Por Carlos Motta (No GGN)
Em tempo de eleição, o Brasil volta a ser tema de debates sobre o seu potencial, seu futuro, sobre a forma de sociedade ideal para seu desenvolvimento. Pobre samba meu Por Carlos Motta
Uma coisa, porém, é certa: parcela considerável da população gostaria que o Brasil fosse um imenso Porto Rico, ou seja, quase um Estado norte-americano, uma colônia dos Estados Unidos, enfim.
É impressionante a adoração que esse povo tem dos EUA, de tudo o que vem de lá, não importa o que seja, material ou espiritual, concreto ou abstrato.
É claro que ainda há brasileiros que resistem a isso e não se rendem ao soft power americano.
Na música popular, por exemplo, não foram poucos os artistas que denunciaram esse processo de aculturação. Para o bem da nação, essas obras permanecem vivas até hoje, como o caso de duas músicas ainda bastante tocadas e cantadas pelo país afora, "Chiclete com Banana" (Almira Castilho/Gordurinha) e "Influência do Jazz" (Carlos Lyra). (Para curtir os vídeos, clique no GGN, no alto).
"Chiclete com Banana" foi um estrondoso sucesso na voz do grande Jackson do Pandeiro, e "Influência do Jazz", nascida em plena efervescência da bossa nova, movimento claramente inspirado nas coisas do grande irmão do norte, integra o repertório de vários dos mais cultuados músicos brasileiros.
Cada qual, a seu modo, é uma peça de resistência contra a invasão alienígena.
Chiclete com Banana
Eu só boto bebop no meu samba
Quando Tio Sam tocar um tamborim
Quando ele pegar
No pandeiro e no zabumba.
Quando ele aprender
Que o samba não é rumba.
Aí eu vou misturar
Miami com Copacabana.
Chiclete eu misturo com banana,
E o meu samba vai ficar assim:
Tururururururi bop-bebop-bebop
Tururururururi bop-bebop-bebop
Tururururururi bop-bebop-bebop
Eu quero ver a confusão
Tururururururi bop-bebop-bebop
Tururururururi bop-bebop-bebop
Tururururururi bop-bebop-bebop
Olha aí, o samba-rock, meu irmão
É, mas em compensação,
Eu quero ver um boogie-woogie
De pandeiro e violão.
Eu quero ver o Tio Sam
De frigideira
Numa batucada brasileira.
Influência do Jazz
Pobre samba meu
Foi se misturando se modernizando, e se perdeu
E o rebolado cadê?, não tem mais
Cadê o tal gingado que mexe com a gente
Coitado do meu samba mudou de repente
Influência do jazz
Quase que morreu
E acaba morrendo, está quase morrendo, não percebeu
Que o samba balança de um lado pro outro
O jazz é diferente, pra frente pra trás
E o samba meio morto ficou meio torto
Influência do jazz
No afro-cubano, vai complicando
Vai pelo cano, vai
Vai entortando, vai sem descanso
Vai, sai, cai... no balanço!
Pobre samba meu
Volta lá pro morro e pede socorro onde nasceu
Pra não ser um samba com notas demais
Não ser um samba torto pra frente pra trás
Vai ter que se virar pra poder se livrar
Da influência do jazz
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