terça-feira, 11 de junho de 2024

DELTAN DISSE QUE "NÃO SE RECORDA" DE PRESSIONAR HARDT PARA HOMOLOGAR A FUNDAÇÃO LAVA JATO

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Embora diga não se recordar de nada, Dallagnol estaria envolvido até o pescoço com o esquema que daria vida à fundação privada


Por Cintia Alves, do Jornal GGN:

O ex-procurador 
Deltan Dallagnol disse em interrogatório que embasa a correição extraordinária na Lava Jato, promovida pela Corregedoria Nacional de Justiça, que “não se recorda” de ter pressionado a juíza federal Gabriela Hardt para acelerar a homologação do acordo entre Ministério Público Federal e Petrobras que desviaria mais de R$ 2 bilhões para a famigerada fundação privada que, na mídia, ficou conhecida como Fundação Lava Jato.

A correição extraordinária na 13ª Vara Federal de Curitiba, promovida pelo time do ministro Luís Felipe Salomão, descobriu, a partir de depoimento da própria juíza Gabriela Hardt, que houve pressão sobre a magistrada e tratativas informais junto aos procuradores de Curitiba para homologar o acordo, que foi feito às “pressas” e faltando documentos básicos, na visão da Corregedoria. Os procuradores teriam, inclusive, antecipado, via WhatsApp, a minuta do termo de poucas páginas que Hardt veio a homologar em 2019. Questionado sobre os fatos, Deltan disse não se recordar de nada.

Na semana passada, por 9 votos a 5, o CNJ decidiu abrir procedimento administrativo disciplinar (PAD) contra Gabriela Hardt justamente por causa da Fundação Lava Jato, entre outros pontos. Além disso, Salomão sugeriu o encaminhamento de cópia dos autos à Procuradoria-Geral da República, para que se verifique a possibilidade de apuração também na esfera criminal.

O PAD vai se restringir a investigar a conduta de Hardt na homologação do acordo que só não se tornou realidade por decisão do Supremo Tribunal Federal. O ministro Alexandre de Moraes entendeu que a fundação privada com dinheiro público era uma empreitada inconstitucional e homologada por juízo incompetente, e anulou os efeitos do acordo.

O termo previa a criação da Fundação Lava Jato com dinheiro de multa paga pela Petrobras nos Estados Unidos, com parte considerável do montante (80%) retornando ao Brasil sob a influência de Dallagnol. 

Com a fundação privada, a força-tarefa pretendia investir em “projetos sociais” e formação de lideranças políticas.

No relatório da correição, consta que o contexto em que a fundação surgiu pode configurar possível crime de desvio na modalidade peculato. O relatório da correição – que não pôde se aprofundar sobre o papel dos procuradores na trama – afirma ainda que é preciso investigar a quem interessava a criação da fundação privada, e indica que, no âmbito pessoal, aparentemente contemplava as aspirações de Deltan Dallagnol e Sergio Moro pela carreira política.

Embora Dallagnol afirme que não se recorda de nada, a correição revelou que o ex-procurador esteve envolvido até o pescoço com o processo que a Petrobras enfrentou nos EUA por causa da Lava Jato. Além de ajudar os americanos a fabricar as denúncias que culminaram em acordo com multa bilionária, Dallagnol teria negociado o retorno de parte da multa ao Brasil.

Em paralelo, Moro abriu o procedimento secreto que foi usado para administrar as contas judiciais de ondem partiram bilhões de reais, sem transparência ou critério, aos cofres da Petrobras. A verba era fruto de acordos de delação e leniência fechados pela Lava Jato em Curitiba, e destinados à Petrobras antes mesmo do trânsito em julgado. Com isso, a Petrobras conseguiu fazer frente à multa nos EUA, e a Lava Jato planejou se beneficiar adiante com o retorno da multa para a fundação privada. Salomão chamou o esquema de “cash back”. - (Aqui  -  Onde o leitor pode conferir informações adicionais).

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"O PAD vai se restringir a investigar a conduta de Hardt na homologação do acordo que só não se tornou realidade por decisão do Supremo Tribunal Federal."

Os leitores do Jornal GGN, a exemplo desse escriba, acompanharam com atenção cada passo dado pelo pessoal da Lava Jato. Dois exemplos:

1. Dallagnol teria aberto conta para a fundação na CEF (bom argumento para instar a juíza Hardt a homologar sem delongas o acordo);

2. O procurador Carlos Fernando (o 'bamba' em Compliance) teria antecipado a aposentadoria para habilitar-se à direção da fundação, a despeito da inexistência de acordo homologado.

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