"A verdade é que o apoio incondicional dos EUA a Israel é algo comum em todas as administrações estadunidenses, sejam Democratas ou Republicanas."
Como Republicanos e Democratas 'encaram' Israel-Palestina?
Por Ramzy Baroud
A natureza polarizada da política estadunidense torna difícil abordar diferenças fundamentais entre os dois principais rivais políticos do país, Republicanos e Democratas. Uma vez que cada lado pretende descreditar o outro em cada oportunidade, informações imparciais sobre as posições vigentes dos dois partidos sobre assuntos internos e externos podem ser difíceis de decifrar.
Sobre a Palestina e Israel, no entanto, ambos os partidos oferecem apoio ilimitado e incondicional bem explicitamente. As discrepâncias nas suas posições são, às vezes, desprezíveis, mesmo os Democratas, ocasionalmente, se apresentando como mais justos e imparciais.
Analisando declarações feitas pelo candidato presidencial Democrata, Joe Biden, sua colega de campanha, Kamala Harris, e pessoas afiliadas à sua campanha, um futuro presidente Biden não pretende reverter quaisquer medidas políticas pró-Israel adotadas pela administração de Donald Trump.
Além disso, uma administração Democrata, como revelado, não irá nem considerar a possibilidade de condicionar apoio militar e financeiro dos EUA a Israel de acordo com o respeito aos direitos humanos palestinos, quem dirá de acordo com a lei internacional como um todo.
“Joe Biden deixou claro... ele não irá interligar a assistência de segurança dos EUA a Israel com decisões políticas feitas por Israel, e eu não poderia concordar mais”, disse Harris - que é promovida entusiasticamente por alguns como “progressista” - em um telefonema em agosto. A ligação foi feita para quem o jornal israelense, Haaretz, chamou de “apoiadores judeus”. O Jerusalem Post e o Times de Israel se referiram a esse eleitorado crucial como “doadores judeus”.
Embora a visão do partido tenha mudado significativamente contra Israel nos últimos anos, o escalão mais alto dos Democratas ainda satisfaz o lobby israelense e seus banqueiros ricos, mesmo se isso significar a continuação da elaboração da política estrangeira dos EUA no Oriente Médio de acordo com os interesses israelenses.
Os Republicanos, por outro lado, cimentaram seu apoio a Israel, mas não mais acerca de assuntos geoestratégicos relacionados à ‘segurança’ de Israel ou aos interesses dos EUA. Os discursos realizados por líderes Republicanos na Convenção Nacional Republicana (RNC), em Charlotte, na Carolina do Norte no mês passado, foram todos direcionados para tranquilizar os ‘sionistas cristãos’, que representam o eleitorado pró-Israel mais poderoso nos EUA. O antigo impacto relativamente mínimo dos sionistas cristãos na formulação direta da política estrangeira dos EUA se transformou, com o passar dos anos, em uma formulação que define os valores principais dos Republicanos.
Independentemente da natureza do discurso pelo qual líderes Republicanos e Democratas expressam seu amor e apoio por Israel, os dois partidos são decididamente ‘pró-Israel’. Temos muitos exemplos recentes que corroboram essa afirmação.
Em 18 de novembro de 2019, Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, anunciou que Washington não consideraria mais os assentamentos judeus como ilegais ou como violação da lei internacional. Essa posição foi depois cimentada no chamado ‘Acordo do Século’ de Trump, publicado em 28 de janeiro.
Os Democratas, no entanto, continuam a entender os assentamentos judeus como, de fato, ilegais. “Essa decisão prejudica a diplomacia, nos leva para mais longe da esperança de uma solução de dois estados e irá somente inflamar ainda mais as tensões na região”, disse a campanha de Joe Biden em uma declaração, em resposta à declaração de Pompeo.
Embora notadamente diferente, é difícil imaginar uma administração Democrata sustentando a posição acima, enquanto simultaneamente evita reverter decisões anteriores feitas pela administração Trump. Só pode ser um ou o outro.
O cinismo é completamente justificado, uma vez que foi descoberto que o establishment Democrata se recusou até a usar a palavra ‘ocupação’, em referência à ocupação da Palestina por Israel, na plataforma do partido divulgada em 15 de julho. De acordo com a revista Foreign Policy, a decisão “seguiu um lobby intenso de última hora de grupos pró-Israel”.
Em 6 de dezembro de 2017, a administração Trump realizou uma das mais ousadas decisões pró-Israel, quando ele formalmente reconheceu Jerusalém como capital de Israel. Alguns meses depois, em 14 de maio de 2018, a embaixada dos EUA foi transferida de Tel Aviv para Jerusalém, uma violação descarada da lei internacional.
A base legal da decisão de Trump foi a Lei da Embaixada de Jerusalém de 1995. Essa lei foi resultado de esforços de dois partidos, unindo Republicanos e Democratas no Congresso. Curiosamente, líderes Democratas, como Joe Biden e John Kerry, foram os principais entusiastas da transferência da embaixada, na época. Somente um senador Democrata, o falecido Robert Byrd, votou contra a lei. Na Câmara, somente 30 de 204 Democratas votaram ‘não’.
Mesmo muitos Democratas tendo rejeitado o período em que Trump implementou a lei, sua crítica era amplamente política, motivada principalmente pelas tentativas Democratas de descreditar Trump. O fato de a campanha de Biden, depois, deixar claro que a decisão não será revertida caso ele se torne presidente, é uma ilustração que salienta a falência moral do establishment Democrata.
A verdade é que o apoio incondicional dos EUA a Israel é algo comum em todas as administrações estadunidenses, sejam Democratas ou Republicanas. No que eles podem diferenciar, no entanto, são seus motivos gerais e público alvo durante a eleição.
Deixando de lado a polarização política e a desinformação, ambos, Democratas e Republicanos, vão para as eleições de novembro com sentimentos pró-Israel fortes, enquanto ignoram completamente a situação difícil dos palestinos ocupados e oprimidos. - (Na Carta Maior - Aqui).
*Publicado originalmente em 'Counter Punch' | Tradução de Isabela Palhares
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