O hino nacional italiano da época de Mussolini era a “Giovinezza” (Juventude) e dizia:
“Finalmente o triunfo do ideal
Pelo qual nós lutamos tanto
A fraternidade nacional
Da civilização italiana
Juventude, Juventude
Fonte da beleza
Na salvação do fascismo
A nossa liberdade”
De uma maneira geral, havia nos regimes nazistas e fascista uma histeria pelo “novo”. Tudo, de Mozart e Beethoven a Schiller e Marx, tudo o que não representasse o “novo” não deveria ser idolatrado. O rejuvenescimento em todos os cargos de administração pública, e mesmo no exército, era visível. O velho perecia nos cantos, nas marchas e nos discursos alvoroçados do nazismo e do fascismo. Um "novo mundo se erguia sob as ruínas do velho", e com este discurso Hitler prometia um Reich de 1000 anos e Mussolini afirmava que a Itália fascista seria o modelo para o mundo nos séculos vindouros.
Numa das muitas contradições do nazi-fascismo, a glorificação do “novo” contrastava gritantemente com as práticas em luta contra a modernidade. O mal-estar do final do século XIX, com crises econômicas quase cíclicas, guerras e o questionamento de todo o arcabouço civilizacional da Europa da época, encontravam uma resposta muito forte no materialismo de Marx e Engels.
Ao negarem a modernidade, os fascistas e nazistas denunciavam o materialismo como filosofia, a revolução social como objetivo e a quebra das amarras sociais como problema quotidiano. O “novo”, na concepção dos regimes de Hitler e Mussolini (e muitos outros pelo mundo afora), não aceitava a emancipação feminina nem a miscigenação “racial”. Na prática, fascistas e nazistas falavam em “novo”, atacavam a “corrupção” e se declaravam “arautos do povo”, exatamente porque não toleravam as rupturas sociais e econômicas, inerentes ao próprio avançar das sociedades capitalistas.
Velhos e decrépitos por dentro, a exaltarem corpos jovens, beleza juvenil e a força de guerra da juventude.
Davi Alcolumbre se tornou presidente do legislativo brasileiro após vergonhosas manobras legislativas. Em meio à histeria do final de semana no Senado, os membros recém-eleitos faziam coro esganiçado para que tudo na casa fosse subvertido. Pediam que os mais jovens tivessem precedência, repetiam à exaustão que representavam “o povo” cansado de “corrupção”. Diziam-se os jovens eleitos pelo povo para fazer um “novo Brasil”. A realidade, porém, é que todos ali representam os velhos pensamentos, as velhas ordens sociais e os velhos poderes. Agora, sem o refino intelectual e a experiência do uso do poder.
Toscos conservadores, apedeutas da sociedade que os elegeu.
E para que não pairem dúvidas a respeito do quão “novos” eles acham que são, Alcolumbre desenha, nas mesmas cores do fascismo:
“Esta é a hora em que cabe ao Senado Federal a legítima representação de um povo, a hora em que podemos nos libertar das amarras que nos prendem a formas ultrapassadas e injustas da velha política; hora de construir um novo cenário e assumirmos um compromisso com a renovação do nosso país e desta Casa.”
Alcolumbre tem só 41 anos e já é processado por crime eleitoral. Tem 41 anos e já votou para salvar Aécio Neves, as velhas ordens e as velhas práticas.
É o mesmo “novo” nazi-fascista. Agora, com cheiro de goiaba."
(De Fernando Horta, post intitulado "Vinho velho em garrafa nova", publicado no GGN.
Fernando Horta é historiador).
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