Durante comoventes 84 minutos testemunhamos a ternura com que Paulina procura reavivar as memórias do marido e tenta confortá-lo nas horas de desespero. Ela perscruta as emoções dele e testa os limites a que ele pode chegar no dia-a-dia doméstico. A relação dos dois parece dominada pelo bom humor, a doçura e o intenso afeto recíproco – o que pode também refletir uma escolha da diretora e sua montadora. Nunca sabemos o que um documentário como esse pode esconder ou minimizar.
O material se divide entre cenas gravadas pela equipe do filme entre 2014 e 2022, outras registradas por Paulina em momentos de intimidade e arquivos do trabalho de ambos e da vida em comum desde os anos 1990. Chama atenção a virtual ausência dos filhos dele, irmãos e amigos tão evocados por Augusto.
Autora dos inefáveis O Espião, sobre terceira idade, e Los Niños, sobre Síndrome de Down, Maite Alberdi escolheu aqui fechar o foco no casal sendo posto à prova. Isso se justifica pela frequência com que Augusto e Paulina colocam “nós” e “nosso” acima de “eu” e “meu”. Havia ali uma célula indestrutível que nem a deterioração da memória dele, nem mesmo algumas conversas duras que Paulina instiga sobre a morte, podia abalar.
Um paralelo, apenas ensaiado, se estabelece entre a condição de Augusto, a resiliência de Paulina e a história do Chile sob Pinochet. O envolvimento do casal com a política foi mais um elo a fortificar um amor tão sólido. - (Fonte: CARMATTOS - Aqui -. Blog do autor, um senhor Blog!).
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