundo. A única maneira de impedir, na sua opinião, que o rico patrimônio intelectual, teológico e artístico fecundado pelo Cristianismo se dilapidasse em uma barafunda revisionista e em uma feira de disputas ideológicas seria preservando o denominador comum da tradição e do dogma, embora significasse que a família católica foi se reduzindo e marginalizando cada vez mais em um mundo devastado pelo materialismo, pela cobiça e pelo relativismo moral.
Veredito.
Julgar até que ponto Bento XVI agiu de maneira acertada ou não a esse respeito é algo que, evidentemente, cabe apenas aos católicos. Mas nós, não crentes, não deveríamos festejar como uma vitória do progresso e da liberdade o fracasso de Joseph Ratzinger no trono de São Pedro. Ele não só representou a tradição conservadora da Igreja como também sua melhor herança: a da ilustre e revolucionária cultura clássica e renascentista que, não podemos esquecer, a Igreja preservou e difundiu, por meio de seus conventos, bibliotecas e seminários, a cultura que impregnou o mundo com ideias, formas e costumes que acabaram com a escravidão e, distanciando-se de Roma, tornaram possíveis as noções de igualdade, solidariedade, direitos humanos, liberdade e democracia, impulsionando decisivamente o desenvolvimento do pensamento, da arte, das letras e contribuindo para acabar com a barbárie e para promover a civilização.
A decadência e a vulgarização intelectual da Igreja evidenciadas pela solidão de Bento XVI e a sensação de impotência que aparentemente o rodearam nesses últimos anos são sem dúvida fatores primordiais de sua renúncia e um vislumbre inquietante de quão incompatível nossa época seja com tudo o que representa vida espiritual, preocupação pelos valores éticos e vocação pela cultura e pelas ideias. (Fonte: aqui; originalmente publicado no jornal O Estado de São Paulo).
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Li 'n' análises acerca do assunto. Vargas Lhosa, que se intitula não crente, produziu uma das mais argutas.
SANTAYANA: NO CLIMA DA RENÚNCIA
Eis o Homem
Por Mauro Santayana
A mais forte frase do Evangelho é a de Pilatos, ao exibir Cristo, ensanguentado e humilhado ao extremo pelos seus algozes, à multidão enfurecida: “eis o homem”. Como outras passagens dos textos que a fé autentica – mais do que as provas históricas – as duas palavras ditas em latim, pronunciadas por um romano, são, em si mesmas, todo um enunciado teológico. Pilatos não mostrava um criminoso, nem um inimigo de Roma, mas o homem. Cristo não era um homem qualquer, em sua individualidade, mas O Homem como ser coletivo e único no conjunto da vida, dotado da consciência do bem e do mal.
Pilatos, evidentemente, não tinha essa clareza do significado. Queria dizer apenas que se era Cristo quem eles queriam, ali estava o homem, para que decidissem entre ele e Barrabás. Em um só homem frágil, açoitado e vilipendiado, estava todo o Mistério e todo o poder da Vida.
O Cristianismo se funda na absoluta fragilidade dos seres humanos. Um poema anônimo espanhol do século 16 vai à mesma verdade. O poeta desdenha o oportunismo medieval que, em nome de Cristo, ameaça com o inferno e promete o céu, e vai ao núcleo da sua fé: “tú me mueves, Señor, muéveme el verte / clavado en una cruz y escarnecido,/ muéveme ver tu cuerpo tan herido/ muévenme tus afrentas y tu muerte”.
Sobre essa emblemática fragilidade física, que chega a comprometer a resistência do espírito nos momentos finais, em que o Crucificado se queixa do Pai, por tê-Lo abandonado aos carrascos, é que deviam fundar-se todas as igrejas cristãs – a Católica e as que, em protesto pelos seus desmandos no alvorecer do século 16, surgiram como falsas restauradoras da fé primitiva.
Instituição política, estabelecida na velha associação entre o poder temporal e o senso do Absoluto, a Igreja se pretende eterna. Ora, os 16 séculos de sua existência não são tanto tempo assim na História. O Cristianismo não é seita judaica, nem religião monoteísta como as outras. Sua mensagem é mais do que o alento à consciência de mortalidade dos homens: é necessária para que possamos construir aqui – e agora – o nosso pleno destino. Nesse mandamento, esquecido, está a salvação da espécie humana e, provavelmente, a salvação de toda a vida no planeta.
A Igreja se encontra, nestes dias, como o pecador junto ao confessionário – e o sacerdote que a ouve é a consciência do mundo. Para purgar os seus pecados não bastam as preces de contrição. Reunidos no próximo conclave, os Cardeais apenas escolherão o novo Pontífice: não serão capazes de salvar a Igreja. Só os cristãos autênticos, aqueles que entenderam a frase enigmática de Pilatos, poderão salvá-la, participem ou não da Hierarquia. Para isso é preciso voltar ao Concílio Vaticano II e ir muito além; é preciso retornar à fraternidade primitiva dos cristãos. Cristo, dizem-nos os Evangelhos, recomendou, ao moço que queria segui-Lo, que antes se desfizesse de seus bens, distribuindo-os aos pobres.
É um conselho, a ser seguido pelo Vaticano e pelas ricas dioceses espalhadas na Terra. E por todas as outras confissões que também se dizem cristãs e da mesma forma se afastaram do Nazareno. (Fonte: aqui).
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Santayana escreveu um texto definitivo - tão definitivo quanto o ecumenismo de João XXIII.
(A ilustração acima - acrílico sobre tela - foi colhida na Mercearia da Arte, aqui).
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
SOBRE O (DES)EMPREGO
1. Em janeiro, os empregados vinculados à CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) eram nada menos que 54,5% do total de pessoas ocupadas, nível mais alto desde que o IBGE começou a fazer essa pesquisa, em março de 2002. Naquela época, a taxa era de 46%.
2. Diante da saída de trabalhadores temporários do mercado de trabalho, a taxa de desemprego subiu para 5,4% em janeiro - havia sido de 4,6% em dezembro, a mais baixa da série história do IBGE, iniciada em março de 2002.
A taxa de janeiro deste ano (5,4%) é, por sua vez, a mais baixa para o mês em dez anos.
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Ao que se vê, parecem consistentes as estimativas otimistas para o PIB 2013 formuladas por analistas diversos, uma das quais de 4%, como tratado em post recente deste blog.
(Sem embargo dos comentários indigestos de leitores dos grandes portais, bem como analistas neocons, que nada admitem de meritório na política econômica adotada pelo Brasil, mesmo diante do desastre que assola a Zona do Euro e arredores).
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
OS 70 ANOS DE GEORGE HARRISON
A lembrança dos 70 anos de George Harrison
George Harrison teria feito 70 anos hoje (ontem, 25). Ele havia nos deixado em novembro de 2001, com apenas 58 anos, mas uma trajetória intensa. Afinal, como integrante dos Beatles, George foi um dos responsáveis pela formatação do espírito dos anos 60, através do famoso conjunto inglês que, partindo de Liverpool, sacudiu a cena roqueira do mundo inteiro.
Foi George que fez muitos rapazes procurarem as lojas de instrumentos musicais para comprar uma guitarra e formar muitas bandas. George era o guitarrista solo dos Beatles. John Lennon era outro guitarrista, mas fazia acordes de base e, muitas vezes, tocava violão, além de ocasionalmente tocar piano.
George participou ativamente, mesmo garoto, dos primórdios dos Beatles, desde os tempos dos Quarrymen. O que significa que também atuou na fase pré-Beatlemania, de 1958 a 1963, que também foi uma riquíssima cena de bandas britânicas.
A história dos Beatles teve peso igual em cada um de seus integrantes da formação clássica, aquela que gravou seus conhecidos LPs. Mas isso também revelou individualidades fortes, e a de George mostrava um adepto do misticismo hindu e um músico inclinado ao folk rock, sobretudo pela influência do amigo Bob Dylan, que depois seria colega seu nos Travelling Wilburys.
A carreira solo de George Harrison se destacava também pelos músicos convidados. Em suas apresentações e gravações, Harrison tocou com a companhia de músicos como Ringo Starr, Eric Clapton, Elton John, Jim Capaldi, Steve Winwood e até o ex-Rolling Stone Bill Wyman, além do vocalista e guitarrista da Electric Light Orchestra, Jeff Lynne.
Aliás, Jeff Lynne - considerado um dos "bodes expiatórios" do rock - foi o principal parceiro de George Harrison, praticamente seu escudeiro, tendo sido também seu colega nos Travelling Wilburys, juntamente com o citado Dylan, Tom Petty e, durante o começo, Roy Orbison. E o grupo quase teve Del Shannon como integrante, mas ele não aceitou.
No final da vida, Harrison, fragilizado, fez suas últimas apresentações com a voz debilitada e um jeito frágil. Sofria de câncer triplo, no pulmão, na garganta e no cérebro. E ainda foi apresentado pelo amigo Jim Capaldi (também já falecido) à música "Anna Julia", de Los Hermanos, dando uma canja na versão gravada pelo ex-Traffic.
Enquanto tentava a quimioterapia, gravou seu último disco, o póstumo Brainwashed (2002), tendo a companhia do filho Dhani Harrison, também guitarrista, que finalizou o disco ao lado de Jeff Lynne, pouco depois da morte do ex-beatle.
George Harrison morreu relativamente prematuro. Mas deixou um produtivo legado de muitos discos e músicas, e ainda deu muitos depoimentos para a série Beatles Anthology (1995). Na época, ele se reuniu com os ex-colegas Paul McCartney e Ringo Starr para acrescentarem arranjos e melodias a gravações demo deixadas por John Lennon. (Fonte: aqui).
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Harrison é, simplesmente, autor de "Something" e "While My Guitar Gently Weeps" (aqui), para ficar em dois clássicos fantásticos(!). Pode até não ser o mais talentoso Beatle, mas, que é páreo duro, é. Foi a partir de uma canção de Harrison que, no início dos anos 70, procurei inteirar-me do que acontecia em Bangladesh, país asiático assolado pela fome e miséria, e que havia pouco se tornara independente (até 1971, era área integrante do Paquistão). O Beatle chegou até a organizar um show mundial para arrecadar fundos em prol dos necessitados. Talento, arte e solidariedade. Grande George Harrison!
OSCAR 2013: ARGO NA MIRA
Latuff.
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O ferino Latuff vê o campeão Argo como um Oscar apontado contra o Irã ("arma" empunhada pela primeira dama dos EUA, a quem coube anunciar a premiação). Sinopse do filme (aqui) dá conta de que ele reúne ficção, realidade, suspense, policial e até comédia, e trata de episódio envolvendo a fuga, para a embaixada do Canadá, de seis diplomatas norte-americanos em Teerã, pouco antes da invasão da embaixada americana, em novembro de 1979, pelos iranianos adeptos do Aiatolá Khomeini, operação que manteve encarcerados 52 norte-americanos por mais de 400 dias. O imbróglio só foi resolvido mediante negociações diplomáticas, após fracassada tentativa militar norte-americana - fracasso, aliás, considerado uma das causas da não reeleição do presidente Jimmy Carter, que amargou derrota para Ronald Reagan em 1980.
Argo seria, em face do exposto, exemplo de como transformar limão em limonada. A conferir.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
SOBRE O PIB DO BRASIL EM 2013
(Nilson Teixeira, economista-chefe do banco Credit Suisse no Brasil, em entrevista publicada na edição de ontem, 24, do jornal O Globo. Sobre Teixeira e suas previsões, eis o que comenta a jornalista Roberta Scrivano:
Aguardemos. Fonte: aqui.
Conforme Miguel do Rosário, titular do blog O Cafezinho, o portal do O Globo não fez qualquer referência à entrevista acima, encontrada unicamente na edição impressa).
domingo, 24 de fevereiro de 2013
EUS E EU
Não parecia eu
Por Martha Medeiros
Já deve ter acontecido com você. Diante de uma situação inusitada, você reage de uma forma que nunca imaginou, e ao fim do conflito se pega pensando: que estranho, não parecia eu. Você, tão cordata, esbravejou. Você, tão explosivo, contemporizou. Você, tão seja-lá-o-que-for, adotou uma nova postura. Percebeu-se de outro modo. Virou momentaneamente outra pessoa.
No filme Neblinas e Sombras (não queria dizer que é do Woody Allen pra não parecer uma obcecada, mas é, e sou) o personagem de Mia Farrow refugia-se num bordel e aceita prestar um serviço sexual em troca de dinheiro, ela que nunca imaginou passar por uma situação dessas.
No dia seguinte, admite a um amigo que, para sua surpresa, teve uma noite maravilhosa, apesar de se sentir muito diferente de si mesma. O amigo a questiona: “Será que você não foi você mesma pela primeira vez?”
São nauseantes, porém decisivas e libertadoras essas perguntas que nos fazem os psicoterapeutas e também nossos melhores amigos, não nos permitindo rota de fuga. E aí? Quem é você de verdade?
Viver é um processo. Nosso “personagem” nunca está terminado, ele vai sendo construído conforme as vivências e também conforme nossas preferências – selecionamos uma série de qualidades que consideramos correto possuir e que funcionam como um cartão de visitas.
Eu defendo o verde, eu protejo os animais, eu luto pelos pobres, eu só me relaciono por amor, eu respeito meus pais, eu não conto mentiras, eu acredito em positivismo, eu acho graça da vida. Nossa, mas você é sensacional, hein!
Temos muitas opiniões, repetimos muitas palavras de ordem, mas saber quem somos realmente é do departamento das coisas vividas. A maioria de nós optou pela boa conduta, e divulga isso em conversas, discursos, blogs e demais recursos de autopromoção, mas o que somos, de fato, revela-se nas atitudes, principalmente nas inesperadas. Como você reage vendo alguém sendo assaltado, foge ou ajuda? Como você se comporta diante da declaração de amor de uma pessoa do mesmo sexo, respeita ou debocha?
O que você faria se soubesse que sua avó tem uma doença terminal, contaria a verdade ou a deixaria viver o resto dos dias sem essa perturbação? Qual sua reação diante da mão estendida de uma pessoa que você muito despreza, aperta por educação ou faz que não viu? Não são coisas que aconteçam diariamente, e pela falta de prática, talvez você tenha uma ideia vaga de como se comportaria, mas saber mesmo, só na hora. E pode ser que se surpreenda: “não parecia eu”.
Mas é você. É sempre 100% você. Um você que não constava da cartilha que você decorou. Um você que não estava previsto no seu manual de boas maneiras. Um você que não havia dado as caras antes. Um você que talvez lhe assombre por ser você mesmo pela primeira vez. (Fonte: aqui).
YOANI, BALANÇO FINAL
sábado, 23 de fevereiro de 2013
PEQUENAS ESQUISITICES
Por Ivan Angelo
Não sei se neste espaço já falei de gente que tem alguma esquisitice. Devo ter falado, mas a capacidade que as pessoas têm de criar pequenas manias para se acomodar à realidade com mais conforto é sempre surpreendente.Todo mundo sabe de algum caso, uns raspando a normalidade, outros resvalando pela loucura. Um disfarçado como jogo, outro trazendo escondido o incontrolável.
Tenho um amigo muito culto, insaciável comprador de livros, de músicas e de filmes. Bom leitor, não dispensa dicionários, de diversas especialidades, completos, nunca resumidos. Contradição: odeia dicionários pesados, volumosos, difíceis de manusear. Aí entra uma das suas esquisitices: é freguês de um encadernador a quem encarrega de dividir seus grossos volumes em quatro ou cinco volumes, leves, fáceis de consultar, encadernados com as características do original.
Uma prima da minha mulher tem mania de limpeza. Seria ótimo, se não fosse exagero. Lava a casa inteira todo dia, a roupa de cama todo dia, não se aguenta de cansada. Entre uma queixa e outra, lava as mãos várias vezes. É maluca? Um pouco. Por trás do seu comportamento exagerado, percebe-se uma revolta impotente contra a sujeira do mundo, uma compensação por não poder fazer nada.
Outro caso. Um homem que só conheço de banca de supermercado me confessava enquanto escolhia rabanetes:
— Odeio rabanetes!
— Como? Então vive com alguém que adora. Tá sempre comprando.
— Não, compro para mim mesmo! Cara, eu como de tudo, e gosto, como com prazer. Como ostra, escargot, cogumelos, jiló, quiabo, jacaré, buchada de bode, dobradinha, sarapatel, rã, tanajura, frango de hospital, fígado, miolos, mocotó, chouriço de sangue, raiz forte... O que vier eu traço bem, adoro. Tenho um enguiço é com rabanete. Compro e como um ou outro com raiva, para ver se venço a ojeriza. Cara, não dá! Esse gosto de terra ardida não me vai. É um vegetal com bafo, tá entendendo?
Tem um cara que está piorando aos poucos. É viciado em palavras cruzadas e há algum tempo começou a brincar usando na conversa conceitos das cruzadas. Foi levando a brincadeira como conversa espirituosa, um jogo de adivinhação, e aos poucos começou a confundir as coisas. Em vez de “pegar um sol”, ele podia dizer:
— Vou pegar um astro-rei com três letras.
Parecia falar por enigmas quando dizia “o lábaro, com oito letras; do time onde brilhou Pelé, com seis letras; terceira pessoa do presente do indicativo do verbo ter, com três letras; artigo definido feminino plural, com duas letras; plural de cor, com cinco letras; preposição mais artigo, com duas letras; clube do Parque São Jorge, com onze letras” — tudo isso para dizer: a bandeirado Santos tem as cores do Corinthians. Coitado, hoje evitam falar com ele.
A melhor e insuperável história de esquisitices é a do homem do bairro de Perdizes que fala sozinho na rua, em voz alta, e tinha vergonha disso. Uma coisa incontrolável, numa pessoa de classe média, de roupas convencionais, camisa de colarinho, calças com cinto na altura do umbigo, sapatos de couro. Pois ele, de tanto observar gente falando ao celular na rua, teve um lance de gênio: comprou um aparelho, mesmo sem chip de linha, e anda com ele no ouvido esbravejando pelas ruas, parques e aeroportos, como se falasse com alguém, imerso no seu solilóquio, agora sem constrangimento, confiante, como um de nós. (Fonte: aqui).
VISÃO SUCESSÓRIA
Arcadio Esquivel. (Panamá).
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"Sabemos que no campo do Senhor existe também a cizânia. E que na rede de Pedro encontram-se também peixes maus." (Papa João XXIII).
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
SANTA INGENUIDADE
Em nota do último dia 11, sustentando que a renúncia do papa Bento XVI era ato normal, decorrente tão somente de seu estado de saúde, afastei as versões então em circulação afirmando que "como dizia Freud, muitas vezes um charuto é aquilo mesmo que é: um charuto".
Eu estava errado.
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"(...) As investigações se transformaram em um relatório de 300 páginas que foi entregue ao pontífice em dezembro do ano passado. O documento é sigiloso, mas, conforme informado pelo jornal italiano 'La Reppublica', revela um sistema de 'chantagens' internas baseado em fraquezas sexuais e ambições pessoais.
O periódico, que relacionou as descobertas com a renúncia de Bento 16, também apontou a existência de uma 'rede transversal unida pela orientação sexual', além da descrição de casos de mau uso de dinheiro e relações homossexuais dentro da Cúria Romana. (...)". (Fonte: aqui).
COLHENDO OS FRUTOS DA OUSADIA
Acabam de ser anunciados os robustos resultados apresentados por Banco do Brasil e Caixa Econômica. Em breve, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e BNDES farão o mesmo, e igualmente ostentarão altos números positivos.
Não é necessário citar números, mas dizer o seguinte: os bancos estatais consolidaram sua posição de primeiros colocados no ranking brasileiro, superando com folga a banca privada nacional e os bancos estrangeiros. E tudo residiu fundamentalmente na expansão do crédito, processo posto em prática tão logo irrompeu a crise financeira internacional em 2008/9. Naquela oportunidade, enquanto os bancos privados se retraíam e empresas em geral tratavam de adiar investimentos ou até mesmo de cortar gastos (caso da Vale do Rio Doce, p. ex., que de uma ceifada cortou 3.000 cargos), o governo federal ousadamente confrontou a onda e determinou que os bancos sob seu controle expandissem as aplicações, processo que seguiu em frente no governo Dilma Rousseff. Eis aí a principal arma utilizada pelo Brasil para escapar do desastre.
Perguntinha que não quer calar: como estaria hoje o Brasil caso seus bancos estatais estivessem privatizados ?
Pano rápido.
TERESINA, JULHO 2013
O tema do salão será a FOFOCA, como dizem as más línguas - e as boas também.
Informações ao pé do ouvido: aqui.
MENSALÃO: CONTRADIÇÕES DE UM JULGAMENTO
Com a palavra, Paulo Moreira Leite, autor de "A outra história do Mensalão - Contradições de um julgamento político".
Paulo foi diretor da revista Época e redator-chefe de Veja, e atualmente dirige a sucursal da IstoÉ em Brasília, além de coordenar o blog da referida publicação. O livro "A outra história do Mensalão.." acaba de chegar ao topo da lista dos mais vendidos no País.
'Casamento' do julgamento do Mensalão com o calendário eleitoral 2012... Aplicação heterodoxa da Teoria do Domínio do Fato... Desconsideração da determinação contida no artigo 55 § 2º, da Constituição Federal... O julgamento do Mensalão envolveu - e escamoteou - muita coisa, e ao longo do segundo semestre do ano passado muita coisa pudemos ler em diversos artigos, alguns dos quais de autoria de Paulo Moreira Leite. Mas certamente valerá a pena ler integralmente o livro em destaque.
As frases do autor abaixo expostas foram selecionadas pela jornalista Vanessa Silva (fonte: aqui).
Condenações sem provas
Eu resolvi fazer o livro depois que vi que terminou o julgamento e havia uma insatisfação muito grande com a falta de informações. Vi que na medida em que eu fazia os artigos no site da Época, eu tinha uma resposta muito grande. Descobri as verdades incômodas deste julgamento quando fiz um trabalho sério como repórter, falei com pessoas, que tinham investigado a denúncia do Ministério Público e da própria Polícia Federal. Então percebi que o que foi apresentado não é o que foi concluído tecnicamente.
O caso básico é o dos empréstimos do Banco Rural ao PT. A denúncia é que eram uma fraude, que não existiam. Esta questão é base para condenar gente do Banco Rural e também o José Genuíno. Para a minha surpresa, a Polícia Federal viu que os empréstimos foram assinados, caíram na conta e depois foi usado para saldar dívidas reais do PT. A justiça condicionou como esses empréstimos seriam pagos e eles finalmente foram pagos. Os empréstimos são reais, não são fraudulentos.
Criminalização da atividade política
O discurso que vem sendo utilizado é de criminalização da prática política. Não se debate que as eleições são disputadas de forma democrática e que nossa democracia precisa ser aperfeiçoada e nunca dispensou o Caixa 2, por exemplo.
O próximo passo agora seguramente é incriminar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Temos pessoas que foram condenadas a mais de 40 anos — mais que a Suzana Von Richthofen, que matou o pai e a mãe em 2002 — então abriu-se uma situação que não sabemos até onde vai. Eu acho que os precedentes que este julgamento abriu são preocupantes. Temo que este precedente comece a ser utilizado para criminalizar os trabalhadores.
O que achei ainda mais preocupante foi o fato de o Supremo ter deliberado sobre o mandato dos deputados condenados. A Constituição é clara e reserva para a Câmara a deliberação sobre o mandato dos deputados e para o Senado o de senador. Isso me parece uma coisa que afeta a divisão de poderes, pode ter uma consequência política muito grande, porque temos um órgão que não é eleito pelo povo, um poder cuja fonte de poder não está no voto popular e toma medidas sobre a decisão do povo. Isso para mim é muito sério.
Articulação de um golpe
Acho que estamos assistindo a uma situação na qual é preciso entender que aquelas pessoas que foram derrotadas em 2002, 2006, 2010 e 2012 chegaram a um ponto em que elas consideram insuportável. Então estão irritadas, com ódio, estão procurando de todas as maneiras derrotar todo este processo. E são adversários que desaprenderam a ganhar pela via democrática. Eles sequer têm candidato a presidente para 2014.
Então acho que estão tentando criar um clima… Aquilo que essa burguesia educada brasileira aceitava, já não aceita mais. Mesmo as concessões que Lula fez, modestíssimas muitas delas, se tornaram insuportáveis. Isso cria um ambiente em que tudo é motivo para o achincalhe, para a desmoralização. Tem colunistas que leio que parecem Mussolini tamanho o ódio, tamanha a raiva. Estas pessoas não estão lidando com parceiros, não estão aprendendo a lidar com a democracia. Estamos vivendo uma situação em que tem parte das forças de oposição ao governo que não estão lidando com o jogo democrático, o que supõe ter que aceitar uma derrota. Acho realmente isso preocupante, mas não acho que estejamos na iminência de um golpe, justamente porque há muito apoio popular e a memória do povo está forte.
Reforma judicial
Não acho que seja possível uma reforma judicial nos moldes que alguns países da América Latina estão realizando. Para mim, este debate é igual à questão do terceiro mandato de Lula. Depois desta derrota [para os setores governistas, com o caso do Mensalão], não dá para propor isso.
O erro do PT
A partida não está perdida, como ficou demonstrado na eleição de 2012, quando em pleno julgamento, quando foi votada a condenação de Dirceu e Genuíno, Lula carregou a vitória nas costas de modo inesquecível. Mas vamos pensar: no momento em que houve a denúncia do Mensalão, ela teve mais credibilidade porque muitas pessoas falaram em refundar o PT, falaram que não reconheciam aquele partido… Não quero criminalizar ninguém, mas muita gente não estava entendendo o que estava acontecendo e não recebeu explicação suficiente na hora certa. Lula ganhou esta questão na política quando em 2006 houve a tentativa de emparedá-lo. Mas quando veio o debate jurídico, muitas pessoas estavam desarmadas.
Mensalão mineiro X petista
O que está em questão neste debate entre as diferenças entre os dois julgamentos é que ninguém acha que o Eduardo Azeredo é um lutador do povo brasileiro semelhante a Genuíno e Dirceu. Ele não tem esta ligação com a história. O que está em discussão aqui transcende um pouco. Implica em dar um golpe em um movimento histórico do povo brasileiro, que produziu líderes, que produziu expressões. E que não por acaso foram pessoas perseguidas pela ditadura, foram pessoas torturadas, que foram reprimidas, que tiveram seus direitos desrespeitados antes e depois da democracia. Porque estamos falando de pessoas que realmente têm uma ligação com a história. Por isso este ato que não terá reparação.
Estão cometendo uma grande injustiça e que terá consequências. O PSDB quer tirar o Azeredo do partido para não atrapalhar eleitoralmente. Enquanto que o debate aqui envolve a história do Brasil. O mesmo Tribunal que não quis julgar a tortura sofrida por Genuíno, depois o condena. Na boa: politicamente será que isso não quer dizer nada?
Posicionamento da mídia
A mídia expressa outra força. Tem interesses de classe, de manutenção de uma ordem. Por isso, o outro lado da sociedade tem que ter uma mídia, é preciso democratizar a comunicação. Ela tem que ter seu veículo próprio, que expresse seu ponto de vista, organize seus eleitores. Se aplicássemos o que a Constituição diz, acho que bastaria para regulamentar a comunicação. Mas é um péssimo momento para fazer isso na medida em que economicamente as empresas de mídia estão afundando.
A prática jornalística
Eu nunca quis ser jornalista para ficar rico. Sabe aquela coisa: vamos ser jornalista para ajudar o mundo a ficar melhor, que tudo mundo acha bobo? Eu não acho. Acho legal, acho bacana.
Eu não tenho medo das consequências da denúncia que estou fazendo. Estou conquistando uma coisa chamada liberdade e isso não tem preço. Fiz este livro e isso é bacana. Para quê eu queria ser jornalista? Porque eu achava bacana.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
LIVRE MERCADO: PISTA LIVRE PARA A LOCUPLETAÇÃO
Ilustração: Arcadio Esquivel.
Contra a democracia
Por Vladimir Safatle
Um dos pilares do paradigma liberal é a crença de que livre-mercado e democracia são termos que nunca podem entrar em contradição.
Segundo essa vulgata, por meio do livre-mercado garante-se a liberdade individual de empreender e defender seus próprios interesses.
Neste mundo, ser livre equivaleria a poder estabelecer contratos de maneira "não coercitiva", seja para vender a força de trabalho, seja para alugar o útero, seja para contrair matrimônio, seja para relacionar-se com o Estado por meio dos impostos ou para tomar empréstimos no banco. Diga-se de passagem, todas essas ações são, para os liberais, pensadas a partir de uma mesma lógica unidimensional.
Nesse contexto, "democracia" só pode significar "o regime que não interfere nos contratos firmados por pessoas livres". Quanto menos interferência estatal, mais liberdade; é o que diz o velho mantra. No entanto, foi esse mantra que levou o mundo a uma das piores crises do capitalismo. Por isso, sair da crise só será possível à condição de pararmos de nos deixar enfeitiçar por ele.
Se uma ideia ruiu nos últimos anos, foi exatamente a que vê, no livre-mercado, o modelo de uma sociedade civil livre. Deixado a si mesmo, o mercado é o regime que extorque contratos dos que não têm força social para afirmar sua liberdade, dos que não têm escolha real por estarem submetidos ao risco constante da precariedade e da vulnerabilidade. Por isso, o velho Hegel dizia que a sociedade civil nunca é suficientemente rica para acabar com a pobreza.
Tal extorsão mostra, nos dias de hoje, sua face mais clara quando vemos bancos e seus "experts" da grande imprensa mundial aterrorizarem populações com a ameaça do caos econômico, caso suas dívidas não sejam encampadas pelos Estados nacionais e transformadas em dívidas soberanas.
Ao aceitarem tal ameaça, os Estados destroem o sistema de segurança social que permitia um mínimo de liberdade à população diante da espoliação pelos economicamente mais fortes. Mas ao fazerem isso, eles destroem as verdadeiras bases da democracia.
Ou seja, a crise que o mundo vive hoje é a prova maior de que livre-mercado e democracia não andam necessariamente juntos, que há situações nas quais o primeiro pode destruir o segundo.
Com sua influência desproporcional, o sistema financeiro é, atualmente, a maior ameaça à democracia ocidental. Salvar tal sistema nos levará a uma nova forma de sociedade totalitária: a sociedade da precariedade generalizada. (Fonte: aqui).
................
Travestido de austeridade, o desastre invade, por exemplo, lares europeus com desemprego, desespero e desesperança. Os próceres do livre mercado, enquanto isso, se refestelam com as oferendas e benesses estatais.
Ironicamente, certos analistas iluminados continuam na louvação ao Estado Mínimo e ao Livre Mercado, arvorando-se de ardorosos defensores da democracia, traduzida, segundo eles, na livre iniciativa do laissez-faire. Mas, claro, não explicitam o cenário: o laissez-faire se garante com os bônus; se algo der errado e os ônus derem as caras, aí o Estado velho de guerra que se vire pra garantir o leite dos espertos. O que, claro, não impede os analistas iluminados de espinafrar o Estado velho de guerra por todo e qualquer deslize detectado, mesmo que esse Estado velho de guerra venha apresentando 'n' méritos relativamente aos interesses populares. São os tais, esses analistas (e demais espertalhões).
Contra a democracia
Por Vladimir Safatle
Um dos pilares do paradigma liberal é a crença de que livre-mercado e democracia são termos que nunca podem entrar em contradição.
Segundo essa vulgata, por meio do livre-mercado garante-se a liberdade individual de empreender e defender seus próprios interesses.
Neste mundo, ser livre equivaleria a poder estabelecer contratos de maneira "não coercitiva", seja para vender a força de trabalho, seja para alugar o útero, seja para contrair matrimônio, seja para relacionar-se com o Estado por meio dos impostos ou para tomar empréstimos no banco. Diga-se de passagem, todas essas ações são, para os liberais, pensadas a partir de uma mesma lógica unidimensional.
Nesse contexto, "democracia" só pode significar "o regime que não interfere nos contratos firmados por pessoas livres". Quanto menos interferência estatal, mais liberdade; é o que diz o velho mantra. No entanto, foi esse mantra que levou o mundo a uma das piores crises do capitalismo. Por isso, sair da crise só será possível à condição de pararmos de nos deixar enfeitiçar por ele.
Se uma ideia ruiu nos últimos anos, foi exatamente a que vê, no livre-mercado, o modelo de uma sociedade civil livre. Deixado a si mesmo, o mercado é o regime que extorque contratos dos que não têm força social para afirmar sua liberdade, dos que não têm escolha real por estarem submetidos ao risco constante da precariedade e da vulnerabilidade. Por isso, o velho Hegel dizia que a sociedade civil nunca é suficientemente rica para acabar com a pobreza.
Tal extorsão mostra, nos dias de hoje, sua face mais clara quando vemos bancos e seus "experts" da grande imprensa mundial aterrorizarem populações com a ameaça do caos econômico, caso suas dívidas não sejam encampadas pelos Estados nacionais e transformadas em dívidas soberanas.
Ao aceitarem tal ameaça, os Estados destroem o sistema de segurança social que permitia um mínimo de liberdade à população diante da espoliação pelos economicamente mais fortes. Mas ao fazerem isso, eles destroem as verdadeiras bases da democracia.
Ou seja, a crise que o mundo vive hoje é a prova maior de que livre-mercado e democracia não andam necessariamente juntos, que há situações nas quais o primeiro pode destruir o segundo.
Com sua influência desproporcional, o sistema financeiro é, atualmente, a maior ameaça à democracia ocidental. Salvar tal sistema nos levará a uma nova forma de sociedade totalitária: a sociedade da precariedade generalizada. (Fonte: aqui).
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Travestido de austeridade, o desastre invade, por exemplo, lares europeus com desemprego, desespero e desesperança. Os próceres do livre mercado, enquanto isso, se refestelam com as oferendas e benesses estatais.
Ironicamente, certos analistas iluminados continuam na louvação ao Estado Mínimo e ao Livre Mercado, arvorando-se de ardorosos defensores da democracia, traduzida, segundo eles, na livre iniciativa do laissez-faire. Mas, claro, não explicitam o cenário: o laissez-faire se garante com os bônus; se algo der errado e os ônus derem as caras, aí o Estado velho de guerra que se vire pra garantir o leite dos espertos. O que, claro, não impede os analistas iluminados de espinafrar o Estado velho de guerra por todo e qualquer deslize detectado, mesmo que esse Estado velho de guerra venha apresentando 'n' méritos relativamente aos interesses populares. São os tais, esses analistas (e demais espertalhões).
DE COMO LINCOLN ENQUADROU O MISSISSIPPI
Escravidão é oficialmente abolida no Mississippi por causa do filme 'Lincoln'
Quase 150 anos após o presidente dos EUA durante a Guerra Civil Americana, Abraham Lincoln, ter abolido a escravidão no país, o estado de Mississippi ratificou a 13° Emenda constitucional e, assim, oficializou a liberdade dos negros na região.
Tudo começou quando Ranjan Batra, professor de neurobiologia na Universidade de Mississippi, assistiu em novembro ao filme "Lincoln", dirigido por Steven Spielberg e nominado a várias estatuetas do Oscar. Na história – e na vida real – o presidente e o Congresso aprovam a medida que dá um fim à escravidão, mas cada um dos 36 estados de então deveriam fazê-lo individualmente.
Os três quartos necessários para a lei entrar em vigor foram atingidos quando a Georgia ratificou o decreto, em 1865. Os últimos foram New Jersey, em 1866; Delaware, em 1901; e Kentucky, em 1976. Mas o estado de Mississippi continuava com um asterisco ao lado de seu nome na lista, escrito que havia “ratificado a emenda em 1995, mas como o estado nunca havia oficialmente notificado o arquivista federal, a decisão não era oficial”.
E foi justamente isso que Batra descobriu quando saiu da sala de cinema se perguntando quando cada estado havia concordado com a lei. De origem indiana e nacionalizado norte-americano em 2008, consultou seu colega de trabalho Ken Sullivan e descobriu o site usconstitution.net e o atraso do estado.
Batra e Sullivan entraram em contato com o secretário de Estado do Mississippi, Delbert Hosemann, para que finalizasse o processo - que nunca chegou ao fim porque o secretário de 1995, quando a lei passou no Senado e na Câmara, por motivos desconhecidos não enviou uma cópia ao Registro Federal. No dia 7 de fevereiro de 2013, o estado do Mississippi - historicamente conhecido pelo conservadorismo dos Estados Confederados do sul e pelo trabalho escravo nas plantações de algodão - oficialmente aboliu a escravidão.
(Fonte: Opera Mundi - aqui).
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Até os ecos de Lincoln são positivos...
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
KNOKKE-HEIST 2013
Spiro Radulovic. (Sérvia).
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Knokke-Heist, balneário belga onde se realiza um dos maiores salões internacionais de humor do mundo. 2013 foi marcado pelo 51º Salão. O cartum acima e o do post abaixo são dois dos consagrados no citado evento.
A VISITA DA BLOGUEIRA
Clayton.
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E eis que de repente, com a visita da moça, revisitamos os anos 60...
A charge acima, de Clayton, se ajusta feito luva ao Brasil dos anos de chumbo e da censura. Naquelas priscas eras, quem podia falar a bandeiras despregadas? Ninguém. Epa!, lembro de um: Amaral Neto (ou Amoral Nato, como definiu Stanislaw Ponte Preta), com suas reportagens laudatórias na TV.
O blog de Sánchez está plenamente no ar. O que não significa, por si, que Cuba exercite o Estado Democrático de Direito. Mas, as circunstâncias da Ilha, quais são, e desde quando perduram?
Dito isto, concluo: o direito da blogueira de ir e vir em terras tupiniquins deveria, sim, ter sido observado. Independentemente do juízo que sobre ela se tenha.
ANALISANDO UM CANDIDATO AO OSCAR
A religião da América profunda no filme "O Mestre"
Por Wilson Roberto Vieira Ferreira
Indicado a três Oscar (melhor ator, atriz e ator coadjuvante) “O Mestre” (The Master, 2012), inspirado claramente na trajetória do fundador da Cientologia L. Ron Hubbard, trata sobre a relação entre o carismático líder de uma seita (“A Causa”) e um seguidor decadente, violento e alcoólatra. Mas sentimos o tempo inteiro que alguma coisa de mais interessante foi deixada de fora, algo que o diretor Paul Thomas Anderson apenas sugere sem aprofundar: o ressentimento de uma América profunda que produz seitas na mesma velocidade que surgem atiradores matando pessoas nas universidades americanas.
Conta-se que Freud, ao avistar o porto de Nova York e a Estátua da Liberdade em 1908 na sua única visita aos EUA, teria supostamente comentado a Carl Jung ao seu lado: “Eles não sabem que trazemos a peste”. Freud acreditava que retiraria os norte-americanos do conforto das tradições ao fazê-los reconhecer nelas a origem das doenças do psiquismo.
Mas ele jamais poderia imaginar que os EUA recompõem tudo de acordo com suas necessidades e de que a teoria do inconsciente e da neurose seria traduzida e reformulada pela chamada “religião americana” representadas em slogans como esses: “liberte-se dos traumas do passado!”, “assuma o controle da sua vida!”, “Liberte-se das suas doenças!”.
São os slogans formulados pela “A Causa” do carismático líder Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman) no filme “O Mestre”, claramente inspirado na trajetória do fundador da Cientologia L. Ron Hubbard que em 1950 lança o livro “Dianética: A Ciência Moderna da Saúde Mental” – obra que mistura ficção científica e autoajuda. Depois que atores como Tom Cruise e John Travolta manifestaram publicamente a adesão à seita, a Cientologia cresceu a tal ponto de anunciar a construção de um centro de mídia em Hollywood para difundir seus ensinamentos através do rádio, TV e Internet.
Isso talvez explique o fato do diretor Paul Thomas Anderson ter ignorado o verdadeiro “elefante na sala” que possuía: ele se mostra desinteressado em explorar o explosivo tema da origem, ascensão e queda de uma seita, ainda mais sobre a Cientologia, que pudesse irritar amigos íntimos de Hollywood. A narrativa estranhamente não é centrada no “Mestre” do título, mas em um dos seus seguidores, o decadente, alcoólatra, violento e viciado por sexo Freddie Quell (Joaquim Phoenix) – ex-combatente da marinha na Segunda Guerra que vive de biscates e sempre à procura de uma figura paterna.
O núcleo do filme é o relacionamento entre esses dois homens, mas sentimos todo o tempo que alguma cosia interessante foi deixada de fora. Ao conhecer Freddie, o megalomaníaco líder Dodd diz: “você será minha cobaia e protegido”. Mas as cenas se sucedem sem haver impacto de um personagem sobre o outro.
Embora Hoffman Seymour e Phoenix tenham soberbos desempenhos (principalmente quando contracenam), não há nenhum efeito sobre a causa ou algum impulso para frente na narrativa.
O diretor Thomas Anderson aqui e ali no filme parece iniciar temas interessantes para depois deixá-los soltos, sem aprofundamento – como, por exemplo, na sequência da organização do “I Congresso Mundial da Causa” no Arizona onde acompanhamos uma excelente descrição visual da “América profunda” por trás da seita: conservadorismo dos “red necks”, pátria, família e vaqueiros armados...
A América profunda e a “religião americana”
Esse é o “elefante na sala” que o diretor tinha diante dele e que solenemente ignorou para se concentrar na trajetória do “loser” Freddie Quell, que, ambiguamente através do seu fracasso, parece confirmar as teses da “Causa” que Thomas Anderson parece criticar.
O filme “O Mestre” apenas sugere o núcleo imaginário da chamada “América profunda”: aquilo que uma vez o crítico literário Harold Bloom descreveu como um mix de autodivinização gnóstica, mormismo, sulismo batista e pentencostalismo – a “religião americana”. Uma estranha forma de puritanismo cujas origens estavam nas chamadas “Providências” (formas narrativas anedóticas puritanas que descreviam milagres que ilustravam como a vontade divina se manifesta na vida cotidiana), estórias sobre magia africana, magazines e livros de bolso. Um amálgama entre o fantástico, o grotesco e uma reinterpretação da teologia cristã a partir da autodivinização, ou seja, a busca do Divino dentro de si mesmo. Uma particular americanização da religião a partir da junção de aspectos do hermeticismo, alquimia, gnosticismo, magia popular para produzir uma totalmente plena alternativa para o Cristianismo.
A Cientologia, assim como as literaturas e vídeos populares sobre autoajuda e autoconhecimento desde o seminal livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de 1936, de Dale Carnegie, até o recente documentário “O Segredo”, são as resultantes dessa “religião americana” da fé em si mesmo como força para a realização e o sucesso.
Assim como a Cientologia de Hubbard, “A Causa” de Dodd professa que toda a origem das nossas doenças espirituais está localizada nas sucessivas vidas que remontam milhares de anos atrás quando fomos vítimas de um imperador galático que nos aprisionou na Terra e mandou tudo pelos ares através de uma explosão nuclear. As almas desses seres ficaram vagando até se encarnarem no primeiro homo sapiens. Por isso, para atingirmos a felicidade e ter a vida sob o nosso controle, devemos apagar os “engramas” (memórias das experiências negativas dessas existências passadas) para que cada indivíduo se torne o seu próprio deus.
Freud jamais imaginava que “a peste” da psicanálise, que tantos estragos causou ao Humanismo europeu, seria recomposta para se adequar à terapia comportamental que busca a melhor forma do indivíduo se ajustar de forma eficiente e eficaz à sociedade, arrefecendo os sintomas por meio do esquecimento sem atinar para as causas. Ainda mais dentro desse estranho mix de misticismo, ficção científica, autoajuda, puritanismo e autodivinização.
Se Freud procurava entender a dinâmica da dor psíquica através de uma interpretação simbólica dos sonhos, atos falhos e da neurose, a religião americana foi mais prática: simplesmente deletamos os traumas, agora redefinidos como “experiências negativas”.
Outro ponto jogado e não desenvolvido pelo diretor Thomas Anderson é como a América intelectualizada, representada no filme por personagens da cidade de Nova York, critica e ridiculariza a seita do líder Dodd. Vemos que o sucesso da “Causa” tem um quê de ressentimento e vingança da América profunda contra essa América letrada e europeia que insiste em ignorá-la, mas que ocasionalmente sente os seus efeitos: escândalos midiáticos envolvendo seitas e religiões, atiradores disparando em universidades etc.
O violento e alcoólatra Freddie simplesmente espanca todos aqueles que levantavam qualquer tipo de crítica à Causa ou ao seu líder, tornando-se o “leão de chácara” da seita sob a complacência do líder Dodd.
O “ascetismo mundano”
O filme se passa na década de 1950. (...) nessa década encontramos o ponto de viragem da engenharia de controle social: as instituições repressivas como escola, igreja e família (tão bem analisadas por Freud como produtoras de neuroses) são substituídas por discursos midiáticos como os da autoajuda e terapias de autoconhecimento, que incentivam a “autoexpressividade”: o impulso confessional e narcísico de expressar publicamente seus desejos e pesadelos mais íntimos.
No filme vemos como as técnicas desenvolvidas por Dodd (o “processamento”, o correspondente da “dianética” da Cientologia) corresponde a regressões hipnóticas e criação de situações de stress para o indivíduo se “expressar” – na verdade se confessar em situações performáticas, diante de espectadores formados pelos integrantes da “Causa”, que são gravadas para posterior análise.
Se na religião tradicional o impulso confessional é realizado solitariamente diante de Deus (“um monge que se flagela a si mesmo diante de Deus, na privacidade da sua cela, não pensa na sua aparência diante dos outros” – SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 406.), na religião americana há o claro componente narcísico que Sennett define como “ascetismo mundano” derivado da ética protestante: um componente mundano no ascetismo pela necessidade de demonstrar não somente a Deus, mas aos outros, a sua renúncia e sacrifício, provando a todos ser um merecedor das graças divinas.
Isso se insere na cultura narcísica atual como um impulso confessional, como uma performance do eu interior diante dos outros. Um impulso confessional hoje potencializado pelas redes sociais, onde a intimidade abandona a natureza existencial para adquirir aspectos performáticos: expor fotos, desejos, hobbies para expor a si próprio ao escrutínio externo na esperança de merecer aprovação – o substituto da figura paternal perdida, assim como o que o perturbado Freddie tenta encontrar no líder da “Causa”. Ou, pelo menos, conseguir do outro o aperto do botão “curtir”.
Ficha Técnica
- Título: O Mestre
- Diretor: Paul Thomas Anderson
- Roteiro: Paul Thomas Anderson
- Elenco: Philips Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix, Amy Adams
- Produção: The Weinstein Company, Ghoulard Film Company
- Distribuição: The Weistein Company
- Ano: 2012
- País: EUA
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
EQUADOR E MERCADO BANCÁRIO
O Equador e os bancos
A Assembléia Nacional do Equador aprovou na noite desta terça-feira uma lei, enviada em caráter de urgência pelo presidente Rafael Correa, que aumenta a contribuição dos bancos. Foram 79 votos a favor, cinco contra e 11 abstenções. Com o resultado, o imposto de renda dos bancos vai subir de 13 para 23%, o mesmo percentual aplicado a outros setores da economia. As instituições financeiras, que antes eram isentas, também terão que pagar 12 % de Imposto sobre Valor Agregado (IVA). Será cobrada ainda uma tarifa sobre ativos no exterior, que fica maior no caso da captação de recursos em paraísos fiscais.
A nova regra permite que o Banco Central imponha limites aos salários de banqueiros e executivos das instituições financeiras.
As empresas estão proibidas de repassar os novos encargos para os consumidores e serão fiscalizadas pela Superintendência de Bancos, que pode multar as instituições que desrespeitarem a regra.
Para o presidente da Comissão de Regime Econômico da Assembléia, Francisco Velasco, com a aprovação da lei, "ganha a justiça do país, ganha a redistribuição da riqueza. Que ela não se concentre numa cúpula, que tenham todos a oportunidade de ganhar."
O governo diz que o setor é um dos que mais se beneficiaram do crescimento da economia equatoriana nos últimos anos. Os bancos lucraram mais de seiscentos milhões de dólares em 2011, o que representa 36% de acréscimo em relação ao ano anterior.
O parlamentar da oposição Patrício Quevedo considera a medida uma interferência do governo no setor bancário, que deixa aberta uma porta para a intervenção em outras áreas, gerando instabilidade na economia. "Com essa instabilidade não teremos investimento e sem investimento não teremos fontes produtivas, não teremos trabalho."
A associação dos bancos privados alertou para os riscos de que a redução de crescimento do setor pode representar uma diminuição da oferta de crédito. Mas ao receber a notícia da aprovação da lei, o presidente Rafael Correa disse que "eles verão que seguirão ganhando, um pouco menos, mas seguirão ganhando e graças às políticas que este governo impulsionou". (...).
(Para ler mais, clique aqui).
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A notícia acima é de novembro do ano passado. É uma das muitas iniciativas equatorianas em busca de justiça social. A grande imprensa, desfrutando de ampla liberdade de empresa, se alia aos bancos e faz coro aos banqueiros. Nenhuma surpresa.
O presidente Rafael Correa acaba de ser reeleito - em primeiro turno e com cerca de 60% dos votos.
ELETROBRAS PI
Jota A.
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Depois das infindáveis panes verificadas em todo o Piauí nos últimos dias, limitamo-nos a dizer: é o que se pode chamar de logomarca marcante.
MARINA E A OUTRA REDE
Nani.
Marina Silva lança Rede: que partido será esse?
Por Ricardo Kotscho
Gosto muito da Marina Silva, principalmente pela coragem de lutar por seus ideais, desde quando nos conhecemos, muito tempo atrás, nos movimentos sociais lá no Acre.
Apesar da velha amizade, porém, às vezes tenho dificuldades para entender o que ela quer dizer e como pretende atingir seus objetivos. A última conversa mais longa que tivemos foi quando ela deixou o Ministério do Meio Ambiente, no final do governo Lula, e foi para o PV.
"Marina foi mordida pela mosca verde", foi mais ou menos o título da entrevista que publiquei aqui no Balaio, já antecipando sua entrada no Partido Verde para se candidatar à Presidência da República, projeto que ela ainda negava e seria inviável se permanecesse no PT.
E Marina acabou sendo a grande surpresa das eleições presidenciais de 2010, quando alcançou 20 milhões de votos, provocando um segundo turno entre Dilma e Serra.
Logo depois da eleição, ela deixaria o PV ao descobrir que o partido, assim como os outros, tinha donos e os verdes mais antigos não pretendiam abrir mão do seu poder na direção para dar espaço aos "marineiros" que chegaram depois.
Os seguidores de Marina, autodenominados "marineiros" e sonháticos", começaram desde então a planejar um novo partido para chamar de seu, diferente de todos os outros.
Mil e uma reuniões depois, finalmente eles promovem neste sábado, em Brasília, um evento bastante festivo para lançar oficialmente a Rede, nome provisório do novo partido, que precisa juntar 500 mil assinaturas até o dia 23 de setembro para poder disputar as próximas eleições.
Como aconteceu ao trocar o PT pelo PV, também agora Marina nega que o objetivo principal seja lançar sua candidatura à Presidência. "Se dentro dessa estratégia uma candidatura, seja lá de quem for, que esteja apto a levar nossas ideias para frente, se colocar, nós vamos até ter candidato", desconversou.
A pedido dela, a coordenação do evento até vetou o uso de imagens da ex-senadora no local do encontro, o Espaço Unique, assim como em material de divulgação, para evitar que a nova sigla seja chamada de "Partido da Marina", o que parece meio inevitável.
Em reuniões fechadas durante toda a sexta-feira, os líderes da Rede discutiram o estatuto do novo partido e o nome de batismo. Algumas propostas, digamos, mais exóticas, provocaram discussões, como não aceitar doações de empresas, mas apenas de pessoas físicas, e a de limitar o mandato de seus parlamentares a 16 anos (alguns acham que oito anos está de bom tamanho).
Até agora, nenhuma liderança política nacional de peso atendeu aos convites feitos por Marina. Apenas três deputados federais sem maior expressão - Walter Feldman (PSDB-SP), Domingos Dutra (PT-MA) e Alfredo Sirkis (PV-RJ) - confirmaram a adesão ao novo partido, além de Heloisa Helena (PSOL), ex-candidata à Presidência, hoje vereadora em Maceió.
Por mais que você não goste deles, ainda não se inventou uma forma de criar um partido político sem políticos. Para fundar seu novo partido, o PSD, no ano passado, o ex-prefeito Gilberto Kassab arrebanhou 52 parlamentares e mesmo assim teve dificuldades para reunir as assinaturas necessárias ao registro no TSE.
Se os "marineiros" alcançarem seu objetivo, o Rede será o 31º partido do país. (Fonte: aqui).
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Curiosamente, Marina Silva sustenta que sua Rede não será de esquerda, nem de direita; não será de oposição, tampouco da situação. Observadores mais acurados certamente consideram que Marina ignora o sábio conselho bíblico: que se opte em ser quente ou frio, jamais morno.
Morna ou não, Marina tem todo o direito de seguir com sua Rede. Estrategicamente inflada pela grande mídia (à frente, claro, a grande Rede) no momento oportuno, seguirá celeremente a sua trajetória de detentora do monopólio da virtude. Déjà vu, dirão muitos - vale a pena ver de novo, dirá ela.
Marina Silva lança Rede: que partido será esse?
Por Ricardo Kotscho
Gosto muito da Marina Silva, principalmente pela coragem de lutar por seus ideais, desde quando nos conhecemos, muito tempo atrás, nos movimentos sociais lá no Acre.
Apesar da velha amizade, porém, às vezes tenho dificuldades para entender o que ela quer dizer e como pretende atingir seus objetivos. A última conversa mais longa que tivemos foi quando ela deixou o Ministério do Meio Ambiente, no final do governo Lula, e foi para o PV.
"Marina foi mordida pela mosca verde", foi mais ou menos o título da entrevista que publiquei aqui no Balaio, já antecipando sua entrada no Partido Verde para se candidatar à Presidência da República, projeto que ela ainda negava e seria inviável se permanecesse no PT.
E Marina acabou sendo a grande surpresa das eleições presidenciais de 2010, quando alcançou 20 milhões de votos, provocando um segundo turno entre Dilma e Serra.
Logo depois da eleição, ela deixaria o PV ao descobrir que o partido, assim como os outros, tinha donos e os verdes mais antigos não pretendiam abrir mão do seu poder na direção para dar espaço aos "marineiros" que chegaram depois.
Os seguidores de Marina, autodenominados "marineiros" e sonháticos", começaram desde então a planejar um novo partido para chamar de seu, diferente de todos os outros.
Mil e uma reuniões depois, finalmente eles promovem neste sábado, em Brasília, um evento bastante festivo para lançar oficialmente a Rede, nome provisório do novo partido, que precisa juntar 500 mil assinaturas até o dia 23 de setembro para poder disputar as próximas eleições.
Como aconteceu ao trocar o PT pelo PV, também agora Marina nega que o objetivo principal seja lançar sua candidatura à Presidência. "Se dentro dessa estratégia uma candidatura, seja lá de quem for, que esteja apto a levar nossas ideias para frente, se colocar, nós vamos até ter candidato", desconversou.
A pedido dela, a coordenação do evento até vetou o uso de imagens da ex-senadora no local do encontro, o Espaço Unique, assim como em material de divulgação, para evitar que a nova sigla seja chamada de "Partido da Marina", o que parece meio inevitável.
Em reuniões fechadas durante toda a sexta-feira, os líderes da Rede discutiram o estatuto do novo partido e o nome de batismo. Algumas propostas, digamos, mais exóticas, provocaram discussões, como não aceitar doações de empresas, mas apenas de pessoas físicas, e a de limitar o mandato de seus parlamentares a 16 anos (alguns acham que oito anos está de bom tamanho).
Até agora, nenhuma liderança política nacional de peso atendeu aos convites feitos por Marina. Apenas três deputados federais sem maior expressão - Walter Feldman (PSDB-SP), Domingos Dutra (PT-MA) e Alfredo Sirkis (PV-RJ) - confirmaram a adesão ao novo partido, além de Heloisa Helena (PSOL), ex-candidata à Presidência, hoje vereadora em Maceió.
Por mais que você não goste deles, ainda não se inventou uma forma de criar um partido político sem políticos. Para fundar seu novo partido, o PSD, no ano passado, o ex-prefeito Gilberto Kassab arrebanhou 52 parlamentares e mesmo assim teve dificuldades para reunir as assinaturas necessárias ao registro no TSE.
Se os "marineiros" alcançarem seu objetivo, o Rede será o 31º partido do país. (Fonte: aqui).
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Curiosamente, Marina Silva sustenta que sua Rede não será de esquerda, nem de direita; não será de oposição, tampouco da situação. Observadores mais acurados certamente consideram que Marina ignora o sábio conselho bíblico: que se opte em ser quente ou frio, jamais morno.
Morna ou não, Marina tem todo o direito de seguir com sua Rede. Estrategicamente inflada pela grande mídia (à frente, claro, a grande Rede) no momento oportuno, seguirá celeremente a sua trajetória de detentora do monopólio da virtude. Déjà vu, dirão muitos - vale a pena ver de novo, dirá ela.