terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

VINHO VELHO EM GARRAFA NOVA


"Joseph Goebbels foi chefe da maior organização nazista na cidade de Berlim com 28 anos. Aos 36, ele se tornou ministro-chefe de comunicação da Alemanha nazista. Heinrich Himmler se tornou chefe supremo da polícia política nazista (a SS) com 29 anos. Na Itália fascista, Ítalo Balbo, se tornou ministro da aeronáutica com 33 anos, e “Marechal do Ar”, o maior posto da aeronáutica italiana, com 37. Com apoio de Hitler, Dino Grandi, uma das lideranças fascistas da época, se tornou ministro da justiça da Itália de Mussolini com apenas 34 anos.
O hino nacional italiano da época de Mussolini era a “Giovinezza” (Juventude) e dizia:
“Finalmente o triunfo do ideal
Pelo qual nós lutamos tanto
A fraternidade nacional
Da civilização italiana

Juventude, Juventude
Fonte da beleza
Na salvação do fascismo
A nossa liberdade”
De uma maneira geral, havia nos regimes nazistas e fascista uma histeria pelo “novo”. Tudo, de Mozart e Beethoven a Schiller e Marx, tudo o que não representasse o “novo” não deveria ser idolatrado. O rejuvenescimento em todos os cargos de administração pública, e mesmo no exército, era visível. O velho perecia nos cantos, nas marchas e nos discursos alvoroçados do nazismo e do fascismo. Um "novo mundo se erguia sob as ruínas do velho", e com este discurso Hitler prometia um Reich de 1000 anos e Mussolini afirmava que a Itália fascista seria o modelo para o mundo nos séculos vindouros.
Numa das muitas contradições do nazi-fascismo, a glorificação do “novo” contrastava gritantemente com as práticas em luta contra a modernidade. O mal-estar do final do século XIX, com crises econômicas quase cíclicas, guerras e o questionamento de todo o arcabouço civilizacional da Europa da época, encontravam uma resposta muito forte no materialismo de  Marx e Engels.
Ao negarem a modernidade, os fascistas e nazistas denunciavam o materialismo como filosofia, a revolução social como objetivo e a quebra das amarras sociais como problema quotidiano. O “novo”, na concepção dos regimes de Hitler e Mussolini (e muitos outros pelo mundo afora), não aceitava a emancipação feminina nem a miscigenação “racial”. Na prática, fascistas e nazistas falavam em “novo”, atacavam a “corrupção” e se declaravam “arautos do povo”, exatamente porque não toleravam as rupturas sociais e econômicas, inerentes ao próprio avançar das sociedades capitalistas.
Velhos e decrépitos por dentro, a exaltarem corpos jovens, beleza juvenil e a força de guerra da juventude.
Davi Alcolumbre se tornou presidente do legislativo brasileiro após vergonhosas manobras legislativas. Em meio à histeria do final de semana no Senado, os membros recém-eleitos faziam coro esganiçado para que tudo na casa fosse subvertido. Pediam que os mais jovens tivessem precedência, repetiam à exaustão que representavam “o povo” cansado de “corrupção”. Diziam-se os jovens eleitos pelo povo para fazer um “novo Brasil”. A realidade, porém, é que todos ali representam os velhos pensamentos, as velhas ordens sociais e os velhos poderes. Agora, sem o refino intelectual e a experiência do uso do poder.
Toscos conservadores, apedeutas da sociedade que os elegeu.
E para que não pairem dúvidas a respeito do quão “novos” eles acham que são, Alcolumbre desenha, nas mesmas cores do fascismo:
“Esta é a hora em que cabe ao Senado Federal a legítima representação de um povo, a hora em que podemos nos libertar das amarras que nos prendem a formas ultrapassadas e injustas da velha política; hora de construir um novo cenário e assumirmos um compromisso com a renovação do nosso país e desta Casa.”
Alcolumbre tem só 41 anos e já é processado por crime eleitoral. Tem 41 anos e já votou para salvar Aécio Neves, as velhas ordens e as velhas práticas.
É o mesmo “novo” nazi-fascista. Agora, com cheiro de goiaba."



(De Fernando Horta, post intitulado "Vinho velho em garrafa nova", publicado no GGN.
Fernando Horta é historiador).

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