terça-feira, 28 de dezembro de 2021

DIÁRIO DO BOLSO (REGISTROS ATRASADOS - 24/25) - 'UM' E 'DOIS'


Por José Roberto Torero

- I -
Diário, ontem fiz uma fala em cadeia nacional (não sei por quê, me dá um arrepio cada vez que eu escrevo cadeia...).

Mas foi uma fala bem curta, pra não dar tempo do pessoal bater panela. Teve um minuto e vinte segundos. E a Micheque, digo, Michelle falou mais que eu. Ainda bem que dessa vez ela falou em português, e não naquela língua alienígena dela. Já pensou, Diário, se ela começasse a soltar um “Cantarabaiaxuia, shalaramarai decantas”? Mas não, ela falou direitinho. Até melhor que eu, que parecia que tava prendendo o peido (e tava mesmo).

A gente não falou de covid, nem de inflação e muito menos de fome. Só de Deus, Pátria e Família, que por sinal é o lema de uns integralistas aí.

Uma coisa curiosa é que o Moro fez igualzinho que nem eu. Será que a gente está com o mesmo marqueteiro? O cara anda trabalhando em dois períodos?

Pode ver lá, Diário: a fala dele durou o mesmo tanto que a minha, também tinha uma árvore de Natal no fundo, ele também estava com roupa escura do lado esquerdo e a mulher dele também estava com roupa clara do lado direito, e a conja do Moro também falou mais que ele. É um imitão!

Aliás, falando em Natal, um seguidor me perguntou: “o senhor deixaria que o menino Jesus se vacinasse?”. Eu não respondi, mas pensei assim: “Só se ele tivesse autorização da mãe, do José e de Deus (com firma reconhecida), mais uma receita médica do Espírito Santo”.

E, falando em vacina, a nossa consulta pública foi uma grande sacada. Atrasa o negócio todo por uns dias edá a ideia de que a gente quer ouvir o povo. Mas só 50 mil podiam votar. E dava pra botar um monte de robô respondendo.

Pra piorar, as perguntas foram bem confusas, do tipo:

“Você é contra ser a favor da obrigatoriedade da dispensa da vacina obrigatória?”.

Inventaram uma língua mais complicada que a da Micheque, digo, Michelle.
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(José Roberto Torero)
                 Como diria Millôr: "O autor! O autor!!"

- II -
Diário, os canhotopatasandam me chamando de Herodes, aquele rei do tempo de Jesus que mandou matar todos os meninos com menos de dois anos em Belém.

Mas por que eles tão me chamando assim? Só porque eu tô atrasando a vacinação das crianças? Só porque eu não quero estragar as minhas férias pra pensar nisso? Pô, que impaciência é essa?! Vou encurtar o feriado só porque morre uma criança por dia? Tenha dó!

Bom, me chamaram tanto de Herodes que fui ver quem o foi o cara. E sabe o que eu descobri? Que a gente tem muita coisa em comum mesmo.

Pra começar, ele também teve um monte de esposas, kkk!

E ele também teve três filhos: Herodes Arquelau, Herodes Antipas e Filipe. Quer dizer, eu até tenho mais dois, mas só boto na conta os que já se elegeram pra alguma coisa.

O Herodes também tinha uma relação estreita com os sacerdotes, tipo que nem eu com os Malafaias, os Edires e as Sônias.

Ele também exigia dos seus súditos um juramento de obediência. Só não sei se era do tipo “nunca usar máscara” ou “jamais se vacinar”.

Li que ele também interferia na justiça do Sinédrio. Será que isso quer dizer que ele trocou a cúpula da Polícia Federal ou que indicou uns ministros terríveis pro STF? Tanto faz. O que importa é que nisso daí a gente também empata.

Parece que o poder militar dele se baseava em mercenários, o que deve ser meio parecido com miliciano.

E dizem que ele era paranoico. Mas isso eu não sou. Só durmo com um revólver na mesa de cabeceira porque qualquer um pode querer me matar no meio da noite.

Bom, Diário, depois de ler essas coisas, eu vi que a gente era parecido em muita coisa. Mas existe uma grande diferença. Eu li que o tal do “Massacre dos Inocentes” que o Herodes fez deve ter matado mais ou menos uns vinte meninos com menos de dois anos. Pois pra mim isso é fichinha! Merreca! Aqui no Brasil já foram mais de duzentos dessa idade aí. E sem contar as meninas.

Ou seja, eu não sou um Herodes, Diário. Eu sou um Herodez!

Agora dá licença que eu vou fazer o que eu mais gosto no Natal, Diário. Não, não é ganhar presente. É destrinchar o peru, kkk!  -  (Fonte: Boletim Carta Maior - Aqui e Aqui).

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