terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

SOBRE O DOCUMENTÁRIO 'THE BIBI FILES' (OU, SEGUNDO O CRÍTICO CARLOS A. MATTOS: 'COMO NETANYAHU TEM ESCAPADO DAS GRADES')

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(Nota Deste Blog: Bibi é tema espinhoso; é Israel. Se juntar o holocausto Gaza, passa a ser proibitivo. Milei de aproxima. Menos mal que o colunista Sakamoto salva a lavoura e faz a Folha tocar no assunto: nem a notícia de que o calote de Milei/criptomoedas chegou à Casa Branca e a Justiça americana começa a receber ações de pessoas lesadas convenceu importantes colunistas da Folha, a exemplo de Raquel Landim e Josias de Souza, a escrever sobre o escândalo monumental. Preferem manter suas baterias sobre Lula, destacando qualquer detalhe que, na avaliação deles, exponha negativamente o Presidente. Mas a mesma Folha/UOL teve peito de denunciar, por dois dias seguidos, até agora, os supersalários auferidos por membros do Judiciário, rematada esculhambação a desafiar a opinião pública. Jornalismo é isso).


Por Carlos Alberto Mattos

A guerra tem sido a salvação de Benjamin Netanyahu desde 2019, quando foi pela primeira vez indiciado por corrupção. Desde então, ele mantém Israel como refém, produzindo situações em que o país se coloca em tal perigo que só ele poderia supostamente conter. Assim, vai escapando da prisão, que do contrário seria certa. É um jogo político tóxico, que o documentário estadunidense The Bibi Files expõe de maneira incontestável.

O filme, dirigido pela sul-africana Alexis Bloom e a advogada e escritora canadense Alexandra Wragle, traz na produção o nome forte de Alex Gibney (Um Táxi para a Escuridão, Procurando Fela). Como trunfo principal, apresenta as gravações vazadas de interrogatórios policiais do próprio Bibi e de testemunhas fundamentais no processo, obtidas por Gibney de fonte secreta. Câmeras instaladas no gabinete do Primeiro Ministro registram sua performance cínica diante dos investigadores, respondendo a quase tudo com evasivas como “Não sei” e “Não me lembro”.

Mais incisiva é sua mulher, Sara Netanyahu, tida como a grande influencer pessoal de Bibi. Ela confronta os policiais aos gritos, sugerindo que eles protejam o país contra os árabes em lugar de acusar seu marido. Quando chega a vez do filho Yair, este não perde a chance de verbalizar seu ódio contra a esquerda e tudo o que possa ser identificado com ela.

Mas, afinal, quais são as acusações que pesam contra Netanyahu desde 1997? Além das cenas de inquirição policial, o filme reúne uma série de depoimentos de jornalistas que se tornaram desafetos de Bibi, um ex-empregado da família, um ex-chefe de campanha, um ex-Ministro das Finanças, um ex-amigo de juventude e a assessora de um dos principais envolvidos no esquema de corrupção, o ex-traficante de armas e magnata de Hollywood Arnon Milcham. Na edição do filme, o leque de falcatruas se abre progressivamente – de presentes de charutos e garrafas de champagne, itens mais corriqueiros, a joias, tráfico de influência internacional, facilidades tributárias e benefícios financeiros em troca de cobertura favorável no site jornalístico Walla.

Mais ainda que as acusações de propina e favorecimentos negociados, ressalta em The Bibi Files a própria história de como Netanyahu se projetou ao nível de uma espécie de “rei de Israel” e de como ele administra a crise deflagrada com o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Para mim, pelo menos, foi reveladora a informação de que o governo de Bibi transferiu muito dinheiro ao Hamas via Qatar, com a intenção de “controlar as chamas” da revolta palestina.

Quando se viu ameaçado pela Justiça no processo sobre corrupção, tentou interferir no Judiciário e declarou a Suprema Corte como inimiga número 1 (as semelhanças com o caso Bolsonaro não são mera coincidência). O país rachou, e a oposição realizou grandes protestos. Ao invés da renúncia, ele optou por reforçar a aliança com a extrema-direita. Nomeou como ministros dois ativistas com histórico de terrorismo e racismo radical. Transformou-se no que um dos entrevistados chama de “arquiteto do caos”.

A montagem de The Bibi Files, concluída no ano passado, já deixava claro que o núcleo duro do governo Netanyahu não queria acordo de paz em Gaza. Só lhes interessava a “vitória total”, ou seja, a destruição completa do Hamas e do Hezbollah, além da inviabilização de um estado palestino. Isso explica as pedras que Bibi botou no caminho do cessar-fogo negociado em janeiro deste ano. A paz em Gaza e na Cisjordânia pode trazer consigo o que Netanyahu mais teme: o som das portas de uma cela se fechando por trás dele.

Obviamente, Bibi tentou impedir a circulação de The Bibi Files já em sua primeira exibição pública, no festival de Toronto. Em Israel o filme está banido. A mídia mainstream ocidental não quis adquirir os direitos por temor de retaliação dos lobbies sionistas. Plataformas de streaming têm sido o canal possível na maioria dos países. No Brasil, não há sinal de sua chegada.  -  (Fonte: Carmattos - Aqui).

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