terça-feira, 19 de julho de 2022

O INFIEL DA BALANÇA

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O filme, "...indicado pela Espanha para concorrer ao Oscar, fala do cinismo da classe dominante quando considera as razões dos subalternos apenas para proteger os seus próprios interesses."


O BOM PATRÃO

Por Carlos Alberto Mattos

Julio Blanco não se conforma de ver desregulada a balança decorativa na entrada da sua fábrica de balanças. Aquilo é um símbolo, e pode prejudicar sua empresa na disputa por mais um prêmio de excelência que ele quer afixar numa parede de honra da sua casa. A visita do comitê de premiação é iminente. É preciso que tudo esteja em ordem, os funcionários estejam satisfeitos e a fábrica transpire eficiência e equilíbrio. Mas a balança da entrada não é o único problema a atormentar Blanco.

Um funcionário recém-demitido não se conforma com a dispensa e traz os filhos pequenos para protestar diante da fábrica. O chefe de produção está cometendo sucessivos erros porque a mulher quer abandoná-lo. Um velho operário de confiança pede ajuda para tirar o filho do mau caminho. O patrão se desdobra para ajudá-los porque precisa exibir uma fachada admirável ao comitê.

O Bom Patrão (El Buen Patrón), indicado pela Espanha para concorrer ao Oscar, fala do cinismo da classe dominante quando considera as razões dos subalternos apenas para proteger os seus próprios interesses. Com a retórica de “Somos todos uma família” e “Seus problemas são meus problemas”, Blanco manobra para adiar crises e evitar confrontos até que a premiação esteja garantida.

Para isso é necessário acionar suas ligações privilegiadas com a polícia e a prefeitura, além de lidar com velhos compromissos de família, com a afluência de imigrantes no meio operário espanhol e com as suas próprias “fraquezas” de caráter. Pois o cinismo de Blanco se estende à vida pessoal e conjugal. Ele tem o hábito de seduzir estagiárias, mas sem o cuidado de verificar previamente quem é cada uma delas. Isso vai lhe trazer mais um problemão numa semana especialmente difícil de sua bem-sucedida carreira de empresário.


ícone da balança pontua o filme como um lembrete constante das manipulações, chantagens e crueldades que sustentam o status quo do capitalismo. Mas nem tudo corre numa só direção. Ao mesmo tempo que engendra seus artifícios, Blanco também é manejado por alguns braços da máquina que ele põe em funcionamento.

Fernando León de Aranoa repete o êxito do drama Segunda-Feira ao Sol, sobre a deriva de cinco desempregados numa cidade portuária espanhola, e do documentário Política, Manual de Instruções, que reconta a história do partido Podemos (o espanhol). Combina um tema poderoso com uma escrita brilhante que nos faz íntimos dos motivos e artimanhas de cada personagem. O roteiro de O Bom Patrão abre várias linhas de intriga e não deixa ponto sem nó. Ao contrário do cretino Um Dia Perfeito, Aranoa usa o humor aqui como um aliado eficiente de sua radiografia do pensamento empresarial médio.

Da primeira à última sequência, o gume dos diálogos é cortante e o elenco afia a lâmina com maestria. Javier Bardem, presente em todas as cenas, esmera-se na caracterização desse homem dinâmico e manipulador, disposto a garantir seu sucesso a qualquer preço. Ainda que seja falseando a balança para que ela pareça justa.  -  (Fonte: Blog Carmattos - Aqui).

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