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"É imperioso que o Brasil se abra para o mundo", "Os EUA estão no caminho errado ao se fecharem para o mundo, nós é que estamos certos", "A China é outra equivocada!", "A França de Macron chegou ao absurdo de reestatizar empresas; onde já se viu tamanho equívoco?!", "A tese do Estado Forte só trouxe a ruína para o Brasil", "O Estado Mínimo e o Livre Mercado nos levarão à glória", "Eles não lembram que, além de nos revelarmos solidários com o mundo ao compartilhar nossas riquezas, estamos arrecadando dólares, euros e yuans para cobrir nossas necessidades de custeio", etc., etc., etc.
Que desculpas irão usar para entregar o Aquífero Guarani?
Por José Álvaro Cardoso
Segundo o Boletim Emprego em Pauta, do DIEESE, de julho/2018, com a crise econômica aumentou o número de brasileiros trabalhando por conta própria. Em 2017, cerca de 23 milhões de trabalhadores estavam nessa condição e, desses, 5 milhões tinham se tornado contra própria há menos de dois anos. Esta análise foi elaborada com base nos dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo o DIEESE, os que ingressaram na condição de trabalhador por conta própria, depois da crise, apresentam rendimento 33% menor do que aqueles que estavam há mais tempo nesse tipo de ocupação. Conforme o Boletim, o trabalhador que se tornou conta própria após o aprofundamento da crise, ingressou em trabalhos com menor proteção social, com menos qualificação e com remuneração mais baixa.
Há um dramático processo de piora do mercado de trabalho causado pela crise econômica, mas também por ações deliberadas para reduzir o custo da força de trabalho no Brasil, aliviando assim os impactos da crise para o capital. Ao mesmo tempo em que pioram dramaticamente os indicadores do mercado de trabalho, os de pobreza e extrema pobreza, também se agravam rapidamente. Um levantamento da ActionAid Brasil (organização internacional que luta por igualdade e erradicação da pobreza) indica que entre 2015 e 2017 o país voltou ao patamar de 12 anos atrás no referente ao número de pessoas em situação de extrema pobreza. O Brasil, que havia saído do Mapa da Fome da ONU, em 2014, num dos momentos mais importantes da história do combate à pobreza da história do Brasil, com o golpe, voltou a abandonar as políticas de proteção social e deverá vergonhosamente retornar ao citado Mapa.
Passados já mais de dois anos de desenvolvimento do golpe, ficou evidente para uma parcela significativa da população que os que tomaram o poder de assalto o fizeram para entregar as riquezas, destruir direitos e aumentar o nível de exploração dos trabalhadores. É certo que, não fosse este um processo golpista, qual país abriria mão da exploração de uma imensa reserva de petróleo comprovado, pronto para iniciar a produção, trazendo imensa divisas para o país? Que governo nacional ao invés de adotar postura soberana, se apressaria em realizar mais do que a agenda cobiçada pelas multinacionais do petróleo, que ajudaram a financiar o golpe? Agenda esta que é bem conhecida: se apropriar das reservas de petróleo brasileiro ao menor custo possível e garantir seus lucros e o suprimento de energia para os seus respectivos países.
Que governo, senão aquele que está a serviço de uma potência estrangeira, iria tentar vender o sistema elétrico do país, estratégico sob todos os pontos de vistas, e que é um verdadeiro tesouro como fonte de receita, que só pode dar prejuízo mediante corrupção ou grande incompetência gerencial? Que governo tentaria torrar um sistema que vale R$ 370 bilhões, como a Eletrobrás, por menos de 10% do seu valor? Que governo deixaria de usar o seu poder de veto para impedir que uma das mais importantes empresas brasileiras, fundamental para o sistema de defesa do país, como a Embraer, se transforme numa divisão da Boeing, a gigante multinacional do setor aeroespacial, senão um governo inimigo do Brasil?
Talvez, no entanto, nada consiga revelar a com mais nitidez a natureza do governo Temer do que os fortes, e recorrentes, indícios de que os golpistas pensam em entregar às multinacionais a maior reserva subterrânea de água doce do mundo, o Aquífero Guarani. Que argumentos irão usar para doar um dos maiores sistemas aquíferos do mundo, com área total de 1,2 milhão de km²? Por mais confusos que parte dos brasileiros se encontre neste momento, a pergunta que podem fazer é: sob que alegação o país vai entregar de mão beijada mais de um milhão de quilômetros quadrados de água doce às multinacionais dos países ricos? Ainda mais considerando o fato de que, no ritmo atual de consumo, as reservas hídricas do globo reduzirão 40% até 2030, o que deverá provocar uma “guerra pela água” em todo o mundo? Vai ser difícil alegar que está entregando o Aquífero porque ele está dando “prejuízo”, ou é porque um sistema “ineficiente”.
Tudo isso fica ainda mais complicado se for levado em conta que os EUA e a Europa enfrentam grave problema de falta de água, em função da contaminação da maioria dos rios dos EUA e do Velho Continente. Os EUA, que coordenam o golpe, sabem que não há nação que consiga manter-se dominante sem água potável em abundância, por isso também seu interesse em intensificar o domínio político e militar na região, além do acesso à água existente em abundância. Certamente não é por acaso que a questão do assalto às riquezas nacionais está no centro das questões políticas e econômicas no Brasil dos dias atuais. - (Fonte: Carta Maior - AQUI).
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(José Álvaro Cardoso é economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina).
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