terça-feira, 20 de setembro de 2011

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CHARGES ATUAIS

Charge de Jean, in Folha de São Paulo.


Sanzio, do blog de Luis Nassif

Não tenho nada contra a charge, principalmente a política; ao contrário, acho que é uma das formas mais inteligentes, sintéticas e bem humoradas de transmitir uma ideia, uma crítica. A única exceção que faço é quanto ao mau gosto e à falta de graça: uma charge sem graça é pior do que um artigo mal escrito. O jornal Folha de S. Paulo há muito vem tentando mimetizar o falecido Pasquim, tanto em seus artigos e matérias quanto em suas charges. O resultado, porém, tem sido medíocre: um pastiche de mau gosto, sem qualquer resquício do humor que caracterizava o jornal do Jaguar, Henfil, Ivan Lessa, Tarso de Castro.

Isso ocorre nos editoriais, com os colunistas fixos, nas matérias de quase todos os cadernos. Outro dia uma jornalista especializada em gastronomia chamou o Peru de "paiseco", o que provocou um pedido de retratação por parte da Embaixada daquele país, retratação que eu ainda não vi publicada.

Hoje, o cartunista da página dois coloca a presidenta Dilma e o presidente Obama como o casal Simpsons, do desenho animado de mesmo nome. Dilma com o cabelo em forma de torre, como o de Marge, e Obama como um Homer negro. Onde está a graça nisso? Qual o paralelo que o leitor pode traçar entre os dois mandatários e os personagems do desenho? O que tem a ver uma típica família suburbana do centro-oeste norte-americano, cujo patriarca passa seu tempo livre bebendo cerveja e assistindo TV, enquanto sua esposa estereotipada cuida da família, com Dilma e Obama?

Em qual episódio da série foi exibida alguma situação que remetesse à charge em questão? Nada, zero, nihil, niente, nothinhg. Então, qual a intenção do cartunista? Apresentar os dois presidentes das duas nações mais importantes das Américas como bobalhões, personagens caricaturais?

A série "Os Simpsons" é excelente, e se presta a fazer a crítica a vários setores conservadores da sociedade norte-americana, às posturas reacionárias e hipócritas dessa mesma sociedade. Já a charge não se presta a nada, exceto ilustrar a decadência do jornal que a publica.

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É imperioso lembrar ao articulista que qualquer veículo de comunicação tem o direito de, dissimulada ou ostensicamente, ombrear-se às forças reacionárias, e os chargistas, a prerrogativa de tentar ridicularizar a quem bem entenderem, emitir juízo sobre todo e qualquer assunto, sendo irrelevante que conheçam ou não a matéria objeto de crítica ou que se omitam quanto aos furos das lideranças políticas com que simpatizam e pelas quais torcem. Ossos da democracia.

2 comentários:

  1. Dodô
    Tenho que concordar com o artigo, a charge é realmente muito ruim. Não quer dizer nada, pelo menos que a gente detecte. A não ser que tenha alguma intenção oculta que só o chargista conhece...risos
    ab
    joão antonio

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  2. É, meu caro amigo, a charge passou longe da definição dada ao humor por Leon Eliachar: "Humor é fazer cócegas no raciocínio dos outros".
    Um abraço.

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