terça-feira, 29 de outubro de 2024

A COOPERAÇÃO COMO BANDEIRA DO GRANDE PACTO NACIONAL, POR LUÍS NASSIF


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As eleições mostraram a enorme barafunda ideológica em que o país se meteu. À falta de projetos, a ultradireita conseguiu emplacar seu discurso do individualismo exacerbado, da busca por soluções individuais, fundadas no empreendedorismo e na fé, que não resiste a um confronto mais direto com a realidade.

O contraponto ao individualismo é a solidariedade. E há enorme possibilidade de transformar a solidariedade em formas de ação, graças ao enorme acervo de movimentos cooperativos de que o país dispõe.

Uma das formas mais nobres de empreendedorismo é o chamado empreendedorismo social, a capacidade de pessoas de organizar sua base – seja a periferia, o comércio, os arranjos produtivos. O país tem estruturas capilarizadas em todas as pontas, do MST ao cooperativismo, do sistema S às associações comerciais, das conferências nacionais aos conselhos tutelares. Há grandes consultorias empenhadas em criar uma geração de gestores com responsabilidade social e ambiental.

Principalmente, há o presidente da República, Lula, por enquanto um maestro à procura de uma partitura mas tendo, à sua disposição, um enorme elenco de organizadores sociais. Falta apenas acordar para os novos tempos, virar a página e assumir seu papel de regente dos novos tempos.

O mito Lula-PT surgiu como alternativa a um modelo econômico excludente. E se fez em cima de ações paliativas contra a fome, da melhoria do salário mínimo tendo como eixo central o sindicalismo da época.

Os novos tempos enfraqueceram o sindicalismo e o fim do catolicismo progressista quebrou os laços com a periferia. A enorme dificuldade de renovação fez com que o PT perdesse o bonde do ativismo digital – que, no início, era dominado pela rapaziada progressista.

Agora, há que se fechar uma página heroica do passado, de resistência contra a ditadura e contra a fome e preparar os novos tempos. E os novos tempos passam pelo discurso da parceria, da solidariedade em todos os níveis, não apenas nas periferias mas junto aos pequenos empresários, às centrais sindicais, às federações empresariais.

Assim que o país saiu da longa noite da ditadura, da enorme centralização administrativa, o tecido social foi se reconstituindo. Pequenos comerciantes se juntavam em torno de centrais de compra, de arranjos produtivos locais, de cooperativismo, de agricultura familiar, do sistema S.

A enorme conspiração da Lava Jato derrubou governos e desmontou institucionalmente o país. O ceticismo em relação à política abriu espaço para o individualismo da ultra direita, para o crime organizado e para a anti-política e para a falta de discernimento. Esse ceticismo foi o principal alimento para as fantasias do empreendedorismo, da salvação pela fé.

É papel do presidente trazer a discussão política novamente para o terreno da organização social. Deveria cobrar de cada ministério ações objetivas de fortalecimento das ações cooperativas, dos conselhos de participação, das associações empresariais. Tem que tirar a roupa de pai dos pobres e envergar a de maestro da grande concertação nacional. É esse o fio condutor capaz de juntar todos os setores civilizados permitindo a Lula fechar sua vida política com chave de ouro, trazendo de volta a solidariedade e o grande pax nacional em torno do tema da solidariedade."


(Do cientista-político Luís Nassif, no Jornal GGN - Aqui -, de que é titular).

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