sexta-feira, 2 de novembro de 2018

O VIRTUAL PODE TUDO?

O virtual pode muito, mas não tudo. Ou não? A Justiça Eleitoral brasileira poderá - espera-se que brevemente - dirimir eventuais dúvidas.
(GGN).
O virtual venceu a eleição 
Por Alexandre Tambelli (No GGN)
O que nos movimenta e orienta hoje está em uma pequena tela, onde de cabeça baixa olhamos o mundo para dentro, para dentro, para dentro, cada vez mais para dentro.
Ao nosso redor outro infinito é dominado por quem inventou a pequena tela que nos absorve por inteiro e por completo. 
O tamanho da tela nos absorve a tão pequeno espaço infinito, mas, onde não cabe uma frase inteira, só microfrases e imagens, onde os detalhes precisam desaparecer, porque não cabem.
Desde o smartphone tudo virou preguiça mental, se apequenou na manchete, onde a letra ainda é visível, no tweet, onde só as poucas palavras cabem na tela... E tudo virou a fotografia das poucas palavras, que não são a síntese do poeta ou do escritor de Literatura, que não são o Poetrix, o Haicai ou a Aldravia, mas, a reprodução do mundo querido por aqueles que inventaram a tela pequena que nos faz abaixar a cabeça ao do lado, a não ver o sol nascer nem as nuvens nem a chuva que cai nem a lua e as estrelas no céu.
Antes, na tela grande cabiam as frases, cabiam os dedos, a fonte legível, as ideias completas, a não-síntese, a possibilidade de pensar além, a possibilidade de ler sem a vista cansar, o mundo não era o instantâneo, que chega pronto e chega para pegar ou largar, e chega para aderir ou repelir.
Hoje, venceu a tela pequena, o escuro de uma sala quase vazia e uma webcam, onde, dela, se traz ao ouvinte toda a verdade do mundo, ou, quem sabe, um simples click no áudio do ZAP a nos proteger da "mentira" ou nos informar tudo sem precisar as coisas, precisando apenas clicar.
A webcam, o meme, o tweet venceram a realidade e nos legaram um Presidente que não precisa fazer comício, que não precisa juntar gente, tocar, cativar, precisa apenas associar-se à tela pequena e as suas ondas, as propostas de mundo dos que a criaram, a nossa individualidade, a meritocracia dos tempos solitários, dos homens-só.
Transeuntes do rosto caído, da melancolia do namoro (ao candidato) que começa e termina em um click (like e dislike), do voto que começa e termina em um click, que dura até a próxima onda, até outro programado substituir o que nos levou até ali e nos levará além dali para não sabemos onde.
O virtual venceu a Eleição.

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