A líder indígena Shirley Krenak está na Europa denunciando a destruição dos biomas brasileiros pelo governo Bolsonaro e os crimes da mineração no Brasil.
Em coletiva de imprensa (há uma semana) para o lançamento da 18a edição do Festival Brésil en Mouvements (Brasil em movimentos), a protagonista do documentário “A Mãe de Todas as Lutas”, de Susanna Lira, denunciou em particular as invasões de terras indígenas, o estupro de mulheres e adolescentes e a Vale, pelos crimes ambientais em Brumadinho e Mariana, que destruíram os modos de vida das comunidades indígenas e não-indígenas do leste mineiro. (...).
Lembrou os campos de concentração criados pela ditadura militar para indígenas “desobedientes”. E destacou o aumento do número de estupros e da misoginia durante o mandato de Jair Bolsonaro (...).
Em entrevista concedida ao DCM, ela afirma, sobre o anúncio, pelo ex-presidente Lula, de um 'ministério indígena': “Uma proposta excelente. A esperança continua. Vai depender muito do processo coletivo, político e mudanças por um bem comum.”
A entrevista:
DCM: Qual a importância de você estar hoje em Paris?
Shirley Krenak: Estou muito feliz em participar dos 18 anos do festival Brésil en Mouvements (Brasil em movimento). A gente vem com a proposta de trazer o filme “A Mãe de Todas as Lutas” para levar para o mundo todo a verdadeira situação em que se encontram os povos indígenas do Brasil.
O motivo de estar participando desses trabalhos é buscar ações coletivas em prol do direito do ser humano de viver bem.
DCM: O desmatamento dispara em períodos eleitorais e não é diferente agora. Que impactos você e os povos que lidera estão observando?
No nosso pais existem seis biomas muito importantes para o equilíbrio climático de todo o mundo. Em todos esses biomas, existem povos indígenas. Eu sou do bioma da Mata Atlântica.
O bioma da Mata Atlântica se encontra com 4% da sua mata originaria porque essa região foi totalmente destruída pela mineração. Meu povo foi totalmente impactado pela mineração.
Tivemos dois crimes cometidos pela companhia Vale. O primeiro foi em 5 de novembro de 2015, que matou mais de 700 quilômetros de rio de agua doce. Esse crime aconteceu na época da piracema, matando pessoas também. Até hoje, muitas pessoas responsáveis por esse crime não foram punidas.
A questão política no nosso pais anda totalmente complicada. A todo tempo, nossos corpos e territórios são estuprados pela ação negativa que esse governo fascista vem fazendo dentro dos nossos territórios.
DCM: Quando se olha para a militância da sua família, como você define o que foi feito pelo governo Bolsonaro, um “retrocesso”?
Meu pai Valdemar foi um grande mestre e liderança no estado de Minas Gerais. Eu tenho aprendido muito não só com o que ele nos deixou na historia, como Krenak, mas também com todas as outras lideranças anciãs da minha terra.
Eu acredito muito na esperança porque hoje somos 5% da população brasileira. Esses 5% são os que lutam 24 horas por dia para você estar aqui hoje respirando e tomando agua.
Se não houver o entendimento de que a esperança existe e de que há a possibilidade ainda de lutar, será complicado. Mas a humanidade precisa entender que precisamos ser coletivos nas ações que dizem respeito a buscar o direito de viver bem.
Ou então vamos continuar no processo da colonização e ainda mais nesse retrocesso mental no que diz respeito a questões que envolvem a não-extinção da humanidade.
DCM: Você está percorrendo diferentes países. O que você tem ouvido da sociedade civil?
Que eles não conhecem o meu povo. É isso que eu tenho ouvido do resto do mundo. Eu tenho ouvido do resto do mundo que ninguém conhece os biomas do meu pais, por isso destroem tanto.
Hoje foca-se muito nos trabalhos voltados para a Amazônia, como se ela tivesse a total responsabilidade pela regulação climática do universo. Precisamos ter em mente que o ativismo de proteção ambiental não é só dos povos indígenas, é da sociedade não-indígena também.
Chegou a hora de uma ação coletiva. Ou a gente se une na defesa da mãe-terra ou então vai morrer todo mundo.
DCM: Como você define Bolsonaro, é um colonizador?
Totalmente colonizador. Olha de onde ele veio, olha a sua historia. Muitos países, inclusive o nosso, ainda não saíram do processo da colonização é por isso que a gente esta sofrendo tanto na defesa do meio ambiente. A colonização anda camuflada porque os tempos mudaram.
DCM: Mas então o que ele tentou mostrar no ultimo 7 de setembro?
Destruição total. Esse governo não quer um povo pensante. Esse governo quer um povo dominado.
DCM: Você tem expectativa de que uma mudança a partir das próximas eleições impactara a demarcação de terras indígenas e pautas da causa indígena?
A gente tem esperança dentro do processo político porque agora vamos ter mais representantes da causa indígena ocupando esses espaços para buscar de forma inteligente fazer mudanças nesses espaços políticos.
Se todos os governos fossem bons para os povos indígenas, todas as terras teriam sido demarcadas. Mas a gente precisa ser inteligente e ter um entendimento estratégico para saber onde é que tivemos mais espaço de fala para nossa demanda política e de concretização e de busca de melhoria no que diz respeito ao direito da humanidade.
DCM: O ex-presidente Lula propõe a criação de um ministério indígena. O que você pensa dela?
Uma proposta excelente. A esperança continua. Vai depender muito do processo coletivo, político e mudanças por um bem comum.
DCM: Estamos vivendo um momento particular de violência. Como as lideranças de povos indígenas estão gerindo a segurança pessoal?
A medida em que se avança na proteção ambiental da Terra, dos rios sagrados, já nos sentimos ameaçados. Proteger o meio ambiente, independentemente de você ser indígena, preto ou branco já é uma ameaça. A luta dos povos indígenas hoje é um movimento radical. - (Diário do Centro do Mundo - Aqui).
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(Enquanto isso, o ministro das Comunicações, diante dos novos percentuais informados na pesquisa ontem divulgada - destacando Lula com 47% e Bolsonaro com 31% -, recomenda ao IPEC que 'grave bem' esses percentuais, pois servirão de base para a proposta de extinção do Instituto. O esperneio é livre).
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