"'Summer of Soul' é empolgante pelo que mostra do Harlem Cultural Festival de 1969. É também emocionante ao trazer de volta alguns artistas e espectadores para relembrar o que foram aqueles seis domingos. O filme é tudo o que se pode ambicionar como resgate de um material daquele nível."
No mesmo dia 20 de julho de 1969 em que os primeiros astronautas pisaram na Lua, a 384.400 quilômetros dali, num parque do Harlem, acontecia um dos seis shows dominicais do 3º Harlem Cultural Festival. Para a quase totalidade dos que estavam no Mount Morris Park, ver aqueles músicos pretos se apresentarem era muito mais importante do que dois brancos fincarem a bandeira dos EUA no Mar da Tranquilidade. Aquilo era um capítulo da história dos negros e hispânicos estadunidenses.
O produtor de TV Hal Tulchin coordenou a filmagem dos shows com cinco câmeras de videotape, recolhendo um material de qualidade extraordinária. No entanto, obscurecidas pelo sucesso planetário de Woodstock, realizado simultaneamente, as filmagens do "Woodstock Negro" ficariam praticamente desconhecidas durante 50 anos. Tulchin tentou em vão produzir um especial de TV, mas não encontrou interessados em patrocinar. Apenas alguns trechos apareceram em programas da época e em dois documentários sobre Nina Simone. Até que o baterista e produtor musical Amir Khalib Thompson, conhecido como Questlove, resolveu assumir a missão de coproduzir e dirigir Summer of Soul... Ou Quando a Revolução Não Pôde Ser Televisionada (Summer of Soul ...Or, When the Revolution Could Not Be Televised). O filme está na shortlist do Oscar 2022.
Tulchin morreu em 2017, quando se iniciavam os trabalhos do novo documentário. Pena que não pôde ver o resultado. Summer of Soul é tudo o que se pode ambicionar como resgate de um material daquele nível. O roteiro, provavelmente construído em conjunto por Questlove e o montador Joshua L. Pearson, extrai o crème de la crème dos shows ao mesmo tempo que vincula cada música ou artista com questões caras à cultura e à política black do momento.
Não basta, portanto, ver Stevie Wonder, aos 19 anos, arrasar nos teclados e na bateria, mas é preciso mostrá-lo também soltando a voz pelas boas causas. Antes de embalar a plateia com Young, Gifted and Black (Jovens, talentosos e pretos), Nina Simone inflama o público com música e com um poema que propõe o enfrentamento direto do poder branco. O pastor Jesse Jackson convoca à luta, e as cantoras Mahalia Jackson e Mavis Staples entram em transe num lamento musical pela morte de Martin Luther King. Os grupos 5th Dimension e Sly and the Family Stone trazem à baila a questão de se a música tem cor.
Lá estão astros elegantes da Motown como Gladys Knight and The Pips, artistas afro-puros como Hugh Masekela e o grupo Dinizulu, astros hispânicos como Ray Barretto e grupos de gospel vocalizando a catarse dos pretos oprimidos. Os Panteras Negras faziam a segurança do evento e um festival de franjas se sucedia nos figurinos do palco, enquanto o filme vai pinçando imagens sobre a moda black da época, o sentimento do Harlem e o nascimento de uma nova consciência.
O produtor de TV Hal Tulchin coordenou a filmagem dos shows com cinco câmeras de videotape, recolhendo um material de qualidade extraordinária. No entanto, obscurecidas pelo sucesso planetário de Woodstock, realizado simultaneamente, as filmagens do "Woodstock Negro" ficariam praticamente desconhecidas durante 50 anos. Tulchin tentou em vão produzir um especial de TV, mas não encontrou interessados em patrocinar. Apenas alguns trechos apareceram em programas da época e em dois documentários sobre Nina Simone. Até que o baterista e produtor musical Amir Khalib Thompson, conhecido como Questlove, resolveu assumir a missão de coproduzir e dirigir Summer of Soul... Ou Quando a Revolução Não Pôde Ser Televisionada (Summer of Soul ...Or, When the Revolution Could Not Be Televised). O filme está na shortlist do Oscar 2022.
Tulchin morreu em 2017, quando se iniciavam os trabalhos do novo documentário. Pena que não pôde ver o resultado. Summer of Soul é tudo o que se pode ambicionar como resgate de um material daquele nível. O roteiro, provavelmente construído em conjunto por Questlove e o montador Joshua L. Pearson, extrai o crème de la crème dos shows ao mesmo tempo que vincula cada música ou artista com questões caras à cultura e à política black do momento.
Não basta, portanto, ver Stevie Wonder, aos 19 anos, arrasar nos teclados e na bateria, mas é preciso mostrá-lo também soltando a voz pelas boas causas. Antes de embalar a plateia com Young, Gifted and Black (Jovens, talentosos e pretos), Nina Simone inflama o público com música e com um poema que propõe o enfrentamento direto do poder branco. O pastor Jesse Jackson convoca à luta, e as cantoras Mahalia Jackson e Mavis Staples entram em transe num lamento musical pela morte de Martin Luther King. Os grupos 5th Dimension e Sly and the Family Stone trazem à baila a questão de se a música tem cor.
Lá estão astros elegantes da Motown como Gladys Knight and The Pips, artistas afro-puros como Hugh Masekela e o grupo Dinizulu, astros hispânicos como Ray Barretto e grupos de gospel vocalizando a catarse dos pretos oprimidos. Os Panteras Negras faziam a segurança do evento e um festival de franjas se sucedia nos figurinos do palco, enquanto o filme vai pinçando imagens sobre a moda black da época, o sentimento do Harlem e o nascimento de uma nova consciência.
Summer of Soul é empolgante pelo que mostra do festival. É também emocionante ao trazer de volta alguns artistas e espectadores para relembrar o que foram aqueles seis domingos de 1969. A meu ver, só faltou dar melhor destaque a Hal Tulchin, o homem que registrou a efeméride para a posteridade. De resto, uma obra-prima. - (Fonte: Carta Maior - Aqui).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça o seu comentário.