sábado, 1 de fevereiro de 2020

ESTADOS CIVILIZADOS E SEUS NACIONAIS

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"Uma das funções dos Estados nacionais (...) é proteger seus nacionais no exterior e é do protocolo das relações internacionais que assim procedam...".
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O artigo a seguir não versa sobre a angústia dos brasileiros na China em face do Coronavírus, mas  sobre o recém inaugurado processo de deportação, pelos EUA, de imigrantes brasileiros, algemados nos pés e mãos - outro tema dramático, claro.


Estados civilizados protegem seus nacionais 

Por André Araújo 

Há dez anos um jovem americano, de 19 anos, aprontou uma confusão em uma boate de Santa Catarina. Bêbado, começou uma briga, quebrou copos e garrafas e acabou levado preso a uma delegacia na madrugada. Oito horas depois, um vice-cônsul dos EUA, vindo de São Paulo, estava na delegacia para dar assistência a esse desordeiro.
No passado, brasileiros foram presos por tráfico em países da Ásia e nossos consulados deram assistência, mesmo sendo criminosos.
Uma das funções dos Estados nacionais, para o qual existem, é proteger seus nacionais no exterior e é do protocolo das relações internacionais que assim procedam, mesmo sendo no contexto fora da lei no país que os persegue. É uma tradição secular de proteção, não só ao cidadão como individuo, mas ao respeito que outros Estados devem dar ao passaporte e à cidadania do Estado a que pertence o perseguido. É o Estado que requer respeito.
A recém noticiada DEPORTAÇÃO de cidadãos brasileiros dos EUA para Belo Horizonte, algemados nos pés e mãos, mereceu reconhecimento positivo que, no quadro, se configura como um elogio à ação do Governo Trump, mundialmente condenado pelo tratamento desumano que dá a imigrantes que tentam a sorte nos EUA, do mesmo grupo humano onde estava o avô alemão do Presidente Trump, cuja primeira ocupação nos EUA foi ser dono de bordel.
Brasil e Estados Unidos foram construídos por grandes levas de imigrantes bem recebidos. Presidentes dos dois países foram filhos e netos de imigrantes, como Juscelino, Geisel e Médici no Brasil, Obama e Trump nos EUA. É uma indignidade do governo Trump (a política de) MAUS TRATOS a imigrantes. Mesmo em tempos recentes, a imigração mexicana foi essencial para os EUA no setor de serviços que americanos não fazem, os mexicanos são uma comunidade pacífica e trabalhadora, assim como os bolivianos no Brasil.
Desprezar e maltratar imigrantes é um péssimo sinal civilizatório do governo Trump e o Brasil NÃO pode passar pano nessa política de agressão e desumanidade que nunca praticou. Recentemente estamos dando boa acolhida a imigrantes haitianos e venezuelanos, uma tradição brasileira mesmo em tempos difíceis no Brasil. Aceitar a política de Trump equivale a elogiar essa política.
Os imigrantes brasileiros deportados, mesmo que ilegais nos EUA, e essa condição de ilegal hoje é bastante discutível dentro dos EUA, o governo Trump força a barra e desconhece a legislação protetiva de governos anteriores, como no caso dos DREAMERS. Os imigrantes brasileiros tinham PASSAPORTE BRASILEIRO e esse documento é uma representação de um Governo, ele é emitido por um Governo que requer a outros governos RESPEITO ao portador do passaporte.
Quando se deporta com humilhação um portador de passaporte brasileiro, é o BRASIL QUE ESTÁ SENDO HUMILHADO e desconhece-se até agora alguma NOTA do Itamaraty protestando quanto ao fato de esses deportados viajarem algemados nas mãos e pés; nada justifica essa afronta.
Esses brasileiros deportados NÃO eram criminosos. Cidadãos brasileiros que, sem encontrar emprego no Brasil, no desespero, tentam encontrar trabalho nos EUA, país para onde a imigração legal nestes tempos é quase impossível, são trabalhadores tentando a mesma sorte que outros, antes do governo Trump, tentaram e conseguiram. Há uma grande comunidade de trabalhadores brasileiros nos EUA, basicamente no setor de construção civil, os brasileiros dominam o setor de carpintaria para construção em Washington e arredores, é uma grande comunidade COM BOA REPUTAÇÃO de trabalho e comportamento.
Ao deportar COM DESUMANIDADE, algemados nos pés e mãos, o governo dos EUA desrespeita o Brasil, o mesmo País que ISENTOU DE VISTO cidadãos americanos que entrem no Brasil, sem que o governo dos EUA tenha reciprocamente dado igual tratamento a brasileiros; estamos rastejando de graça.
Há uma espécie de ESCRÚPULO, de DIGNIDADE que qualquer País tem que assumir quando seus nacionais são desrespeitados. Em 2013 a Espanha barrou 6.803 brasileiros que desembarcaram no aeroporto de Barajas em Madrid. O Governo brasileiro PROTESTOU FORTEMENTE, o Consulado brasileiro em Madrid deu toda a assistência possível a esses deportados, que foram retornados em voos de carreira, como passageiros comuns. E, PARA DEFENDER A DIGNIDADE NACIONAL, nesse mesmo ano se barrou um grupo de turistas espanhóis que desembarcaram em Salvador, negando ingresso, sem dar explicações, ato considerado hostil pela Espanha, mas que esta entendeu como resposta aos excessos cometidos pela imigração em Madri contra brasileiros e da mesma forma como foram barrados brasileiros em Barajas, sem explicações. A partir desse gesto do Brasil, diminuiu CONSIDERAVELMENTE a barreira para brasileiros em Barajas.
Em diplomacia TUDO É GESTO E FORMA, e um Estado digno desse nome precisa fazer respeitar seus cidadãos com atitudes.
É lamentável a atual fase do Brasil apequenado, País de quarta categoria, aceitando que seus cidadãos trabalhadores sejam humilhados em deportações sem reagir e, ao contrário, achando normal o que faz o atual Governo americano, sem um mísero protesto, mesmo que formal, depois do Brasil ceder sem compensações a base de Alcântara, a entrada de etanol de milho sem tarifa, uma cota extra de trigo encalhado, isenção de vistos para americanos e só mais não deu porque os americanos não pediram, esquecem até que o Brasil existe, tal a inferioridade em que se colocou o País.
Só falta colocar no Brasil guichês do INS, a imigração americana, como existe no Canadá e nas Bahamas. Aliás, o Governo americano já sugeriu a instalação de inspetores da imigração e da alfândega americana nos aeroportos de Guarulhos e Galeão, isso foi no governo Dilma, se repetirem a sugestão hoje seria provavelmente aceita com entusiasmo.
Lembrando que a isenção de vistos para americanos virem ao Brasil, sem reciprocidade, foi implantada sob a desculpa de que isso AUMENTARIA O TURISMO DE AMERICANOS PARA O BRASIL. Não aconteceu. Ninguém vai a um País para fazer turismo por não ter que tirar visto, é uma grande bobagem, a razão foi a vontade de ser subserviente. O Brasil nos últimos 10 anos está em 3º, 4º ou 5º lugar em viagens de turistas brasileiros aos EUA, um grande negócio para a Flórida. Os brasileiros, além de gastar em viagem, gostam de comprar e deixam muito dinheiro nos EUA, algo que eles respeitam, mas o Brasil não exige nada em troca, nem respeito para seus cidadãos, como se viu nessa deportação.
Um Estado que não se faz respeitar nem precisaria existir, não tem função, melhor ser colônia de outro País que pelo menos defende seu passaporte.  -  (Fonte: Aqui).

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