sexta-feira, 4 de maio de 2018

O CERCO AO JORNALISMO INVESTIGATIVO


"Veja tachou Lula de chefe de organização criminosa e outros adjetivos. Foi absolvida, em nome da liberdade de imprensa.

Todos os abusos da Lava Jato são tolerados, em nome do utilitarismo da luta anticorrupção. Os jornais conseguiram blindar de tal forma a operação, que hoje em dia há procuradores afrontando o próprio Supremo Tribunal Federal.

A única resistência ao poder avassalador da Lava Jato vem dos blogs jornalísticos. Foi graças a eles que houve uma parada na milionária indústria da delação premiada, a ponto de procuradores abrirem mão da delação de Antônio Palocci, e montarem uma gambiarra, transferindo para a Polícia Federal, depois de reportagens investigativas mostrando a pouca transparência da relação Sérgio Moro – procuradores – advogados de delatores.

A forma da Lava Jato calar os dissidentes é através de processos judiciais, todos correndo nas varas de Curitiba. No momento, recebi a terceira condenação em três processos abertos por três delegados da Lava Jato, cada qual resultando em condenações de R$ 10 mil para cima.

Ao mesmo tempo, criou-se uma lucrativa indústria da fotografia no Judiciário paranaense. Abrem-se ações pelo uso de fotos da Lava Jato por blogs. As fotos originais não devem ter custado mais de R$ 500 reais para o veículo original. No caso de reprodução, as condenações chegam a R$ 10 mil, invocando um suposto “dano moral” ao fotógrafo.

Aliás, é demonstração cabal que o risco maior de abusos não está no Ministério Público Federal, mas nos grupos que politizaram a Polícia Federal. E não apenas por lá.

No Rio de Janeiro, um desembargador me condenou a R$ 20 mil, por difamar a imagem de Eduardo Cunha. Em Brasília, correm três processos de Gilmar Mendes, por difamação. Em São Paulo, outros cinco da revista Veja.

Quando Carlos Ayres Britto, o então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) criou uma comissão de liberdade de imprensa, no âmbito do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), fui até ele explicando que a maior ameaça das ações judiciais era contra o jornalismo independente, sem a estrutura jurídica e os recursos das grandes organizações. De nada adiantou, como de nada adiantaram as promessas da então presidente Cármen Lúcia de abrir uma representação no tal conselho para os blogs jornalísticos que fazem o contraponto.

Foi em vão. Sua intenção não era defender a liberdade de expressão, mas fazer bonito para os jornalões.

Esses blogs são fundamentais para a democracia, pois exercem uma fiscalização em áreas não cobertas pela mídia tradicional. Mais, fazem o contraponto narrativo a notícias divulgadas pela própria mídia, abrindo o leque de interpretações de fatos, diversidade essencial para a consolidação da democracia. Não seria exagero considerar que alguns desses blogs e portais praticam o melhor jornalismo investigativo da atualidade. Vide as descobertas sobre a própria Lava Jato, território considerado tabu pela mídia.

Se liberdade de imprensa fosse um valor maior, a própria velha mídia estaria saindo em defesa do jornalismo praticado pelos blogs. Mas valores, nessa terra selvagem, são meros instrumentos para defesa de interesses de grupos. Não houve um pio quando a primeira medida do governo Michel Temer foi a de um veto ideológico na publicidade das empresas públicas.

E a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo)? Ora, a Abraji."






(De Luis Nassif, post intitulado "No dia do jornalista, a liberdade de imprensa escamoteada", publicado no Jornal GGN - aqui.

Nem sei o que dizer, diante desse quadro trágico. Jornalismo investigativo? No Brasil? Quantos jornalões alguém viu por aí a investigar Tacla Durán, interpelando-o, checando com profundidade as denúncias acachapantes que ele ofereceu, p. ex., a quem se dispôs a ir ouvi-lo na Espanha - como dois deputados do PT que até lá se deslocaram -, acusações essas que ele mencionou expressamente via teleconferência à CPMI da JBS, em dezembro do ano passado? Quantas semanais se dispuseram a investigar sobre as tais graves denúncias? E o que dizer quanto ao sumiço de qualquer referência a Tacla Durán no relatório final da citada CPMI, cujo relator, aliás, foi o notório deputado Carlos Marun?
E quanto ao notebook que continha informações confidenciais sobre o Pré-Sal e que foi surrupiado não se sabe por quem - mas a imaginação tudo permite... -, meses antes da usurpação do poder no Brasil, por que não se investigou?

No Brasil, o medo de 'sujar a ficha' ante os 'doutos' paira sobre tudo. Na verdade, não é medo, é pavor. Daí a louvação ao trabalho corajoso de jornalistas - analistas - como Luis Nassif.

No mais, convém meditar sobre o fim do foro por prerrogativa de função para deputados e senadores, e a manutenção da mesma prerrogativa para juízes e procuradores, entre outros; e quem ficar intrigado que fique a ver navios!).  

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