A lama é deplorável, mas o lucro é líquido!
(Câmara dos Deputados, 14.02.19. Um minuto pelas vítimas. Sentado: o presidente)
Deputados criticam postura do presidente da Vale na Câmara: desrespeito
Por Cristiane Sampaio (No Brasil de Fato)
O depoimento do presidente da mineradora Vale, Fabio Schvartsman, que esteve na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (14) para uma audiência pública na Comissão Externa de Brumadinho (MG), gerou revolta entre parlamentares.
Durante seis horas, Schvartsman deu sua versão sobre o caso e respondeu perguntas de deputados do colegiado. O executivo afirmou que a parte operacional de acompanhamento das barragens é feita por "um sistema de delegação", e que "não é necessária uma burocracia" para decidir se é preciso agir rapidamente diante de um problema.
Schvartsman acrescentou que, no caso de Brumadinho, os gestores locais da empresa têm autonomia para tomar decisões "quando e se acharem que há perigo iminente sobre as barragens". Na sequência, negou que haja envolvimento de outros níveis da organização nesse processo e reforçou que a mineradora "não esperava" um rompimento em Brumadinho – o que vem sendo rechaçado por órgãos públicos, especialistas e segmentos populares que acompanham o caso.
"Passando por todos os processos de monitoramento, com alta repetição de monitoramento, de tal forma, nós tivemos a convicção de que nada aconteceria com ela", disse Schvartsman, após mencionar que a Vale "continua sem saber os motivos" do rompimento.
Um flagrante registrado pelo fotógrafo Lula Marques mostrou que, quando os participantes da audiência fizeram um minuto de silêncio em homenagem às vítimas de Brumadinho, o presidente da Vale foi o único a não se levantar. O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) compartilhou a imagem em sua conta no Twitter.
Reações
Em entrevista ao Brasil de Fato, a deputada Áurea Carolina (PSOL-MG) foi taxativa: "É um depoimento em defesa da própria empresa. A fala inicial dele de que a Vale tinha convicção de que nada aconteceria é afrontosa, um desrespeito muito grande. Não dá mais pra ficar dizendo isso. Além disso, a gente não viu muitos gestos concretos com especificação das medidas que serão tomadas pra reparação e assistência às populações atingidas. Tem uma sinalização muito ampla, nada concreto", criticou.
O executivo afirmou também que a Vale seria "uma joia" e, por isso, não poderia ser "condenada" pelo rompimento da barragem – "por maior que tenha sido a tragédia". Essa declaração, especificamente, gerou irritação entre os parlamentares do campo popular.
"Eu acho que isso é uma certa ameaça, porque a Vale é muito poderosa, tem muito poder econômico, pode deixar de minerar e prejudicar o estado [de Minas Gerais]. Então, eu senti como uma ameaça. A resposta que nós temos que dar é a formação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que vai ser a única forma de responsabilizar a Vale. Eles não vão ceder a nada", afirmou Rogério Correia (PT-MG).
Na quarta-feira (13), o petista e outros deputados da bancada de Minas articularam uma lista de assinaturas para solicitar a criação de uma CPMI para apurar o caso. O pedido aguarda despacho do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Apesar de ter evitado críticas frontais, o presidente da Comissão Externa de Brumadinho, deputado Zé Silva (Solidaridade-MG), também alfinetou Schvartsman pela postura durante a oitiva.
"Para nós, está muito claro: se houver responsáveis, que [isso] será compartilhado entre a Vale, o governo federal, com seus órgãos, e o governo estadual [de Minas]. Mas ficou muito claro que, aqui, parece que não tem nenhum responsável", disse.
Schvartsman chegou ao local e saiu sem falar com a imprensa, protegido por forte esquema de segurança. O pedido de comparecimento à Câmara faz parte do cronograma de trabalho da Comissão Externa de Brumadinho, criada no final do mês de janeiro, com o objetivo de acompanhar as investigações sobre o rompimento da barragem, ocorrido no último dia 25.
De acordo com o relator do colegiado, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o parecer deve ser apresentado em meados de março. O crime socioambiental deixou, até agora, 166 pessoas mortas. Há outras 155 desaparecidas.
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