Walter Delgatti, o hacker que acessou aparelhos de celular de cerca de 200 autoridades, entre elas os procuradores da Lava Jato, tendo acesso a suas conversas do Telegram, revelou em entrevista à TV 247 nesta terça-feira (16) que o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso era uma espécie de “conselheiro” do procurador Deltan Dallagnol.
Questionado sobre a relação entre o ministro do STF e o procurador, Delgatti respondeu: “Realmente, existia uma conversa entre eles bem restrita. Uma conversa que não seria ideal para o cargo deles e o assunto era sobre o cargo também, então seria algo imoral, antiético. Um relacionamento bem restrito”.
“Mas orientava?”, perguntou o jornalista Joaquim de Carvalho, que conduziu a entrevista. “Sim, orientava, era como se fosse um conselheiro, onde ele contava o que estava acontecendo, pedia opiniões”. “O Barroso compunha a primeira turma né, não julgava os casos da Lava Jato, então ele (Deltan) perguntava o que fazer, o que pegar de jurisprudência, como convencer um juiz do STJ… inclusive na época eles investigavam muito a vida de um relator do STJ, acho que Felix Fisher”, relatou Delgatti, referindo-se ao ministro do Superior Tribunal de Justiça.
E prosseguiu, revelando ainda ameaças e uma espécie de dossiê contra quem podia ser eventualmente contra a Lava Jato no Judiciário: “eles faziam uma análise de todas as decisões, do perfil, e montavam alguma peça encurralando eles e enviavam para a PGR, na época a Raquel Dodge ou a subprocuradora, montavam a peça, enviavam”.
De acordo com o hacker, a subprocuradora Luiza Frischeisen era um contato dos procuradores. “Ela conseguia o que estava acontecendo lá e vazava para eles. Os processos disciplinares dele... ela vazava antes de chegar por meio oficial”, acrescentou.
“Então eles colocavam contra a parede, tanto no TRF4, no STJ e no STF. Mas no TRF4 eles tinham conquistado já, difícil estava sendo no STF, mas no STJ também”, disse ainda.
Não me arrependo de nada
Walter Delgatti disse não se arrepender da invasão, apesar das consequências para sua vida pessoal, como a prisão. Ele foi preso em julho de 2019, chegou a ser transferido para a Penitenciária da Papuda, em Brasília, e hoje está sob prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, morando na casa da avó.
“Eu não me arrependo de nada. Eu me sinto orgulhoso demais. Eu contribuí e vou contribuir muito mais ainda. Eu consegui provar o que aconteceu comigo e o que eu fiz de certa forma vai ajudar muitas pessoas. A sensação que eu tive quando eu consegui fazer isso é algo inexplicável. Eu sou alguém”.
Delação premiada
Delgatti contou também que as autoridades fizeram forte pressão para que ele fizesse acordo de delação premiada, tanto para que ele próprio fosse solto quanto para libertar seus dois amigos - que nada têm a ver com a invasão, segundo ele, mas também viraram alvo. “‘Se você não fizer o acordo de delação você não vai sair’, o delegado dizia para mim. Toda hora eu sofria esse tipo de pressão psicológica”.
“Eles não falavam de forma expressa, mas davam a entender que eu precisava falar do Glenn [Greenwald] ou de alguém ligado ao Lula ou que entregasse o montante [de dinheiro]. Mas eu não tinha recebido nada por isso (a invasão) e eles colocaram um grampo na minha cela”, acrescentou.
Traidor de Lula
O ‘hacker de Araraquara’ revelou também que soube, pelas conversas, que o ex-presidente Lula foi traído por uma pessoa próxima. Questionado se era uma pessoa que fazia parte do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, respondeu positivamente. E informou que foi uma ação - e não uma mensagem, ou declaração - dessa pessoa que “acabou ajudando a Lava Jato e prejudicando Lula”. - (Fonte: Brasil 247 - Aqui -. Ao final, o vídeo com a entrevista de que se trata, concedida ao jornalista Joaquim de Carvalho). Vale repetir:
.Joaquim de Carvalho Entrevista
o Hacker Walter Delgatti Neto .............. Aqui.
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Para Concluir
A assessoria do ministro Barroso emitiu nota sobre as referências do hacker a seu nome, concentrando sua defesa sobre um equívoco de Delgatti quanto à Turma que o ministro integra no Supremo:
"O ministro Luís Roberto Barroso integra a Primeira Turma, e não a Segunda, que é a competente para julgar os processos da Operação Lava-Jato. Ele jamais orientou qualquer procurador acerca de qualquer processo relacionado à operação. A afirmação é falsa."
Ao que um comentarista da Revista ConJur, arguto, observa:
"O fato de Barroso integrar uma turma do STF e não outra não muda o curso da história.
A acusação é de que dava o caminho das pedras a Deltan...
A resposta de Barroso deveria se limitar a dizer se dava ou não informações, se tinha ou não proximidade com o procurador.
No entanto, ao dizer que integra uma turma e não outra acabou dando mais prestígio à acusação."
A acusação é de que dava o caminho das pedras a Deltan...
A resposta de Barroso deveria se limitar a dizer se dava ou não informações, se tinha ou não proximidade com o procurador.
No entanto, ao dizer que integra uma turma e não outra acabou dando mais prestígio à acusação."
Mas quem se encarrega de arrematar, amargamente, é um outro leitor:
"O correto numa democracia de primeiro mundo, com instituições de primeiro mundo, seria divulgar todo o material para demonstrar a veracidade ou não das conversas vergonhosas e ilícitas. Seria uma vergonha - se verdade - procuradores de piso controlarem procuradores que atuam em níveis superiores e mais vergonhoso ainda juízes de tribunais superiores. Mas aqui na Banânia, é improvável que tornem público todo o material, embora atestada sua higidez pela própria PF, que apreendeu o material sob as ordens do então ministro Moro. Aqui não é primeiro, mas quinto mundo." - (Fonte: Revista Consultor Jurídico - Aqui).
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