domingo, 6 de dezembro de 2020

ECONOMIA SOB GUEDES E A RECEITA PARA O DESASTRE

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Um educador popular expressa a sua opinião acerca da conjuntura econômica e das perspectivas que apontam no horizonte.
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A ilusão de parte da elite brasileira, de que a alternativa liberal representada pelo governo atual é algo viável, levará nosso país e nosso povo a outra década perdida.


Por Marcel Farah

É plenamente possível que uma economia em declínio garanta altas taxas de lucro para parte de setores empresariais. Essa é uma das conclusões do professor José Luis Fiori em artigo recente sobre os rumos da economia brasileira. 
  

Segundo Fiori, a União Soviética, na véspera de sua dissolução em 1990, era um país com taxas sociais e econômicas invejáveis, o segundo maior PIB do mundo, índice de Gini (que mede a desigualdade) de 0,2333, era a segunda maior potência militar e tecnológica global. Este quadro foi destruído pelo governo de Boris Yeltsin e seu choque liberal, aos moldes do que é proposto hoje pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, reduzindo o PIB russo em 50%, e elevando o índice de Gini para 0,4 em 1999.

Fiori explica ainda que este fracasso russo da década de 1990 levou ao governo Putin-Medvedev-Putin nos anos 2000, que retomaram, mesmo que em moldes capitalistas (a Rússia nunca voltou a ser socialista), a capacidade de planejamento estatal e crescimento econômico, a partir de uma política mais centralizada no Estado e menos no mercado.

Putin continua presidente, e a Rússia assumiu novamente, no século 21, status de potência mundial.

Fiori vai além e explica porque é possível comparar a Rússia com o Brasil, países continentais, com alto potencial energético, grandes alvos da cobiça capitalista internacional.

A ilusão, portanto, de parte da elite brasileira, de que a alternativa liberal representada pelo governo atual é algo viável levará nosso país e nosso povo a outra década perdida. No fundo, a disjuntiva do debate é sobre o modelo de desenvolvimento econômico.

Articulações recentes de um movimento intitulado Direitos Já reúnem um amplo campo da centro-esquerda à direita, envolvendo FHC, Ciro Gomes etc. contra Bolsonaro. Eles ensaiam uma alternativa, sem, contudo, discordar da política econômica de Guedes/Bolsonaro, é o sonho de consumo da Rede Globo. Exatamente por isso é um problema.

O movimento Direitos Já fala de direitos, mas tenta se afastar da esquerda e da luta pela liberdade do ex-presidente Lula, como se não fosse um direito garantir o devido processo legal e a obediência à Constituição. Que dirá, defender os direitos trabalhistas e previdenciários. Um movimento, portanto, de direita, que busca demarcar com a extrema-direita.

No fundo, não deixam de considerar o desempenho da Bolsa de Valores como GPS da política econômica, ou seja, é mais do mesmo, mas sem a verborragia bolsonarista. Não nos deixemos enganar.

Para sairmos dessa crise, como explica Fiori, é preciso recuperar o planejamento estatal, e trabalhar para aumentar a arrecadação e não cortar mais. Precisamos garantir proteção social aos segmentos empobrecidos e desempregados, com direitos trabalhistas e previdenciários, valorizando o salário mínimo e não, retirando R$ 1 trilhão da classe trabalhadora aposentada pelos próximos 10 anos como quer a reforma da Previdência.  -  (Fonte: Boletim Carta Maior - Aqui).

(Marcel Farah é educador popular).

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