domingo, 13 de agosto de 2017

O SUCESSO DO LIVRO DE JURISTAS SOBRE A SENTENÇA CONDENATÓRIA DO EX-PRESIDENTE


"Um exemplo de como a imprensa está desconectada dos setores progressistas da sociedade brasileira foi o lançamento do livro “Comentários a uma sentença anunciada – O Processo Lula”.

O evento foi (ante)ontem à noite, a fila começava no saguão da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e se estendia pela rua.
O auditório tinha espaço para 400 pessoas, mas, no ato que se seguiu ao lançamento do livro, havia pelo menos duas mil, e tiveram que arrumar um telão para que todos assistissem.
No estoque levado para o lançamento no Rio, não sobrou um exemplar para ser vendido.
Mas quem procurar nos jornais não encontrará quase nada sobre o evento nem sobre o livro.
A obra foi escrita por personalidades importantes do direito, quase todas fontes da imprensa em casos variados, mas foi anunciada, em notas minúsculas da imprensa, como um ato contra o juiz Sérgio Moro.
A coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, qualificou o livro assim: “obra foi elaborada sob coordenação da namorada de Chico Buarque, Carol Proner, e outros professores de Direito, como Gisele Cittadino, João Ricardo Dornelles e Gisele Ricobom”.
Carol Proner é professora titular do Departamento de Direito do Estado da UFRJ, com dezenove orientações de mestrado, quatro de doutorado e publicações relevantes na área de direito internacional e direitos humanos no currículo, mas, na notícia do lançamento do livro, foi apresentada como namorada do Chico Buarque…
Ela e os colegas do mundo acadêmico tiveram a ideia de analisar a sentença de Moro e convidaram outros profissionais, com um nível de aceitação poucas vezes visto em iniciativas desse tipo.
Ninguém escreveu para receber por direito autoral — que, se houver, no rateio, será insignificante, já que, além do número elevado de autores, o preço de capa — R$ 30 para estudantes, R$ 50 para os demais, não vai além da cobertura dos custos.
'Comentários a uma sentença anunciada' é o resultado do incômodo de pensadores e operadores do direito com o papel do Judiciário no movimento político que resultou na deposição de uma presidente eleita e ameaça agora interditar politicamente uma liderança popular.
É, de fato, um ato político, mas não um ato de políticos. Pode ser um marco no estudo deste tempo, em que o Judiciário foi instrumentalizado politicamente, numa aliança com a mídia.
O resultado dessa aliança é Temer, a redução de direitos sociais e a ameaça de distorção, ainda maior, do poder representativo.
Entende-se por que a imprensa corporativa procura esconder o livro: o foco sobre a obra diminui a figura de herói de Moro.
E Moro menor desmonta a farsa de que o impeachment livrou o Brasil de uma quadrilha de ladrões.
É por isso que o livro é apresentado como o resultado do trabalho da namorada do Chico Buarque.
A imprensa tenta colocar no rodapé da história um trabalho que tem dimensão maior: é parte da narrativa deste tempo sombrio da nossa história.
PS: O livro será lançado na PUC de São Paulo, segunda-feira, a partir das 18h30, seguido de debate com Álvaro Luiz Travassos de Azevedo Gonzaga, Celso Antônio Bandeira de Mello, José Eduardo Martins Cardozo, Pedro Serrano e Weida Zancaner."



(De Joaquim de Carvalho, jornalista, post intitulado "Livro de juristas sobre sentença de Moro esgota no lançamento e imprensa ignora a obra", publicado no Diário do Centro do Mundo - aqui - e reproduzido em outros blogs, como o Jornal GGN - aqui.
"Mas quem procurar nos jornais não encontrará quase nada sobre o evento nem sobre o livro." Bem, diante das circunstâncias - ou, como enfatizam alguns, 'da conjuntura' -, nada mais natural. Quanto a virmos a contar com um 'livro de réplicas' ao em referência, aí, admitimos, já seria improvável - e não só em face da espinhosa missão de elaborar tese capaz de embasar a condenação de um réu a despeito da inexistência da requerida prova cabal...).

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