E pensar na abominável humilhação a que vimos submetendo nossos livros a partir do recrudescimento da Internet e da preocupante situação do Brasil neste conturbado mundo...
Umberto Eco: "Quantos livros! Leu-os todos?"
Naturalmente o bibliófilo, também aquele que coleciona livros contemporâneos, é exposto à insídia do imbecil que te entra em casa, vê todas aquelas prateleiras e diz: “Quantos livros! Leu-os todos?”. A experiência cotidiana nos diz que esta pergunta é feita também por pessoas de quociente de inteligência mais que satisfatório. Diante desse ultraje existem, a meu entendimento, três respostas padrão.
A primeira bloqueia o visitante e interrompe todo questionamento, e é: “Não li nenhum, de outra forma por que os teria aqui?”.
A primeira bloqueia o visitante e interrompe todo questionamento, e é: “Não li nenhum, de outra forma por que os teria aqui?”.
Essa, porém, gratifica o chato estimulando o seu senso de superioridade e não vejo por que se deva prestar-lhe este favor.
A segunda resposta chumba o chato em um estado de inferioridade e soa: “Já li mais, senhor, muito mais!”
A terceira é uma variação da segunda e a uso quando quero que o visitante caia preso em um doloroso estupor.
“Não”, lhe digo, “aqueles que já li, mantenho na universidade, estes são aqueles que devo ler na próxima semana.”
Visto que a minha biblioteca conta com cinquenta mil volumes, o infeliz procura somente antecipar o momento da despedida, alegando uma obrigação inesperada.
Aquilo que o infeliz não sabe é que a biblioteca não é apenas o lugar da sua memória, onde mantém aquilo que leu, mas o lugar da memória universal, onde um dia, no momento fatal, poderá encontrar aqueles que outros leram antes de você. É um repositório onde no limite tudo se confunde e gera uma vertigem, um coquetel da memória erudita. - (Fonte: Aqui).
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