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"De repente, Guedes dá duas declarações controvertidas: a favor do AI-5 e a favor da desvalorização do real. / Imediatamente há um salto na cotação da moeda, com perdedores e ganhadores. Lamento corrigir os analistas que interpretaram a alta como reação do mercado às ameaças contra a democracia. A alta foi efeito direto do anuncio de Guedes, de que o BC não iria intervir no mercado. Trata-se de um mercado bilionário, no qual pequenas oscilações da moeda produzem grandes lucros – ou prejuízos. / No momento seguinte, o Banco Central passou a vender dólares para conter a alta. Portanto, as declarações de Guedes tiveram o efeito de permitir um salto pontual nas cotações do dólar, até serem desmentidas pela própria atuação do BC."
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(Adendo - às 16h: O deputado "Ivan Valente pedirá explicações a Guedes sobre suspeitas de manipulação do mercado" - Aqui).
I -
A representação junto ao Tribunal de Contas da União do subprocurador Lucas Rocha Furtado, do Ministério Público de Contas, sobre as declarações do Ministro da Economia Paulo Guedes, de que o governo não iria conter a alta de dólar, entra pela primeira vez em um dos nervos expostos da corrupção financeira: o do insider information (informação privilegiada) na área do Banco Central.
É um estratagema que custa mais ao país do que corrupções de empreiteiras em obras públicas e foi praticado por muitos governos:
- por Gustavo Franco, no governo FHC, quando tentou implementar política de recompra de títulos da dívida externa e vazou a informação antecipadamente para especuladores;
- No caso do Banco Vetor, no governo FHC, que se jactava de acertar todas as cotações nos leilões de taxas do Banco Central;
- Nas vendas de títulos públicos no governo FHC;
- Nas parcerias de Antonio Palocci com o BTG, no governo Lula.
O jogo é simples.Pega-se um ativo sensível às declarações, o câmbio. Há um jogo de braços em torno da cotação de equilíbrio, levando em conta os seguintes fatores:
- O fluxo de entrada e saída de moedas.
- Os limites de alta suportados pelo Banco Central, já que desvalorização excessiva pode impactar a inflação.
- Analise do quadro político interno.
Tudo isso leva o dólar a se fixar em determinados limites. De repente, Guedes dá duas declarações controvertidas: a favor do AI-5 e a favor da desvalorização do real.
Imediatamente há um salto na cotação da moeda, com perdedores e ganhadores. Lamento corrigir os analistas que interpretaram a alta como reação do mercado às ameaças contra a democracia. A alta foi efeito direto do anuncio de Guedes, de que o BC não iria intervir no mercado. Trata-se de um mercado bilionário, no qual pequenas oscilações da moeda produzem grandes lucros – ou prejuízos.
No momento seguinte, o Banco Central passou a vender dólares para conter a alta. Portanto, as declarações de Guedes tiveram o efeito de permitir um salto pontual nas cotações do dólar, até serem desmentidas pela própria atuação do BC.
Quem sabia da declaração comprou dólares um pouco antes e vendeu logo em seguida, assim que houve o salto nas cotações. Portanto, as investigações são bastante simples: basta conferir quem adquiriu dólares de forma expressiva antes das declarações de Guedes e vendeu imediatamente ao BC.
Trata-se de um caso mais grave do que o insider information tradicional, porque a intenção explícita de Guedes foi apenas a de provocar um salto pontual nas cotações. - (Aqui).
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Erro na balança comercial reforça suspeita de manipulação de câmbio
Por Luis Nassif
Há novos indícios de que as declarações de Paulo Guedes em Washington, sobre o novo patamar do dólar, visaram gerar um movimento especulativo de alta do dólar.
Há novos indícios de que as declarações de Paulo Guedes em Washington, sobre o novo patamar do dólar, visaram gerar um movimento especulativo de alta do dólar.
Leia aqui nota que publiquei mais cedo. (Texto acima).
O colega Fernando Brito chama a atenção para a manobra adicional de elevação do dólar.
No dia 13 de novembro, o dólar já vinha pressionado devido à situação internacional, aos movimentos populares na América Latina e aos resultados nas transações correntes – afetados pela baixa entrada de dólares nos leilões do pré-sal. Mesmo assim, as expectativas eram de que o câmbio se apreciasse nas semanas seguintes.
Em suma, um quadro de volatilidade propício para grandes tacadas especulativas, mas com o mercado levemente vendedor.
Em tempos de raios e trovoadas, o papel da autoridade monetária é a de manter a calma. É nesse quadro, que Paulo Guedes e equipe entram em campo.
No dia 18 de novembro, a Secretaria de Comércio Exterior anunciou um déficit comercial de US$ 492 milhões na terceira semana de novembro. Com o déficit previsto na balança comercial, o Banco Central estimou um déficit em transações correntes em novembro da ordem de US$ 5,8 bilhões.
No dia 23 de novembro, alavancados pelas notícias do déficit em transações correntes, o dólar bateu em R$ 4,21. Em vez de acalmar o mercado, no dia 26, uma segunda-feira, Paulo Guedes declarou um liberou geral para o câmbio: “Quando você tem politica fiscal mais forte e juro mais baixo, o cambio de equilíbrio é mais alto. Então que o câmbio esteja em torno de R$ 4, R$ 4 e pouco, subindo, é normal quando a gente troca o ‘mix’”, afirmou ele, depois de um evento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “O Brasil é agora um país de juro mas baixo e câmbio um pouco mais alto”. No dia 28 de outubro o dólar estava em R$ 3,9919. No dia 27 de novembro, bateu na máxima de R$ 4,2586, uma alta de 6,7%.
No dia 28 de novembro, começa a reversão. O Banco Central entra no mercado vendendo US$ 1 bilhão. Ao mesmo tempo, a Secretaria de Comércio Exterior admite que cometeu um erro gigante, de 40% nos resultados das exportações em novembro – que passaram de US$ 9,7 bilhões para US$ 13,5 bilhões, eliminando o déficit em transações correntes.
O dólar acalmou. Houve realização de lucros dos que compraram no período pré-declarações de Guedes.
É mais um elemento para a Procuradoria de Contas investigar esse episódio inédito, de uso de fake News com insider information. - (Aqui).
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